por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 11 de janeiro de 2015

Wapi Yo  - Lokua Kanza e Peter Maffay

Esta música belíssima de Lokua Kanza foi escrita na língua Lingala, ou Mangala, que é uma língua bantu (a mesma etnia que vive em Angola que veio para o Brasil) falada na bacia do Rio Congo, entre Lisala e Kinshasa. Wapi Yo, numa tradução para inglês é uma pergunta  "onde você está?" Esta mesma que fazemos o tempo todo ao nosso interior. Pois ter um interior é ser parte do outro. Ser parte do exterior. 

Desnovelando versos - José do Vale Pinheiro Feitosa

Pegar uma ponta do fio
desnovelar toda a sua extensão
expor a outra ponta
escondida no centro do novelo.

Então ligar as extremidades
entre a ponta do coração,
que se encontra no planisfério,
e a cena confusa à nossa frente.

Apenas assim poderemos regar as raízes,
garantir que os olhos acompanhem a escritura,
movimento cadenciado com cifras e compassos.

O corpo que marcha, remancha fronte ao caos,
mas evolui, liberto, aos passos de dança,
sorri de felicidade ao canto do rouxinol.  

* - abrindo a caixa de segredos da Socorro Moreira. 


por socorro moreira- reflexão 2015- nr.2

Em meio a tantos tumultos  ,que inauguraram os primeiros dias de 2015, eu resisto em abrir  a porta da poesia. Encontro o alívio de me sentir só, e desacompanhada. Anulo a vontade de cantar  meus versos. Eles ficam enovelados, sem desejos, sem espaços. A zona de silêncio teima  em ampliar seu tempo. O sono me chama e os sonhos se afastam. Mas tudo passa...Novas notícias nos surpreenderão. Novos sentimentos   entrarão em  nossas  vidas  pra abrasá-las, sem afetar a paz consolidada.
Não sei escrever a dor. Ela é silenciosa e gagueja demais pra ser compreendida.
Quero a luz de todos os sóis  para clarear a negritude do mundo !
Meu vale é verde.Isso  me deprime, e ao mesmo tempo me conforta.
O que fazer? Esperar o que?
Estou â  disposição do universo!

Saudades das nossas alegrias!

 

APRÉS MOI, LE DÉLUGE - José do Vale Pinheiro Feitosa

Nenhuma frase representa tão bem a ideologia burguesa que essa em que após sua ordem apenas restará o dilúvio. É a fórmula ideológica de cessar toda crítica e qualquer ação para questionar e modificar esta ordem calcada no capitalismo econômico.

Esta ideologia para que cumpra sua sentença é niilista e no extremo tal niilismo sustenta o radicalismo das forças populares a serviço da ordem burguesa. Após o capitalismo, só o vazio e assim amedrontam o povo com a impossibilidade de uma sociedade que promova a justiça social, tenha plena liberdade e que avance a civilização.

Acontece que temos forças produtivas suficientemente desenvolvidas, amplo conhecimento da realidade da natureza e aprendizado suficiente sobre nós mesmos para podermos construir exatamente isso: bem estar, liberdade e contínua crítica da civilização. E não podemos avançar sem que toda a “institucionalidade” burguesa ou agregada a ela seja criticada.

A ideologia niilista da burguesia, vamos dizer um pouco menos, niilista para o mundo sem ela, com ela controlando tudo, apenas resta aos outros o destino neste vale de lágrimas. E isso não é pouco para dizer, especialmente quando o terrorismo do dilúvio é desaguado continuamente na consciência das pessoas.

Por isso seus pensadores, seus soldados e mulas ideológicas tanto temem de algo que não seja a ordem niilista do dilúvio. O bem estar geral é sempre combatido como a corrupção da ordem sem a qual é o dilúvio. A liberdade é sempre combatida como uma degeneração moral em que a moldura é a censura e o paspatur o poder maior. A civilização vista como um carro descendo uma grande ladeira necessitado de enormes freios.

Então tudo que existe é sujeito à crítica. Apenas ela é capaz de orientar os passos dentro de uma ordem que se declara a última fronteira da história (e até já decretou o fim dela).  

TÊNUE E PERIGOSA FRONTEIRA - José Nilton Mariano Saraiva

A priori, e com absoluta convicção, que fique bem claro: assim como meio mundo e a outra banda pensa, também entendemos como vil, inadmissível e covarde, sob qualquer ângulo que se observe, o atentado ao jornal francês (e as mortes daí decorrentes).

No entanto, e já que a questão está posta à mesa, bem que se poderia aproveitar a ocasião para tentar esclarecer dúvidas ou questionamentos pertinentes: afinal, qual o alcance desse tal “direito de expressão” ou “liberdade de imprensa”  ??? Não haveria aí uma certa “subjetividade” caolha, um certo “excesso” de bondade, uma determinada e indesejável “liberalidade”, para com os integrantes de tal segmento ???

Ou o “agredir”, “desonrar” ou “injuriar” publicamente se enquadraria em tais conceitos ??? O “enxovalhar” com outrem, em razão de divergências político-religiosa-cultural, poderia ser considerado algo “normal”, “direito” ou “permissível” ??? A tentativa de incitar terceiros  contra uma determinada instituição, cultura ou crença (e a imprensa tem esse poder, sim), se enquadraria como “aceitável”, mesmo que através de “inocentes” (?), mas, paradoxalmente, ácidas e auto-explicativas “charges-(pseudo)humorísticas” (?) como restou comprovado ser a característica marcante do Charlie Hebdo ???

Não custa lembrar (guardadas as devidas proporções), que por essas bandas algo parecido (na essência) aconteceu recentemente, quando o panfleto da Editora Abril (a revista ÓIA-Veja) antecipou o lançamento de sua edição semanal para manchetar em capa (sem que houvesse nenhuma prova comprobatória) que “Lula e Dilma sabiam de tudo” (sobre os malfeitos da Petrobras). E não só os brasileiros como todos com um mínimo de neurônios consideraram tal iniciativa um autentico “jogo sujo”.

Assim, repetimos a fim que dúvidas não pairem e/ou julgamentos precipitados sejam externados: em sã consciência ninguém é favorável a que qualquer ser humano seja “executado” de forma violenta e covarde por essa iniciativa (falta de respeito a instituições, crenças ou pessoas, literalmente), mas, não seria o caso de se pensar duas vezes (o “escriba”,  lá na origem, quando com o papel à frente e a caneta à mão) antes de tentar “descredenciar de graça e irresponsavelmente” um presumível “adversário” ???

Afinal, se no Ocidente veneramos um ser superior a quem denominamos “Deus” e a ele exigimos respeito, por qual razão lá no Oriente as pessoas não podem venerar e exigir respeito ao “seu” ser superior, denominado “Maomé’ ??? Como aceitar seja ultrajado, gratuitamente ???

Juntando as pontas, a verdade é que é perigosamente imperceptível (sob qualquer ótica), a fronteira entre o “poder” teoricamente albergado no tal “direito de imprensa” ou “liberdade de expressão” e a convivência pacifica de povos de “credos díspares” ou “culturas antagônicas” (até porque os fundamentalistas são, na acepção plena do termo, isso mesmo, fundamentalistas; e, pois, jamais abririam mão dos seus princípios, por mais que os consideremos radicais).   

Assim, embora a comoção que tomou conta de todos (insuflada pela imprensa, sim) com o ocorrido em Paris, seja de certa forma compreensível (afinal, Paris é Paris), também deveria servir de uma séria reflexão sobre os “excessos” do “quarto poder” (a imprensa), antes que dele nos tornemos reféns. A propósito, aqui em Fortaleza, no bairro denominado Bom Jardim, todos os dias uma “carrada” de gente é fuzilada sumariamente e sem piedade, sem que a imprensa repercuta (afinal, assim como Paris é Paris, Bom Jardim é Bom Jardim e... estamos conversados).

Alfim entendemos que antes de adentrarmos e bradarmos tratados sociológicos ou coisa parecida, a respeito, urge que nos questionemos seriamente sobre essa tênue e perigosa fronteira: afinal, qual o alcance desse tal “direito de expressão” ou “liberdade de imprensa”  ??? Seria o mesmo que os “anarquistas” usam para exigirem “democracia”, quando dos seus excessos em manifestações ???

Mas... anarquia e democracia por acaso têm alguma semelhança uma com a outra ??? Não são amazônica e diametralmente opostas ??? Como esconder-se atrás de uma para justificar a outra, se tão paradoxais ???