por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 12 de abril de 2011

POEMAS DE ISOPOR: COISA COM COISA - por Ulisses Germano



UMA COISA É UMA COISA
OUTRA COISA é OUTRA coisa
PODE NÃO SER lá GRANDE COISA
NÃO DIZER COISA COM COISA
MAS QUANTO MAIS EU COiSIfico A COISA
MAIS EU fico COISIFICADO NA COISA EM SI
QUE COISA!

Ulisses Gemano
Crato, 12-4-11= 27 = 9



a palavra em teu verso
tem caligrafia própria:
ligação inevitável
entre a Timo e o cerebelo

belo!! belo!! belo!!

Simplesmente ótimo !!! Não sei quem escreveu, mas quem assina é o TREMA ...
É uma tremenda aula de criatividade e bom humor, por sinal, com acentuada inteligência. A consequência não poderia ser outra: uma agradável leitura...



Despedida do TREMA

Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüentas anos.
Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!...
O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. Os dois pontos disseram que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.
Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica s e passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?... A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K e o W, "Kkk" pra cá, "www" pra lá.
Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!...
Nós nos veremos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.

Adeus,
Trema.


ANIVERSÁRIO DO MESTRE DIMARANGE JOSÉ MORAES - O DIDI MORAES



Amigo José Moraes
Que hoje aniversaria
Sabe que o tempo é voraz
E vive da própria cria
Quem toca um instrumento
Faz do presente um evento
Parceiro da hamonia!

Ulisses Germano
 


Escritura amorosa - socorro moreira


-3 x 4 do coração
-3/4 do coração
-Restou ¼ vazio
Descompletado
da presença antiga.

-1/4 triste
Que aprendeu a ser sozinho.

-Ele me pedira um 3 x 4
-Achei mínimo,
(entreguei-lhe 4 quartos)
Para revezar na eternidade
Sonhos incomuns.







O mais triste na meia idade
É perder a faculdade do encanto

Dizem que o coração não envelhece
Digo que ele se cansa

Escolhas imediatas
Preferem a solidão
Perdemos a curiosidade
de viver um novo amor

Os encantos antigos
No tempo cristalizado
Começam a ficar derretidos ...
-Escorrem no vão do infinito.


Simone de Beauvoir




Simone de Beauvoir (9 de janeiro de 1908 - 14 de abril de 1986), filósofa, ensaísta e escritora francesa.




A morte parece menos terrível quando se está cansado.
Simone de Beauvoir

O homem é livre; mas ele encontra a lei na sua própria liberdade.
Simone de Beauvoir

Eu passava muito bem sem Deus e, se utilizava o seu nome, era para designar um vazio que tinha, a meus olhos, o clarão da plenitude.
Simone de Beauvoir


Por vezes a palavra representa um modo mais acertado de se calar do que o silêncio.
Simone de Beauvoir


O escritor original, enquanto não está morto, é sempre escandaloso.
Simone de Beauvoir


Não se pode escrever nada com indiferença.
Simone de Beauvoir

O homem sério é perigoso, pode transformar-se em tirano.
Simone de Beauvoir


Todas as vitórias ocultam uma abdicação.
Simone de Beauvoir

Viver é envelhecer, nada mais.
Simone de Beauvoir

O compromisso multiplica por dois as obrigações familiares e todos os compromissos sociais.
Simone de Beauvoir

Em todas as lágrimas há uma esperança.
Simone de Beauvoir

AMANHÃ




PATATIVA DO ASSARÉ
ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA
ASSARÉ-CE = 1909-2002


Amanhã, ilusão doce e fagueira,
Linda rosa molhada pelo orvalho:
Amanhã, findarei o meu trabalho,
Amanhã, muito cedo, irei à feira.

Desta forma, na vida passageira,
Como aquele que vive do baralho,
Um espera a melhora no agasalho
E outro, a cura feliz de uma cegueira.

Com o belo amanhã que ilude a gente,
Cada qual anda alegre e sorridente,
Como quem vai atrás de um talismã.

Com o peito repleto de esperança,
Porém, nunca nós temos a lembrança
De que a morte também chega amanhã.

A cultura dos atentados - Emerson Monteiro

Qualquer órgão da mídia que pretenda sobreviver à velocidade dos trens velozes desta fase contemporânea há que divulgar, com ênfase, os desmandos e práticas perversas dos grupos terroristas espalhados pelo mundo, noutras praças, noutras regiões. Sensacionalismo corre solto e alimenta faixa extensa de telespectadores e leitores. Alguém que observe notará, todo dia, nos cantos perdidos de jornais presos nas bancas, as notícias iguais, agora pequenas, de onze, quinze, vinte, vinte e dois civis assassinados sem julgamento, com explosão de bombas em países de que nem ouvira falar até então. Além de toda previsão, talvez nas mesmas proporções em que a raça cresce, tristes grupos exercitam a tara de eliminar vidas, qual disseminando o terror para reduzir a fome, na visão doentia dos autores, falsos moralistas e dementes vingativos de todo gênero.
Disso conclusão pode tirar, na mania de racionalizar a que pessoas se acostumaram em frente das telas acesas. Quer participar dos destemperos e das indigestões cotidianas. Participar de qualquer modo. Participar, nem que pronunciando palavras de efeito retardado, tipo: - Horrível isto; ah, meu Deus, quanta barbárie; monstro à solta; vamos rezar; fazer um minuto de silêncio às vítimas; etc.
Espécie de passividade crônica invade a consciência e prende as atenções, num bloco frágil de dores e traumas, distância e impotência. Detrás disso, lá estão os velhos códigos da continuidade. Tanger adiante o rebanho, produzir para viver, ouvir e esquecer.
Os efeitos do comportamento nos quadrantes da grande humanidade geraram, pois, espécie de monstro coletivo nunca previsto nos manuais políticos. O poderoso mercado econômico, contudo, sobreviverá e retrabalha, grosso modo, seus materiais recolhidos nas fezes da besta sagrada que domina os esquadrões da morte e funcionam às escondidas, nas horas caladas dos aparelhos administrativos. O menor existiria em função do maior, o que virou a lei de prosseguimento da história, sem mais questionamentos. O indivíduo anônimo e o grande Estado que busquem conciliar seus interesses nos poucos lugares ao sol de prolongar a vida na face do Planeta através das conferências ecológicas.
Nessas trágicas e dolorosas explosões do inesperado, nos endereços lotéricos das ocasiões, seguem os elementos da discórdia e da concórdia, agarrados entre si, no romance do sadomasoquismo, vistas motivações das forças maiores. Por isso, nada de a quem reclamar pela sorte desses tempos cinzentos. Baixar a cabeça e supor que o vexame das notícias amargas diz respeito aos outros somente, noutros filmes afastados, montados em painéis estranhos, à margem das rodovias marcianas, longe das tintas fortes dos monitores a invadir as casas de porta com o sangue limpo do cordeiro pascal.

" Zé Nilton estou feliz
Ao ler seus versos rimados
É tão gostoso saber
Que o Maestro é lembrado
Agradeço o seu carinho
Vou guardar o seu recado."

( Aurelia Benicio )




SIDERAL - por Stela Siebra

ASCENDENTE LIBRA:
Oriente-se pela balança!
Busque o equilíbrio.

Orientar-se pela Balança de Libra significa acionar a tônica do equilíbrio, que se traduz em sempre pesar e medir cada ação e decisão. É natural para você que tem Ascendente Libra agir sempre com ponderação e equilíbrio. Lembre que a opinião e a vontade dos outros vão ser sempre levadas em consideração. Portanto, diversas alternativas serão analisadas e julgadas, antes de você tomar suas decisões.

Os relacionamentos são muito importantes na sua vida. Quando está sozinho, você se sente desorientado. É essencial para você o agrupamento, as associações, as parcerias, em suma, estar "casado". É igualmente natural o senso de justiça. É bom, portanto, se perguntar nos momentos de desorientação: "estou agindo de forma justa nessa situação ou com essa pessoa?"
Você sempre vai achar que está agindo adequada e corretamente. Porém, analise a questão de maneira mais apurada. Pense mais. É certo que você sempre procura agir com imparcialidade. Todavia, no desejo de legitimar o que considera justo e direito, e na busca do equilíbrio, você pode algumas vezes ser crítico demais ou indefinido demais.

Recorra, então, à sinalização do signo oposto ao seu Ascendente, que é Áries - definido como de ação enérgica, rápida e auto-afirmativa. Você precisa desses princípios para complementar-se.

Uma outra orientação é mudar de estratégia ou, ainda, verificar se não é o momento de encontrar o verdadeiro equilíbrio. Preocupe-se primeiro com a sua harmonia interna. Busque-a, contate-a e deixe que ela flua em direção às outras pessoas e aos ambientes. Assim, a partir da sua harmonia, você poderá conviver melhor com as tensões e hostilidades do mundo externo.

Por fim, acenda a estrela do seu Ascendente Libra buscando reger-se pelo seu idealismo estético, já que você aprecia tanto o que é belo, agradável e harmonioso.



No mapa astrológico o Ascendente é considerado o impulso de orientação, porque é o signo que está subindo no horizonte oriental no momento do nascimento. Por isso é ele quem inicia o percurso do Mapa astrológico pelas 12 Casas. É a ponta da Casa I, a casa da nossa identidade, aquela que mostra nossa fachada, nosso temperamento e comportamento. Daí a importância do Ascendente, porque o princípio desse signo é quem vai dar o horizonte de nossa vida, simbolizando nossa forma de expressão imediata e espontânea. O Ascendente é como nos mostramos como somos vistos, como inauguramos a vida.

Navegar-Por Rosemary Borges Xavier

A internet é uma teia alimentar
Tudo nela tem
Tudo ela dar
Cabe a nós saber aproveitar
Sem depredar
Vamos gente compartilhar
Pois ela veio para ficar

Um filme, uma música...


Bolo Chiffon




Ingredientes

135 g de farinha de trigo
4 g de fermento químico
35 g de amido de milho
110 g de gemas
80 g de açúcar
100 g de óleo de canola
100 g de suco de limão
40 g de água
raspas finas de 1 limão
330 g de claras
2 g de sal
1 g de cremor tártaro
120 g de açúcar

Preaqueça o forno a 180ºC e separe uma forma de bolo Chiffon de 24 cm bem limpa. Peneire a farinha de trigo, o fermento, o amido e reserve. Bata na batedeira as gemas com os 80 g de açúcar, até ficar branco e leve. Acrescente o óleo, aos poucos, até homogeneizar bem (esse processo é similar ao de fazer maionese). Adicione então o suco de limão, a água, as raspas de limão e misture. A seguir, coloque os ingredientes secos peneirados (de uma vez só) e bata por 1 minuto, parando aos 30 segundos para raspar as laterais. Em outra tigela da batedeira, bata as claras com o sal e o cremor tártaro até que comecem a montar e, só então, acrescente o restante do açúcar, aos poucos. Quando os picos estiverem ligeiramente firmes, pare de bater e comece a incorporar as claras à mistura de gemas. Deposite a massa na forma e puxe um pouco da mistura para as paredes. Leve ao forno preaquecido por cerca de 50 minutos. Retire do forno, encaixe a peça na forma e vire de cabeça para baixo. (passo-a-passo para desenformar o bolo)
A Forma
A forma especial desenhada para o Angel Cake e para o Bolo Chiffon é algo bem diferente do que estamos acostumados a utilizar. Porém, tem várias funções especiais, sem as quais não é possível desenvolver essas receitas. Não podemos untar as formas. Elas devem estar muito limpas e isentas de qualquer traço de gordura porque ambas receitas se utilizam das paredes da forma para se estabilizarem no forno. A massa adere à parede da forma criando uma espécie de degrau para a massa, que vem logo atrás.

O segundo motivo importante para usarmos essa forma é devido ao resfriamento do bolo. Se vocês observarem a foto, verão que a forma tem três pezinhos na sua borda e um suporte alto. Eles estão lá, porque o bolo é "sempre" resfriado de cabeça para baixo. Se ficar na posição normal, o seu próprio peso vai fazer com que o volume final diminua consideravelmente. Desta forma, os bolos são virados ao saírem do forno e permanecem assim por pelo menos uma hora. Se a forma estivesse untada, o bolo se desprenderia e cairia. O fundo é solto para podermos desenformar com facilidade.

Mais Dicas:
- Usar ovos em temperatura ambiente para que se consiga o maior volume possível na batedeira.
- Ovos gelados resultarão em uma massa com menos volume, consequentemente mais baixa e pesada. No caso de claras, a tigela da batedeira deve estar isenta de qualquer vestígio de gemas e/ou gordura, pois os lipídios prejudicam o desenvolvimento da albumina, diminuindo consideravelmente o volume final na neve
- Bater as claras com um pouquinho de açúcar apenas e bater ate dar ponto de neve firme, que não caia na batedeira.
- Bater a farinha para desenvolver o glúten  e dar a estrutura do bolo.
- O amido, diferentemente da farinha, não contém glúten; por isso dá estrutura à massa, sem contudo deixá-la muito dura
- Espalhar a massa na forma e subir pelas paredes da forma e pelo buraco central com uma espátula para que a massa cresça bem.
- 1g de gelatina equivale a 4g de agua
- Os melhores cremes de leite tem 35% de gordura. Eles montam melhor e ficam mais firmes.
- O óleo de canola é ideal para bolos que são muito delicados. Qualquer outro deixaria um sabor residual desagradável.

Marshmallow 

• Ingredientes
• 1 xicara chá de água
• 10 colheres sopa de frutose
• 3 claras
• 5 gotas de essencia de baunilha
1. Ferva a água e a frutose até engrossar e formar uma calda amarelada
2. Bata as claras em neve e adicione lentamente a calda quente, batendo sempre
3. Junte a essência de baunilha e misture até encorporar.

Recheio(Baba de Moça)


* Ingredientes
* - meia xícara (chá) de açúcar
* - 1 colher (sopa) de manteiga
* - 6 gemas
* - 1 lata de Leite Moça
* - 1 vez a mesma medida de leite de coco
* - 1 pedaço de casca de limão



* Modo de Preparo

1. Misture o açúcar com 3 colheres (sopa) de água e leve ao fogo baixo, sem mexer,até formar uma calda em ponto de pasta
2. Junte a manteiga e retire do fogo
3. Passe as gemas por uma peneira e junte-as à calda
4. Acrescente o Leite Moça, o leite de coco e a casca de limão
5. Mexa bem e leve
6. novamente ao fogo baixo, sem parar de mexer, com uma colher de pau até obter consistência cremosa


* Morei em Bela Vista(MS). Tínhamos uma boleira , acionada em todas as festas e comemorações. Maísa fazia a receita do bolo chiffon, cobria com marsmallow, e decorava com nozes e cerejas. Recheava com baba de moça. Nunca  experimentei nada igual.  Vale a pena ter uma balança por perto. 

Receitas pesquisadas na Internet, e experimentadas.

Olhares e beijos- por socorro moreira

Foto de Daniela Moreira


Lembro alguns olhares
(uns que arrancavam a alma
e atiçavam beijos)
Lembro- me ,
desde o primeiro !

Escondidos de todos ...
(temiam testemunhas)
- Os maiores beijos !

Sinto falta do beijo
não trocado
nunca repetido
nem afiançado

Pele tatuada
de dentes e cheiros
Pele esgarçada
do calor de beijos.

Eram leves,
insistentes,
e quase
enchuvarados ...
Eram elos do amor
na veia do a(feto)

CAFÉ- Por Everardo Norões




Desencarno arábias
de uma xícara morna
de café.
E um fio negro
me assedia a boca.

(Através da janela
o galho de pitanga
ostenta seu adorno
encarnado).

Viajo
pelo negror do pó:
Dar-El-Salam,
Bombaim,
Áden
(sem Nizan, sem Rimbaud):
as colinas ocres,
a poeira dos dias.

De onde vem o grão
dessa saudade?

Desentranho arábias
dessa xícara fria.
Enquanto aguardo o dia
que não chega.

Desacordo e sorvo
a sombra morna
do que sou
na borra
do café.

Entre as raízes e o olho do pé de macaúba - por José do Vale Pinheiro Feitosa



Foi uma tarde destas dos tempos sem medição quando nos encaramos. Pedro Belém e este que vos narra. Entre nossos olhares corria um vão maior que muitos séculos. Na aparência nossas idades não tinham mais de 50 anos de diferença, mas nossas almas se distanciavam de modo descomunal: entre as raízes e o olho de um pé de macaúba. Pode não parecer muito, mas tente vencer esta distância subindo pelo tronco da fera espinhosa.

Pedro Belém não tinha imagens para recordar-lhe o que a mente resguardara. Nem fotos ou desenhos. Os mortos do seu tempo passado apenas estavam vivos na sua memória. E ele tinha somente os significados e significantes do seu discurso para dizer-nos como eram e o que eram para ele.

Não havia uma música de fundo a determinar-lhe a saudade e nem uma nota lânguida que acendesse alguma centelha de um momento qualquer de sua vida acontecida. A música era recordada como festa, como evento, seja nos terreiros ou embaixo das latadas nas danças de volteio.

Por certo que nos olhos de Pedro Belém ressurgiam as imagens das paisagens que se reconheciam como algo de então, mas para isso havia uma distância para as pernas já ocupadas pelo trabalho diário. Quando coincidia, Pedro parava com seu olhar amoroso, cuidadoso daqueles momentos ali vividos e a paisagem, ou pé de bogari, ou a ribeira do rio se tornavam o momento eterno daquele homem da distância secular.

O gosto de Pedro bem lhe dizia do conforto do sabor conhecido. Daquela papa de Carimã das noites de inverno, quando se encostava no ombro da mãe para se aquecer em tudo que a proteção tem de calor para embainhar o corte do frio. Nunca mais, na sua solidão de solteirão, bebera uma gemada quente justamente quando a fraqueza do resfriado mais aberta deixava as portas das terminações a partir de onde mais nada havia.

Pedro Belém contava com bem pouco das lembranças dos sentidos para ditar-lhes os acontecidos que lhe dão espírito de povo. Só e quando a natureza espontâneamente ou por uma coincidência de suas obrigações lhes punha à mostra destes eventos sensitivos que tão bem ligam o presente e o passado. Em compensação, Pedro só contava com ele mesmo para dizer quem era, quem foi e pretendia ser.

Muito diferente do que é lá no olho da macaúba. Com seus momentos marcantes, um filme para lembrar aquele instante, um perfume artificial para despertar amores e lembranças sensoriais, uma música para despertar as lembranças de alguém, uma imagem em movimento para capturar uma síntese de pensamento. Pedro Belém e eu nos encaramos com um vão de séculos, não dos séculos um a um, cada cem anos que passou, mas uma espécie de aberração secular, que em pouco menos da metade deu um salto como se virasse a página inteira para outra era.

E os espinhos não me deixam descer até as raízes da macaúba.

Por José do Vale Pinheiro Feitosa

Nota de Ulisses Germano




A história da xilogravura do nordeste brasileiro passa por Walderedo Gonçalves. A memória curta e tacanha não consegue alcançar a grandeza da beleza de sua forma íntima de xilogravar. Repito para os desavisados: "A história da xilogravura Nordestina passa inevitavelmente por Walderedo Gonçalves". Não aceita? Pergunte para o Stênio de Diniz, ou mesmo para os xilogravuristas como Carlos Henrique ou Maecio! Eles são sabedores da escola formadora da xilo em nossa região: -Dê-me uma caixa de fósforo e alguns palitos, e eu abrirei as portas e os cofres do paraíso!


Ulisses Germano


DE REPENTE UMA LUZ

Transfiguração - Portinari - Igreja Matriz São Bom Jesus da Cana Verde - Batatais, SP



DE REPENTE UMA LUZ

Estou só no centro da cidade.
De repente uma luz me cega.
É dia nas casas dos homens.


COTA

Estendo a minha mão
à porta da casa dos homens.
Também quero minha cota
de pão e solidão.


ÀS VEZES NÃO ME BASTA A MORTE

Às vezes não me basta a morte.
Não me basta saber um pedaço de terra
definitivamente meu.

Às vezes não me basta o azul.
Estou de tal modo vivo
que o meu corpo não me contém.

Às vezes não me bastam os olhos.
Não me bastam os pulmões.
Não me basta um poema.

As palavras explodem no meu peito.
A terra explode nos meus olhos.
Sou apenas uma forma luminosa.


AMÉM

Sou filho da dor
e caminho orgulhoso
de meus irmãos.