por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 18 de janeiro de 2011

tudo eu faria

eu percorreria
todas as estradas desse mundo
mergulharia no escuro mais profundo
que o mar tivesse pra oferecer:
tudo eu faria

me perderia por todas as ruas
esqueceria o meu nome até que
me voltassem as palavras suas
e no silêncio sempre sem saber
onde estaria o fim da saudade
nada mais teria pra dizer:
tudo eu faria

dobraria o tempo
retornaria ao começo de tudo
recolheria as pedras do templo
se um templo existiu num tempo de absurdo
sem que ninguém viesse a saber
tudo eu faria

me jogaria na calma dos desertos
o vento roçando na forma da areia
something vibrando em meus ouvidos
meu coração preso em sua teia
reduzido a nada o meu querer:
tudo eu faria

me entragaria às lâminas do frio
que castiga a cidade no outono
quando o meu copo então está vazio
porque bebi o dia que é sem dono
de cujas horas se faz a solidão
porque é meu o dom de não esquecer:
tudo eu faria

???

eu ando tão afastado
as pernas não sabem
o caminho de volta
para as melhores horas
de nossas mãos

esse sax tenor
a tarde cheia de frases
se um trumpete então
tal que a tarde
com suas ruas ensolaradas
e as mesmas perguntas

a luz arrebenta na torre
             da
           igreja

fim da tarde
todas as teclas do piano
escondem a fórmula viva
da música

tem um cigarro aí?...

eu não posso mais dizer
não não posso
não posso
quem sabe que diga
eu não posso mais

calma!...
eu quero um cigarro!

nem ninguém pode mais

calma!...

não não não dá mais

ent...

a música acaba

que é isso?

São Gonçalo do Amarante - Emerson Monteiro

Consta da tradição popular que, certa feita, vindo Jesus por uma estrada deserta, deparou-se com Gonçalo, músico da cidade portuguesa de Amarante.
- Mestre, em que lhe posso ser útil para diminuir a tristeza deste mundo? - quis saber o artista e nisso foi perguntando.
- Ora, Gonçalo, por mais que faças, não conseguirás dominar o espírito rebelde dessa gente, mais ainda desses que se divertem no prostíbulo da vila - respondeu Jesus. - Estive lá e eles se mostraram surdos aos meus ensinos, igual a muitos, que preferem continuar na trilha da perdição.
- Senhor, haverá, por certo, outros meios de educar. Quem sabe a música possa tocar os seus corações? - falou Gonçalo, disposto a colaborar na divulgação do bom caminho.
- Tudo pode acontecer. Já que é violeiro, queres experimentar esse recurso? - acrescentou o divino Mestre. Seguiram prosando no assunto. Depois desse diálogo, os dois combinaram que, na hipótese de o músico realizar a proeza da transformação dos pecadores do prostíbulo da vila de Amarante, receberia em dobro as bênçãos de curador.
Gonçalo seguiu na missão. Quando chegou à comunidade, tratou de acertar que, naquela mesma noite, realizaria uma festa em que tocaria para quem viesse ao salão de dança. Os freqüentadores do lugar aceitaram de bom grado o convite, animados perante aquela rara oportunidade.
Festejaram a noite toda até de manhã cedo. No cantar do galo, ainda se ouvia o pinicado da viola do músico. Era chegada a hora de trabalhar. Todos tiveram de procurar suas obrigações, sabedores, no entanto, de que, mais tarde, de noite, se repetiria a mesma função. Mulheres e homens aceitaram bem a chance de, outra vez, se alegrarem com a música de Gonçalo.
Enquanto isso, a notícia se espalhou das cercanias aos lugares mais afastados, quando escureceu, se apresentaram as pessoas interessadas no folguedo que invadiu a madrugada. Antes do fim de cada festa, Gonçalo repetia o convite para a noite seguinte. Não deixava arrefecer os ânimos dos frequentadores, e dessa forma continuou nos dias que se seguiram. À noite, os bailes de rara animação; de dia, os duros afazeres do trabalho de cada um dos convivas para manter a sobrevivência.
À maneira de Gonçalo, todos, sem exceção, tanto as mulheres quanto os seus amantes, se viram na contingência de abandonar os vícios e a fornicação, por meio da música animada e da exaustão das numerosas festas.
Passados mais alguns dias, concluiu a tarefa e se apresentou a Jesus, levando consigo a fieira de almas que havia catequizado. Conta mestre Joaquim Pedro da Silva, o responsável pelo grupo da dança de São Gonçalo que existe na subida do Horto, em Juazeiro do Norte, que Gonçalo, fazendo assim, adquiriu o merecimento de poder socorrer, por si só, aqueles que lhe procuram, sem carecer de intermediação, chegando até Deus com a sua força espiritual, pois dispõe da ciência que recebeu de Jesus quando atendeu a esse ofício que Ele determinou.

Meditações por João Marni

Vida – Sobreviver e reproduzir é condição darwiniana. Perpetuar é divino!

Relatividade – Partiste. Na volta, porém, ninguém aqui de ti!

Roendo as unhas – Criou o que não deveria ter criado; como perfeito é, não pode arrepender-SE!

Infinitude - Os sonhos da infância.
A força e a coragem da juventude!...
Traição e humilhação...
Injustiça e condenação.
A dor, a extremada dor.
O calor, a sede.
O medo.
O perdão.
A entrega
Jesus.

Improviso para um poeta.

Seu verso não vem da distante Itabira
não vem do alentejo seu canto, sua lira
mas, feito de aço, de bronze granito
retrata profundo seu laço, seu grito...

Quem dera eu poeta, em meu verso cantasse
com tal agudeza que o tempo estancasse
na dor alegria do verso certeiro
minhalma jorrasse de vez por inteiro.

Poeta, porém de pequena estatura,
pelejo com cinzas da vã criatura
cinzelo em poeria meu longo penar.

Recebo em seu canto, de nobre escultura
suave acalanto, da dor, sepultura
na noite do tempo estrela brilhar.

O emparedado




Eu sempre calado
entre estranhos dobres.
Eis-me limitado
por estanho e cobre.
Eis-me emparedado
no meu quarto pobre.
Ainda mais me calo,
por mais que me dobres.
Sempre o mesmo avaro,
por mais que me cobres.

Parco de palavras
e outros marcos úteis.
Nessas minhas lavras,
sempre mais inúteis.
Memórias escravas,
minhas cobras fúteis.
Meus anjos de lavas,
trevas, barros súteis.
Eis-me em lande escassa:
longe, as formas dúcteis.

Esse o meu destino.
Moldar a estrutura
de encruados mitos.
Na pedra mais dura
forjar um estilo
de vaga ventura.
Nesta arte prossigo,
hera de ternura.
Neste brando rito,
palavra mais pura.

Do quarto as paredes
a pele do corpo.
Isolam as sedes
deste vário horto,
lançadas as redes
onde tudo é morto.
Onde eram as lendas
é um olho torto.
Por que se desvendem
as vozes do orco.

E o que era talvez
um menino antigo
finda-se de vez.
Desse mito findo
o muro de pez
e íntimo granito.
Dessa viuvez
no verbo falido.

– Um poema não lês,
não se lê o olvido.

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Tempo de memória. Não mudei muito: penso que este poema já velho
(in O Emparedado, Companhia Editora Americana, Rio, 1975)
ainda me define.

A foto é da Sônia.

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notas soltas

é que às vezes
preciso beber
meu sangue

então não repare
nos meus lábios
rubros

é que nem sempre
sou pálido e tenro

preciso beber meu sangue
juntar meus ossos
encaixar a loucura
no vão encanto

é que por muito tempo
coçam meus dedos
salivam meus dentes
desce a baba
pelo canto
da minha boca
cortada

é que tenho
desde nascença
um corte fino
nos lábios

onde repousa
minha lucidez
asas de fogo
infância

é que a poesia
não está sob
a vigilância
do poeta

nem este
acima

do estalo
dos gravetos

dos uivos
das borboletas

da quietude
dos bisões

é que meus braços
procuram outra coisa
gente quente água-viva

abraço fecundo
fazer mais de um filho
fazer uma penca de filhotes

pela casa rosnando assobiando
festejando alegrando paredes
riscando o teto a cada salto
da cama

é que a tolice
de quem escreve
pode afugentar
um pássaro
prender o dedo
na porta

é que dói
ver o sangue gasto
(todo nos lábios)

e o piso pedinte
suplica uma gota
um pingo
nem que seja
do seu esmalte

é que a minha flauta doce
recusa nessa noite
o meu sopro

e sem blues
a vidraça embaçada
sinto dó das lágrimas

é que meus cílios
nessa noite
bela época

abanam-se
vaidosos
da solidão

Joseph Rudyard Kipling






Prêmio(s) Nobel de Literatura (1907)


Joseph Rudyard Kipling (Bombaim, 30 de dezembro de 1865 — Londres, 18 de janeiro de 1936) foi um autor e poeta britânico.







SE

Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!


Rudyard Kipling
Tradução de Guilherme de Almeida


Um filme, uma música !

Melodicamente falando , eu gosto dos Guedes !

Frazão - Por Norma Hauer

NÓS QUEREMOS UMA VALSA

Erastótenes Frazão, ou simplesmente FRAZÃO, nasceu no dia 17 de janeiro de 1901.

Teve uma passagem pelo famoso Programa Casé, então na Rádio Philips e atuou em outras emissoras (Educadora e Guanabara);

Mas seu forte foram suas composições, uma vez que aos 12 anos já se iniciara na música, tocando flauta..Assim, em 1934 teve uma marcha, feita em parceria com Nassar, de nome “Coração Ingrato”, gravada por Sílvio Caldas.. No ano seguinte, ainda tendo Nássara como parceiro, gravou , com Francisco Alves “A.M. E. I” e com Araci de Almeida”Dono do Meu Afeto”.
Em 1939, sua marcha em parceria mais uma vez com Nássara ganhou o concurso de músicas carnavalescas então realizado pela Prefeitura do Distrito Federal com a marcha “Florisbela”, que venceu “Jardineira”, de Benedito Lacerda e Humberto Porto.
Sílvio, em seus “shows” confessava que houve “marmelada” nesse concurso, que seria ganho por “Jardineira” (sucesso na época e ainda hoje).
Esses concursos da PDF eram realizados na Feira de Amostras, que anualmente funcionava no Castelo e o público é quem dava seus votos para as marchas ou sambas compostos para o carnaval seguinte..
Sílvio contava que o compositor e boxeador Rubens Soares ficava na porta de entrada da Feira e exigia que o voto fosse dado para “Florisbela”.
Orlando Silva, que gravara “Jardineira” ficou aborrecido, mas como “brigar” com Rubens Soares?

Em 1941, ainda com Nássara (seu maior parceiro) compôs uma valsa para o carnaval: “Nós Queremos Uma Valsa”.
Quem a gravou? Obviamente Carlos Galhardo.

"NÓS QUEREMOS UMA VALSA”

Antigamente uma valsa de roda
Era de fato requinte da moda...
Já não se dança uma valsa hoje em dia
Com o mesmo gosto ou com tanta alegria
Mas se a valsa morrer
Que saudade que a gente vai ter.

Nós queremos uma valsa
Uma valsa para dançar .
Uma valsa que fale de amores
Como aquela dos Patinadores.
“Vem meu amor,
Vem meu Amor”
Num passinho de valsa
Que vem e que vai.
Mamãe quer dançar com papai.
Continuou compondo e em 1946, destacou-se com a "Marcha dos Gafanhotos, em parceria com Roberto Martins gravada por Albertinho Fortuna
. Além de “Gafanhoto” e ainda com Roberto Martins, compôs o “Cordão dos Puxa-Sacos”, para as vozes dos “Anjos do Inferno” e, com Benedito Lacerda, “Lero-Lero”, gravado por Orlando Silva. Todas obtiveram sucesso.

Ainda com seu parceiro mais constante (Nássara) compôs:
"Acredite quem Quiser", gravação de Dircinha Batista

"Acredite quem quiser.
Não existe invenção mais bela.
O homem fala, fala, da mulher
Mas não pode passar sem ela..."

Em 1950, em parceria com Jorge Faraj e na voz de Nelson Gonçalves foi gravado o samba “A Beleza de Teus Olhos” e, por Camélia Alves, ainda com Roberto Martins, “Salve a Orquestra”.
Depois de 1955 passou a dedicar-se à UBC, em defesa dos direitos autorais e em 1969 fez seu depoimento para o Museu da Imagem e do Som.

Erastótenes Frazão faleceu em 17 de abril de 1977, aqui no Rio, aos 76 anos.
Norma

curtas e tolas- por socorro moreira

Pinto a tela incompleta
dos nós desatados
Cheia de vazios e hachurados
Esbarro em teu nome
nos diagramas que cantam
e dizem :
Não se percam
Não se esqueçam
O Nós é destino

Tua boca e a taça
Vazantes dos sorvidos
Irrigam a planta
Planta baixa do amor em transe.

A dor tem bálsamo- por socorro moreira

Minha mãe sente dor
indiferente à dor do parto
A dor da ferida que se alastra

presença de luz
Alma em elevaçao
Que importa a anatomia?
O coração acha-se livre
Paciente,conseguiu no amor, a redenção

Ar complacente
A solenidade da vida
Despediu-se em vida.

Por Telepatia -Socorro Moreira

Assim nos esperamos
sem contrato telefônico
Uma carta que durou 30 anos
Chegou expedida pela madrugada
Livre do esxtravio no espaço
Endereço forever
completamente rasurado
Por telepatia
nossos anjos se uniram ...
Agora depende da gente
construir alegrias.

De frente pro desejo- por socorro moreira

Frente
Fronte
Fonte dos sonhos
Etérea natureza
Terra é cama
Nuvem é véu
Espaçam vitrais de luz
Estrelas piscam, seduzem

Vem pelos ares a cor do desejo !

Olhos do sal - Por Socorro Moreira

Desligo a TV
Busco o celular quase perdido,
na gaveta esquecida
Voz conhecida promete encantos
No meu ceticismo, sorrio ...

O prazer é lento na chegança
Faminto na presença

Um dia, contigo amanheço
Hoje ,a espera é vazia.

Tudo é saudade- por socorro moreira

O telefone toca
O céu imprime sinais
Meu coração entristecido
solta uns ais...
Doida e doída
imploro sereno no pensamento
-Humidade na paz !

Uma saudade - por Socorro Moreira

casa vazia
escada silenciosa
cama arrumada
cordas caladas
leite talhado
água sobrando
gelando saudades

Não vou rastrear pensamentos...
Enlouqueceria !
Anjos transportam teu coração
pro campo das alegrias.