por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 9 de julho de 2011

Por Lupeu Lacerda


BENDITA TÚ
QUE INFLAMA AS ÁRVORES
SOPRA MAIS QUE O VENTO
E JOGA PALAVRAS DE LAVA NO VENTILADOR
DO TEMPO.
BENDITA TÚ
QUE YEM VENENO E ANTÍDOTO
NOS BICOS TÚRGIDOS DOS SEIOS.
BENDITA TÚ, QUE COMEÇA TODAS AS REVOLTAS
E AS APLACA, ACALMA, TRANQUILIZA.
SENHORA VENDAVAL E CHAMA
QUE TRAZ NOS LÁBIOS CANÇÕES DE
RENDIÇÃO E VITÓRIA
BENDITA TÚ
CUSPINDO NAS BANDEIRAS
PAIRANDO ALTANEIRA ACIMA DE TUDO E TODOS
NOTA DEZ
NO QUESITO ALEGORIA
E VIDA.

OS FILÓSOFOS DA BATATEIRA E ORIGEM DAS ESPÉCIES-José do Vale Feitosa



E os filósofos da Batateira retornaram à sua original ágora. Uma pequena clareira no Alto do Urubu. Lá retornaram, pois os espaços primitivos são aqueles de maior simbologia. E afinal era um dia especial. Iriam discutir as idéias de Darwin nas comemorações de mais um século. Estavam quase todos: João de Barros, Mitonho, Biô, Fan, Chico Breca, Chambaril, Zé de Dona Maria, Chapa Branca, Vicente de Maria Júlia, e líder maior, Chico Preto, a quem coube o início das conversas.

- O gênio deste homem supera quase toda uma geração. Como um pensador do renascimento trás a interpretação do mundo para a esfera do próprio mundo. A vida não é a mesma, ela evolui, se transforma pela mutação orgânica e pela seleção natural. A vida é uma possibilidade em relação ao meio ambiente que é o somatório de todos os outros sistemas vitais. Quando um organismo se encontra bem adaptado ao meio ambiente ele sobrevive ao longo dos séculos. Mas quando sofre uma mutação e começa a competir em escala diferenciada com outros, ocorre a seleção do mais forte. O mais capaz sobrevive e o menos capaz sucumbe. Mas os que sobrevivem se originam sempre de outras espécies já existentes e deste modo se criaram ramos evolutivos que partiram de espécies primitivas e chegaram às espécies modernas. O homem, por exemplo, se origina de primatas primitivos que evoluíram para o ramo homo ao longo de milhares de anos.

Chico Breca tira o cigarro do bico e rebate Chico:

- E tu tá dizendo que pobre é o fraco e o rico o forte? Que a bodega que vende mais barato e quebra a concorrente é como esta seleção natural? Tu tá dizendo que as regras da competição destes tempos de hoje já eram as regras da natureza? E se assim fosse a competição desenfreada sempre teria existido. Que o cristianismo é uma farsa, que o budismo uma besteira, que a vontade do mundo é um bicho comendo o outro?

Fan solta o tutano do nariz num sopro forte pelas narinas e vem em socorro de Chico Breca:

- É o que esta besteira mesmo tá dizendo. Que não adianta a irmandade, a solidariedade, que não adianta a igualdade. É tudo a lei do forte comendo o fraco. É fera da noite e fera do dia, é fera da primavera, do verão e do inverno. É fera nas leis, nos costumes, em casa e na rua. É fera no rosário, fera na mesa e no altar. É fera pura. Para não dizer outra frase em palavrão.

Chambaril andava muito disciplinado. Tinha lido tudo sobre o darwinismo e foi logo dizendo:

- Pois num é isso mesmo. Uns abestados até chamam de darwinismo social, ou seja a seleção natural, a competição e a seleção do mais capaz, aplicado à regras da sociedade. Mas tudo isso é peido de jumento. A verdade é que Darwin viu a conexão entre os filos das espécies, viu a adaptação das espécies às mudanças ambientais, mas ao tentar uma explicação para tudo que viu, recorreu aos filósofos do capitalismo vitorioso. Thomas Hobbes e o homem como o lobo do homem e a sociedade como uma guerra de todos contra todos. Adan Smith e o egoísmo como o móvel do ambiente coletivo. O egoísmo fazendo o todo funcionar. Malthus e a vida como apenas uma luta pela sobrevivência sobre uma ameaça permanente de falta de alimentos. Por isso o que Darwin teorizou não foi uma nova teoria sobre a origem das espécies, mas esta origem como as leis do capitalismo nascente.

João de Barros levantou o dedo e pediu a palavra e lhe foi dada:

- E sendo deste modo nada temos a comemorar? Afinal o homem apenas repetiu o que leu na sua época.

Nisso Chico Preto mostrou o que era. Um homem de opinião, mas opinião que se move com os elementos da realidade. Chico, concordando com o pensamento de Chico Breca e dos demais respondeu a João de Barros:

- A comemoração é, também, um momento de revelação. Nem sempre nas comemorações se ganha apenas com a repetição do que houve no passado. Por vezes nela nos libertamos de conceitos arraigados que já não se explicam como elemento de hoje.

Mitonho diz: a Darwin o que é de Darwin, a nós ao que vida nos leva. Chapa Branca noutra frase de fecho: se o mundo não é só competição, talvez outras formas de união caibam. Biô na costumeira tirada: se a regra não é a fera, então eu fico com a bela, a bela que nos faz gostar de respirar os segundos da vida. Vicente de Maria Júlia, fecha o ciclo dos filósofos: e que amanhã nesta clareira a beldade esteja conosco, a beldade e sua filosofia do amanhã. Que também se sente conosco: Fila, Corra, Rosa, Memé, Dedê, Fernandina e Leila.

Era o fim da reunião e Chico Preto diz: fundamos a origem de gaia e não mais das espécies.

Com isso até eu que não estou a altura destes filósofos concordei: sem mulher não existe o pleno.

por José do Vale Pinheiro Feitosa

Uma festa no castelo encantado - Emerson Monteiro


Nesta quinta-feira, 07 de julho de 2011, compareci à festa de lançamento do áudio livro O mistério das treze portas no castelo encantado da ponte fantástica, de autoria do escritor cratense José Flávio Pinheiro Viera, com ilustrações de Reginaldo Farias, no Cine Teatro Salviano Arraes, antigo Cine Moderno, em Crato. Algo de beleza surpreendente pela produção entremeada dos mais diversos recursos cênicos a cargo da direção bem sucedida de Luiz Carlos Salatiel, abastecida nas performances refinadas de cantores, músicos e atores de nosso filão artístico-cultural.

A vontade que tenho seria pegar um pedaço de cada cena, junto de sons e iluminações, da animação dos presentes, do alegre clima reinante, falas, músicas, colar numa sequência imaginária e recompor o que ali vim encontrar de mágico e puro, bem nos moldes da mitologia regional de outras épocas, de quando havia sonhos soltos pelo ar. As histórias ouvidas na bagaceira do Sítio São Vicente, dos seus avós, no pé da Serra do Araripe, Zé Flávio as revive no seu primoroso trabalho, conservação fantástica dessa ponte que une o escritor e o tempo, acendendo de volta o sidério das horas fascinantes desfrutadas no passado longínquo.

Nisso, através da condução cênica de um Mateus (Cacá Araújo) e de uma Catarina (Kelvya Maia), figurantes buscados nos folguedos populares nordestinos, enquanto contracenavam suas tiradas cômicas, desempenharam o papel de mestres de cerimônia da inusitada solenidade. O auditório superlotado viajou embalado no clima mítico estabelecido e povoado pelas personagens trazidas ao palco nas letras das composições musicais interpretadas por ícones fortes da atual música cratense. Desfilaram com imensa fidelidade, a mim que conheci a maioria delas, as figuras de Maria Caboré, Canena, Tandô, Capela, Padre Verdeixa, O Rei da Serra, Vicente Finim, Noventa, Príncipe Ribamar, Zé de Matos, heróis do panteão da história popular de Crato, resgate por demais merecido e imortalizador das gentes eternas, gravadas na memória etnológica das populações caririenses.

Os intérpretes os quero denominar um a um, dada a qualidade oferecida e a integração com a proposta de tanto zelo em uma noite inolvidável. Foram Amélia Coelho, Lifanco, Ibbertson Nobre, Luiz Fidelis, Pachelly Jamacaru, Ulisses Germano, Zé Nilton Figueiredo, João do Crato, Leninha Linard, Abidoral Jamacaru e vários outros.

Por tudo o que vi nessa ocasião a causar espécie no sentimento dos agraciados com o evento, deixo aqui o meu registro do projeto teatral, musical e literário de J. Flávio Vieira, que além do próprio valor foi também vencedor do I Prêmio Rachel de Queiroz, da Secretária de Cultura do Ceará. O livro de belas feições gráficas, nas cores e nos traços de Reginaldo Farias, chega acompanhado de um CD com 15 faixas, totalizando a proposta inovadora.

Amanhã , 10 de julho, começa a festa da ExpoCrato !

e a noite corre
na cidade em festa
aqui o sono já vestiu a camisola
e espera a camomila do repouso
o povo começa a chegar
com a intensidade
do que se quer
antes que a vontade fique fraca
e desista da vida...

impasse :
minhas pernas precisam passear !

Batom - por socorro moreira



Com ele
Mancho meus espelhos
Abraso fantasias
Vejo-te noutro lago
Imagem fugidia

Quando esse caso
(só meu)
Impacienta-me
Passo o meu batom
Imprenso a boca
No papel que leio
E seguro a calma.

Pra te ver no novo
Anos  se anunciam.
A porta
Na molhada espera
Continua Beta
- Estio de esperanças

Chega novo Julho
E a fogueira cresce
Se nas entrelinhas
Descubro-me tanto
Fecho esse parêntese...
Abro meus colchetes
E me entrego em pontos.

Inspiro tua ausência
Suspiro na distância

JORGE FARAJ - por Norma Hauer



Foi a 9 de julho de 1901 que ele nasceu, aqui no Rio de Janeiro, filho de pais libaneses.
Grande letrista de nossa música popular. Seu nome :JORGE FARAJ.
Era aquele que tomava o trem das professoras como "um vagalume atrás dos astros", vindo da boemia.

Ele de fato fazia o que cantou em sua música "Professora" e a professora verdadeira, sabendo do caso, quis conhecê-lo, mas o achou feio e não se interessou por aquele poeta feio por fora, mas belo por dentro.
Desprezou-o.

Hoje nem sabemos quem era ela, mas sabemos que Jorge Faraj foi um dos grandes letristas da MPB, compondo, ao lado de Newton Teixeira, "A Deusa da Minha Rua", onde,

“ Na rua, uma poça dágua
Espelho de minha mágoa
Transporta o céu para o chão
Tal qual o chão de minha vida,
A minh’alma comovida,
O meu pobre coração.

Espelho de minha mágoa,
Meus olhos são poças dágua,
Sonhando com seu olhar.
Ela é tão rica e eu tão pobre
Eu sou plebeu, ela é nobre
Não vale a pena sonhar.

Também cantou aquela que "era do morro a mais famosa flor, todo mundo cantava em seu louvor, todo mundo "Menos Eu".

Com Custódio Mesquita compôs "Preto Velho", cuja sombra passava e todo mundo fazia chalaça".

“Preto velho,
Quando a sua sombra passa
Todo mundo faz chalaça
Dá vaia, debocha e ri...”

Com Benedito Lacerda compôs "É Quase a Felicidade"

“Para matar a saudade,
Da grande felicidade
Que eu perdi ao te perder...”



e ".. E a Saudade Ficou lâmpada triste..." Com Roberto Martins compôs “Apenas Tu” e "Último Beijo", a música que me fez "descobrir" Carlos Galhardo

Jorge Faraj, como muitos de sua época, era um boêmio, que trocava o dia pela noite e acabou tuberculoso, mas para alguém que adquiriu essa terrível doença, viveu bastante: quase completou 62 anos, pois faleceu em 14 de junho de 1963.
Mais um que partiu em seu “Inferno Zodiacal”.

Lembro-me que quando ele faleceu, apenas uma pequena nota saiu nos jornais, assim:
“Foi sepultado ontem, no Cemitério de Irajá, o compositor Jorge Faraj, autor de "Professora".

E nada mais.

Fosse ele "americano" daquele país ao norte do Equador a notícia sairia em manchete, com "letras garrafais". 

Norma

Temos um encontro hoje na porta do cinema- José do Vale Feitosa



Quando pensamos em cinema, não é exatamente no audiovisual que concentramos a idéia. Afinal um vídeo, um filme, uma foto, uma apresentação de slide ou outras mídias de igual natureza podem ser vistas de muitos modos, inclusive nesta tela em que lemos estas palavras. Cinema é, a rigor, a sala de projeção coletiva. Aquela que reúne várias pessoas, que chegam ali por que querem, podem pagar ingresso ou não, mas não estão na sala de visita familiar apenas. Estão num ambiente de reunir pessoas.

Foi esta parte da cultura que se escafedeu no Brasil. Hoje, na imensa maioria das cidades não tem salas de projeção. Não existem sessões com hora marcada. Não existe, nem a distribuição dos filmes que circulam no mercado mundial. Mesmo morando em cidades como Crato, Juazeiro e Barbalha, não se chega nem aos pés da produção circulante. Agora veja quem assistir qualquer destes canais de TV a cabo que passem filmes antigos, como se encontrará neles. A maioria daqueles filmes passou em algum cinema do Crato. A maioria foi vista quando ainda morávamos no interior. Claro que da minha geração quem mora no Rio ou São Paulo ou em alguma capital teve uma amplitude maior. Mas está claro que o circuito cinematográfico mundial, especialmente as grandes bilheterias, aconteciam em Crato.

Precisamos retornar às antigas salas? Certo que não. Talvez com a introdução do lazer farto e conservado do domicílio de cada um isso não seja necessário. Mas salas bem mais simples, com outras formas de exploração poderiam perfeitamente existir, principalmente agora que todo o processo de reprodução e exibição ficou infinitamente mais simples e barato. Por exemplo, o que impede que um bar charmoso do Crato, destes que a juventude gosta de freqüentar, não tenha um simples data-show, amplificadores, caixas de som e mais uma tela para oferecer pelo menos uma sessão a cada noite. Nada impede que um sindicato, uma casa paroquial, um colégio, uma praça ou até mesmo uma casarão destes abandonados, numa movimentada rua que sirva para um cinema minimamente arrumado e com conforto, vedação luminosa e de som para que sessões possam existir nas matinês?

Uma barreira certamente é o direito autoral. Então vamos lutar por uma política de distribuição diferente da atual. O próprio governo pode estabelecer alternativas e incentivar processos descentralizados, usando até mesmo a banda larga e a abundância moderna dos correios para distribuir filmes em larga escala por todo o território nacional. Não se pode cobrar de uma salinha paroquial o mesmo que se cobra para uma Cinemark da vida, então tem que haver uma política de compensações cruzadas, na qual quem pode paga mais e quem não pode até mesmo isenção existiria, pois o cinema é uma arte que tem por destino os milhões de pessoas.

Uma coisa tenho certeza: o que não pode é o cinema ficar prisioneiro dos freqüentadores de shoppings pois aí é um público muito seletivo que naturalmente reduz a oferta cultural e a pluralidade das artes. Acho que este é parte do modelo que restringe inclusive o cinema nacional.

por José do Vale Pinheiro Feitosa