Quando
alguns homens começaram a armazenar os excedentes agrícolas oriundos da recém
descoberta agricultura, tornou-se necessário a proteção desses estoques, que é
a origem de um novo poder, não mais baseado na força física ou em habilidade
manual ou mental. A consequência
imediata foi o aumento do poder individual dos donos desses estoques que agora
podiam manter alguns guerreiros da tribo para sua proteção, surgindo, então, o pré-histórico
jagunço. Com o aprimoramento das técnicas agrícolas e aumento dos estoques,
crescia também o poder do pré-histórico “coronel”. Este logo descobriu que esse
poder poderia ser utilizado não só para proteção mas também para saquear
vizinhos. Na história da humanidade, guerras e saques sempre existiram mas, nem
sempre com a finalidade de aumentar estoques e poder, isso agora é novidade.
Com a expansão patrimonial, esses “coronéis” logo descobriram que, para sua
própria segurança, os membros do seu clã ou tribo deveriam ser mantidos sob
rígido controle e com as mínimas condições de sobrevivência e segurança.
Essa
já grande sociedade, controlada pelos “coronéis”, necessita de uma administração mais elaborada para atender
seus interesses. O Pajé agora vira rei, o qual não é necessariamente o dono real dos “estoques”. O poder do rei é
consensual, raramente era um dos verdadeiros “coronéis”. Os reis subsequentes, apesar
de eventualmente ricos, não passam de uma espécie de gerente simbólico (jagunço
moderno) das agora chamadas elites. Existem muitos exemplos de degolas de reis,
bastava que um deles tentasse se desviar do traçado dos “coronéis” que logo
começavam as intrigas, assassinatos, etc. Para organizar melhor a tribo, agora
reino, se forma o esqueleto administrativo, onde o rei e a corte controlam o judiciário,
o exército, a religião, a polícia, cujos efetivos são todos herdeiros funcionais
diretos do nosso pré-histórico jagunço.
Nas
monarquias absolutistas a responsabilidade por algum evento que
desestabilizasse o agora país, era logo identificado na figura do rei, tivesse
ele culpa ou não, o que acarretaria instabilidade. Daí surgiram as monarquias
parlamentaristas que preserva o modelo e não perturba o rei. Esse modelo, com suas
leis não totalmente cegas, conta com a vantagem de que a responsabilidade por
qualquer crise pode ser diluída ou, dependendo das circunstâncias, atribuída a
alguém ou algo. Esse modelo de governo surge com intensidade durante o
renascimento, época das grandes navegações e conquistas europeias. Além de
limitar caprichos reais, surgem as ideias de nação, de país moderno, como
também do nacionalismo geográfico. A ideia dessas elites em melhorar a vida das
populações locais, para terem em troca lealdade e sua própria sobrevivência, é
mais antiga só que agora mais fáceis de implementar. O custo dessas novidades deveria ser pago
pelos novos vassalos e escravos, longe das metrópoles. Para o modelo funcionar e justificar o escândalo,
foi preciso impor uma administração que atendesse aos interesses dos herdeiros
dos pré-históricos “coronéis”. Alguns
países que tentam sair da área de influencia política dessas elites sofrem
represálias. Com o crescimento econômico dos países e consequente aumento da
poupança foi preciso modernizar a jagunçada, agora transformados,
principalmente, em exércitos. Só como curiosidade vale a pena citar o Diário do ator Richard Burton, que na pagina
referente ao dia 3 de dezembro de 1971 escreveu: "O Presidente Pompidou
foi empregado de Guy de Rothschild antes e depois de ser primeiro-ministro e o
novo primeiro ministro era para ter vindo ontem à noite, mas não pôde. (...)
Então não admira que Guy possa requisitar toda a força policial de Paris se
assim desejar. (Alusão a uma festa na qual, sua esposa a atriz Elizabeth Taylor
compareceu com mais de 3 milhões de dólares do pescoço para cima).
A antiga poupança, hoje transformada em PIBs, não mais
necessita estar fisicamente dentro das fronteiras oficiais de seus donos, basta
apenas ter o controle efetivo sobre essas “poupanças” por meio econômico como é
o caso das commodities, ou das armas, como no caso do petróleo, ou ambos.
Olhando a relação dos mais ricos do mundo da revista Forbes, nenhum ou muito
poucos da lista são políticos, eles preferem o anonimato, pois para o serviço
sujo dispõem dos novos jagunços, presidentes, ministros, senadores, deputados,
etc.