por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 9 de agosto de 2011

Por Rosa Guerrera


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A poesia que eu não escreví

Andei mares , terras , céus
Colhí flores , sofri espinhos .
Naveguei núvens de bonança
Turbulências e tempestades
E muitos versos nasceram das longas caminhadas
.
Quantas poesias perdí
por entre corações que não souberam entende-las .
E quantos aplausos recebi de mãos desconhecidas !

De repente você apareceu
como um verso escrito apenas para mim .
E como uma tonta , uma louca , uma criança talvez
Mergulhei na ternura do seu olhar e no sussurro das suas carícias .

Hoje entendo que mesmo depois do nosso adeus
Você foi exatamente aquela poesia que eu nunca consegui escrever.

TUDO É IMPORTANTE- Rosa Guerrera




Tudo na vida possui a sua importância e sua exata dimensão!.
Não importa o tempo que dure.
Não importa se nele estejam contidas lágrimas, sorrisos, angústias, paixões ou medos .
Tudo que vivemos , tudo que sentimos , tudo que fizemos possui sua peculiar importância dentro de nossos corações.
O riso que acontece hoje pode perfeitamente dar lugar a um choro de saudade, e vice versa.
Em cada sentimento vivido existe sempre histórias ! Histórias que a vida nos fez protagonistas de um círculo vicioso onde vamos repetindo falas e gestos num palco gigante , sujeitos a vaias e aplausos .
Impossível se apagar momentos passados .
Impossível também a tentativa de fugir da saudade.
Impossível ainda esquecermos pessoas que por longo ou curto período de tempo , existiram em nossas vidas .
Tudo realmente possui a sua importância e a sua exata dimensão.
E não importa quando aconteceu , desde que a eternidade possa ter sido vivida e conhecida... nem que tenha sido por um minuto apenas.


Ros@

Vila Grimaldi - por Everardo Norões


Aqui
as pedras
pedem desculpas
por não poderem
prestar
seu testemunho






Do Livro "Poeiras na Réstia".

Por Lupeu Lacerda


O barco é um rio feito
de madeira
De madeira também o homem que joga
a rede
Rede de água feita de nylon
É tudo água
O barco é uma ave pousada
numa arvore corrente
As correntes que prendem o
barqueiro a terra
São feitas de terra
É tudo terra


por lupeu lacerda

Momentos.- por Liduína Belchior




"Quero agarrar o instante já
Que de tão fugitivo não é mais,
pois tornou-se um novo instante.
Toda coisa tem um momento em que
ela é. E eu quero apossar-me do
É dessa coisa"(M Bethânia)


O instante já escorrega
pelas minhas mãos...
Quero segurá-lo, mas é
em vão.Os momentos importantes,
são simplórios e curtos, mas valem
preciosidades:escuto o sabiá cantar,
as folhas do coqueiro balançarem,
os risos das pessoas, os sussurros.
Caso me prepare, vejo até o infinito.
Mas me assusta o pensar no inexorável,
no inevitável,no imutável, no inabalável,
no inflexível.
As mãos tremem, o corpo responde e a
mente divaga.
O caminho entre o inflexível e o
flexível é muito curto. Por isso tenho que
estar atenta ao Amor" tirando sempre sua poeira".

Psicórdica - Por Adélia Prado





vamos dormir juntos, meu bem,
sem sérias patologias.
meu amor este ar tristonho
que eu faço pra te afligir,
um par de fronhas antigas
onde eu bordei nossos nomes
com ponto cheio de suspiros.

Colaboração de Joaquim Pinheiro


Cinco anos sem Arraes
Publicado em 12.08.2010

Ítalo Rocha

Foi num mês de agosto que o ex-governador Miguel Arraes se despediu da vida, depois de 57 dias de luta contra a morte, num leito de hospital, no Recife. Tinha 88 anos e deixou para trás um legado de obras que até hoje estão presentes na mente e no coração dos pernambucanos. Sua atuação política em prol de um estado democrático de direito também jamais será esquecida pelo povo brasileiro. Pagou um preço alto por isso, mas nunca transigiu na defesa dos seus ideais. Foi secretário de estado, deputado estadual, federal, prefeito do Recife e três vezes governador de Pernambuco.

Depois de duas eleições difíceis para deputado estadual (perdeu a primeira mas assumiu o mandato como suplente), foi surpreendido com um convite para ser candidato a prefeito. "Como, se tenho tão poucos votos?". Teria respondido aos representantes das forças progressistas que fora convidá-lo. As urnas provaram o contrário. Como prefeito, logo ganhou a simpatia da população. Investiu na alfabetização de jovens e adultos pobres, levou água para a periferia e implementou um novo traçado urbano que preparou o Recife para as décadas seguintes: concluiu a Av. Norte, abriu a Abdias de Carvalho e a Av. Sul, organizou a Imbiribeira, construiu a Ponte do Limoeiro e pavimentou a Av. Boa Viagem. Naquela época, a prefeitura ficava na rua da Aurora, separada do Palácio do Campo das Princesas pelo Capibaribe. Para atravessar o rio, Arraes contou mais uma vez com a ajuda das urnas. Sentado na cadeira que ocuparia por mais duas vezes, Arraes fez uma administração revolucionária, ganhou projeção nacional e passou a ter influência nos destinos da política brasileira.

No dia 31 de março de 1964, os militares golpearam o Brasil e tiraram do poder João Goulart. Depois redirecionaram a mira dos canhões para Pernambuco. Mais precisamente para o imponente prédio da Praça da República, no Centro, de onde Arraes comandava. Os militares propuseram ao governador a renúncia em troca da sua liberdade. Arraes não aceitou. Seria uma violação aos seus princípios éticos e morais. Saiu do palácio direto para o quartel do Exército, em Socorro, Jaboatão. Transferido para o quartel da Av. Visconde de Suassuna, na Boa Vista, foi levado para Fernando de Noronha. No ano seguinte foi liberado por força de um habeas corpus e viajou para o Rio. Para preservar sua integridade física, já que estava recebendo ameaças de morte, pediu exílio na Embaixada da Argélia e partiu para um longo exílio na África. Longe da sua pátria, foi um dos comandantes das articulações políticas da resistência à ditadura militar. Em 1979, foi um dos últimos exilados incluídos na lista de anistiados e retornou ao País.

Eleito deputado federal pelo PMDB em 1982, quatro anos depois recebeu de volta do povo de Pernambuco o mandato de governador que os militares haviam tirado com a força das baionetas. Voltou mais uma vez à Câmara Federal, agora como o deputado mais votados do Brasil. Na eleição seguinte ocupou pela terceira vez o cargo de governador do Estado. Como integrante da equipe de comunicação do seu segundo governo (1997/1990), comandada pelo jornalista Ricardo Leitão, tive o privilégio de acompanhar Dr. Arraes em suas andanças por esse mundo afora. Captei mensagens e tirei lições que carrego comigo pro resto da vida.

Homem simples, austero no trato com a coisa pública, tinha uma visão social abrangente. Tratava com fineza seus auxiliares, mas, quando se zangava, era aquela "tromba". De hábitos alimentares normais, ria muito quando mostrávamos a ele notas de jornais dizendo que ele no café da manhã costumava comer carne de sol, macaxeira e inhame e no almoço se refestelava com buchada e chambaril. Pela manhã, sua comida era simples. Pedaço de pão, bolacha, geleia e café. Nas outras refeições gostava de carne magra. Não exagerava à mesa. É tanto que nunca engordou. Nos discursos de campanha não gostava de citar obras que havia feito. "Peço votos pelo que haverei de fazer e nunca pelo que fiz". Detestava essa história da mídia de rotulá-lo de mito. "Tudo que faço e fiz pelo povo é concreto e não abstrato. Então, como posso ser um mito?".

Mas não perdia o humor com a confusão que percebia na imaginação dos mais humildes. Numa ocasião, nos grotões do Sertão pernambucano, Dr. Arraes estava reunido com um grupo de agricultores fazendo uma avaliação das obras do seu governo na região. Um dos trabalhadores, de uns 65 anos, barba por fazer, cabelos brancos e ralos, rosto sofrido e um semblante que irradiava pureza e ingenuidade por todos os poros, pediu para falar. "Dr. Arraes, o senhor já trouxe muito pra nós: luz, água encanada, equipamentos para irrigação e créditos. Faça chover também, Dr. Arraes, que aqui tá uma seca de lascar". Todo mundo morreu de rir com aquele pedido insólito. Mas a gargalhada mais sonora naquele momento foi a do "mito", que logo em seguida disse bem baixinho:"Ai se eu tivesse esse dom".

Dr. Arraes morreu no dia 13 de agosto de 2005 e levou consigo a imagem de um poema (Joaquim Cardozo) que ele tanto gostava: "Sou um homem marcado pelo tempo, mas essa marca temerária, entre as cinzas das estrelas, há de um dia se apagar".

Colaboração de CAIO MARCELO


BARRIGA É BARRIGA... Arnaldo Jabour


Barriga é barriga, peito é peito e tudo mais. Confesso que tive agradável surpresa ao ver Chico Anísio no programa do Jô, dizendo
que o exercício físico é o primeiro passo para a morte. Depois de chamar a atenção para o fato de que raramente se conhece um atleta que tenha chegado aos 80 anos e citar personalidades longevas que nunca fizeram ginástica ou exercício - entre elas o jurista e jornalista Barbosa Lima Sobrinho - mas chegou à idade centenária, o humorista arrematou com um exemplo da fauna:

A tartaruga com toda aquela lerdeza, vive 300 anos. Você conhece algum coelho que tenha vivido 15 anos?

Gostaria de contribuir com outro exemplo, o de Dorival Caymmi. O letrista compositor e intérprete baiano era conhecido como pai da preguiça. Passava 4/5 do dia deitado numa rede, bebendo, fumando e mastigando. Autêntico marcha-lenta, levava 10 segundos para percorrer um espaço de três metros. Pois mesmo assim e sem jamais ter feito exercício físico viveu 90 anos.

Conclusão: Esteira, caminhada, aeróbica, musculação, academia? Sai dessa enquanto você ainda tem saúde...

E viva o sedentarismo ocioso!!! Não fique chateado se você passar a vida inteira gordo. Você terá toda a eternidade para ser só osso!!!


Então: NÃO FAÇA MAIS DIETA!! Afinal, a baleia bebe só água, só

come peixe, faz natação o dia inteiro, e é GORDA!!! O elefante só come verduras e é GORDOOOOOOOOO!!!

VIVA A BATATA FRITA E O CHOPP!!! Você menina bonita, tem pneus? Lógico, todo avião tem!

E nunca se esqueçam: 'Se caminhar fosse saudável, o carteiro seria imortal.´

E lembrem-se sempre: Celulite quer dizer - EU SOU GOSTOSA! Em braile.

Poemas de Miguel Torga




Miguel Torga

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...


Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

O Sal da Terra
Beto Guedes
Composição: Beto Guedes/Ronaldo Bastos

Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Falo nesse chão, da nossa casa
Bem que tá na hora de arrumar...

Tempo!
Quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir

Vamos precisar de todo mundo
Prá banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver...

A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da...

Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã

Canta!
Leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com seus frutos
Tu que és do homem, a maçã...

Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Prá melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois...

Deixa nascer, o amor
Deixa fluir, o amor
Deixa crescer, o amor
Deixa viver, o amor
O sal da terra

!0 de agosto: Aniversário de Tiago Araripe!



Abraços  dos amigos , "No Azul Sonhado" !
Sucesso,alegrias , vida longa e muitas felicidades!

Tiago Araripe



Tiago Araripe
Especial para O POVO

Quando saí de Recife para tentar a sorte como cantor e compositor em São Paulo, deixando pela metade o curso de Arquitetura e um emprego de copy-desk no Diário de Pernambuco, só tinha um objetivo cem por cento definido: estudar na escola de música de Tom Zé. A fixação tinha seus motivos. Tom Zé era, como 30 anos depois continua sendo para muitos, uma referência de inventividade musical. Suas entrevistas que acompanhei pela televisão me indicavam um criativo invulgar, sempre capaz de lançar um olhar novo sobre os mais diversos assuntos da vida e da cultura do país.

Cheguei a São Paulo no início de 1973, trazendo na bagagem algumas composições tão estranhas quanto imaturas, feitas no eixo Crato-Recife por onde eu me movimentava. Não por acaso, o primeiro show a que assisti na grande metrópole foi o de Tom Zé e Grupo Capote, no auditório do Masp. Depois um vizinho pianista me forneceu o telefone do cantor e marcamos o primeiro encontro. De antemão soube que a escola de música já não existia. Mas fui em frente. Na longa conversa que tivemos no estúdio do maestro tropicalista Rogério Duprat, no bairro do Bixiga, entremeada pela apresentação ao violão de meu precário repertório, Tom Zé se mostrou um ouvinte atento e respeitoso. O contato, que durou toda uma tarde, teve desdobramento inesperado: trabalhamos juntos durante um ano, fazendo apresentações nas quais eu tinha espaço para mostrar algumas de minhas músicas.

A princípio, reunimos um time de músicos amadores, universitários de uma forma ou de outra atraídos pelo trabalho do baiano de Irará. (Alguns deles se profissionalizaram e chegaram a dar boas contribuições ao que se configuraria mais tarde como a Vanguarda Paulistana.) Ensaiávamos no apartamento de Tom Zé nas Perdizes, provavelmente no mesmo edifício onde mora até hoje e do qual é jardineiro oficial. Na mesma vizinhança habitavam os articuladores do movimento concretista: Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Cheguei a participar de alguns encontros de Tom Zé com esses poetas de campos e espaços. Muitos deles no bar Cristal, regados a chopp e Steinhager. Não raro surgiam intersecções musicais interessantes, como a audição da obra do músico austríaco Anton Webern, promovida e comentada por Augusto de Campos, no apartamento deste, com a presença de Tom Zé e do poeta Régis Bonvicino. Ou as cinco letras que Décio pediu a Tom Zé para musicar e este me repassou: um desafio, pois eram extensas e sugeriam tudo menos versos de canção popular. Mesmo assim, a partir delas consegui fazer duas composições: ''Teu coração bate, o meu apanha'', lado B do compacto simples Tom Zé e Tiago Araripe, lançado pela Continental em 1974, e ''Drácula'', que interpretei no Festival Abertura da Globo no ano seguinte. Ambas são tangos, gênero no qual até então eu não me aventurara, definidos pela crítica especializada da época como uma vertente nova, não enquadrada nem no tango tradicional nem no tango jazzístico de Piazzola. Aprovado pelo novo parceiro, ganhei depois uma letra específica (e curiosíssima) das mãos do próprio Décio, transformada numa espécie de rumba: ''Hipopopótamo'' (sic).

Voltando ao fio da meada. Nos ensaios com os universitários, trabalhando a partir da sonoridade acústica de violões, era interessante observar a capacidade de Tom Zé de extrair o melhor dos músicos incipientes que éramos. Valia-se dos seus conhecimentos de música erudita (chegou a estudar cello e ter aulas com Smetak, quando morava em Salvador) e sua intuição de artista inquieto, sempre em busca do inusitado, para nos ensinar. Lembro de um arranjo que ele criou para ser executado por mim numa harmônica de boca, mostrando-me como tocar sem me atrapalhar com o manejo da clave. Assim a gaita incorporou-se aos shows, que fazíamos em diversos espaços da capital e do interior paulistano. E olha que nunca fui tocador de gaita.

Em determinada altura do campeonato, sugeri a ele que deveríamos modernizar o show, dando-lhe uma característica pop. Algo que fizesse jus ao disco Todos os olhos (sim, aquele da foto polêmica), recém-lançado. Ele aceitou de pronto, e convidei alguns amigos, nordestinos e músicos, constituindo assim o que viria a ser o embrião do grupo Papa Poluição, que integrei entre 1975 e 1980.

A derradeira apresentação que fizemos juntos foi num evento sobre cultura baiana no Anhembi, do qual participou também Walter Smetak. No seu show, Tom Zé entrava todo paramentado de artista pop, com uma máscara aplicada sobre o rosto que o deixava transfigurado. Aos poucos ele ia tirando o disfarce, arrancando nariz, orelhas etc. Se queria impacto, conseguiu.

O registro do trabalho que fizemos juntos foi o compacto gravado no mesmo estúdio, de apenas dois canais, onde nos conhecemos: de um lado ''Conto de fraldas'', de Tom Zé, e do outro ''Teu coração bate, o meu apanha''. Queríamos uma sonoridade diferente para o disco, e convidamos um músico na época bem cotado nos estúdios, mas completamente desconhecido do grande público: Guilherme Arantes. Foi quem fez os arranjos, pilotou os sintetizadores e participou do coro.

Tom Zé tinha uma maneira peculiar de viver a cidade de São Paulo. Acompanhá-lo dirigindo no trânsito caótico era muito interessante. Ele sabia de todos os fluxos e contrafluxos, de todos os meandros do tráfego, como um pescador conhece as oscilações das marés. O que não quer dizer que sua convivência com a cidade fosse tranqüila. Não o era em absoluto. Que o digam algumas de suas músicas, como ''Botaram tanto lixo, botaram tanta fumaça''.

Fazia anos que não o via e nos encontramos na pré-estréia do filme The Doors, à qual ele foi por insistência da esposa Neusa. Tinha voltado há pouco de Nova York onde tivera o primeiro contato pessoal com David Byrne. Assistimos ao filme juntos e perguntei-lhe como estava a cena musical novaiorquina. Ingenuamente, imaginava que me contaria novidades quentíssimas. No entanto, ele me respondeu que não sabia: ficara o tempo todo dentro do hotel.

Esse é o Tom Zé que conheci. Um ser híbrido, meio Irará meio futurismo universal. Durante o longo período em que ficamos sem nos ver, tive um sonho premonitório que contei a Neusa numa fila de cinema. Nele, Tom Zé obtinha finalmente amplo reconhecimento. Isso foi antes de o mundo lhe abrir as portas, a partir do convite de David Byrne. Que bom que se tornou real.

Tiago Araripe é compositor e publicitário
tararipe@click21.com.br

Mariscos - por Everardo Norões



o mar possui,
por engano,
feito de cor e de pena,
um alfabeto estranho.
Às vezes escreve cartas.
Se as leio,
me condena.
Náufrago de mar secreto,
( sem maré baixa ou navio)
sou o mau destinatário:
pois nem mesmo em mim
me aceito,
ou fio.

Definição de Filho, por José Saramago.-Colaboração de Geraldo Ananias


“Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem.
Isso mesmo!
Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.
Perder? Como?
Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo!"
(José Saramago)

ROBERTO ROBERTI- por Norma Hauer


Ele nasceu, aqui no Rio de Janeiro, no dia 9 de agosto de 1915, teve uma vida longa, falecendo em 16 de agosto de 2004, aos 89 anos.
ROBERTO ROBERTI ainda cedo "encontrou-se" com a música popular brasileira compondo,aos 20 anos, "Queixas de Colombina", gravado por Carmen Miranda em 1935. Foi quando iniciou uma parceria com Arlindo Marques Júnior, que perdurou durante anos, quase sempre, com sucessos.
Da dupla, além de "Queixas de Colombina", podemos citar: "O Homem sem Mulher Não Vale Nada", com sua resposta:"Encontrei Minha Amada", ambas gravadas por Orlando Silva;"Música Maestro", com Dircinha Batista; "Nós, os Carecas", com os Anjos do Inferno;"Abre a Janela", com Orlando. Duas composições suas (com outros parceiros) "estouraram" no carnaval, sendo que uma até hoje faz parte dos desfiles carnavalescos (populares) e é sempre apresentada no baile carnavalesco anual realizado na Cinelândia: "Aurora", em parceria com Mário Lago. Com Herivelto Martins compôs "Isaura", gravação de Francisco Alves.

“Se você fosse sincera,
Ô,ô Aurora
Veja só que bom que era
Ô,ô Aurora”...

Um lindo apartamento, com porteiro e elevador
E ar refrigerado para os dias de calor
Madame antes do nome,
Você teria agora.
Ô ô ...Aurora!.

Sempre há umas histórias que não aparecem na Internet.
No ano de 1941, duas composições com nome de mulher foram sucessos no carnaval: "Aurora", de Roberto Roberti e Mário Lago e "Helena", de Antônio Almeida e Constantino Silva.
Com o tema das duas, Roberto Roberti e Arlindo Marques Júnior compuseram "Até Papai":
"Por causa da Helena,
Por causa da Aurora...
Até papai só chega em casa a uma hora".

Com "Se a Orgia se Acabar", também da dupla, ocorreu algo referente ao antigo DIP. Orlando gravou esse samba exatamente com esse nome, onde aparece a palavra "orgia". Pois bem, após essa gravação, que marcou sucesso, o famigerado DIP resolveu que a palavra "orgia" era imoral, por representar vadiagem. Tal palavra foi proibida. Que fizeram os compositores: mudaram o nome para "Fui Traído", e Carlos Galhardo a gravou, no qual a frase final da 1ª estrofe foi transformada de:

"mas eu choro se a orgia se acabar"
para "mas vou chorar se o samba se acabar."

"Grande" DIP, importar-se com mesquinharias. Mas naquele tempo era assim.
E muitas músicas, por qualquer bobagem, eram censuradas, o que também aconteceu durante o regime militar. Só que neste caso foi por motivo político e não por uma simples palavra.

PELOS CAMINHOS- socorro moreira





Quando eu resolvo caminhar,
Viajo fora de mim,
Passeio dentro de ti,
Vejo miragens e
Vivo realidades.
Encontro-me nas esquinas,
Nos bares, nos templos,
e em todos os lugares.
Chego onde não sonhei,
Vejo o que não pensei,
Sinto-me invisível, abstrata...
Quando eu resolvo caminhar,
Eu fico a esmo...
E deixo a estrada do fim,
No recomeço.


Todo mundo acha a poesia no escuro.
Porque a verve poética é uma lâmpada de cem velas. 



Hermann Hesse


Hermann Hesse (* 2 de julho de 1877, em Calw bei Stuttgart, Alemanha - † 9 de agosto de 1962, em Montagnola, Suíça), escritor alemão.

Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.
Hermann Hesse

Se você odeia alguém, é porque odeia alguma coisa nele que faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos perturba.
Hermann Hesse


O homem culto é apenas mais culto; nem sempre é mais inteligente que o homem simples.
Hermann Hesse


A paz não é um estado primitivo paradisíaco, nem uma forma de convivência regulada pelo acordo. A paz é algo que não conhecemos, que apenas buscamos e imaginamos. A paz é um ideal.
Hermann Hesse


Ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele próprio não tiver vivido.
Hermann Hesse

A sabedoria não pode ser transmitida. A sabedoria que um sábio tenta transmitir soa mais como loucura.
Hermann Hesse

Lennie Dale



Leonardo La Ponzina, mais conhecido como Lennie Dale (Nova Iorque, 1934 — 9 de agosto de 1994) foi um coreógrafo, dançarino, ator e cantor ítalo-americano radicado no Brasil.
[editar] Biografia

Ele chegou ao Brasil em 1960 trazido pelo diretor de teatro de revista, Carlos Machado, para realizar a coreografia de uma peça musical. A partir daí passou a ficar no país por longas temporadas.

Figura de destaque nos anos 1960 e 1970 por sua atuação junto a artistas fundadores do movimento musical urbano carioca, a bossa nova. Dirigiu diversos espetáculos apresentados no Beco das Garrafas, reduto de boêmios e músicos da bossa nova.

Em 1973, em plena ditadura militar no Brasil, fundou o grupo andrógino Dzi Croquettes, que misturava dança com teatro. Por seu humor irreverente, o grupo se tornou um símbolo da contracultura do período.

Lennie Dale viajava constantemente para os EUA, onde dirigiu espetáculos com artistas de renome como Liza Minelli.

Foi vítima da AIDS e desde que descobriu ser portador do vírus foi para os Estados Unidos onde teve assistência médica gratuita, aconselhado pelo seu próprio médico particular.



*Em 1981, quando morava em Uberlândia tive oportunidade de fazer ua oficina de  dança com o Lennie Dale

NOITE SEM LUAR - por Telma Brilhante





no dengo das ondas
cochilava o mar
barcos flutuavam
solitários


refluíram as águas
deixando na pálida areia
fios verde-enegrecidos


a amplidão sugeriu vazios
que se prolongaram
nas trevas

Do livro "No Azul Sonhado"




Por Lupeu Lacerda

Tem nada não
Se de vez em quando
No meio de tudo
Você se sentir assim meio,
transparente
A gente é assim mesmo:
Gente.

Crato: também a Diocese ??? - José Nilton Mariano Saraiva

Você, aí do outro lado da telinha, ainda tá lembrado de que alertávamos a quem de direito, aqui mesmo neste espaço, da possibilidade de que, mais cedo ou mais tarde, também a sede do Bispado (Diocese) possa vir a ser transferida, “vapt-vupt”, de Crato pra Juazeiro ??? E que por trás disso tudo se acha o alienígena italiano que se fez “bispo”, presumivelmente trabalhando nessa direção visando benefícios próprios ???
Pois é, agora, através da última edição da Revista Província (nº 29, de julho/11), seu Diretor, o conceituado professor universitário e jornalista Jurandy Temóteo, com a autoridade moral e bagagem intelectual de todos conhecida, nos mostra que tão sórdida trama, envolvendo a possível transferência não só da Diocese, mas também do seminário, teve origem lá atrás (há exatos 97 anos), arquitetada pelo próprio Cícero Romão Batista (a quem rotula de “...dissimulado, arrogante, ambicioso e vaidoso”) contando com o auxílio dos senhores “...Leandro Bezerra, Floro, Sá e mais amigos”, conforme telegrama enviado ao senhor Nogueira Acióli (vide transcrição abaixo, ipsis litteris), convidando-o a engajar-se em tal projeto.
Convém atentar para a sutileza escondida nas entrelinhas do citado documento, quando Cícero Romão Batista, mostrando toda a sua prepotência, arrogância e vaidade, maquiavelicamente chega a insinuar (ou sugerir) o seu próprio nome pra Bispo (“...MOSTRANDO DIREITO MEU”), nem que para tanto tivesse que PAGAR um certo preço: “...aqui aonde OFEREÇO duas propriedades, valor suficiente patrimônio, casa própria para palácio, terreno seminário, facilidade construção”. E que, para conseguir seu desiderato, chega a “sofismar”, ao peremptoriamente declarar que Juazeiro (ainda nos seus primórdios), seria uma “...cidade maior população” (mentira cabeludérrima, como se vê).
Veja, leia, recorte, guarde, coloque numa moldura ou... rebole no lixo:
“Juazeiro, 21-12-1914. Dr. Nogueira Acioli, Rua Matriz, 63, Rio.
Com Floro, Sá, mais amigos peço irem em comissão ao Núncio. Apresentem EM MEU NOME transferência sede Bispado Cariri para aqui Juazeiro, MOSTRANDO DIREITO MEU, por ter sido empreendedor desde Roma 1898 continuando esforços auxiliado Dr. Leandro Bezerra perante Núncios Apostólicos monsenhores Tonti, Bavona ficando aceito pela Santa Sé e combinação Sr. Bispo D. Joaquim. Reunião Bispo Norte em Pernambuco foi aceita proposta, juntamente outros Bispados. Faça ver DIREITO SEDE AQUI, AONDE OFEREÇO duas propriedades, valor suficiente patrimônio, casa própria para palácio, terreno seminário, facilidade construção. CIDADE MAIOR POPULAÇÃO. Floro diga como bem conhece se esforçando Núncio obter Santa Sé. Sinceras saudações, Padre Cícero”.
Um outro aspecto que merece ser realçado, ali abordado didaticamente e com muita propriedade pelo professor e jornalista Jurandy Temóteo, diz respeito à portentosa riqueza, repentina e inexplicável, de Cícero Romão Batista (à qual também nos havíamos referido anteriormente), ao transcrever as citações abaixo:
De Mons. Antônio Feitosa: “O próprio Padre Cícero põe as armas nas mãos dos que o acusam de ter se tornado excessivamente rico. Diversos autores colheram nos TESTAMENTOS FIRMADOS PELO PADRE CÍCERO EM NOME DE DEUS, alguns dados expressivos e sintomáticos. Diz Morel: “Seu testamento datado de 04 de outubro de 1923 dá notícia de 30 sítios, 16 prédios, um quarteirão e uma avenida de casas, cinco fazendas com gado e benfeitorias e uma mina de cobre””.
De Carlos Chagas: “... dizem com malícia que O ÚNICO MILAGRE REAL DE SUA VIDA foi começá-la pobre e morrer deixando em testamento 31 sítios, vários terrenos, cinco fazendas de gado e benfeitorias, 17 prédios, 04 quarteirões de casas e uma mina de cobre”.
Como se observa, o pseudo-santo tinha “pés-de-barro”, sim senhor, nenhuma humildade, além de reconhecido “bloqueio intelectual”, conforme a Revista Província nos cientifica, a saber: “... Na realidade, o Pe. Cícero era portador de forte preguiça intelectual, pois viveu alheio ao movimento literário do seu tempo, sem livros, ignorando escritores, filósofos e sociólogos, antigos e modernos. Daí a sua incultura, que nunca permitiu escrever um artigo, pronunciar um discurso ou realizar uma conferência – vide Otacílio Anselmo, “Padre Cícero – mito e realidade”, p. 43, Civ. Brasileira, Rio, 1968)”.
Ante o exposto e face o agora publicado pela Revista Província, entendemos que convém lembrar os questionamentos que levantamos a respeito da grotesca farsa conhecida como “o milagre da hóstia” - oportunidade em que a própria Igreja Católica “carimbou” Cícero Romão Batista como “charlatão” - a saber:
1) objetivamente, qual foi mesmo a “causa mortis” que vitimou a beata Maria de Araújo ???; 2) por qual razão os famosos “paninhos”, depositários do seu sangue (exaustiva e recorrentemente usados e difundidos como uma das “provas” do milagre), providencialmente sumiram (ou queimados foram), como se houvesse o temor de que, num futuro não tão distante, com o vasto instrumental que certamente surgiria, um simplório exame laboratorial mais detalhado pudesse diagnosticar alguma comprometedora e letal moléstia (tuberculose ???), determinante e capaz de “demolir” de vez com o tal “milagre da hóstia” ???; e, 3) qual a “ORIGEM-FONTE” dos expressivos recursos que permitiram que alguém, originário de família paupérrima e sem uma remuneração compatível, de repente tenha se tornado “podre de rico” ???
Quaisquer dúvidas poderão ser elucidadas através de consulta à “Revista Província”, edição número 29, de Julho/2011, páginas 153 a 157, artigo “Padre Cícero, um homem de bens”, de Jurandy Temóteo.
Alfim, não custa lembrar e é sempre bom termos em mente o sábio ensinamento do nosso Zé do Vale: “No dia em que um assunto não puder ser tratado por um cidadão, este assunto não existe. Isso é coisa de sociedade secreta, de iluminados, de mensagens cifradas.(...) Se estamos todos aqui discutindo política, cultura, economia, filosofia e o cotidiano o mais certo é que as visões se multipliquem”.