por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Bola e a Bóia



                                   Há quem considere a Crônica um gênero literário menor. Talvez, comparando com o Conto, o Romance, o Ensaio, a Poesia, não tenha ela o mesmo charme e a mesma fama .  Desconfio, no entanto, que esta opinião advém da volatilidade maior do estilo: ligada geralmente aos fatos mais corriqueiros e cotidianos , possui uma permanência mais etérea. O texto publicado no jornal,  hoje, amanhã já está, muito provavelmente, limpando as vidraças da sala. Trabalhar com esta impermanência , tecendo o bordado numa ponta, enquanto o tempo desfaz o fio do outro lado, parece-me  uma coisa mágica e remete quase que imediatamente à efemeridade da vida: matéria prima de todos os gêneros literários. E não são poucos os grandes escritores que soçobram ante os mistérios da Crônica; faltam-lhes, tantas vezes,  leveza, despojamento, humildade para enfrentar o profundo abismo que é escrever acossado pelo grande e implacável  apagador das horas. Machado de Assis, meu escritor predileto, talvez o maior que o país já produziu, não me parece um grande cronista. Humberto de Campos,  o mais produtivo da sua época, hoje é totalmente esquecido. Lembro da grande coleção azul,  dele,  de mais de  trinta livros , na biblioteca imensa do Tio Sávio Pinheiro. Devorei-a, na adolescência, com voracidade. Talvez os textos fossem datados demais e tenham perdido o glamour com o advento das novas gerações. Rubem Braga, certamente ,mantém-se distanciado como  o mais importante escritor  do gênero, em língua portuguesa, possivelmente porque  é profundamente poético e poesia não tem idade : banha-se na fonte da eterna juventude.
                                   O certo é que me apetece esse encanto de garimpar nossa doce história cotidiana. Fatos aparentemente sem importância, gestos leves, movimentos fortuitos, personagens tidos como menores e que cairiam  rapidamente na lixeira da memória não fosse o olhar atento do cronista. E mais: tentar perenizá-los usando a mesma argamassa amorfa,  frágil e etérea com que são constituídos.
                                   Querem  um exemplo ? Esta semana publicou-se uma notícia trivial na televisão. Foram devolvidos a alguns japoneses, alguns objetos tragados no terrível Tsunami do ano passado. As marés os carregaram até o Alaska, na outra extremidade do mundo. Algumas pessoas os recolheram e identificando alguns deles os devolveram aos seus donos no Japão. Sakiro Miura, uma japonezinha simpática, recebeu uma bóia que emoldurava a porta da sua loja de mergulho: nela estava escrito, em caracteres japoneses, o nome do esposo, falecido há 30 anos. Um rapaz recebeu uma bola de futebol onde gravara o próprio nome  e estampava várias assinaturas dos seus colegas de escola. A bola e a bóia não possuíam qualquer valor monetário e a notícia, tirando-se o inusitado, não carrega maior importância. Debite-se na conta ainda  a gentileza dos moradores do Alaska : perceberam que , de alguma maneira, junto com os objetos, devolviam à Sakiro e ao rapazinho um pouco daquilo que a tragédia havia arrancado das suas mãos. A bola e a bóia restituíam junto a esperança: o combustível de toda nossa jornada nesta terra.
                                   Atrás da notícia, escondia-se uma verdade só perceptível ao cronista. O  preço real  das coisas não pode ser avaliado apenas por seu valor venal: de troca, de venda , de escambo. Existe tantas vezes um valor sentimental que imanta os objetos e que não pode ser mensurado por trena , nem pesado com balança Fillizola. Sakiro não negociaria sua bóia por qualquer dinheiro desse mundo. E mais : só ela consegue dimensionar este custo, ninguém mais desse mundo. Seu tesouro está assim, biblicamente, imune às traças, aos ladrões e  ao caruncho.
                                   Quando os tsunamis por fim devastarem as praias da nossa existência, estes serão os únicos bens que boiarão e que um dia , quem sabe, o destino devolverá à nossa porta, para nosso gáudio, como a bóia de Sakiro Miura : uma florzinha que desabrocha em meio ás  ruínas que restaram.

J. Flávio Vieira

O Banhado do Taim, a fundação do Movimento Verde e a Rio +20 - José do Vale Pinheiro Feitosa


Vínhamos pela BR-471 de Chuí para Pelotas quando avistamos, na estrada quase vazia de automóveis, placas indicando um trecho cuja velocidade mínima seria de 40 km por hora. Perigo de animais selvagens atravessando a pista. Estávamos na região da Reserva Ecológica do Taim, uma estreita faixa de terra entre o Oceano Atlântico e a Lagoa Mirim, nos municípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar.

Rio de Janeiro, junho de 2012, as ruas cheias como o seu dia-a-dia de veículos explodindo fumaça pelo escapamento. O noticiário igualmente tomado de notícias da Rio +20. Pelas ruas da cidade, a cada esquina, encontro da espécie humana grunhindo suas cordas vocais em múltiplos idiomas.

A consciência ecológica, verde, conservacionista, sustentável ou que nome venha a ter é ampla nesta Conferência das Nações. E pensar que tudo começou no turbilhão que jogou o mundo entre os anos 60 e 70. Quando a consciência planetária se imiscuiu na cultura e na política. A consciência que igualmente esteve no movimento hippie, no Rock and Roll, na Guerra do Vietnã e a resistência a ela, nos movimentos estudantis pelo mundo inclusive o Paris de 68 e além das guerras de libertação colonial na África e na Ásia.

A Reserva Ecológica do Taim faz parte da planície costeira que caracteriza o extremo sul do Brasil. Os banhados do Taim, como é seu nome original se compõem por praias lagunares, marinhas, lagoas, campinas, pântanos e dunas. Ali vive e se formou um rico ecossistema composto por animais e plantas. João de Barros, Tuco-Tuco, Tartarugas, Capivaras, Jacaré-do-Papo-Amarelo, Ratão-do-Banhado, Orquídeas, Bromélias, Cactos, Figueiras, Juncos e Água Pés.

No Forte de Copacabana se montou uma estrutura enorme onde os militantes ecológicos, visitantes, curiosos e representações populares e do mundo científico engajado se mistura como uma Torre de Babel de línguas. No RioCentro as delegações penam em discordâncias e concordâncias com um longo texto que será retificado pelos Chefes de Estado.

A primeira vez que se tomou uma consciência ecológica do ponto de vista político e como uma consciência na cultural mundial, aconteceu por fatos cumulativos e com a Conferência de Estocolmo, ou Conferência da ONU sobre Meio Ambiente Humano começando em 5 de junho de 1972 (apenas 40 anos). O mundo estava perplexo com os efeitos da contaminação por venenos no solo, nas águas e nos animais oriundos de processos industriais e da agricultura. Os testes com bombas atômicas deixavam uma rastro letal de Estrôncio-90 no meio ambiente. A Baleia Azul tinha sido tão perseguida que estava à beira da extinção.

Entramos na velocidade indicada nas placas sobre um aterro que atravessa aproximadamente 20 Km da reserva do Taim e se descortina uma paisagem belíssima ladeada pelos pampas, a criação de gado e grandes grupos de capivaras de um lado e outro do banhado. Enquanto o motor do carro nos transportava vinha-me a lembrança da grita do Pasquim e do Coojornal do Rio Grande do Sul denunciando a construção da BR-471 sobre a reserva do Taim, expondo suas obras e uso ao desastre ecológico.

O Presidente Obama, a Chanceler Merkel e David Camerom não se farão presentes à cúpula dos Chefes de Estado da Rio +20. Num desânimo estrutural e na contramão da necessidade de se repensar a marcha da humanidade, estes líderes das nações mais intensas em consumo do planeta, não virão, permanecerão onde estão. Numa atitude sempre evasiva nestes fóruns mundiais, mas quando se trata de defender o meramente econômico com base em moeda pura, as grandes nações nunca se escondem. Estão lá para fazer os acordos entre si, à margem da maioria da humanidade.

Na Primeira Conferência a de Estocolmo de 1972, aquela que funda o movimento verde, o atual formato já estava pronto: a sociedade civil, cientistas e chefes de estado. Indira Ghandi, premier da Índia disse: “A minha percepção é de que pessoas que não se entendem com a natureza são cínicas em relação à humanidade e não estão confortáveis consigo mesmas”. A partir dali o assunto entrou na agenda da humanidade e o Brasil, por sua cidade Rio de Janeiro, se tornou uma referência fundamental nas principais conferências até aqui.

Enquanto o nosso carro avançava no aterro sobre o banhado do Taim, aquelas frases de efeito na grita contra a truculência da ditadura que apontara o dedo no mapa para aquela região e ali plantara a estrada que violentava a natureza. Tudo que lera no Pasquim e no Coojornal fazia sentido: um, dois, três, quatro, mais outro, outro e outros mais corpos de capivaras jaziam esmagados a se confundir com o asfalto da rodovia.

Hoje pela manhã o Rio amanheceu azul após tantos dias de chuvas. Amanheceu azul com uma matriz da floresta da tijuca a ladear o intrincado de ruas. Tudo de ruim que disseram das cidades aqui acontece. Aconteceu e acontecerá. Mas não existe esperança que não sejam sobre os eventos em acontecimento e por isso pode-se mudar o rumo da história. Pelo fato pura e simples do que acontece continuamente é de onde se transforma.  

Antes de terminar é impossível esquecer do livro “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson, sistematizando os efeitos do desenvolvimento e do progresso sobre o meio ambiente. Assim como José Lutzemberg a abrir a consciência ecológica no Brasil após anos de trabalho na BASF quando sentiu os efeitos danosos dos agrotóxicos sobre os agricultores. E aqui uma frase dele de 1972 a primeira vez que li sobre o assunto numa entrevista que ele deu acho que para o Pasquim ou outro jornal alternativo da época feito O Movimento ou Opinião: “Se não conseguirmos, em pouco tempo vencer a piromania nacional, estará nosso país a transformar-se, durante a vida dos jovens e crianças de hoje, em deserto e serão indescritíveis as calamidades que sofreremos. A provável e talvez já desencadeada inversão climática tornará impossível a recuperação, mesmo a longo prazo.”   Lutezemberg foi um dos primeiros a falar no aquecimento global com esta frase. 

VIVA GONZAGÃO

No centenário do nosso grande Luiz Gonzaga, o registro de um encontro memorável que tive com o Rei do Baião em Crato.





O ANO ELEITORAL EM CRATO - José do Vale Pinheiro Feitosa


Quando um empresário se candidata, se elege e assume um cargo público ele vive um dilema, mas um dilema a priori resolvido: entre o interesse público e o seu ele fica com o seu.”
Wilson Fadul, Prefeito de Campo Grande, Deputado Federal, Ministro da Saúde, Editor, Presidente de Banco.

Todos sonhamos e desejamos a retomada da vocação da cidade de Crato para que a região do Cariri tenha melhores chances de desenvolvimento. Sem o Crato ou com a Política da cidade funcionando de modo subalterno e confuso, a região ficará empacada numa eterna perda de autonomia, apenas absorvendo as sobras das políticas ditadas pelo Governo Estadual e suas alianças regionais.

A rigor ninguém tem a fórmula para a retomada desta vocação, mas algumas tradições históricas, educacionais e culturais dão algumas pistas como bem explicitou Dr. José Flávio Pinheiro Vieira em postagem recente. E não se tem uma pista completa por que antes é preciso ouvir a sociedade, fazê-la se manifestar sobre o tema, incluindo desde as associações de bairros, passando por organizações da sociedade civil, do comércio e indústria, a URCA e setorialmente todas as instâncias municipais: câmara de vereadores e conselhos municipais e os funcionários dos diversos setores da administração municipal.

É preciso ter este objetivo de construir coletivamente a vocação da cidade para que as políticas públicas se orientem por ela. E este coletivamente só pode existir no povo do Crato, ele não vem de fora, é a partir do seu conceito próprio que a cidade pode apresentar a sua contribuição para a região e reivindicar políticas estaduais e federais para dar curso às políticas locais.

Por isso mesmo, alguns parâmetros políticos precisam ser evitados a todo custo para que a cidade retome seu destino e exerça o papel de liderança que lhe cabe. Quais são estes parâmetros de natureza conjuntural e estrutural:

a     a ) Do ponto de vista conjuntural: o Crato não pode ficar nestas eleições a reboque dos desejos políticos do Governador do Estado. Não pode por dois motivos muito simples: o Governador tem mais dois anos de mandato e trabalha nesta altura apenas para a sua própria sobrevivência política o que não trás vantagem alguma para o Crato além do atual Governo estadual ser fruto de uma aliança entre forças politicas da região metropolitana de Fortaleza e da região norte para as quais os interesses do Cariri são secundários.

b      b) Ainda na lógica conjuntural: seria um erro histórico o Crato eleger um prefeito por força de um ou dois políticos regionais, cujos interesses se resumem ao próprio domínio político. Sejam estes políticos senadores ou deputados da região não é pelo desejo deles que a cidade conquistará autonomia, pois o desejo deles quase que se insere apenas no espectro do poder pessoal.

c      c) Do ponto de vista estrutural: o Crato precisa superar a velha política local, feita por conchavos entre famílias, que se prendem a um saudosismo eterno e uma inveja doentia do sucesso de outras cidades. Esta estrutura precisa ser superada até para que os filhos e netos destas famílias possam ter progresso e amplie a capacidade de liderança para o bem comum.

O modo de superação da cidade, como dissemos, é pela construção coletiva de um plano de identidade local, com a inserção de novos atores sociais e econômicos que não tiveram, não têm e nunca terão vez uma vez não se supere aquelas conjunturas e estrutura citadas. Para isso é preciso um núcleo político popular e democrático que promova a inserção destas novas forças. E isso não se mostra impossível no quadro econômico, social e político do país, quando se vive um momento especial de crescimento econômico com distribuição de renda e um novo paradigma do Estado de Direito Democrático.

O núcleo popular e democrático não tem donos, mas tem um norte que são as políticas nacionais de desenvolvimento com inserção social. O núcleo é dinâmico, inclusivo e distributivo, convocando todos os bairros para a construção coletiva. O núcleo popular e democrático terá algumas questões que estão na raiz daquilo que o Dr. José Flávio apontou: o meio ambiente, a educação pública, a saúde pública, a cultura popular e universal, saneamento básico e proteção social.

Por último o núcleo político e popular precisa ser estendido rapidamente, convocado e aberto para a construção. Seria um erro se fazer política apenas repetindo as fórmulas clássicas de programas de rádio, panfletos e palanques. É preciso multiplicar rapidamente estes núcleos nos bairros e partir para o entusiasmo popular não como objeto de promessas eleitoreiras, mas como a construção do possível e do necessário. Desenvolver o espírito crítico na população para denunciar todas as manobras que quebram o espírito democrático das eleições como cabos eleitorais assalariados, compra de votos e outras coisas que a legislação eleitoral veta.

Em palavras finais: o núcleo popular e democrático é popular e democrático e vai abandonar todas as velhas formas de fazer política com as quais a cidade se acostumou e se acomodou. É preciso ir para a rua como diz a canção: “é preciso ir aonde o povo está, se foi assim, assim será.”      

" FUTEBOL" - A Verdadeira Copa - José Nilton Mariano Saraiva

Com sede Suíça, a FIFA-Fédération Internationale de Football Association, abriga em seus quadros mais países que a própria ONU-Organização das Nações Unidas, já que com cerca de 215 afiliados. Trata-se, pois, de uma das maiores e mais rentáveis multinacionais do planeta.
Mas foi justamente aí, na ânsia desmedida em cooptar filiados através da politicagem rasteira do quantificar independentemente do qualificar, que aquela Federação Internacional acabou por transformar a sua principal mercadoria, a Copa do Mundo de Futebol, num torneio sem o charme, a atração e a credibilidade de outrora.
Se você aí do outro lado da telinha desconhece, saiba que quando o Brasil ganhou sua primeira Copa do Mundo, em 1958, o torneio se restringia a 16 seleções nacionais, normalmente fortes e competitivas.
Mas, a partir de certo momento, a televisão, antevendo o preenchimento da sua grade com uma atração com poder de atrair anunciantes com “bala na agulha”, firmou parceria com a FIFA e a “porteira” foi escancarada: o aumento das vagas pulou pra 24 e posteriormente para 32 seleções, sob uma justificativa não lá tão convincente: os povos dos continentes africanos, da Oceania e de outros países (sem nenhuma tradição no esporte), também eram filho de Deus e, portanto, não poderiam ficar de fora da “maior festa do futebol” (a questão do "patrocínio" foi estrategicamente "esquecida") .
E foi assim, através dessa tal globalização (um tanto quanto enviesada), que a Copa do Mundo de Futebol se transformou na xaropada que é hoje: insossa, previsível, sem atrativos, com “peladas monumentais” à espera de uma “zebra” qualquer aqui e acolá e, principalmente, com jogos em horários que se amoldem ao espaço disponível na grade televisiva e ao fuso-horario, mesmo que o distinto público não tenha condição de comparecer aos estádios (meio-dia ou tarde da noite). Daí a substituição do torcedor de arquibancada pelo torcedor de poltrona.
Ainda bem que para se contrapor a essa “zorra” toda, a UEFA (União das Federações Européias de Futebol) patrocina uma competição que, se contasse com o Brasil e a Argentina poderia perfeitamente ser rotulada com o “verdadeiro” Campeonato Mundial de Futebol: a Eurocopa, que é disputada nos mesmos moldes da antiga Copa do Mundo da Fifa - 16 clubes, divididos em 4 chaves, com 4 clubes cada, classificando-se dois de cada grupo até se chegar ao funil onde só sobram os dois finalistas (claro que, pra não fugir à regra, aqui e acolá temos que digerir algum “purgante” brabo, algum jogo chocho).
E aí, paradoxalmente, só temos que agradecer à televisão por nos permitir assistir (na poltrona, é claro) a embates virtuosos entre times de inquestionável gabarito, tais quais: Alemanha, Espanha, Rússia, Polônia, Portugal, República Tcheca, Dinamarca, Holanda, Itália, França, Inglaterra, Suécia, Croácia, Ucrânia e, um pouco menos, Irlanda e Grécia.
Alguém dúvida que se fosse possível incluir Brasil e Argentina em tal competição teríamos a verdadeira Copa do Mundo de Futebol, já que mais qualificada ???

Fênix – O pai que volta;
o choro da mãe;
a culpa e o perdão;
o desespero e a esperança;
a noite e o dia;
o sorriso da criança;
fim da agonia!

João Marni

Jamelão


José Bispo Clementino dos Santos, mais conhecido como Jamelão (Rio de Janeiro, 12 de maio de 1913 – Rio de Janeiro, 14 de junho de 2008), foi um cantor brasileiro, tradicional intérprete dos sambas-enredo da escola de samba Mangueira.

Mavutsinim



Eu, Mavutsinim, o primeiro homem

a pisar este chão abençoado,
fui só como o horizonte do infinito.

Senhor do universo, criei de uma concha
a mulher que o meu corpo reclamava.

A beleza tem forma, na verde luxúria
das ervas resinosas que nos acolheram.

O espírito do sol e o espírito da lua
pousaram sobre nós a sua luz.

O ventre da mulher cresceu como o húmus
fertilizado pelas águas vermelhas.

Ergui nos braços o meu filho varão
em oferenda à estrela da montanha.

E seguimos as sendas, que eram nossas.
A mãe voltou à sua aldeia, a lagoa,

e encantou-se, na concha de que viera.
Os índios são os filhos do meu filho.

Eu, Mavutsinim, cumpri o meu destino.