por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Por Socorro Moreira


Enigmas - Por: Socorro Moreira

Madrugada e neblina
Esperam o nascimento do dia.

Enquanto todos dormem,
Preparo um sonho,
Mas ele brinca de esconde - esconde.
Foge do meu colo, dos meus beijos.

Ontem eu viajei no destino
Desenhei com cipó
A trilha do caminho
Chamei-te em pensamento
Você e os meus segredos

Encontrei o colo de Gaya
Senti as dores do parto
O pedido de clemência,
E a clemente oferta do amor.

Teu vento faz dançar as minhas folhas
Balança os sinos do meu corpo
Cria um mantra de nós dois.
.
Fios que nos unem não teiam
Não fiam a confusão de tantas vidas
Fios que nos unem se enrolam,
No decifro dos nossos enigmas!
.
Baby,
Eu quase me declaro em todas as notas

A César o que é de César - Por Jose do vale Feitosa


Pode um ato representar a síntese de uma vida? Tenho certeza que não. A vida tem tantas possibilidades, uma quantidade imensa de modos de reagir a um mesmo fato que jamais existiria um ato para conceituá-la. Mas aquele riso entre dentes, com sopros chiados intercalados, entre o prazer próprio do sorriso e a gozação de uma determinada situação, era ele por inteiro.

Claro que havia a pinça formada pelo indicador e o polegar, retirando o torrado de uma variação de caixinhas. Imediatamente indo até ambas as narinas, que o aspirava em apenas dois atos contínuos. Em seguida, oferecia a algum sobrinho já com o olhar vivo de quem esperava algo. O menino, à vezes, só a com a aproximação do rapé às narinas, começava a espirrar e o característico riso balançava seu corpo todo. A voz baixa, roupas simples, de pouca variação, era quase um uniforme. Sempre calçando o que ficava entre algo parecido com sapatos e alpercatas.

Poucas vezes o vi, assim mesmo em ocasiões muito especiais, com roupas distintas. De uma vez, e claro não o vi pessoalmente, era a foto do seu casamento. Pois tais roupas tinham uma expressão que poucos souberam traduzir. Uma tradução mais fácil, que identificasse ali um ser simplório, certamente se enganaria em primeira mão. Outra que visse um revolucionário, que negava o padrão vigente ao vestir-se, também não encontraria a fúria justa de quem deseja soterrar o status quo.

Menos eu que tive o privilégio de ser um sobrinho-filho. Tive a primazia de ser o filho mais velho de sua irmã e, por isso mesmo, a oportunidade de vê-lo muito jovem ainda. Muito jovem cuidando de um grande patrimônio, este de muitos, que de tão enovelado entre pessoas, era inadministrável. O vi coordenando dezenas de empregados, viajando de um lado para outro. Amanhecendo na moagem da cana e anoitecendo no esguicho do vapor que subtraia pressão à caldeira no final da jornada. O vi examinando a soca da cana e acompanhando o seu corte. O vi cuidando de vacaria, jamais esquecerei seu portentoso touro holandês. Que igual valentia e zelo com as fêmeas do seu rebanho, não me recordo.

Um belo dia, de uma manhã iluminada, os mosaicos da sala anunciando uma força de eternidade, ele entrava com grandes pacotes. Chamava os sobrinhos que estivessem por perto e, abrindo os volumes, cortava grandes fatias de queijo de manteiga e goiabada. Fazia um sanduíche maior que a boca dos meninos, só para ter o prazer de vê-los tentando morder aquela espessura além de suas fomes. Enquanto as bocas se escancaram no esforço, o sorriso silencioso estimulava o ambiente em forma de total infantilidade.

Se formos contabilizar os sobrinhos que, em distantes cidades, receberam pacotes com guloseimas nordestinas ou outros artefatos regionais, tem-se a maior proporção do universo deles. Não me dou conta de quantos os recebi pessoalmente ou até mesmo enviado por algum portador ou pelo correio. Como também foram muitas as vezes em que o vi amarrando volumes para enviá-los para alguém à distância. Recordo muito dele organizando tais presentes para enviar aos parentes na transoceânica Europa.

E o quê significava aqueles presentes? Gentileza em primeiro lugar, porque, apesar de ser uma pessoa séria, era muito gentil. Era doce, até mesmo para com os filhos com quem tinha obrigações de disciplinar. Em segundo lugar, era a doação de um patrimônio cultural que ele guardava como registro de vida e história. Recordo quando chegava à casa do meu pai, em Crato e lá vinha ele com Tia Almina, os dois com roupas formais, visitar-me como um presente de boas vindas. Nesse mundo informal e imediatista, não me lembro de outro gesto mais civilizado do que aquele. Em terceiro lugar, era a dimensão da grandeza que possuía, mas não transmitia na sua inserção púbica e nem na vestimenta cotidiana. Era como se dissesse ao mundo, que nem tudo que a aparência denota, informa a real natureza das coisas.

Parece uma espécie de pensamento esotérico. Só relevado para alguns. Mas no quarto dele, na caso do Recreio, haviam tesouros do mundo como realmente o mundo era. Uma foto, uma carta, um recorte de revista ou jornal, algumas peças utilitárias da vida rural, mesmo velhos lampiões ou anéis que ornavam antigos arreios. Sobre os guarda-roupas ou, se não me engano, numa espécie de sótão em que o passado resistência ao esquecimento. Eu jamais fui iniciado naqueles conhecimentos, mas não tive a menor dúvida que havia.

Tempo após, em seu quarto no apartamento em que viveu no Crato, novamente encontrei os sinais desse mundo que se dimensionava além das aparências. Das aparências de quem se resume a um único lado das coisas. Das luzes que brilham feito estrelas, que a semelhança das super-novas, explodem em belíssimo espetáculo, mas de curta permanência. Como acontece continuamente nos espasmos do sucesso, na projeção que costuma encerrar-se com a sessão ou na saliência que praticamente pede às intempéries do tempo, que a aplane.

Quando os familiares brincavam como sua freqüente presença nas marchas fúnebres, mas denotavam seus afastamentos da vida uma vez que o corpo é, até o último ato, a expressão dela. A vida é o corpo integralmente, até a memória que se inscreve na lápide ou a presença frágil de um crânio que revela a idade dos homens desde os primórdios. Na verdade, César compreendia plenamente a sua cidade e a respeitava em sua integralidade, de tal modo que ninguém, que em vida cumprimentava ou ao corpo em respeito acompanhava, lhe era estranho. E isso já não era verdade para desleixo da maioria dos seus parentes.

De hábitos regulares. Jamais se excluiu da dinâmica do prestígio ou desprestígio político dos próximos a si. Quando a maré era enchente, não esteve na maçaneta que abre-se para as vantagens, mas perfeitamente foi solidário na vazante que historicamente teve forte teor raivoso. Se para quem vive ao passo dessas conquistas pessoais, a falta de passos em alguns degraus poderia ser inapetência, é também verdade que os vencedores se mediocrizam pelas próprias conquistas. E ele aprendeu a dar aos outros, conquistadores ou derrotados, um valor que ia além da própria vida.

Como pessoa original de sua cidade, sabia buscar no campo mitológico a antropogenia de sua família. Utilizando-se da mesma metodologia que os gregos usavam para divinizar suas origens. Ele estabeleceu linhas de comunicações e escreveu textos que na prática era a teogonia dos seus valores, com quem se comunicava em silêncio. Um dia revelou para uma sobrinha que era espírita. O que isso pudesse ser, como religião ou filosofia, na verdade era a síntese de um homem que viveu na civilização técnico-científica como se buscasse a fórmula do moto perpétuo para gerar bem estar e a panacéia para sarar o sofrimento da humanidade.

E que todos nós, que o testemunhamos: Dê a César o que é de César.

Gentil colaboração de Maria Amélia Castro

a linha - Por Nicodemos



Aquela de quem digo
é minha,
é minha porque me possui
se com ela meu corpo se
alinha
em sua alma
minha alma
dilui...

Beijo na boca - Martha Medeiros



Uma vez a atriz e cineasta Carla Camuratti declarou, numa entrevista, que um bom beijo é melhor do que uma transa insossa. Quando a escutei dizendo isso, pensei: “então não sou só eu”. Estou com Carla: o beijo é a parte mais importante da relação física entre duas pessoas, e se ele não funcionar, pode desistir do resto.

A Editora Mandarim acaba de lançar um livro que reúne ensaios de diversos intelectuais a respeito do assunto. O nome do livro é O Beijo – Primeiras Lições de Amor, História, Arte e Erotismo. Os autores discutem o beijo materno, o beijo nos contos-de-fadas, o beijo traiçoeiro de Judas, os primeiros beijos impressos em cartazes, o beijo na propaganda, o mais longo beijo do cinema e todas as suas simbologias. Às vezes o livro fica prolixo demais, mas ainda assim é um assunto tentador. Procure-o nas melhores casas do ramo. O livro, porque beijo não está à venda.

Todo mundo sonha com aquele beijo made in Hollywood, que tira o fôlego e dá início a um romance incandescente. Pena que nem sempre isso aconteça na vida real. O primeiro beijo entre um casal costuma ser suave, investigativo, decente. Aos pouquinhos, no entanto, acende-se a labareda e as bocas dizem a que vieram. Existe um prazo para isso acontecer: entre cinco minutos depois do primeiro roçar de lábios até, no máximo, cinco dias. Neste espaço de tempo, ainda compreende-se que os beijos sejam vacilantes: tratam-se de duas pessoas criando um vínculo e testando suas reações. Mas se a decência persistir, não espere ver estrelinhas na etapa seguinte. A química não aconteceu.

Beijo é maravilhoso porque você interage com o corpo do outro sem deixar vestígios, é um mergulho no escuro, uma viagem sem volta. Beijo é uma maneira de compartilhar intimidades, de sentir o sabor de quem se gosta, de dizer mil coisas em silêncio. Beijo é gostoso porque não cansa, não engravida, não transmite o HIV. Beijo é prático porque não precisa tirar a roupa, não precisa sair da festa, não precisa ligar no dia seguinte. E sem essa de que beijo é insalubre porque troca-se até 9 miligramas de água, 0,7 grama de albumia, 0,18 de substâncias orgânicas, 0,711 miligrama de matérias gordurosas e 0,45 miligrama de sais, sem contar os vírus e as bactérias. Quem está preocupado com isso? Insalubre é não amar.

Martha Medeiros

Seu Milton - O guardião das orquídeas- Por Socorro Moreira



Em 1994 eu morava em Friburgo-Rj. Nos finais de semana , corria para São Pedro da Serra, passando por Lumiar, para descansar numa casinha de duendes, que eu havia alugado. Seu Milton era o meu Senhorio. Construíra umas casinhas de madeira , dentro de um bosque de orquídeas e, por preço simbólico, entregou as chaves para alguns dos seus amigos.
Uma vez por mês , descia a serra numa charrete carregada de orquídeas , e abastecia a agência do Banco onde eu trabalhava. Cada caixa, cada mesa de atendimento era decorada com uma orquídea. Foi um tempo muito luminoso e feliz da minha vida.
Esqueci os consumos gerais, fiz curso de Astrologia, Tarot; fazia dança sagrada ; tinha alimentação macrobiótica; retiros espirituais , num mosteiro budista; reunia-me com os ufologistas, estudava I Ching ,consultava-me com Márcio Bom Tempo, e usava a acupunctura ao invés de tomar antibióticos. Infelizmente só demorei por lá uns três anos. Fui transferida , a pedido, para Campina Grande , e lá fiquei até o fim da minha carreira de bancária.
Seu Milton era um "Dersu Uzala"... E como se não bastasse fazia deliciosas geleias , licores e defumados.
Anos depois voltei a Friburgo e fiquei sabendo que ele havia falecido. Hoje , tanto se falou em flores, que guardei pra Seu Milton , a mais perfumada . Uma outra vou levar pra minha mãe , em honra de Santa Terezinha do Menino Jesus - a Santa das rosas.
É muito engraçado como uma ex-católica como eu, ainda está tão ligada , na história dos santos. E estou mesmo ! ( Só não consigo gostar de música Gospel).

Radionovela



A vida para alguns tem como estopim das emoções , a novela. Se antes não tínhamos televisão, tínhamos o rádio. Minha mãe nunca gostou, e até nos proibia de assistir, mas a minha avó paterna não perdia um capítulo, e chorava em todos os momentos emocionantes. Intrigada com tanto choro, comecei a assistir também, e comecei a querer saber da trama, e esperar pelas emoções do próximo capítulo. Como lá em casa não me era consentido, depois de viciada , corria pra casa de Magali. Quando eu perdia um capítulo , ela tinha que me contar tim tim por tim tim. O rádio era a pilha e a minha avó ficava muito nervosa , quando elas ficavam fracas - não podia ! Meu pai , quando a energia da casa ficava tulmutuada por uma conversa comprida , ele chamava todos de noveleiros e encerrar a discussão.

"Radionovela é uma narrativa folhetinesca sonora, nascida da dramatização do gênero literário novela, produzida e divulgada em rádio.
Fez enorme sucesso no início do século XX, numa era pré-televisiva. Boas histórias, bons atores e efeitos sonoros realistas eram o segredo do gênero para captar a atenção dos ouvintes. Diz-se que os grandes mestres da magia eram os sonoplastas, que para estimular a imaginação das pessoas, reproduziam todo tipo de sons e ruídos: o som da chuva, do telefone, da passagem de tempo, dos passos dos personagens.
A primeira transmissão de rádio no Brasil foi ao ar em 7 de setembro de 1922. Porém, o veículo demorou a se tornar popular, em razão do preço do aparelho e a demora na implantação de retransmissoras. Quando as dificuldades físicas foram superadas, a forma encontrada para popularizar sua programação foi lançar mão do mesmo recurso que os jornais, quando da invenção da imprensa escrita: a narrativa folhetinesca.
Nasceram, assim, as primeiras transmissões de radionovelas no Brasil, fruto da dramatização de tramas literárias. Mas isso não quer dizer que as emissoras não realizassem radiodramatizações. Eram comuns os “teatros em casa”, os “radiatros” e os inúmeros sketchs teatrais presentes nos mais variados programas das emissoras de rádio brasileiras. Na própria Rádio Nacional, desde o final da década de 1930, era apresentado todos os sábados o programa Teatro em Casa, que consistia na radiofonização, em uma única apresentação, de uma peça teatral. Havia ainda Gente de Circo,de Amaral Gurgel, uma história semanal seriada, que estreou no início de 1941.
Na verdade, o que estava sendo lançado era um novo modelo, diferente do que até então as emissoras costumavam apresentar. Assim, a primeira radionovela transmitida no Brasil foi Em busca da Felicidade, original cubano de Leandro Blanco com adaptação de Gilberto Martins. Também são consideradas pioneiras as radionovelas “Fatalidade”, pela Rádio São Paulo e escrita por Oduvaldo Vianna e a radionovela "Mulheres de Bronze", baseada num folhetim francês.
As adaptações de tramas internacionais perdurariam por anos, sobretudo das cubanas. Aliás, o maior sucesso em radionovela de todos os tempos foi “O Direito de Nascer” (1951), do cubano Félix Caignet, que ficou três anos no ar e que chegou a ser chamada popularmente de "O Direito de Encher".
Entre os brasileiros pioneiros na radiodramaturgia, estão Oduvaldo Vianna, Amaral Gurgel e Gilberto Martins. Em seguida, vieram os autores Dias Gomes, Mário Lago, Mário Brazzini, Edgar G. Alves, Janete Clair e Ivani Ribeiro. Muitos deles, inclusive, se imortalizaram escrevendo para outro gênero, a telenovela.
Umas das radionovelas nacionais de maior sucesso foi Jerônimo, o Herói do Sertão, criada por Moysés Weltman, em 1953. A trama foi, posteriormente, adaptada várias vezes para a televisão.

Em 1951, foi ao ar pela Rádio Nacional o maior fenômeno de audiência em radionovelas em toda a América Latina: era O Direito de Nascer. Texto original de Felix Caignet com tradução e adaptação de Eurico Silva. O original possuía 314 capítulos o que correspondia a quase três anos de irradiação. No elenco estavam Nélio Pinheiro, Paulo Gracindo, Talita de Miranda, Dulce Martins, Iara Sales, entre outros. O Direito de Nascer surpreendeu a todos os críticos e a todas as previsões que afirmavam que o rádio-teatro era um gênero em decadência e que o público brasileiro não se interessava por longas tramas.

O público alvo das radionovelas era o feminino, os grandes anunciantes desse tipo deprogramação eram os fabricantes produtos de limpeza e de higiene pessoal. Uma pesquisa do IBOPE, realizada em janeiro de 1944, apontava a seguinte audiência para o período de 10hàs 11h da manhã: 69,9 % de mulheres, 19,5% de homens e 10,6% de crianças.
A Rádio Nacional, em especial, liderava a audiência em praticamente todos os horários. "


Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Radionovela"
P.S.
Uma das que assisti com Magali: "Ângela- a moreninha de Anzio".
Ela deve lembrar!

Que me desliguem toda vez que tocar Just for Tonight - por José do Vale Pinheiro Feitosa



Existem coisas que acontecem conosco. Tinha eu dezesseis anos de idade em férias entre dezembro e janeiro de 1964/65. No circuito Juazeiro e Petrolina. Naquele tempo não havia telefonia interurbana. Apenas rádio amador e telegramas. Em certo sábado de janeiro todos fomos para um sítio no vale do Rio Salitre. Uma das primeiras áreas irrigadas do São Francisco. Entontecido pelos amores da adolescência repetia a faixa de um long play com a trilha sonora do filme Hatari. A música Just for Tonight que se encontra aqui no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=hHGGFocDNRY&feature=PlayList&p=2066771E0F2826A2&
index=10.
Quando retornamos no domingo para a cidade, tão longo descemos do transporte e entramos na casa meu tio passou-me um cabograma do posto da VARIG: dava notícia que minha mãe morrera no sábado. A partir daí varamos a noite nos sertões de Pernambuco até o amanhecer já no Crato. Nunca mais consegui ouvir aquela música e não sou mágico e nem tirado a fantasias. Apenas não me deparei com ela até ontem à noite em paralelo com o que segue:


Simultaneidades desconhecidas,
Quando um amor vago prometia,
A centenas de quilômetros voavas,
E jamais por aqui pousarias.

Enquanto no sítio me divertia,
Apaixonado pela moça de perto,
O teu meio circulante transbordava,
Até o último suspiro e mais nada.

E dancei, com os passos da sedução,
Ainda mais significados pela música,
E noutro passo eras carregada,
Por uma multidão dramática e solene.

Aquela música entalhada no meu peito,
Just for Tonight, Henry Mancini, Hatari,
E nos desdobramentos de uma noite agônica,
Nunca mais ousei ouvi-la posto que prenúncio.

Entre a suavidade da canção de tons francesa,
Elsa Martinelli entre caçadores brutais,
Laçava o rinoceronte livre da minha vida,
Lancetava o plano de minha adolescência.

Nunca mais ousei ouvir aquela música,
Que tempo curto teve Gisélia em vida,
Quanto durei até para o filho gerar a neta,
E aquela mulher sonhadora acordou tão cedo.

Just for Tonight, entre parreiras do Salitre,
E tantos daquele tempo deixaram o tempo,
Como agora, novamente ouvindo-a,
Tangido por nuvens de lampejos.


 por José do Vale Pinheiro Feitosa

Por Lupeu Lacerda


Na narinária corredor da ventania corre branca e célere a dama branca do xadrez que diz: um dia é tu! Vates cantando músicas inaudíveis. Atonal. World music atonal. Cabelinho riria. Mas cabelinho é irreal. Como todas as minhas memórias editáveis ou não. Saudade de beber ayahuasca. De me sentir mais bicho que gente. Abrir todas as moléculas e dizer sim! Onde os comprimidos de não pensar? Pink floyd em um cd perdido. Perdidos... perdidos no space. Cadê a porra daquele robô que dizia “perigo, perigo!!!”..................................assisto de novo novamente matrix. Jonhy mnemomic. Ciberpunks tão reais em suas cúpulas geodésicas de terror futural. Quero comer com coentro. Chorar. Ficar puto porque tem gente escrota que ameaça crianças, que ameaça músicos, que ameaça a vida. Não gosto do gosto do anonimato. Por isso faço tantas trapalhadas: tentativa “real” de ser reconhecido, e nunca, em hipótese nenhuma, anônimo. Cago pra audiência. Escuto cazuza na multidão. Diferente. Eller. Vontade de rir sozinho. Pequenininho. Meio tarântula dylanesca. Porque fazer sentido? Pra quem? Gosto de foder com minha namorada. Gosto do cheiro estranho e terno da sua boceta. Gosto de olhar o dia de manhã, quando a lombra ta serenando. Sol. Nuvens. Céu azul de doer. Caralho! Hoje é dia de se fazer coisas diferentes, ou não? Estou com o espírito de matar hotentotes. Saudade de guga cabeção, de sidney, de mim quando tinha dezoito anos. Eu quero.
Quero.
E tem gente bem te vi.

02 Novembro, 2007

O show tem que continuar ... - por Rosa Guerrera



As nossas lembranças ( se observarmos direitinho) são curiosas .


É como se de repente a gente flutuasse no tempo e no espaço numa espécie de confusão onde mesmo contra a nossa vontade direcionamos o nosso pensamento a um fato , um rosto , um sorriso ou uma voz que em algum lugar do passado fez pousada na nossa vida.
E assim iniciamos a percorrer um corredor onde paredes são pintadas de recordações!


Ontem , um giro ocasional me levou a passear pelo meu corredor .
E nitidamente vesti na minha mente roupagens de um tempo que vivi ,analisando a fragilidade de muitos tijolos que infantilmente pensei um dia dar origem a grandes construções.
Não lamentei os erros cometidos, nem as decepções acontecidas .
Quem não fez planos, ou teve crenças inúteis nessa vida ? Quem não imaginou por um instante ter o universo nos braços , quando na verdade tínhamos apenas nas nossas mãos em conchas um punhado d’água ?
Se em muitos livros historias escrevemos, hoje são prateleiras vazias de uma estante carcomida pelo tempo.
As nossas lembranças realmente são visitas curiosas !

E como todas as visitas , elas entram e saem pela nossa porta , seguindo caminhos bem diferentes dos nossos .
Fechamos a cortina ... e outros personagens iniciam novos espetáculos .
Afinal , o show tem que continuar ...
 por rosa guerrera

Solta no ar.- por socorro morteira




Altos eram os meus saltos
Hoje a sandália me arrasta
Por aí, por ficar...

Coração cansado
Corre nas lembranças
Nos altos e baixos...
Nem lá, nem cá
Deseja ficar

O tempo, emoção tênue
Não dói a ferida-
Marca teimosa-
Registra uma dor

Morri naquele dia
Nasci noutros sóis

Morri mil vezes,
Em tantas luas
Que vagueiam...
- Meu coração já perdeu
O sentido do amor

Nos altos saltos, dançávamos
Sentia teu corpo - meu encosto
-Teus braços, teus olhos
Que me agarravam...

Eram altos os saltos
Miudinhos os passos
Era fácil soltar o coração
Quando você me tirava do chão.


Pérolas da MPB


Mentiras
Rosa Passos
Composição: João Donato e Lysias Ênio
Diga
Essas coisas todas
Essas coisas tolas
Que eu gosto de ouvir
Eu sei
Que todas essas coisas tantas
Que essas coisas todas tontas
São só mentiras de você
Diga
Que o amor foi tudo
Mesmo assim, contudo
Foi bem melhor partir
Eu sei
Por isso, minta, por favor
Diga que sem o meu amor
Você não pode mais viver

Abajur Lilás
Rosa Passos
Composição: Rosa Passos, Ivan Lins e Fernando de Oliveira

Bem sei que a vida é toda no presente
E pouco vale o que ficou pra trás
Mas eu te vejo ainda em minha frente
À luz difusa do abajur lilás

Naquele tempo tudo era perfeito
Como essas coisas que não voltam mais:
Dois corações batendo num só peito
Muitos desejos, tantos, tão iguais

E eu me pergunto agora que será
Da luz difusa do abajur lilás
Se na lembrança não iluminar
O tempo lindo que ficou pra trás




Cariri faz bonito em Guaramiranga


Pela primeira vez na mostra principal do Festival de Teatro de Guaramiranga, Grupo Ninho demonstra a força da nova cena de Juazeiro do Norte
06.09.2011| 01:30


Charivari abriu, no sábado último, o 18º Festival de Guaramiranga (FOTO: SOL COELHO )
Magela Lima
ENVIADO A GUARAMIRANGA
magela@opovo.com.br


A exemplo do que acontece em Fortaleza, o Interior do Estado também tem experimentado dias de renovação em seus palcos. Estreando na Mostra Nordeste, o recorte principal do tradicional Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, o Grupo Ninho, de Juazeiro do Norte, representa bem uma movimentação cênica recente que batalha por um cenário mais profissional para além dos limites da Capital.

Depois de passear com sucesso pela dramaturgia do cearense Marcos Barbosa com Avental todo sujo de ovo (2008), a companhia decidiu trocar a comodidade do palco italiano e enfrentar o inusitado das ruas. O texto escolhido para o novo projeto veio da Paraíba: Charivari, assinado pela veterana Lourdes Ramalho. “É um texto, de certa forma, polêmico, que a Dona Lourdes tinha de gaveta, mas nunca havia sido montado. Pelo tom jocoso com fala sobre os pudores com que a sociedade lida com a sexualidade, parecia uma dramaturgia proibida”, lembra o diretor Duílio Cunha, também paraibano.

No popular, charivari é uma expressão que remonta às situações de grande comoção, algo que possa ser tido como um verdadeiro alvoroço. Na peça, essa confusão é cheia de libido e segredos. Lourdes Ramalho retoma um tempo passado, uma releitura medieval, onde a religião camufla e condena os desejos mais sórdidos. Para a atriz Joaquina Carlos, um enredo extremamente curioso e atual, sobretudo levando em consideração que a montagem nasceu em Juazeiro do Norte, uma terra ainda cheia de beatos.

Plasticamente bem menos atraente que o espetáculo inaugural do coletivo, Charivari vale, sobretudo, pelo caráter experimental que possui. Longe de ser um grupo de teatro de rua, o Ninho explora com bastante propriedade os recursos característicos do gênero.

A professora Cida de Sousa, da Universidade Federal do Ceará, que integra o juri de debatedores do Festival de Guaramiranga ressaltou como diferencial a boa estrutura musical da montagem. “Eles conseguem equilibrar as entradas das músicas com o ritmo regular da encenação. Sem fazer um espetáculo em formato de musical, conseguem extrair das canções um dinamismo bastante interessante”, comenta, sobre a parceria do Grupo Ninho com os Zabumbeiros Cariris. Festivo e farsesco, Charivari, é uma surpresa.

SERVIÇO

XVIII FESTIVAL NORDESTINO DE TEATRO DE GUARAMIRANGA
Quando: até o dia 10 de setembro
Onde: em Guaramiranga
Apresentações gratuitas
Outras informações: (85)3321 1405 (Associação dos Amigos da Arte de Guaramiranga)


FONTE: http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2011/09/06/noticiavidaeartejornal,2293259/cariri-faz-bonito-em-guaramiranga.shtml


Tânia Peixoto
"O tempo é o meu lugar, o tempo é minha casa."
(Vitor Ramil)

Leônidas da Silva




Leônidas da Silva, o Diamante Negro, (Rio de Janeiro, 6 de setembro de 1913 — Cotia, 24 de janeiro de 2004) foi um futebolista brasileiro, considerado um dos mais importantes da primeira metade do século XX. Tetracampeão fluminense pelo Botafogo, em 1935, primeiro campeonato oficial, no regime profissional, e pentacampeão paulista pelo São Paulo. Foi ele quem inventou o gol de bicicleta.

Norma Hauer !





Lançamento de seu próximo livro "PELAS ONDAS DA MAYRINK", no próximo domingo, dia 11 de Setembro de 2011, na XV Bienal do Livro do Rio de Janeiro.

"A Rádio Mayrink Veiga terá finalmente quem preencha uma grande lacuna e conte sua história com a precisão de quem sabe, de quem pesquisou, de quem viu acontecer e sempre esteve ciente da dimensão dessa emissora e atenta aos fatos e nomes que por ela passaram."


Parabéns, NORMA!
Sucesso!

Agradecemos a colheita, quase diária, das suas preciosas informações.

Mês Nove. Por Liduina Vilar.


Setembro tem muito calor
Mas tem também flores bonitas
Setembro tem jeito de amor
Que inspira nossas escritas.

Eita setembro bonito!
Queria segurá-lo em minha mão
Poder abraçá-lo em manuscrito
Fazer apologia em um único sermão.

GAVIÃO PENEIRADOR - Marcos Barreto de Melo



Gavião peneirador
Peneirou, peneirou, peneirou
Gavião peneirador
Procurou, procurou e não achou

Gavião vive a voar
Sua caça procurando
Paciente esperando
Sua fome saciar

Gavião peneirador
Eu entendo o teu sofrer
Pois também vivo a roer
Procurando o meu amor


NOTA - Versos musicados pelo mestre Dominguinhos no CD Conterrâneos.

A segunda guerra do Afeganistão - Emerson Monteiro


Dia seguinte a longa viagem que, por terra, realizara a Brasília, na manhã do dia 11 de setembro de 2001, uma segunda-feira, trabalhava na Universidade Regional do Cariri por volta das 10h30, quando Sávio Cordeiro, colega de sala veio me trazendo a notícia: Ocorreram atentados nos Estados Unidos, com explosões no Pentágono e nas torres do World Trade Center.

- Começou a Terceira Guerra Mundial - disse ao transmitir os incidentes verificados minutos antes. - Terroristas acabaram de jogar aviões Boeing 767 contra esses alvos estratégicos da América...

Isso me pegara de chofre qual um soco na boca do estômago. Senti espécie de vertigem, frieza no corpo, compreendendo que algo sério ocorria no mundo daquela hora, tempos estritos da dominação do forte sobre o fraco e intensa produção bélica. Em princípio, parecia confirmar a lógica da luta pelo poder na Terra, a qualquer preço.

Procurei demonstrar naturalidade, no entanto... Mas eu mesmo sei o que se passava da cabeça ao coração. Algo sinalizava a gravidade das informações. Daí a pouco, fui saído de mansinho para, próximo dali, encontrar Danielle e as meninas, na Escola Semear, e nos dirigirmos à casa de meus pais, onde almoçaríamos naquele dia.

O peso dos acontecimentos viria com mais intensidade à frente da televisão, na sala onde todos da casa se reuniam a testemunhar o decorrer dos acontecimentos. Comentava com meu pai o assunto quando, ao vivo, ruía a primeira torre. Na cena, avião que volteava nos céus 18 minutos depois do primeiro impacto, impassível, atingiu a segunda torre gêmea, quase a traspassá-la, cena mostrada qual cena de ficção. Outro avião cheio de passageiros há pouco teria sido interceptado sobre o Estado da Pensilvânia. Noticiava-se que outros aviões ainda se achavam desaparecidos. De tudo aquilo deixando um gosto ferrugento na minha boca. A emoção do imprevisível parecia tomar conta da Eternidade.

Antes de vir para casa, nessa tarde, por volta do meio dia, passaríamos para visitar um amigo, Gerardo Junior Lopes, no Grangeiro. Na sua casa, todos também observavam as imagens que se repetiam na televisão, cenas dantescas de destruição em Nova York e Washington.

Após tais instantes, lembro das muitas notícias e da expectativa mundial de como reagiria a nação americana em face do desafio anônimo dessas ações. Logo se iniciava perseguição ao suspeito número um, o líder árabe Osama bin Laden, milionário saudita que lutara contra os russos na primeira guerra do Afeganistão, isto sob os auspícios dos próprios Estados Unidos. A facção que apoiara e saíra vitoriosa, Talibã, ocupava quase o país inteiro, estabelecendo regime de terror à base do fundamentalismo islâmico.

Nos desdobramentos, meses sequentes, americanos e ingleses invadiriam o Afeganistão para destituir do poder aquela facção dominante. Subiriam montanhas, explorariam cavernas distantes, à cata do autor dos atentados, até que, passados nove anos, em Abbotabad, no vizinho Paquistão, eliminariam o responsável pelos abalos de 11 de setembro de 2001.