por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 9 de outubro de 2012

Um Corcovado de Encandear - José do Vale Pinheiro Feitosa


A Estátua do Cristo Redentor implantada de braços abertos sobre o cume do Corcovado quase brilha na manhã de luz destas matinas cariocas. Brilha tanto por sua visão direta assim como pelas bordas laterais do olhar. No sopé do Corcovado quem lá se encontra tem a imagem alongada das alturas daquela ordem que ali implantou o símbolo.

Nesta soleira da vida quando tudo começa a acontecer, Chico anima-se a comentar a seu respeito uma vez sabendo que certo Potiguar, morador de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, nem sabia em qual município nascera embora o pai ainda more por lá. Uma família nuclear definitivamente afastada da paralaxe patriarcal do seu velho nordeste.

Chico com riso na fronteira entre o crítico e o humorístico dizia: e eu nem conheci meu pai. Nem sei quem é o desgraçado. Minha mãe embuchou e me teve no mato quando foi urinar numa moita. Ela veio para o Rio e fui criado pela minha avó e tios. Aquele desgraçado bem merecia umas pedradas da vida.

Quando o resto da família resolveu vir para o Rio, ocupou metade de um Itapemirim. Comendo mortadela com pão. Mais que fartura e luxo sem pecado que a rodagem me deu na vida. Antes era uns passarinhos, um tejo, algum preá, quem sabe um peba ou algo que se mexia no chão, nas lagoas ou nos ares das matas.

É mesmo. A melhor comida é aquela que afoga a fome.

Um tempo mais tarde. Um pouco mais embaixo, mas ainda na base do Corcovado, Rua Jardim Botânico, número 216, bloco B uma loja de material de construção. Na rua movimentada com trombos de enfartamento um caminhão clássico, boleia e carroceria de madeira, carga pela metade, com metade dos pneus amassando a calçada e pessoas descarregando sacos de cimento para suprir o estoque da loja.

Um homem negro, um pouco menos que um metro e setenta de altura, ia da carroceria até a entrada da loja carregando de uma só vez quatro sacos de cimento. O olhar aflito encontra o peso de cada saco marcado no papel: 25 Kg. Imediatamente o cérebro faz o cálculo da visão: ele carrega sobre a cabeça, amassando a coluna, 100 Kg de cimento que erguerá as paredes domiciliares desta escravidão secular.

O olhar explode nas cordas vocais enquanto as pupilas se comunicam com ele: 100 quilos na cabeça?

Um leve balançar afirmativo e marcha para terminar a tarefa.

Eram os últimos movimentos, ele entra na loja para conferir e transacionar a papelada em moeda ou promissórias. Enquanto isso o outro trabalhador do caminhão se aproxima, turvo de cimento, camisa de mangas compridas a protegê-lo da corrosão do material. Mas os pés quase haviam se transformado num próprio cimentado.

Por último, o Redentor ainda permanece na cimeira do Corcovado, o homem, o rosto inteiramente suado se aproxima e diz:

Já tive muito dinheiro. Tudo dinheiro ilegal e gastei sem me dar conta. Hoje gasto com prudência o sacrifício de ganhá-lo.

E quantos anos tu tens?

Cinquenta anos!

E este peso não provoca dores no pescoço?

Doer dói. Mas a gente faz alguns movimentos e ele alivia. É preciso desconectar-se da dor no pescoço.

Desconectar da dor de viver hoje como nas galeras romanas e ou nas senzalas.    

Eleições do Crato ( II ) - José Nilton Mariano Saraiva



Se a própria Constituição Federal reza que qualquer cidadão brasileiro, a partir de certa idade, tem o direito de pleitear e concorrer ao cargo maior do Poder Executivo – a Presidência da República – evidentemente que, em se tratando dos “Estados” e “Cidades” que compõem a “República”, qualquer cidadão também se acha habilitado a concorrer aos cargos de Governador e Prefeito, respectivamente.
Pois bem, Raimundo Bezerra Filho foi, durante quase todo o período (08 anos) em que a cidade do Crato foi comandada pelo atual chefe do Executivo, um vice-prefeito fiel, obediente, leal, operante e discreto, porquanto alimentava o sonho de um dia dirigir a cidade que o pai houvera dirigido anos atrás.
Mas, aí, com a proximidade do fim do mandato e a chegada do período legal de indicar para o cargo alguém de confiança para concorrer à sua sucessão, o prefeito da cidade houve por bem, certamente que depois de consultado o “grupo palaciano” (familiares e pessoas mais próximas), isolar de vez, dá um chega pra lá no seu vice, Raimundo Bezerra Filho, num sinal claro de que ele não fazia parte dos seus planos, não merecia sua confiança.
Traído espetacularmente, Raimundo Bezerra Filho não se fez de rogado e, deixando de lado a discrição e o recato, saiu atirando pra todos os lados: que nunca houvera sido consultado sobre se desejava ou não concorrer, que houvera sido vítima de uma traição inominável, que existia na administração um “grupo familiar” que não admitia largar o osso em hipótese alguma e, enfim, que se sentia traído por aquele a quem tanto fora fiel.
Hoje, Raimundo Bezerra Filho prepara-se para retornar ao cargo de vice-prefeito da cidade, já que compôs a chapa vitoriosa. Deve estar se sentindo muito bem e à vontade, já que o seu superior hierárquico, prefeito eleito da cidade, Ronaldo da Cerâmica, lá atrás houvera abandonado o partido do Prefeito (PSDB) por falta de espaço.
Como se vê, a traição em dose dupla foi vingada também duplamente. Além do que, a “visão futurista” do atual prefeito ficou por demais comprometida, evidenciando o “porquê” do Crato ter ido ao fundo do poço e se achar na situação caótica em que se encontra.  

Eleições do Crato ( I ) - José Nilton Mariano Saraiva



Se alguém (mesmo o mais empedernido dos áulicos) tinha algum resquício de dúvida sobre a total desaprovação e o completo desapontamento da população do Crato para com aquele que esteve à frente da municipalidade nos últimos “loooooongos e quase intermináveis” oito anos, agora, definitivamente, não mais deve ter: a expressiva votação de um quase desconhecido (senhor Ronaldo da Cerâmica) e a acachapante maioria deste sobre o candidato oficial (Dr. Cícero) é a prova insofismável e definitiva de que, além de arrasar a cidade em todos os aspectos, provocar-lhe um caos incomensurável, isolá-la politicamente das esferas de poder superior e jogar a auto-estima dos munícipes lá pra baixo, o prefeito do Crato literalmente sai pela porta dos fundos, ao sofrer tão humilhante e fragorosa derrota.
Como nada é mais triste que a melancolia e a solidão do pós-poder, por parte daqueles que não conseguiram o reconhecimento da população, S. Excia. deve está, num sussurro, indagando lá com os seus botões: pra que fui me meter numa atividade para a qual nunca tive nenhuma vocação ???