por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 22 de abril de 2016

CASAMENTO DE GREGO - Demóstenes Ribeiro (*)

Hermógenes tinha dezoito anos quando cansou de tanger bode nos Inhamuns e se mudou pra Fortaleza. Morou uns tempos na Casa do Estudante e mal concluiu o ensino médio. Porém, em pouco tempo, num armazém da Governador Sampaio, descobriu o caminho das pedras e passou de empregado a patrão.
Ganhou dinheiro, deixou o subúrbio e muitos doutores o invejam. Logo, apartamento na aldeota era pouco. Vendo que poderia ter edifícios, contratou engenheiro e começou a construir. Um dos seus prédios tem elevador panorâmico. Ali, ele se mostra à cidade e gosta de vê-la aos seus pés.
Mas, Deus nunca dá tudo. Não fosse a mulher, a vida seria bem melhor. Helena, metida à sabida e chegada à leitura, batizou sua única filha, de Jocasta. Hermógenes adora a filha, mas ela não herdou nada do pai. Gordinha, vesga e fanhosa, tem algum problema de cabeça: já passou dos trinta, esteve em tudo que é colégio e não aprendeu nada. Não desgruda do smartphone. Só quer saber de facebook, de what´s up e de namoros virtuais.
A filha há dias não falava com ele, mas ontem lhe surpreendeu. Disse que o namorado está em São Paulo e virá conhecer o Ceará. Ela o encontrou numa rede de relacionamentos. Com a crise da Grécia, Xerxes imigrou para o Brasil. No celular, Hermógenes viu que ele é baixinho, cabeçudo e careca; tem o queixo enorme, mas Jocasta nunca esteve tão feliz.
Xerxes fez imersão em português e os pombinhos já noivaram pela internet. O casamento não deve demorar. Hermógenes está ansioso e não vai deixar faltar nada. Imagina uma festa grega, com garçons de luvas brancas e bandas tocando mesmo depois do sol raiar.
O cerimonialista lhe orientou a assistir “Zorba, o grego.” Ele viu a fita cem vezes, está se achando um Anthony King, mas, vai se divertir mesmo, é com a quebra de pratos. Encomendou mais de mil e não vai sobrar nenhum. Helena está satisfeita. Desde a época do namoro, ela gosta de quebrar coisas. Na última briga, com ciúmes, destruiu a cristaleira, o espelho da sala e a televisão.
E, com essa ostentação, Hermógenes aposta que Xerxes o confundirá com Onassis ao provar da cachaça com buchada de carneiro que virá especialmente de Tauá: bom demais!
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(*) Demóstenes Ribeiro – Médico-Cardiologista, atua em Fortaleza e é natural de Missão Velha-CE