por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 9 de outubro de 2011

"Cão de Briga" - José Nilton Mariano Saraiva

O “click” do destravamento da estranha coleira mecânica (e sua posterior remoção do pescoço) representava a senha para que aquele aparentemente tímido e frágil ser humano se transmutasse numa fera ensandecida, capaz de aniquilar quem encontrasse à frente. Na verdade, desde a meninice o pacato e “desligado” Danny (Jet Li) que experimentara precocemente a orfandade, fora exaustivamente treinado e programado (por um suposto “tio”) com um objetivo específico: nas arenas da vida, tornar-se uma potente arma de guerra, autentico matador profissional, capaz de trucidar o adversário em segundos, em troca de algum dinheiro. Ao final de cada combate, dinheiro no bolso do “empresário” e o retorno à jaula que lhe servia de moradia, à comida racionada e às humilhações de sempre. Um cachorro vadio e desprezível, na completa acepção do termo.
Mas quando, em razão de um grave acidente (e a presumível morte do seu “tutor-tio”), o “encoleirado” Danny se vê sozinho no mundo, perambulando sem rumo pelas ruas, repentinamente é atraído pelo som de um piano; e aí ele conhece Sam (Morgan Freeman) que, apesar de cego, é um exímio afinador do instrumento.
Desprovido da visão, mas dono de uma apurada acuidade extra-sensorial, Sam detectara a presença de Danny no ambiente, estimulara-o a aproximar-se, pedira sua ajuda no manuseio de algumas teclas do piano e, ao final da conversa que fizera questão de provocar, convencido de que tratava de alguém de boa índole (mas sozinho no mundo, sem eira e nem beira), convidara-o para ir morar em sua casa. Lá, o encontro com Victória, enteada de Sam, aluna-concludente de um dos mais respeitáveis conservatórios de música (piano) dos Estados Unidos.
Pacientemente, os dois deixam que Danny aos poucos se liberte dos seus medos e apreensões, das suas angústias e temores e finde por integrar-ser à “nova família”, até porque, segundo ouviria de Sam a posteriori, “as famílias devem permanecer unidas”; e assim, aos poucos, acompanhado por Sam ou Victória, Danny começa a descobrir os prazeres da vida, em coisas e situações aparentemente banais ao mortal-comum: tomar um sorvete e saber que é gelado, ir a um supermercado, detectar quando uma fruta se acha madura e, até, que um beijo na face, lhe dado por Victória em forma de saudação, é “molhado” e “gostoso”. Definitivamente, aquela era a “sua família”.
De outra parte, os ensaios de Victória ao piano, em pleno recinto familiar, além de deixá-lo embevecido e extasiado, repentinamente o levam de volta ao passado e, via fragmentos memoriais, imagens começam a “pintar no pedaço”. E aí ele obtém a resposta do “porque” da sua atração pelo piano: sua mãe fora pianista. Ajudado por Sam e Victória (através de um “retrato” que guardara e pesquisas posteriores), descobre não só a identidade materna, mas que fora uma pianista consagrada e famosa.
Nisso, numa prosaica visita a um supermercado, eis que Danny é reconhecido por um dos comparsas do “tio” (que ele julgara morto e que o transformara num autentico animal); descobre, então, que o próprio havia sobrevivido ao acidente e se vê “convidado” a comparecer à sua presença, imediatamente (sob a ameaça de que, não o fazendo, descobririam seu endereço e seus atuais protetores sofreriam as conseqüências).
Volta, é obrigado a recolocar a coleira e, mesmo afirmando não mais querer matar ninguém, é jogado numa arena onde cinco profissionais, usando instrumentos contundentes, começam um autentico “massacre”; por instinto de sobrevivência, a “fera” ressurge em todo o seu esplendor e assim Danny acaba com todos eles. Foge e, ferido, arquejante e cambaleante procura o abrigo de Sam e Victória, até porque “as famílias devem permanecer unidas”.
Surpreso, descobre que os velhos amigos (o “tio” à frente), já haviam descoberto seu “esconderijo” e, agora, subiam os lances de escada dispostos a trucidar com todos eles. Após colocar Sam e Victória num local presumivelmente seguro, dá-se a última batalha: um a um os comparsas são abatidos, impiedosamente, só restando o “tio”; já caído ao chão após uma luta sangrenta, incitando-o a que ele (Danny) mostre ser o que realmente é - “só um assassino” – provoca-o mais ainda ao afirmar que sua mãe fora uma prostituta que lhe servira sexualmente em ocasiões diversas; e aí, em feedback Danny revive a cena em que o “tio” matara sua mãe, à queima roupa, com um tiro na cabeça. Ainda assim, naquele momento crucial, o humano se sobressai, a fera sucumbe e Danny terminantemente se recusa a assassiná-lo; não, ele não é “aquilo”. Pressentindo o perigo, Sam sai do esconderijo e acaba com o marginal, ao acertá-lo com um vaso de plantas, na cabeça.
Cena final: no conservatório, ao receber seu diploma de melhor pianista, Victória, ao ser convidada pra mostrar suas habilidades, toma do microfone e anuncia que a música a ser executada é dedicada a alguém muito especial, que se encontra na platéia; alguém cuja vida transformou-se quando encontrou a música.
Haja coração.
Um filmão !!!

Pensamento do Dia, por Liduina Belchior.

Andei por estradas de pedra, de areia, de barro, e de asfalto.
Conheci pessoas de todos os tipos: Amáveis, ingênuas, sagazes,
arrogantes, inteligentes, sapientes e outras.
Fui a lugares inusitados: sertão, chapadas, fazendas, cidades grandes,
cidades pequenas, vilarejos, distritos, sítios e litoral.
Mas o melhor lugar, é onde se é bem amado, e a melhor gente, é a simplória,
que é pura e sabia.

A Brisa do Salgado - Emerson Monteiro


Este o título de outro livro do autor Dimas Macedo, telúrico lavrense de quatro costados e raízes fincadas às margens do rio de nosso querido rincão. Devotado à vida de Lavras da Mangabeira de tantos acontecidos e personagens, aprofunda ação no amor à terra, em estudos e registros do universo que lhe convida a momentos definitivos das páginas que escreve com ânimo acendrado. Prolífico, incansável, preserva as relíquias desse lugar, consagrado aos irmãos de uma terra reconhecida pelas letras, de inúmeros títulos, poetas, contistas, cronistas, romancistas, memorialistas, nascidos ou vividos no seio do tórrido continente.

E Dimas se entregou à função de maestro da orquestra multiforme... Escriba primoroso, dedicado, proficiente, recolhe peças elaboradas pelo esmero daqueles heróis da pena, e constitui o acervo da literatura que descobre aos filões na alma dessa gente... Traça rumos, pesquisa, referenda, artífice intelectual da Academia Lavrense de Letras, exemplo vivo de cultor da arte a quem oferta sonhos de inteira devoção.

O livro que hoje nos traz, edição da Imprece Editorial, Fortaleza CE, 2011, consolida posições por meio de crônicas e ensaios inspirados, visando significar o rumo saboroso dos quintais férteis do Rio Salgado, cujas águas acariciam os morenos pés das musas da pátria ressequida. Ainda que envolto nos afazeres profissionais, se permite a instantes preciosos de laborar espelhos de sapiência e monta e totalidade lógica dos discursos textuais coletivos.

Converge, pois, linhas do tempo e do espaço lavrenses na colcha de retalhos dos filhos próximos ou distantes, vivos ou eternos, presentes ou para sempre destacados pela fraternidade, instrumentos afeitos à batuta do grande amigo que resolveu doar genialidade aos amantes das letras interioranas, literatura ao natural.

Um inesquecível cronista das terras alencarinas, poeta, ensaísta e historiógrafo, Dimas Macedo assim subscreve a legenda de que Lavras da Mangabeira se reveste qual cidade fenômeno das letras cearenses, pela incidência privilegiada na relação autores/habitantes no decorrer da sua história, satisfação e honra dos apreciadores da cultura.

por socorro moreira






Um palhaço que sabe chamar
Uma criança que adora brincar
Um choro que se transforma em risos
Toda verdade de cada mentira

-Ser criança é acreditar em tudo
que nos dizem !

Essa energia que invade a nossa casa
Transforma o silêncio, acorda a felicidade ...
Sabe falar coisas engraçadas
Parece ser de um planeta encantado

Olhos nos olhos ,
e o sorriso aflora
Pergunta , e responde,
sem esperar resposta
Abraços ,
Sofias e Clarices,
Biancas, Vitórias !

Alice no país da Bisaflor
Isabelas esperam
a magia de uma nova história
Venham, meninas
O mundo está lotado de avós,
que sabem ser crianças como vós !

(socorro moreira)

Lennon aos 70 anos de idade? - José do Vale Pinheiro Feitosa


E John Lennon hein? Se ainda fosse vivo estaria completando hoje (8 de outubro) 70 anos de idade. E este “se” nos leva a imaginar coisas.

Estaria o Lennon passeando num “of Road” pelas trilhas aburguesadas das últimas terras ditas indenes dos EUA, mas que já de muito estão contaminadas? Teria abandonado o Central Park e moraria num Rancho da Califórnia, tão imenso e desmedido como as fantasias de todos os milionários?

Ou o nosso Lennon continuava um rebelde, dando murros em ponta de faca, tendo sido expulso dos EUA por Bush e ido morar nas Ilhas Virgens por suas posições contra as guerras do Iraque e do Irã? Estaria futucando o Obama pelo desemprego que acabará com uma geração inteira de trabalhadores nos EUA? Ele hoje estaria fazendo perguntas sobre a escolha do Prêmio Nobel da Paz para o dissidente chinês. Um prêmio que tem muito pouco de paz, mas serve para fustigar dentro da guerra obscura das moedas subvalorizadas?

E Lennon ainda estaria com a seiva criadora da música ou como o Chico se retira para escrever romances? Quem sabe ainda manteria a criatividade, agora amenizada, ao gosto das salinhas de classe média? Como o nosso Caetano Velloso estaria na campanha dos Republicanos, mesmo sabendo do Tea Party de madame Palin?

Como seria o Lennon aos setenta anos se aquela bala mortal não fizesse fugir o seu sopro de vida? E muito nos conforma aquele momento radical que não permitiu um quadro de aceitação integral do sistema a quem condenava?

Mesmo assim a nossa imaginação poderia pensar muitas coisas. Uma delas é que ou ele tinha partido para uma ruptura definitiva ou se acomodaria mesmo que mantendo suas posições liberais. Certamente que a pasmaceira dos anos 80 e 90 e os 10 do segundo milênio morreu. A pasmaceira morreu em 2008.

Agora é a crise. E na crise as rupturas recomeçam. Umas autoritárias e outras libertárias. Estamos nos anos jovens do jovem Lennon. Retornamos a eles. Vamos viver muitos solavancos.


out/2010

Retiro

Retiro
Paulinho da Viola

Meu tempo às vezes se perde
Em coisas que não desejo
Mas não repare esse lado
Pois meu amor é o mesmo
Nos momentos de carinho
Eu me desligo de tudo
Nos braços de quem se ama
É fácil esquecer o mundo

Às vezes eu me retiro
E nada me faz sentido
Só há um canto na vida
Aonde eu me refugio
Afasta as sombras que eu vejo
Em teus olhos tão aflitos
Você conhece minh'alma
E quando quer me visita

A Maravilhosa Máquina Do Tempo De Christiano Câmara



Por Fernanda Sleima

Tire uma tarde para fazer algo diferente, dê uma trégua nessa incessante correria contra os ponteiros do relógio. Precisa de um lugar? Tenho um perfeito para você: a casa onde o tempo não passou, onde as paredes respiram historia, onde o passado permanece congelado e acima de tudo, preservado.

O endereço, não podia ser o outro, o velho centro da cidade, atrás da igreja da Sé. Resistindo as especulações imobiliárias, a transformação da antiga e calma Rua de Escadinha em uma travessa comercial, permanece parada no tempo a Casa do Seu Christiano Câmara.

Não se engane com a estreita fachada, o lugar certamente abriga uns dos maiores acervos de música, literatura e cinemas antigos. Toque a campainha e espere, você será recebido por um simpático senhor de 73 anos com uma historia de vida extraordinária.

A partir daí, o prazer é todo seu, Christiano Câmara, pesquisador, historiador, memorialista e musicólogo. Entre, a casa é sua, pergunte o que quiser, desde que seja do século passado e das cincos primeiras décadas desse ano.

No quesito música, se lambuze, se os bolachões lhe parecem peças de museu, espere só para ver os discos de cera de carnaúba, são mais de 20 mil, prontos pra tocar no velho e conservado gramofone.

Tudo isso, com um cenário constituído por mais de 800 quadros espalhados por toda casa, a sensação que se tem é que você esta sendo observado.

Lá pelas tantas entra em cena a matriarca, e a maior colaboradora do trabalho do seu Christiano Câmera, a sertaneja (como ela própria tem orgulho de falar) de Jaguaribara, Douvina Andrade Câmara. Ela certamente ira lhe oferecer um café, não recuse, quem já provou imagina que deve ser sua especialidade.

Não se desespere você vai ser bombardeado de informações, espere seu Christiano Câmera tomar fôlego e entre uma boa conversação e outra sobre a década de ouro da música brasileira, entre na intimidade do casal. Não se acanhe, peça para ler os bilhetinhos escritos diariamente por seu Christiano para sua esposa nesses 50 anos de casados e entenda o real valor da palavra amor. Resultado: três filhas – Zuleica, Vanda e Iara (falecida), e cinco netos: Christiano, Thais, Adriana, Gustavo e Sarah

Se sinta em casa, explore cada lugar, cada foto, cada música, cada objeto.

Se não fosse o barulhento mercado central ao fundo da casa, nada amargaria o a áurea de lar, doce lar do homem-enciclopédia, que vive tirando poeira de tudo, escrevendo em sua velha maquina de escrever, e comprove: “O novo é o velho que foi esquecido” (Christiano Câmera).

O tempo passou rápido? Caiu a noite? Você tem duas opções, acompanhe o casal em seu ritual diário, levando sua cadeira para a calçada e siga na aula que você torce para que não termine. Então se vá, guardando tudo que você viu, ouviu e sentiu, e saia dizendo muito prazer a si mesmo.

Informações:
Seu Christiano reside na Travessa Baturité, Número 162, centro-CE. Seu museu particular está aberto à visitação de segunda a sexta sempre depois das 14h.