por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Completando a postagem abaixo, reproduz uma postagem do jornalista Mário Magalhães em seu blog antes mesmo de FHC iniciar a campanha contra o marmiteiro

Um breve preâmbulo, sem intenção professoral: com o fim da ditadura do Estado Novo (1937-1945), sobreveio a eleição presidencial direta, em 2 de dezembro 1945. Os dois candidatos mais fortes eram altos oficiais das Forças Armadas: Eurico Dutra, do Exército, e Eduardo Gomes, da Aeronáutica. Deposto, o ditador Getulio Vargas apoiou Dutra. Sem traquejo político, o brigadeiro falou com desprezo da malta getulista que sufragaria o marechal. Um acólito de Vargas copidescou com malícia a declaração, espalhando que Eduardo Gomes zombara dos “marmiteiros''. Isto é, maldissera o povo simples, que levava comida em marmita para o trabalho.
A versão pegou, e ajudou Dutra a jantar Eduardo Gomes nas urnas.
Desde então, embora a expressão marmiteiros tenha caído no esquecimento, em todas as eleições os eleitores mais pobres são menosprezados como ignorantes que, como diria o Pelé, não sabem votar.
Isso vai acontecer de novo agora. Muitos sabichões tripudiarão sobre cidadãos _sem muitos direitos da cidadania, mas cidadãos_ como aqueles que ganham até dois salários mínimos, sejam eles eleitores da presidente Dilma Rousseff, que vai ganhar fácil o primeiro turno (mas provavelmente com menos de 50%), ou do governador Geraldo Alckmin, que em proporção terá ainda mais votos.
Para certos ditos bem esclarecidos, o povão inculto não sabe escolher.
Não imaginam esses demofóbicos, para empregar a sacada do jornalista Elio Gaspari, que os brasileiros mais pobres provavelmente têm mais consciência ao votar.
Porque da sua decisão pode depender um prato de comida, a escola para o filho e a chance de transformar em realidade o sonho de uma casa.
Nem o tempo apaga a intolerância: determinada intelligentsia vai continuar detonando os marmiteiros, que como sempre sabem o que fazem e querem ao digitar os números nas urnas.

FHC (Faculdade Harmônica de Confundir) - José do Vale Pinheiro Feitosa

A integridade é uma das coisas mais difíceis no ser humano. Falando em integridade como a capacidade até de mudar de opinião, mas tendo a capacidade de demonstrar que esta mudança faz parte da ordem geral e não do arranjo individual e oportunista.

Fernando Henrique Cardoso foi eleito Presidente da República por duas vezes em razão do plano de estabilização econômica do país. FHC foi eleito duas vezes no primeiro turno. Quem deu a vitória a ele foi o povão, o povo do nordeste, do norte, o povo das camadas sociais mais sofridas que se viam beneficiados com o fim a terrível inflação que corroía seus ganhos antes mesmo deles começarem a comprar as suas necessidades.

Mas FHC tem dois defeitos fatais. Um de personalidade: é um oportunista na raiz da medula. O outro é intelectual: pertence à cátedra do “paulistanismo” adversário mortal de um projeto nacional, preconceituoso, que tem horror a nordestino migrante e tudo que é crescimento e distribuição de renda é populismo. É a ideologia que defende a “meritocracia” e que voto em Aécio Neves cuja carreira é produto de sua família, incluindo o avô.

Como diz Carlos Orsi num jornal da Unicamp: “A Semana de Arte Moderna de 1922 foi, no plano ideológico, a iniciativa de uma “oligarquia racista, reacionária e ao mesmo tempo modernista”, para servir aos interesses de classe da elite cafeicultora e a um projeto de hegemonia paulista, que via o Brasil como uma colônia a ser explorada pela metrópole de Piratininga.”

Eis a declaração do prestidigitador no blog do Josias de Souza, portal do UOL: “O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são mais pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados.” De uma tacada só o Príncipe dos Sociólogos tenta separar o inseparável, uma vez que informação (midiática é o que ele quer dizer) é acesso e acesso é riqueza monetária.


Além de tentar uma frase que não irrite os pobres, ele também comete outro erro sociológico: informação não depende apenas do Jornal Nacional, da Folha ou do portal UOL. O povo do nordeste tem seus métodos para se informar, tem capacidade para analisar e sobretudo sente o imediato de suas vidas com mais agudeza do que a crônica de um sociólogo rico que ganha fortunas dando palestras a empresários com horror a uma ordem social que os comprometam além dos seus negócios.