por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 30 de junho de 2011

As Contradições Nacionais: Os Casos da Antropologia e da Saúde Pública - José do Vale Pinheiro Feitosa

Se alguém anunciar que existe uma ironia no fato de que a Antropologia seja a ciência do outro e que foi em quase toda parte fundada por estrangeiros, talvez não seja ironia, seja o espelho do nascimento da Antropologia. Como a Medicina Tropical, uma ciência forjada na expansão colonial, especialmente da Pax Brittanica. Aqui no Brasil a antropologia praticamente nasceu com Curt Nimuendaju estudando os povos indígenas por certo que o espaço das florestas era aquele propício a toda expansão, especialmente de exploração de minerais e áreas de fronteiras para a produção agrícola.

Queiramos ou não a força da Antropologia brasileira nasceu nos estudos dos povos originais das Américas. E os povos nativos não eram traduzidos em como eles se pensavam, mas como o exótico extraído da visão do outro (o estrangeiro). O famoso mapa etnológico de Curt Nimuendaju tem vastos traços de fronteira mais significativos dos vários grupos de pesquisadores e seus interesses do que propriamente dos povos estudados. O mapa continua uma referência, mas é preciso considerar tal coisa. Igualmente é assim para os estudos sobre o negro no Brasil, fundado por Nina Rodrigues que guardava o traço do outro estudado pelo “estrangeiro”.

O importante é que a antropologia e a saúde pública brasileira migraram de um “projeto” de fora para um por dentro de um projeto nacional. Entre os anos 30 e 40 a antropologia se encontra fortemente marcada pela chegada do império americano com o seu cinema sonorizado e os falares em inglês e claro da literatura nesta língua. Nos anos 50, o projeto nacional se consolidava em desenvolvimento e a antropologia andou junto com a institucionalização das ciências sociais.

A presença na USP de Lévi-Strauss e Roger Bastide não marca um momento francês absoluto da nossa antropologia. O primeiro logo após a guerra se aproxima intelectualmente dos EUA e este país, assim como fez com a saúde pública passa a ter enorme influência na formação de antropólogos brasileiros em momentos de forte influência, ora da Universidade de Chicago (Donald Pierson), noutra Colúmbia e depois Harvard. A formação do Museu Nacional no Rio de Janeiro e dos centros da USP, igualmente aconteceu com a saúde pública, com a Escola de Higiene e até mesmo a FIOCRUZ, além do Instituto Evandro Chagas, políticas e programas de controle e erradicação de doenças, são territórios de estrangeiros no mesmo ímpeto expansivo da produção industrial de produtos de base científica. Isso quer dizer: é preciso limpar a área de expansão do capital e vender as conquistas da ciência para os nativos.

No caso da Saúde Pública, logo após o momento Oswaldo Cruz, ligado ao Pasteur, tudo o mais anda tocado pela Fundação Rockfeller e a Universidade mantida por ela: John Hopkins. O mais emblemático desta interferência estrangeira no país dos anos 30 a 50 é que equipes inteiras vieram e tomaram conta de territórios completos. O nordeste destes anos ficou pelas mãos de pesquisadores americanos no controle da Febre Amarela. Os antropológicos que estudam as nossas manifestações subjetivas devem lembrar-se do Papa Figo, um mito dos sertões decorrente do hábito dos “vigilantes” da Fundação Rockfeller em coletar amostras de fígado com um necrótomo em mortos dos sertões.

Tudo muda com o tempo. E como na dialética hegeliana o movimento de mudança é um jogo de contradições entre opostos em luta. O simples surgimento de um projeto nacional a partir da revolução de 30, que leva o país a instituir idéias e estruturas para operação delas sobre o que é o interesse nacional e o que é a manifestação do brasileiro, não interpretada pelo projeto de outros povos.

Devemos tomar muito cuidado para identificar as partes em contradição. Não negar a contradição, pelo contrário interpretá-la corretamente. Duas Conferências Nacionais de Saúde têm um poder de formulação seminais para o que ocorre no Brasil de hoje. A Terceira Conferência Nacional de Saúde, realizada no final do ano de 1963 assenta as bases para uma política nacional independente e sobre a égide do interesses da população brasileira. A Oitava Conferência, realizada em 1986 no momento da redemocratização do país, retoma as bases da Terceira, como o caso da municipalização, mas comente o erro de privatizar os serviços de saúde e abdicando de um programa de estatização da fabricação de insumos, inclusive com poder regulador do mercado. Deixar que o mercado resolvesse é resolver-se pela atividade meramente mercantil ao invés da racionalidade técnico-científica e pelo discernimento político de uma base social sustentada sobre direitos universais. Direitos universais que sob operação de disputas mercantis se tornam o deserto de iniqüidades.

A outra contradição histórica, salvo melhor juízo, é a famosa disputa entre Darcy Ribeiro e Roberto Da Matta na Revista Civilização Brasileira no final dos anos 70. O conteúdo é vasto e interessante e se encontra disponível até hoje nas páginas da revista. Não vem ao caso sua repetição. Mas contemplar a contradição refletida entre o momento do “projeto de fora” e o “projeto de dentro”. Darcy Ribeiro vinha da Fundação da Universidade de Brasília, de um governo derrotado por um golpe militar que pretendia Reformas de Base que alargariam a base econômica da sociedade brasileira. Roberto Da Matta ficara no ambiente aceito da academia olhando para fora. Diversificando o objeto político da antropologia em compartilha com um “universo” dominador de um agente ditador de parâmetros, conteúdos e interesses.

A contradição entre a força de “fora” e a expressão da força de “dentro” continua a ser objeto do interesse de quem encontrar disposição para tal.

Os bancos e a ética, segundo Camdessus - Mauro Santayana

Repetiram-se, ontem, na praça Sintagma, em Atenas, os protestos da população grega contra as medidas econômicas exigidas pelos governos europeus. Elas tornarão ainda mais insuportável a sua vida, com o desemprego, a aflição e a miséria. O parlamento as adotou para que os bancos recebam novos empréstimos e, com eles, paguem suas dívidas internacionais. Também ontem, El Pais divulgava declarações significativas de Michel Camdessus, que foi diretor geral do FMI durante 13 anos (de 1987 a 2000). O economista francês resumiu a crise atual “à falta de ética na atuação das grandes instituições financeiras internacionais”. A ânsia do lucro a qualquer custo – falou quem conhece as entranhas do sistema – levou ao abandono de todas as cautelas morais, além de nítidos procedimentos criminosos.

Camdessus sugere mudança revolucionária na atuação do Fundo Monetário Internacional. Propõe, de saída, que os Estados Unidos e a Europa percam o poder de veto de que dispõem na direção colegiada do organismo. E defende maior presença e efetiva decisão aos países emergentes, como são os Bric. Voltamos, assim, ao senso comum: os estados e suas instituições devem estar a serviço dos cidadãos, dos indivíduos, e não se submeterem aos interesses dos ricos e poderosos. A moeda é a expressão da soberania dos povos, mediante os governos, e não instrumento restrito ao uso e abuso dos banqueiros.

O mundo dá voltas, mas o bom senso é o mesmo. Seria interessante voltar ao início da Revolução Burguesa, ou seja, do movimento intelectual, político e insurrecional do século 18, a fim de recuperar o melhor de suas idéias e projetos. Em termos históricos, esse processo continua em andamento, e há tempo de corrigir seus desvios e prosseguir.

Um dos primeiros pensadores modernos a associar a indagação filosófica às questões sociais, Hegel, toca nas glândulas da injustiça, em um de seus textos juvenis (que, nele e em outros autores, costumam ser os mais limpos e significativos). Em seus Escritos Teológicos da Juventude, Hegel tem uma passagem, ao mesmo tempo evocativa e profética, que transcrevo, valendo-me da citação que dele faz Marcuse, em Reason and Revolution:

Em Atenas e em Roma, guerras vitoriosas, o acréscimo das riquezas e a descoberta do luxo e de diversas comodidades, fizeram nascer uma aristocracia militar e financeira que destruiu a República e acarretou a perda completa da liberdade política.

O leitor, naturalmente poderá trocar os dois impérios antigos, o ateniense e o romano, pelo grande império contemporâneo, o dos Estados Unidos, e a análise será a mesma. Já em 1797, Hegel faz outra constatação, que mostra a forte contradição interna do Iluminismo, ao apontar que a “segurança da propriedade é o eixo em torno do qual gira toda a legislação moderna”. Os legisladores não se preocupam, assim com os homens e sua felicidade.

No passado, o saqueio colonial era garantido pela violência militar e pela hipocrisia das missões religiosas. Hoje, basta a ação dos grandes banqueiros, assegurada pelo poder bélico e diplomático dos governos que eles mesmos criam e controlam.

Deixemos os páramos da inteligência em que se moviam os filósofos da teoria política, de Aristóteles a Hegel, e fiquemos no pragmatismo de Camdessus: é hora de colocar coleiras e mordaças nos banqueiros, a fim de lhes reduzir o apetite feroz de lucros imorais, e restaurar o mínimo de decência ao sistema financeiro. O melhor mesmo seria destruir todo o sistema e colocar sob o controle direto dos cidadãos, mediante instituições novas, o senhorio sobre a moeda e as operações bancárias. Para isso é preciso que os cidadãos desalojem dos Estados os que nele se encontram a serviço do dinheiro.

Uma reflexão final sobre os que deveriam ser julgados como criminosos contra a Humanidade pelo Tribunal de Haia. Talvez fosse melhor que, em lugar de Kadafi, cuja prisão foi decretada, ali estivessem os banqueiros de Wall Street e os que mandam matar civis no Iraque e no Afeganistão e torturar em Guantánamo.

por socorro moreira


enquanto falo da vida,
e vejo que tudo passa
também sinto o retornar
do muito que a vida traga
traças não corroem
o véu da minha cara
formigas não bicam
o doce da minha taça.

Lançamento de Livro - Show

LANÇAMENTO DE LIVRO INFANTIL




Estaremos lançando, na próxima Quinta-Feira, dia 07 de Julho , no Cine Teatro Moderno, aqui em Crato, o livro : "O Mistério das 13 Portas no Castelo Encantado
da Ponte Fantástica" de J. Flávio Vieira e Ilustrações de Reginaldo Farias. O livro engenhosamente faz uma tessitura dos mitos caririenses e acompanha um CD com 15 Músicas e um Audio-Livro com a narração da história. O Projeto foi vencedor do I Prêmio Rachel de Queiroz da SECULT. No evento teremos um Show com a presença de vários músicos e compositores cearenses que participaram do Projeto : Luiz Carlos Salatiel, Lifanco, Ibbertson Nobre, Luiz Fidelis, Pachelly Jamacaru, Amélia Coelho, Ulisses Germano, Zé Nilton Figueiredo, João do Crato, Leninha Linard, Abidoral Jamacaru e muitos outros.

Dia- 07/07/2011 (Quinta)
Local- Ci
ne Teatro Moderno ( Crato)
Hora- 19
H
Entrada Franca

Todos Lá !

Apoio : Secult, Governo do Ceará, Urca, Geo Park, Secretaria de Cultura do Crato, Unimed Cariri, OCA

Primeiras Chuvas - Por José Nerwton Alves de Sousa


Mimimundo sedento é o vale.
Mananciais pauperaram e, aqui e allhures recontidos, na fluência por entre calhaus, retiveram-nos terras adustas, absorveram-nos glebas ansiadas.
As lonjuras além os reclamam, acenando dos leitos e brejos, vocativos de dor e, vigília.
O Grangeiro finou-se entre canas, e sua alma de luz que fluía, entre areias e pedras jaz morta.
Esperança dos olhos no azul.
Qualquer nuvem mais chumbo é promessa.
E a foice e a enxada eis um dia, mal o sol clareou no levante, deixam o canto, onde a sombra as velava, para a faina de toda a esperança.
Pôs o duro lidar das jornadas, uma tarde a fogueira cresceu. Eram rubra estrelas da terra incensando as estrelas do céu.
Houve estrondo entre nuvens de breu e clarões entre céus lacerados.
E na dança das gotas sagradas, bebe a terra os alentos da vida, e a alegria é a prece dos olhos.

Por Lupeu Lacerda



E que deus me livre dos livros
Que a fascinação não me fascine
Que o belo passe batido
E o comum se dilua
No liquidificador de merda
E ração adocicada.
E que deus me livre da lombra
Da imagem irreal
Do mantra do vento nas árvores

E que deus me livre da preguiça
Do cio e do ócio
Das fotografias de sebastião salgado

E que deus me livre das gargalhadas
Da sensação de chuva no rosto
Da brisa na madrugada

E que deus, em sua suprema bondade
Me livre dos livres
E aumente um elo
Na corrente que prende meu pé.

por lupeu lacerda

PAULO SOLEDADE- por Norma Hauer


ESTÃO VOLTANDO AS FLORES

No dia 29 de junho de 1919, nasceu, em Paranaguá (PR) Paulo Gurgel do Amaral Soledade, mas seu nome ficou marcado em nossa música como PAULO SOLEDADE.
Desde a mais tenra idade interessou-se pela música, embora tivesse iniciado sua vida artística como ator. Isso no final da década de 30, quando trabalhou com artistas de renome, como Luiza Barreto Leite, Gustavo Dória....

Já na década de 40 estava atuando como produtor de “shows” , sendo fundador do então famoso “Clube dos Cafagestes”, onde conviveu com o comandante aéreo Carlos Eduardo de Oliveira, conhecido com Edu e que faleceu em um acidente aéreo.

Em sua homenagem, compôs a marchinha “Zum-Zum”, gravada por Dalva de Oliveira que obteve grande sucesso no carnaval de 1950...

ZUM-ZUM
Zum, zum, “tá faltando um
Oi zum, zum, zum...
“Tá” faltando um

No ano seguinte em co-parceria com Marino Pinto, ainda com Dalva de Oliveira, obteve mais um sucesso: “Calúnia” e nesse mesmo ano, com Fernando Lobo, compôs “Longa Caminhada”,. Gravado por Francisco Alves. E ainda em 1951 , com Marino Pinto, mais dois sucessos “Rio”, gravado pelos Anjos do Inferno.e “Se o Amor tem Raízes”, mais uma vez, com Dalva de Oliveira.
Paulo Soledade e Marino Pinto foram os grandes responsáveis por sucessos de Dalva de Oliveira depois que ela saiu do “Trio de Ouro”.
Outro sucesso da dupla, Dalva de Oliveira alcançou no ano seguinte:”Estrela do Mar”

ESTRELA DO MAR

Um pequenino grão de areia
Que era um pobre sonhador,
Olhou o céu e viu uma estrela
E imaginou coisas de amor...

Passaram anos, muitos anos
Ela no céu, ele no mar,
Dizem que nunca o pobrezinho
Pôde com ela se encontrar.. .

Se houve ou não houve alguma coisa entre eles dois
Ninguém soube até hoje explicar.
O que há de verdade é que depois, muito depois,
Apareceu a estrela do mar.


Além de Dalva, muitos outros cantores gravaram Paulo Soledade, como Albertinho Fortuna , Emilinha Borba, Elizeth Cardoso, Jamelão, Ângela Maria, Grande Otelo, Sílvio Caldas, Marlene...


Mas foi Helena de Lima quem gravou uma das mais belas composições de Paulo Soledade :


ESTÃO VOLTANDO AS FLORES


Vê, estão voltando as flores

Vê, nessa manhã tão linda

Vê, como é bonita a vida

Vê, há esperança ainda


Vê, as nuvens vão passando

Vê, um novo céu se abrindo

Vê, o sol iluminando

Por onde nos vamos indo.


Paulo Soledade faleceu em 27 de outubro de 1999, aqui no Rio de Janeiro, aos 80 anos.
Norma

PROGRAÇÃO DA EXPOCRATO - PERDÍVEL

PROGAMAÇAO COMPLETA DA EXPOCRATO 2011

Domingo 10/07 - LEO MAGALHAES, ITALO E RENNO, GERALDIN LINS E AMIGOS SERTANEJOS.


Segunda 11/07 - SORRISO MAROTO, DORGIVAL DANTAS E MALA MANSA.


Terça 12/07 - POUCA VOGAL, AXE MEU REI.


Quarta 13/07 - EXALTASAMBA, MAGNIFICOS, FORRO DA XETA E FORRO DE LUXO.


Quinta 14/07 - ASA DE AGUIA, FORRÓ DI TAIPA, CURTIÇAO E FURACÃO DO FORRÓ.


Sexta 15/07 - AVIOES, FORRÓ DO MUIDO, SOLTEIROS E KOKITEL DO FORRÓ.


Sabado 16/07 - GAROTA, CAPIM CUBANO, CALYPSON, ALA URSA.


Domingo 17/07 - BRUNO E MARRONE, ARREIO DE OURO E FORRO DA PEGAÇAO.


PS. MUITO PROVAVELMENTE RONALDINHO GAUCHO IRÁ APARECER PARA FALAR SOBRE A MEDALHA MACHADO DE ASSIS QUE ELE RECEBEU DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS.

Tudo muda - Emerson Monteiro


As tais voltas que dá a vida dizem isso. O eterno movimento, que carece sabedoria para acompanhar. Ninguém vanglorie dias e coisas, turbilhão de passageiros em volta do velho trem, cinema cativo em permanentes atitudes positivas. Característica por demais das existências, a mudança reclama respeito no fim de aceitar os tamanhos que se possui. Contudo, adotar compreender o tanto que cabe, de um por um, sem invadir o território alheio e querer tomar à força o que lhe pertence.

O giro da Terra no espaço em torno de seu próprio eixo demonstra o ensino desta efetiva mudança. Olhar o céu e notar nuvens, deslocamentos do ar, os astros a correr, as posições do Sol. Saber seguir no ritmo que a natureza impõe. O humor variável das pessoas. O calor das temperaturas. Lições permanentes de flutuação, que chamam à responsabilidade os protagonistas do drama da continuidade.

Quais habitantes de enorme formigueiro, exército fervilhante de criaturas cria asas e voa, perante os cenários desta representação coletiva, às vezes, com boa vontade, conhecendo os mistérios que envolvem de perguntas assustadoras. Outras, arrancando raízes da tranquilidade e chamando a si o direito de reger a orquestra do silêncio ainda que ignorando o sabor das notas musicais.

Entretanto adotar, com humildade, o funcionamento independente das peças no tabuleiro, que reclamam qualquer norma, dos princípios e das origens. Caso contrário, o formigueiro entraria em compassos de espera ou destruição, num resultado melancólico.

Conhecer o espaço que nos cabe de herança no bolo em elaboração, e ajustar os valores que precisamos adquirir na viagem dos giros que a vida oferecer.
Por maior seja nome, posição, fama, a dimensão do freguês só comporta os conceitos de Igualdade, Liberdade, Fraternidade. Todos iguais perante a Lei comum. Seres dotados de Liberdade para criar as proporções pessoais e sociais. Irmãos entre irmãos sob teto azul do Infinito.

Deveras, como tudo muda neste chão, e ninguém se vanglorie quando há um Eu que fala disso todo tempo nas ações da Natureza perene; dentro do coração das pessoas; na luz de toda consciência. Há um núcleo de perfeição em tudo isto. Um foco dominante de claridade que indica certeza e persistência. O otimismo qual razão de trabalhar os momentos com extrema habilidade, semelhante aos artistas que produzem suas telas nascidas da inspiração pura. A arte de viver, que exige, por isso, dedicação, paz e aceitação das transformações que a vida impõe, para contar histórias felizes aos nossos filhos e aos filhos deles, os novos atores vindos alegres ao mesmo palco.

PEDRO RAIMUNDO- por Norma Hauer


ADEUS MARIANA

Ele nasceu no dia de São Pedro ( em 29 de junho de 1906) em Santa Catarina, mas ficou conhecido como um cantor gaúcho visto ter-se mudado para Porto Alegre, onde iniciou sua carreira na Rádio Farroupilha. Seu nome PEDRO RAIMUNDO

Dois de seus sucessos ainda em Porto Alegre foram “A Canção do Tropeiro” e “Saudades de Laguna”.
Em 1943 veio para o Rio de Janeiro, atuando nas Rádios Mayrink Veiga, Tupi, Globo Tamoio e, por fim Rádio Nacional.

Não chegou a ser um nome muito conhecido, embora tenha sido nele que Luiz Gonzaga se inspirou para se apresentar com roupas típicas do Nordeste.
Pedro Raimundo, desde que aqui chegou, usava roupas típicas do Rio Grande do Sul, cantando e dançando com seu acordeão. Luiz ficou um nome conhecido, enquanto o de Pedro Raimundo virou uma pequena lembrança de quem se lembra dele interpretando seu maior sucesso: “Adeus, Mariana”.

ADEUS MARIANA

Nasci lá na cidade me casei na serra
Com minha Mariana moça lá de fora
Um dia eu estranhei os carinhos dela
E disse Adeus Mariana que eu já vou embora

É gaúcha de verdade dos quatro costados
Que usa chapéu grande, bombacha e esporas
E eu que estava vendo o caso complicado
Disse Adeus Mariana que eu já vou embora

Nem bem rompeu o dia me tirou da cama
Encilhou o tordilho e saiu campo afora
e eu aproveitei e saí dizendo
Adeus Mariana que eu já vou embora

Ela não disse nada mas ficou cismando
Que era dessa vez que eu daria o fora
Pegou uma soiteira e veio contra mim
Eu disse larga Mariana que eu não vou embora

Pedro Raimundo foi mais um cantor que faleceu em seu “inferno zodiacal”, no dia 9 de julho de 1973, sem completar 67 anos.

Norma

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Um nonsense de senso - José do Vale Pinheiro Feitosa


Era para ser a música "Farinhada" mas como não a encontrei em vídeo e não sei postar MP3, resolvi-me por esta "Nem se despediu de mim" que me deixa pleno de senso nordestino.


Quando eu vi o meu amor,
Estava raspando mandioca,
Minha mãe lavando roupa
E eu na rodoviária dos pobres.

Estes versos foram escolhidos pela audiência da Rádio Cultura de Paracuru como a melhor poesia da quinzena. Desconhecendo o que você pensa dela, tomei conhecimento da mesma ao gravar um programa que fazemos para outra rádio da cidade e que narra histórias de vida.

O Jair Moreira, mais conhecido por Jair Boi uma vez que o seu programa de música brega na Rádio Cultura era bem condicionado em cálcio para surgir os chifres, foi quem me contou. O concurso era um quadro do seu programa e ele terminou brincando pela escolha de uma poesia que não dizia nada.

E abrimos uma conversa. Será que não? Será que não dizia nada mesmo? O poema fala das condições humanas e suas afetividades em sociedade. O meu amor, como eu é pobre: raspa mandioca para viver. A minha mãe que é de outra geração, também é pobre e lava roupa.

O poema está completo: a rodoviária dos pobres é um ponto de ônibus muito movimentado que fica no bairro de Antonio Bezerra em Fortaleza no qual centenas de pessoas simultaneamente pegam ônibus para as cidades próximas e a oeste da capital.

O que se deduz da rodoviária dos ricos por oposição: pegam o ônibus na rodoviária central, chegam de táxi e mesmo que de ônibus urbano estão na categoria da situação de abundância. Aliás, o poema começa exatamente pelo aparente nonsense dele que é o poeta na rodoviária dos pobres, a partir daí todo o resto faz sentido.

VICTORIO MICHELETTI

29/6/2011 16:39:00
Victorio Micheletti, um artista anônimo



Por José Carlos Mendes Brandão





       Admirável a disposição de Pipol para divulgar a arte e, agora, este artista anônimo, Victorio Micheletti, tão anônimo que sua própria sobrinha não sabia dessa sua atividade “secreta”. Acontece que a arte é um fenômeno cultural: não é por sua qualidade, mas pela influência ou aceitação num contexto social que o artista se torna conhecido.
      
Pipol começa por nos mostrar Victorio dando uma lição de como fotografar. Afirma categórico esta verdade basilar: fotografia é luz. Lembra-nos o princípio do fotocentrismo, de como as plantas procuram a luz como se fosse toda a fonte da vida, para em seguida mostrar-nos que a contraluz tem mais profundidade que a luz chapada. Este seria o princípio da fotografia.
      
Depois vemos Victorio visitando a exposição de Henri Cartier-Bresson e apreciando com a ingenuidade e o encanto de uma criança a arte do grande mestre da fotografia, desconhecido para ele. Encantou-se com a arte de Cartier-Bresson, com ingenuidade, e com ingenuidade criticou-o como a um igual.





      
Bonito ver Victorio falar do “erro” de Cartier-Bresson num enquadramento, numa sombra fora de lugar. Pergunta-se o que o autor quereria dizer com isto ou aquilo. Um menino de bicicleta e seu reflexo no espelho d’água, uma tomada genial – mas havia um outro menino cortado, que Victorio diz que faria par com o primeiro, como se condenando essa falha do mestre (que ele não sabia ser um mestre). Em outra foto, deixaria mais espaço à frente. Em outra... Em muitas, a admiração sincera de quem admira por convicção e não por um julgamento preconcebido.
      
Lembro-me, isso faz uns quarenta anos, era o auge do formalismo/estruturalismo, que ditava as regras da arte... Ouvi comentar de artistas portugueses (os portugueses são inteligentíssimos) que “não sabem, mas fazem”. É o caso de Victorio: não encaixa a sua arte num esquema preconcebido. Como se estivesse criando sem saber, ignorante das diretrizes da criação. Já me disseram que eu falo mal dos professores – mas eu sou um professor! – quando o meu problema é a arte presa a trilhos de ferro ou aço, não se podendo criar de outra maneira para ser aceito. O que eu defendo é a arte dos anônimos – que poderiam ser grandes mestres! – como Victorio Micheletti.
      
As últimas imagens do filme levam-nos a pensar em um mestre da fotografia. É a limpidez, a luz e as sombras realçando-a, o enquadramento, a profundidade. Por que Victorio Micheletti era um artista anônimo? Pelo motivo que eu levantei de início: faltou a necessidade cultural de sua fotografia, que ela representasse seu tempo, que ela projetasse seu tempo para o futuro. Faltou um élan social que o projetasse no seu tempo tornando a sua obra necessária.





      
Nem quero advogar um maior reconhecimento para a obra que Victorio Micheletti nos deixou de herança, ao partir agora (7-3-11) deste mundo. O reconhecimento é necessário em vida. As suas fotos têm um peso específico que era preciso ter sido sentido. O mundo fica maior com a obra de um artista. Victorio, o homem da luz, poderia ter-nos iluminado mais.
      
Por fim um voto de louvor a Pipol, por seu trabalho de divulgação da arte que nem todos veem. Pipol começou o seu trabalho com a câmera aqui em Bauru, lá pela década de 80, filmando as andanças de um monstro de metal pelo centro da cidade ou a sua indefectível lambreta capenga atrapalhando o pouco trânsito da época. Era a arte gratuita, por ela mesma, como deve ser. Depois foi para São Paulo, profissionalizou-se e realiza um trabalho limpo com as imagens, tirando do limbo gente e ideias que são necessárias e nem sempre chegam a todos.




   É preciso ver e rever: www.cronopios.com.br/voltar17


                                                 * * *
 
José Carlos Mendes Brandão é autor de “Exílio” e “O silêncio de Deus”, entre outros, e detentor de vários prêmios literários, como o “José Ermírio de Moraes”, (1984); V Bienal Nestlé de Literatura Brasileira (1991); Prêmio Brasília de Literatura, (1991); Prêmio Nacional de Literatura “Cidade de Belo Horizonte”, (2000); Prêmio Nacional de Literatura, da Universidade de Brasília (2010); Prêmio Nacional de Literatura “Gerardo Mello Mourão”, Fortaleza, CE (2010). Blog:http://poesiacronica.blogspot.com/ E-mail: jcmbrandão@gmail.com

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Os primeiros dias são sempre mais difíceis - por Lupeu Lacerda





Depois de uma semana de oba oba, Adão olha assim meio que enojado para a merda do paraíso. Uma coisa assim, como se fosse uma ressaca. Ele sabe que aquilo é grande demais. Seria muito melhor a porra de um apartamento, um flat em um lugar bacana. Pra quê aquela megalomania? Aquele imensidão do caralho? Sabe que o salário não compensa, que não lhe é dado o devido valor, entre outros problemas menores. O que ele sabe é que não vai mais agüentar muito tempo isso de ficar falando com coisas que não lhe respondem. Se sente ridículo gritando com os bichos ainda sem nome. Acha que vai terminar ficando louco de pedra. Isso de batizar um por um? Coisa por coisa? diz que não tem inspiração que agüente, que eles voltem amanhã, em uma semana ou nunca. Nunca seria uma boa pedida. Olha pra cima, pros lados, pra baixo e grita com deus: - cadê a porra da assessoria? Alguém da área de criação, pelo menos um eletricista? Eva olha pra adão com um tédio sereno. Senta-se na beira de um rio? Riacho? Lagoa? O incompetente do Adão ainda não tinha decidido. E olha pros peixinhos coloridos – todos sem nome também – pensando em esganá-los. Será possível esganar um peixe? Olha pra adão e pergunta: - o personal trainer, chega quando? E o cara da TV a cabo? Adão olha, olha, vê se deus não ta olhando e pensa em nomear um pedaço de pau: porrete, e acertar com ele na cabeça daquela costela com nome de mulher.
 por lupeu lacerda

João do Crato- por Samuel Araújo



Por Socorro Moreira


vejo esvaziado o baú das emoções
algumas
gastei desordenadamente
outras,
por desuso
se estragaram...

meu guarda-roupa
comporta todas as minhas coisas
e o vazio das tuas


Hermann Hesse




Era o ano de 1975. Recém chegada em Recife, assumi meu posto no Banco do Brasil , na Metropolitana Dantas Barreto. Lá conheci três colegas incríveis : Rejane, Lúcia e Graça. Dividiam o mesmo apartamento, e viviam uma grande irmandade. Espelhei-me nas três para começar uma nova vida. Vestiam-se com apuro , mas despojadamente ; bebiam bons livros, bons filmes, bons discos. E nessa convivência fui mudando meu jeito de encarar a vida. De cara, Rejane emprestou-me dois livros de Hermann Hesse ( até então para mim desconhecido) : Sidarta e Demian. Demian, assustou-me ! Ensinou-me a questionar valores ! Depois foi a vez de Kafka , Caetano, mais Chico e Chico ! A amizade durou o tempo que morei em Recife, e mais outros anos... Até hoje !

Abraço Rejane Gonçalves, esta fantástica escritora, que tanto contribuiu para que eu fosse menos "perua", e mais pés descalços fincados no chão, e olhos mirantes na lua.


Socorro Moreira

Demian
Demian é um livro escrito por Hermann Hesse, ganhador do Nobel de Literatura de 1946.

Considerada por muitos críticos a principal obra de Hesse, Demian mostra a influência que este sofreu dos escritos de Nietzsche e a aplicação de seus conhecimentos de psicanálise na elaboração do drama ético e da enorme confusão mental de um jovem que toma consciência da fragilidade da moral, da família e do Estado.
O livro conta a história de um jovem - Emil Sinclair, protagonista e narrador - criado por pais muito piedosos que, de repente, se vê em um mundo bem diferente daquele pregado por seus pais e avós. Atormentado pela falta de respostas às perguntas que faz sobre sua existência, passa a procurar na introspecção suas respostas. Dividido entre o mundo ideal e o real, com suas interpretações (mundo claro e paternal, associado às idéias de seus pais e à residência destes, e o mundo sombrio e frio, externo à residência dos pais e com valores estranhos a estes), Sinclair experimenta ambos, através do confronto com suas próprias concepções, para tentar encontrar sua verdadeira personalidade. Percorrendo este caminho perigoso, influenciado por Max Demian, um colega de classe precoce e envolvente, ele prova do crime, da amizade e das incertezas - surpresas que engendram as descobertas de sua vida adolescente. Sinclair, então, se rebela contra as convenções sociais e descobre não apenas o doce sabor da independência mas também seu poder de praticar o bem ou o mal. A relação de Sinclair e Demian atravessa toda a narrativa a partir do momento que os personagens se conhecem. Demian revela a Sinclair que existem filhos de Caim, pessoas que possuem a capacidade de exercer o bem e o mal; também apresenta a entidade Abraxas, divindade de características humanas - também capaz de exercer o bem e o mal. A obra tem muitas referencias bíblicas, como o Sinal de Caim e o Gólgota, tornando dificil a leitura a quem não sabe muito sobre a religião cristã, mas também trata de misticismo e autoconhecimento, da busca da essência do Eu. A obra narra principalmente os conflitos internos que um indivíduo passa desde a infância, através da adolescência, até sua idade adulta. É possível afirmar que Demian trata-se de um romance iniciático, descrevendo os contatos de um indivíduo com aspectos existenciais e de sua personalidade.

Obtida de http://pt.wikipedia.org/wiki/Demian



A fonte-Por: Rosemary Borges Xavier

A melhor fonte do mundo está na caridade.

Por João Nicodemos


Por Nicodemos

parentes,
pares...
parecidos...
parceiros da Beleza,
"primo da morte, e da morte vencedor"
assim como o Amor...
primos entre si, primos entre nós...
nós que atamos e desatamos
ao prazer dos encontros...
e são tantos...

Por João Nicodemos...

quantas vezes cantei
que "já passou" sabendo que
não passa, não passou...
é sempre o mesmo amor
mudando de endereço
mudando de nome
mudando de praça
sempre o mesmo amor
que não passa
não passou...


faz-me rir...
ha ha ha


não passou
nem vai passar...



terça-feira, 28 de junho de 2011

Por Aloísio


Obrigado Nicodemos, por fazer-me lembrar deste grande compositor, cantor.

Chico Buarque é meu irmão quando diz:
“Madalena foi pro mar
E eu fiquei a ver navios.
Além de tudo
Me deixou mudo
Um violão.
Se todo mundo sambasse,
Seria tão fácil viver.
Logo Eu?
Meu tataravô baiano.
Mas nem as sutis melodias
Merecem, Cecília, teu nome
Te olho
Te guardo
Te sigo
Te vejo dormir.
Luz, quero luz.
E um dia, afinal
Tinham direito a uma alegria fugaz.
Sei que além das cortinas
São palcos azuis.
A todo o pessoal.
Adeus.
E coerentemente assino embaixo”.

Aloísio

Reler a Poesia de Bandeira e Reencontrar a Estrela: A Poesia - Por Stela Siebra Brito




É confortável, sobretudo para um leitor curioso, reler qualquer autor à luz da leitura dos estudiosos, que com suas análises e críticas trazem elementos novos para um melhor entendimento do autor, da sua obra, da intertextualidade literária, provocando, assim, uma leitura mais completa e prazerosa.
Este prazer me foi dado agora ao reler Estrela da Vida Inteira, de Manuel Bandeira, e escolher um poema para comentar neste texto. Foi difícil eleger um poema, se gosto de tantos! Enfim, decidi-me pela temática amorosa, aliás, por uma vertente da temática amorosa: a estrela, configurada ano, nascido em Recife, em 1886, o poeta Manuel Bandeira viveu a maior parte da sua vida no Rio de Janeiro. Publicou o primeiro poema, um soneto em alexandrinos, no Correio da Manhã, em 1902.
Jovem, com apenas dezoitos anos, adoece dos pulmões. Em busca de cura para a tuberculose, peregrina por cidades serranas do Brasil e em 1913 embarca para o sanatório de Clavadel, na Suíça. Durante os 13 anos dessa peregrinação, Bandeira aprimorou sua formação técnica, tornando-se o “poeta poeticamente mais culto e senhor de seus recursos”, nas palavras de Ivan Junqueira.
Os livros – A Cinza das Horas (1917) e Carnaval (1919) trazem os primeiros escritos de Bandeira marcados por influências do “simbolismo francês e português, do romantismo alemão e do lirismo quinhentista português”.
Embora tenha se recusado a participar da Semana de Arte Moderna de 1922, Manuel Bandeira é figura importantíssima no Modernismo Brasileiro. “Os sapos” e “Poética” são poemas de Bandeira que estabelecem uma relação com o Modernismo, assim como também o faz o humor sarcástico de “Pneumatórax”.
O ensaísta e poeta Ivan Junqueira adverte que “na poesia de Manuel Bandeira, como na de qualquer poeta cuja obra comporte momentos de transição entre um e outro estágio instrumental, o recurso da dissolução rítmica encontra-se intimamente relacionado à técnica do verso livre”. E Manuel Bandeira falando do processo criativo de “O ritmo dissoluto”, o define como “um livro de transição entre dois momentos” de sua poesia e que com ele atingiu “completa liberdade de movimento”.
Depois de O Ritmo Dissoluto, vem um outro livro com poemas escritos de 1924 a 1930. É Libertinagem, do qual o poeta afirma ter abusado do verso livre, razão, portanto, do seu título.
Também nos versos livres Bandeira é puro lirismo. Junqueira se refere ao poeta como “o símbolo supremo do lirismo, consubstanciado na luz daquela estrela “tão alta” e “tão fria” que pulsa do princípio ao fim na solitária e úmida noite em que floresce a poesia de Bandeira”.
Ler os poemas de Bandeira é deixar-se embalar pela cantiga dos seus versos, pela rima, pelo ritmo, pura sonoridade, como se escutássemos as histórias que Rosa contava ao menino, como se Vésper também caísse em nossa cama, como se fôssemos todos pra Pasárgada impregnados de lirismo.
Manuel Bandeira é senhor de um Eu lírico, que com a mesma maestria traça o caminho dos meninos carvoeiros e seus burrinhos descadeirados, inventa um desfilar circense para Mozart no céu, vê o beco, se desalenta procurando a inacessível estrela da manhã, ou da tarde. Bandeira trata com tal fervor e simplicidade os mais diversos temas do cotidiano e da imaginação, que transporta o leitor para a construção dos versos, para ouvir sua voz, sua vida pulsando em cada poema.
Em Bandeira a temática amorosa está presente desde os primeiros livros, no “tom elegíaco e intimista” (Junqueira) e na concepção do amor erótico, da volúpia sensual, com metáforas simbolizando, quase sempre, a frustração amorosa, a distância entre desejo e objeto do desejo, a rosa inacessível sobre a escarpa, a estrela fria, alta, na “vida inteira que poderia ter sido e que não foi”.
O poema A estrela é lindo e triste! As palavras, magistralmente cadenciadas nos versos, configuram a tristeza e a desesperança do poeta que vê a estrela tão alta e tão fria cintilando a solidão da sua noite, da sua vida.

A ESTRELA

Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.

A angústia, gerada pela “ausência” de uma amada que “desapareceu ia nua”, leva o poeta a incitar amigos e inimigos a procurarem a estrela da manhã. O poeta a deseja mesmo que “pura ou degradada até a última vileza”.

“ESTRELA DA MANHÃ

Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manha

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda parte
(..........)

Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.”

Apregoando “Tenho o fogo de constelações extintas há milênios/E o risco brevíssimo – que foi? passou – de tantas estrelas cadentes” (Belo Belo (Lira dos cinqüent’anos), o poeta lança mão do símbolo “estrela” para “exprimir a hierarquia entre os vários amores que teve: uns profundos, que permanecem intactos em sua lembrança, apesar do correr dos anos, e continuam a iluminar-lhe a existência da mesma forma que as constelações há muito extintas continuam a brilhar no firmamento; outros breves e de passagem, que atravessaram a sua vida com a rapidez das estrelas cadentes riscando o céu”, na análise de Gilda e Antônio Cândido.

A ESTRELA E O ANJO

Vésper caiu cheia de pudor na minha cama
Vésper em cuja ardência não havia a menor parcela de sensualidade
Enquanto eu gritava o seu nome três vezes
Dois grandes botões de rosa murcharam
E o meu anjo da guarda quedou-se de mãos postas no desejo insatisfeito de Deus.
Neste último poema é a estrela da tarde, Vésper, a personificação lírica e metafórica do êxtase amoroso. No entanto, é só o corpo que vive essa plenitude, o “desejo insatisfeito de Deus” só alma o realizará “Só em Deus ela pode encontrar satisfação” (Arte de amar).

Se olharmos por uma perspectiva mitológica também veremos confirmada a incansável busca do poeta pela realização amorosa, simbolizada pela estrela que brilha pela manhã ou a estrela da tarde, que não é outra senão o planeta Vênus – a estrela mais brilhante no céu. Assim, estamos diante da deusa do amor, Afrodite para os gregos, Vênus na mitologia latina. Segundo o professor Junito Brandão, o Hino Homérico a Afrodite canta sua “hierofania voluptuosa que transtorna até os animais que se recolhem à sombra dos vales, para se unirem no amor que transborda de Afrodite”.
Ora, a poesia de Manuel Bandeira está repleta do amor venusiano, erótico, carnal, voluptuoso. Para Ivan Junqueira estão equivocados os que atribuem à obra bandeiriana uma intensa sublimação do amor, posto que “na sua poesia a mulher corresponderá sempre a uma entidade tangível, pulsátil”, que já se manifesta na sua meninice, recordada em Evocação do Recife: “Um dia eu vi uma moça nuinha no banho./(...)Foi o meu primeiro alumbramento”.

A furta cor de um dia- por Marcos Vinícius Leonel


O parque, da quadra Bi-Centenário do Crato, sempre foi para mim uma espécie de refúgio, de idílio e de reserva imaculada de auto-afirmação, durante os meus conturbados anos de adolescência. Era um período de revolta inerente. Eram os fins da década de setenta e inícios dos anos oitenta. Foram praticamente três anos na companhia diária de Geraldo Urano, Clélio, Romildo e Orlando, principalmente. Sempre recebíamos algumas visitas inusitadas, bem como sabíamos de algumas despedidas repentinas, como a minha, por exemplo, rumo aos jardins suspensos do bairro Pinheiros, em São Paulo.

O horário sagrado era o pingo da mei dia. Os alunos passando ao largo, os sonhos flutuando à nossa volta, como pedras coloridas suspendidas, as divagações assumindo deliberadamente a solidão dos andarilhos envoltos em lençóis psicodélicos, enquanto a filosofia vã dos desocupados desenhava em nossas mentes paisagens urbanas ocupadas por tropas de assalto e anarquistas espiritualizados nas mais altas esferas da teosofia, dos mitos e do esoterismo fácil dos mundos adjacentes ao absurdo.

Discutíamos de tudo, tanto no sentido lato como no sentido estrito. As leituras eram colocadas em dias e debatidas com uma ferocidade sarcástica que se superava a cada dia, trocando de pele como uma cascavel da caatinga, recém chegada dos desertos americanos. Geraldo tinha uma capacidade mórbida de desconcertar qualquer um com comentários lúcidos e perturbadores. Romildo era dono inconteste de argumentos ferinos contra qualquer coisa. Clélio era o anarquista que todos nós precisávamos constantemente para crucificar a sociedade em nosso passatempo preferido. Orlando era a mansidão naturalista em pessoa, o peso ideal para aliviar e elevar as nossas dores marginais.

Geralmente chegávamos ao nosso encontro diário e inadiável com as idéias fervilhando os nossos ideais. Sempre existia uma certa concordância inicial sobre qualquer coisa. Depois a dialética revestia nossas íris com um arco-íris chamuscado pela urgência existencial de cada um. A catarse era coletiva e individual, com a mesma intensidade com que um ovo é fritado na imaginação de um vagabundo, aos pés de um viaduto de uma metrópole encardida pela fuligem do asfalto e do gás carbono. A tensão era a nossa marionete. A sociedade o nosso Pantagruel. A arte e a cultura eram o outro perdido no labirinto de Borges. Nosso senso crítico distribuía igualitariamente um Dom Quixote para cada moinho movido pelas nossas controvérsias. A gente se despedia, ou não, sempre de mãos vazias, mas com a alma repleta de saudades inconfessadas já para o próximo dia.

Naquele dia sentamos em completo silêncio e nele mergulhamos nossos anseios, vitórias e derrotas, e nele permanecemos, em perturbações imperceptíveis, como uma árvore que cria cascas, quebrando espelhos e fundando universos paralelos. Foram as três horas mais prolíferas da minha vida, naquele período de descobertas indomáveis. Foi aquele silêncio barulhento que fez com que eu percebesse que naquele exato momento aqueles dias inesquecíveis haviam acabado e que não reencontraríamos mais nenhum daqueles nós mesmos de há pouco tempo atrás. Foi naquele dia que o saudosismo foi definitivamente banido do meu reduto. Senti na face o vigor do sorriso de quem reconhece o próprio sangue pulsando nas veias.

Brincando como Zé - por Socorro Moreira


Gosto muito quando o escritor Zé do Vale brinca com as letras das músicas. Irresistivelmente, eu canto junto !

E, se ele me permite, vou tentar brincar com algumas... Essa uma... de Chico !



Já Passou
Chico Buarque

Já passou, já passou
Se você quer saber
Eu já sarei, já curou
Me pegou de mal jeito
Mas não foi nada, estancou

Sempre acho um tanto exagerada ou mentirosa a afirmativa de um coração amoroso : "já passou". Passou , ficando ... num canto , no canteiro de um jardim.Digo isso porque , quando o vento passa, traz o perfume de ti.

Já passou, já passou
Se isso lhe dá prazer
Me machuquei, sim, supurou
Mas afaguei meu peito
E aliviou
Já falei, já passou

O outro? Tadinho, coitado... Sou capaz de jurar que também chorou. Não acredito no amor unilateral. Acredito no desejo insistente, que custa a entender a insignificância de dar nó em pingo d´água !

Faz-me rir
Ha ha ha
Você saracoteando
Daqui prá acolá
Na Barra, na farra
No forró forrado
Na Praça Mauá, sei lá
No Jardim de Alah
Ou num clube de samba

Faz-me rir, faz-me engasgar
Me deixa catatônico
Com a perna bamba

Quando o amor se desliga de uma construção, quando os alicerces ficam sem portas, sem paredes, sem teto... Pra que comprar a tinta ,  lustres, pia da cozinha, e do banheiro ? O dinheiro está na farra, na busca de outro amor. Melhor do que chorar a perda é saracotear noutra, pensando que da próxima, vida ou hora, o relógio vai parar, no instante de felicidade que não foge !

Mas já passou, já passou
Recolha o seu sorriso
Meu amor, sua flor
Nem gaste o seu perfume
Por favor
Que esse filme
Já passou

Esse filme já passou... Mas eu rebobino a fita , a meu bel prazer... Faz gosto ver teu olhar melado, acreditando que o amor pula para o futuro, e de lá não sai !

Um livro de José Carlos Brandão


BIDU REIS - por Norma Hauer

HOJE É UM LAMENTO

Ela nasceu 5 em março de 1920, recebendo o nome de Edila Luisa Reis, ficando conhecida com o nome artístico de BIDU REIS.
Começou cantando em trio, depois em dupla com Emilinha Borba (também em início de carreira). Esta, seguindo seu caminho só, fez com que Bidu se dedicasse mais à composição, ao piano e à poesia.
E isso ela o fez até aos 91 anos.

Não compôs muito, mas quase tudo que produziu obteve sucesso, como “Bar da Noite” (parceria de Haroldo Barbosa); “Caminhos Diversos “; “É Natal” coautoria de Arsênio de Carvalho; “Quatro Histórias Diferentes”, parceria com Dora Lopes e por esta gravada; “Festa de Luz” e “Interesseira” ambos com Mário Latini... sendo a mais recente composta em parceira com Osmar Frazão, de nome “Fernanda”, gravada primeiramente por Paulo Barcelos e depois por Alberto Gino.
BAR DA NOITE

Garçom, apague esta luz
Que eu quero ficar sozinha
Garçom, me deixe comigo
Que a mágoa que eu tenho é minha
Quantos estão pelas mesas
Bebendo tristezas
Querendo ocultar
O que se afoga no copo
Renasce na alma
Desponta no olhar
Garçom, se o telefone bater
E se for pra mim
Garçom, repita pra ele
Que eu sou mais feliz assim
Você sabe bem que é mentira
Mentira noturna de bar
Bar, tristonho sindicato
De sócios da mesma dor
Bar que é o refúgio barato
Dos fracassados do amor

Tive o prazer de fazer parte de seu círculo de amigos e, assistia a suas apresentações “ao vivo” no programa “Onde Canta o Sabiá”, que Gerdal dos Santos apresenta todos os sábados na Rádio Nacional.

Bidu lá comparecia no primeiro sábado de cada mês até o de fevereiro. Afastou-se e, por motivo de doença, não compareceu em seu 91° aniversário, em março último. Não se recuperou da doença e no último domingo, dia 26 do mês corrente, veio a falecer.

Alguma nota em jornal ?... Nada !!!, afinal ela não nasceu naquele país do Norte, caso em seria manchete entre nós.
No próximo sábado, por sinal o primeiro do mês de julho, Gerdal dos Santos falará sobre essa agora grande ausente.

A Bidu, que do outro lado da vida, reencontre seu grande amor são meus votos.
Adeus. 

Norma

O êxito como valor de vida - José do Vale Pinheiro Feitosa

Por mais que a ventriloquia dos seguidores de Kátia de Abreu repitam, vender commodities é muito bom para o jogo de capitais, não necessariamente para as pessoas reais. Uma frase escrita por Ignacy Sachs falando sobre as medidas para a segurança alimentar mundial traduz tudo: consolidação de práticas agrícolas socialmente inclusivas e ambientalmente sustentáveis, especialmente da agricultura familiar. Aliás, a contribuição brasileira para o assunto da fome mundial é relevante ao contrário do papel de latifundiários podres de ricos: Josué de Castro é um marco civilizatório para as políticas mundiais. O “Fome Zero” do governo federal tomou assento na FAO e o Brasil continuará a marcar pontos no assunto.

Não tem como negar: os brasileiros passam por um momento de otimismo comparável a outro momento de sua história quando do governo Juscelino Kubistchek. A construção de Brasília, sua arquitetura, a Bossa Nova, o protagonismo do cinema nacional, marcaram muito bem a época. Recente pesquisa entre 147 países demonstra que os brasileiros são os mais otimistas entre todos os países analisados.

Qual a Brasília que se construiu neste atual momento? No planalto central da inexpugnável desigualdade social e econômico construiu-se o mais eficiente programa de redução da desigualdade entre os países emergentes. Não se lembrem dos países centrais, neste a desigualdade não era a questão, só poderemos ser comparados com outros de desigualdades acentuadas como o nosso. A renda per capita do brasileiro cresceu 1,8 pontos percentuais acima da expansão do PIB (Produto Interno Bruto) muito superior aos demais.

A inflação cai. O país cresce. Vira referência para outros povos e alegria frente ao sofrimento de outros. A nossa cultura continua rica e diversificada. Somos protagonistas nas novas redes sociais mundiais. E a Presidenta Dilma acaba de anunciar frente a quinhentos jovens ganhadores de medalhas nas Olimpíadas de Matemática, da qual participaram 20 milhões de jovens, um ambicioso programa de 70 mil bolsas de estudos para brasileiros nas melhores universidades do mundo. As bolsas serão para jovens em estudos de graduação e pós-graduação.

O importante de tudo: o governo brasileiro acompanha o desenvolvimento escolar de milhares de jovens com potencial de servir para uma destas bolsas. Aliás os jovens vencedores das Olimpíadas já estão recebendo uma pequena bolsa da CAPES/CNpQ para desenvolvimento em pesquisa.


São Pedro


O velho santo das chaves
mora numa basílica ,
e quem tem boca chega lá !
Pescava , e andava sobre as ondas ,
sem molhar os pés
Voou além das nuvens , sendo rocha...

Fico pensando num prometido céu
(um céu que nunca vou ganhar)
Se a Terra é tõa bonita ,
considerando os seus oásis ,
como será o cenário de lá?

A gente vive um ciclo vicioso
O diretor do meu filme de vida ,
deixou-me produtora
da minha própria sorte

Um dia , vou perguntar :
"Sâo Pedro,
eu posso entrar ?"

(socorro moreira)

Noite de São Pedro !


Noite de São Pedro!
É hoje o finzinho das festas juninas. Mas esse tempo festivo não se cansa de dançar.Ainda queremos noites estreladas, balões encantados, comida de milho e o forrozim nordestino.
São Pedro em Caririaçu ainda haverá?
São Pedro na AABB do Crato...Quando voltará?
Sopro cinzas no imaginário, arremesso gravetos na brasa...Detono uns foguetes inocentes, como chuvinha, e canto São Pedro,  pras alegrias perdurarem.
Fujo de achar que cresci... Bianca e Sofia me ensinam a sorrir!

Poema que virou canção


Circuladô de Fulô
Caetano Veloso
Composição: Haroldo de Campos

Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá e viva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá soando como um shamisen
E feito apenas com um arame tenso um cabo e uma lata
Velha num fim de festafeira no pino do sol a pino mas para
Outros não existia aquela música não podia porque não
Podia popular aquela música se não canta não é popular
Se não afina não tintina não tarantina e no entanto puxada
Na tripa da miséria na tripa tensa da mais megera miséria
Física e doendo doendo como um prego na palma da mão
Um ferrugem prego cego na palma espalma da mão
Coração exposto como um nervo tenso retenso um renegro
Prego cego durando na palma polpa da mão ao sol

Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá e viva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá

O povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro
Da maravilha no visgo do improviso tenteando a travessia
Azeitava o eixo do sol

Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá e viva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá

E não peça que eu te guie não peça despeça que eu te guie
Desguie que eu te peça promessa que eu te fie me deixe me
Esqueça me largue me desamargue que no fim eu acerto
Que no fim eu reverto que no fim eu conserto e para o fim
Me reservo e se verá que estou certo e se verá que tem jeito
E se verá que está feito que pelo torto fiz direito que quem
Faz cesto faz cento se não guio não lamento pois o mestre
Que me ensinou já não dá ensinamento

Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá

Procure Uma Estrela




Quando a vida parece não vale a pena ser vivida
E você realmente não se importa quem seja
Quando você se sentir não há ninguém ao seu lado
Procure uma estrela

Quando você sabe que está sozinho e tão solitário
E os seus amigos viajaram para longe
Há alguém esperando para te guiar
Procure uma estrela

Todo o mundo tem sempre uma estrela da sorte
Que brilha lá no céu
Se você faz um desejo para uma estrela da sorte
Você provavelmente encontrará alguém para amar

Um homem rico, homem pobre, um mendigo
Não importa quem você seja
Há uma amiga que está esperando para guiá-lo
Procure uma estrela

Um homem rico, homem pobre, um mendigo
Não importa quem você é
Há uma amiga que está esperando para guiá-lo
Procure uma estrela
Procure uma estrela
Garota, procure uma estrela

A melodia é lindinha demais.Minha geração gosta mesmo de cantarolar.

O olhar  humano passeia no céu, fisgando estrelas.Para, no instante em que uma estrela corresponde, e se entrega, quase confessando: você me achou.Agora faço parte dos seus sonhos, das suas histórias; sou confidente e fonte dos seus encantos. Tenho a cor e a magia que você precisa para continuar colorindo a vida, como se ela fosse um céu. 
Stela disse...

Uau!
Eu também sou filha de Chico Buarque, desde que "junto a minha rua havia um bosque que um muro alto proíbia"; desde que fui Januária, Carolina, Ana de Amsderdam, Bárbara, a morena de Angola; desde que cantei "você não gosta de mim, mas sua filha gosta"; desde que acreditei que "vai passar nessa avenida um samba..."; sou filha de Chico Buarque desde conheci Pedro Pedreiro e morri na contramão atrabalhando o tráfego; desde que cantei "deus lhe pague"; desde que vi esse "malandro que agora usa gravata e coisa e tal e nunca se dá mal".
Ah, sou filha de Chico de Buarque porque sei que "o meu amor tem um jeito que é só seu... de me deixar em brasa"; e sei também o que é um olhar de adeus, olhando nos olhos.

Pois é, "apesar de você", Chico Buarque tem muitos filhos e todos o amamos muito, com açúcar e muito afeto.


Nicodemos, você foi demais!
Beijos,
stla

O tempo-Por: Rosemary Borges Xavier


Às vezes os relógios perdem os ponteiros e nem assim o tempo para...
E dispara meu coração quando seguras minhas mãos
Agora só penso na canção
E ver lá fora toda flora florir
Porque tens que fugir?
Será que foi o tempo que cansou de esperar, pois, se os relógios perdem apenas os ponteiros?

Eu também sou filho do Chico Buarque. (João Nicodemos)


É isso mesmo minha gente: declaro publicamente que eu também sou filho do Chico Buarque. Ainda que ele nem saiba de mim e nem desta paternidade não intencional, posso dizer com certeza que eu também sou filho do grande Chico. Mas não quero partilha, herança, nem reconhecimento de paternidade... Quero apenas que todos saibam:
Quando ouvi “A Banda” pela primeira vez, na voz de uma prima mais velha nos bem passados anos 60, senti uma coisa estranha. Mas não tomei nota, nem percebi direito o que era aquela identificação. Mais tarde, na adolescência, com “Sabiá”, “Realejo”, “Quem te viu, quem te vê” senti a mesma sensação de pertença. Uma identificação que não podia explicar, nem precisava. Simplesmente me senti em casa. Suas melodias e seus versos se encaixavam em meu universo emocional e intelectual (em formação) com uma justeza única.
“Junto a minha rua havia um bosque, que um muro alto proibia...”; “...hoje a gente nem se fala, mas a festa continua...”; “Toda gente homenageia Januária na janela, até o mar faz maré cheia pra chegar mais perto dela...”; “O velho vai-se agora, vai-se embora, sem bagagem... não sabe pra que veio, foi passeio, foi passagem...” Com estes versos vi girar a Roda Viva e, como quem partiu ou morreu, eu também cultivei a mais linda roseira que há... vi a banda passar e sonhei com Januária na janela. Com açúcar e com afeto, mergulhei no universo feminino e conheci algumas sutilezas do amor, cantado e decantado em suas canções. Mulheres de Atenas me aguardaram, guerreiro,à beira do cais; e com a morena de Angola eu também dancei e cantei sobre a tumba dos generais. Cantei a esperança de um dia ver o “dia raiar sem pedir licença” debulhei o trigo para o milagre do pão e chorei com a Morte Severina por ele musicada. Quantas vezes deixei a medida do Bonfim que não valeu e guardei, e guardo até hoje os discos do Pixinguinha, sim... o resto é seu. Trocando em miúdos pode, guardar aquela esperança de tudo se ajeitar, nem vou lhe cobrar pelo seu estrago... meu peito tão dilacerado... ...como? se na desordem do armário embutido, meu paletó enlaça o teu vestido e o meu sapato ainda pisa no teu? Como? Se nos amamos feito dois pagãos, teus seios ainda estão nas minhas mãos... me explica, com que cara eu devo sair?
Revisitando minhas lembranças, examinando como sinto o mundo e minha formação, posso dizer que, devido a tão intensa identificação e influência que recebi, eu também sou filho de Chico Buarque. E se você se lembra de algumas das músicas que citei, você também é!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Duas Noites São Teus Lindos Olhos - José do Vale Pinheiro Feitosa



Que estrelas no sertão a brilhar,
Ao ranger da madeira da carroceria,
Do sólido caminhão na rodagem do "Salitre".

Rodando pelo infinito,
Por toda a eternidade,
Na maciez das vozes destas mulheres,
Românticas qual esta abóbada estrelada.

Leninha,
Lucinha,
Aninha,
Carminha;
Tão carne e osso,
Coro da permanência.

Jamais um instante,
um momento,
Será tão real,
Como tuas vozes,
Ecoando dentro de mim:

"Duas noites são teus lindos olhos....
Onde estrelas estão a brilhar..."

O Livro do AZUL SONHADO



Enfim, só falta imprimi-lo!
Dia 20.07.2011, na sede do ICC (Crato-Ce), teremos a noite de lançamento. Até lá , muitos lembretes serão postados.Fiquem atentos!

Acordar no recordar - por Socorro Moreira








o tempo brinca comigo
vivo o dejá vu
acordo e adormeço
num sonho contínuo
teu olhar me espreita
teu sorriso me enamora
depois a imagem some
e no meu coração vazio
habita uma nova história

Desisto de esperar
um milagre que não volta !

Do baú de Stela Siebra Brito


Metafísica é para isso?


Sei mais falar do que me fere
daquilo que me atormenta
me amedronta
me encurrala me açoita me violenta


Sei mais falar do silêncio
das palavras malditas
incontidas
encurtadas
invertidas


Sei mais falar do meu avesso
atravessado na garganta
sei mais falar do que me cala
e me mata.


No entanto vem o vento
e ultrapasso o desvão da memória humana:


um homem passa de bicicleta
escuto o barulho do mar
cai uma chuvinha fina fria
encharca minha alma
me lava.


Renasço.