por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 8 de janeiro de 2013


Falando sozinha- por socorro moreira


Domingo não é fantástico. Um cansaço crônico lembra-nos cuidados. Os sinos badalam. Esqueço os chamados. Ligo pra todos os santos e eles silenciam. Alguns anjos de plantão respondem e se aproximam. Tocam harpa, quando desejo um violão vadio. Corrijo a ansiedade na ponta do lápis. Apago falas ditas por impulso, mas elas gritam irritadas, que estraguei tudo.
Os astros enlouquecem com meus dados. O I Ching insiste numa mesma resposta: insensatez juvenil. O Taro é brabo: não responde, e ponto!
Se a felicidade chegar pela porta da rua, expresso sorrindo: não saia de mim!

flashes de uma vida- por socorro moreira


Dona Júlia gritou da calçada:
Comadre Cida, Bianca quebrou a boneca de Sofia.
Choros, castigo, confinamento na nesga da casa( lugar dos morcegos, culpas e medos).
Começou a chuva e o chiado do rádio. Seu Tonho acompanha a voz de Orlando Silva, no banho de cuia.
- “... Foi a Camélia que caiu do jarro/ Deu dois suspiros, e depois morreu...”
Zoada do cepo. Carne batida com jerimum verde, arroz com piqui é o prato do dia. Comer pegando fogo, e rapar o pegado da panela, o doce do tacho.
Ranger do armador. Balanço pra quebrar clavícula.
Gata pariu seis gatos. Modesta ninhada! Eles são pardos com olhos cor de jabuticaba, céu e mar..Haja miado, e leite derramado.Em pouco tempo estarão quebrando telhados..Haja goteira nos dias de chuva.Bacias de alumínio amparando as águas.
De noitinha, sentada na calçada, Donana conta histórias pros meninos comportados. Poliana criança- Jogo do feliz!
É proibido ficar triste?
Chorar faz parte da alma. Depois vem o sono reparando estragos. Depois vem o sol clareando o dia... E assim a vida passa como o leiteiro, padeiro, lenhador, e o menino do pirulito. Passa também a velha das macaúbas (matéria prima do nosso jogo de xibio).
-Batente das casas e calçada – animada Rua da Pedra Lavrada!
No fim do quintal portal para o Rio Granjeiro. Barcos de papel buscando um destino. Desmancham-se. Viram argamassas- papel machê dos sonhos infantis.
Acordou dez anos depois, nos braços de Deodato. Bolsa vazia. Tédio da vida enganada.
Um moleque chuta nas paredes do ventre. Três meses depois, ele nasce. Moreno bonito, cor da canela do mingau de milho. Noites insones. Cega e muda, ela dança um samba. Ajoelhou e rezou.
Pra sustentar desatinos, tempos árduos. Comprar chinela de borracha pro menino que tem gilete nos  pés.
 Bola no campo. Cuca bolada. Virou homem, e casou com a loura dos seus sonhos.
Cá e lá, encontros em torno de uma mesa pequena com panelas grandes.
_Tremedeira atrapalha o traço do lápis que nos deixa feliz?
-Alô, alô Dr. Fábio. Avie nossa  receita, Queremos escrever no teclado.