por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 15 de novembro de 2012




Sabe de Mim

Nana Caymmi

sabe de mim
mais que eu possa me reconhecer
na vitrine, no espelho
nos olhos da gente
que um dia talvez me identifiquei
sabe de mim
o avesso e o verso encoberto
essa dor que não tem jeito
bobagem a gente tentar mais um copo
ela não vai passar
sabe que eu fui sincera
e fui mais aquela inútil e inocente
sabe de mim
mas parece que bebe

Composição: Sueli Costa


O amor é tatuagem. Rasga o peito, invade o campo, e enche o espaço, em todos os pontos. Amor não tem nome. Se ele é Maria, Graça, João, Luis... Ele seria tatuagem afagável.
O amor é inapagável, mas consegue ficar mudo, microscópico, e se integrar ao núcleo de alguma célula do corpo. Esquecemos a dor, a emoção, o sentimento que nos deixou com os olhos abertos, enormes, enxergando estrelas no fundo de outros olhos. Esquecemos o cheiro de mato, seiva extraída da pele de  um gato. Foram-se as marcas dos arranhões; o disparar convulsivo do coração, nas madrugadas insones. Difícil dormir sem a exaustão da paixão.
Um dia a paixão nos faz lembrar que ela perdeu o caminho do seu ponto , mas as mãos permanecem pintando telas, na imaginação.
 Tatuaria em minhas mãos o nome paixão, pra que ela seja língua morta, e jamais cultuada.
Mas, qual a cor da vida sem paixão?
Não resisto.
Que o amor seja respeitado, e salve a paixão!

Clara Paixão


MARINILA CALDERARO MUNGUBA MACEDO - JOSÉ DO VALE PINHEIRO FEITOSA


Marinila Calderaro Munguba Macedo a conheci em duas circunstâncias que conspiram simpatia: o excelente nível dela com profissional de saúde pública e ser casada com um caro amigo da minha infância, especialmente no Colégio Diocesano.

Marinila é um dos primeiros exemplos da região do Cariri onde se ressaltava a grande redução das diferenças antes existentes entre as capitais e o interior. A formação acadêmica dela, a prática em problemas objetivos, inclusive como gestora de saúde e, principalmente, o ativismo em fóruns nacionais tornou Marinila Calderaro uma referência a tornar a região do Cariri igual ao que acontece em Fortaleza ou Recife.

Foram quadros como ela, igualmente com Marcos Cunha entre outros valores da região que criaram a possibilidade da instalação de várias escolas de nível superior em saúde, como a Enfermagem e as duas Faculdades de Medicina. A legitimidade de toda escola não vem Do mero transplantar de equipes para territórios distantes, mas ao contrário, é a base territorial que dá sentido à instalação acadêmica. Sem pessoas como a Marinila o Cariri nunca seria nestes termos o quê hoje é.

Agora voltando à pessoa da Marinila. Vou dizer o quê o machismo regional interdita: Marinila é um símbolo da mulher bonita uma vez sendo esse símbolo a mistura de firmeza de ser, agudeza no trato humano, suavidade na divergência, perseverança no agir, presença nas dificuldades além da beleza física dela mesma. Samuel Macedo Lobo com a marca do tempo que todos temos, tem junto a si, continuamente, um propósito de amar, uma nascente permanente a preencher a totalidade de se estar no mundo.

Marinila Calderaro carrega no sobrenome um símbolo do nosso nativismo tão intenso como o sobrenome Araripe. Marinila é da família Munguba e esta é uma das plantas mais intensas em significado fitogenético e histórico da nossa navegação costeira com as antigas velas. A Munguba originou-se na formação do antigo lago Amazônico que depois foi formar a atual bacia, surgiu lá nas alturas do que é hoje o Acre. É uma planta das terras alagadas e por isso tornou-se a referência de água doce a indicar fontes para os nossos antigos navegantes costeiros.

Quando tratamos o perfil tão simpático de uma pessoa que admiramos, tendemos a esquecer de eventuais divergências necessárias à vida em sociedade. Nesse ponto é certo que Marinila, atuante como é, tenha levantado oposição em alguém, mas isso faz parte de toda ação política e, portanto, administrativa. Isso no meio acadêmico chega a quase ser a regra, mas tudo isso por ser inerente não apaga o perfil simpático desta mulher especial da nossa região.

Marinila tomada de sensibilidade social e política excursiona na senda espiritual através da sua religiosidade praticante. Aí ela se desdobra num esforço pessoal descomunal, pois torna a própria casa dela numa espécie de centro de concentração humana e de prática religiosa. Essa é uma das tarefas mais difíceis a se praticar: juntar individualidades numa comunhão de pensamento e obra ao mesmo tempo em que é o centro da hospitalidade.

Enfim, ser no mundo é encontrar tantas pontas soltas e tentar juntá-las, mesmo sabendo que entre estas se encontram fios energizados e desencapados.