por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Aqui no Rio e no eixo com São Paulo, noves fora o resto do país, existe um tipo de gente, alpinista social, de classe média que come salgadinho em festa de milionário. Este pessoal tem como padrão sair naquelas revistas de consultório, escritório e cabeleireiro, cheia de fotos dos tais viajando, sempre em lugares chiques mostrando uma vida rica e prazerosa. A maior parte das vezes em locações fora do país. Se for nos “states”, é a glória.

O padrão típico desse pessoal é ser global. Trabalhar na REDE GLOBO DE TELEVISÃO. Ditam moda. Arrasam o quarteirão. Mostram indignação seletiva e gostam de “barraco” quando nos eflúvios de emanações nascidas do pó, da fumaça ou de água que passarinho não bebe.  

Um destes garotos, nascidos entre os bem vindos da zona sul do Rio, teve a ousadia de declarar o voto em Dilma Roussef. É o Gregorio Duvivier (de filho da cantora Olivia Byington e do músico Edgar Duvivier). Humorista, com um texto divertidíssimo.

Bom aí o garoto foi jantar na noite carioca, quando um brutamonte, babando ódio espinafrou o garoto pela ousadia de ser liberto para votar em quem achar melhor.

Aí outra figura carimbada da “barracolândia”, envolvido em sopapos às companheiras, chamado Dado Dolabela, com sua sutileza de um brucutu na rede social partiu para cima do Gregorio Duvivier. E foi aí que o Gregorio fez este texto gozadíssimo e publicou na Folha de São Paulo.

Chupa, dado.
Democracia não é – ou não deveria ser – esse exercício do voto narcísico; ninguém está pensando no outro.

Fui uma criança tucana. Colava adesivo do Fernando Henrique na janela do meu quarto e na traseira do Chevette – era tucano “before it was cool”.

Imaginem minha euforia quando soube que o FHC, o próprio, viria lá em casa, numa festa cheia de bolinhas de queijo. Sim, o jantar de adesão da classe artística ao FHC foi lá em casa (chupa, Dado Dolabela!).

Adentrei a sala vestindo um terno de veludo cotelê e uma gravata borboleta, em pleno outono carioca – que não difere em nada do verão cariosa, que não difere em nada do verão do Zâmbia. Minha mãe me pediu para trocar de roupa: “As pessoas vão pensar que foi a gente que te vestiu assim. Tira esse terno?” Negociei, engolindo o choro: “Posso ficar com a gravata?” “Preferia que não”, respondeu minha mãe.

Descambei para o comunismo – ou o que eu pensava que fosse o comunismo.

Virei representante de sala. Graças a alianças espúrias, me elegi representante geral, algo como um presidente da Câmara (na minha cabeça). Minha primeira proposta foi a liberação gradativa para o recreio. Primeiro liberariam o quarto anda, dez segundos depois o terceiro andar, e assim por diante, para que todos chegassem ao térreo no mesmo exato segundo e tivessem as mesmas chances de ser o primeiro na fila da cantina – os rissoles, disputadíssimos, acabavam num piscar de olhos.

Fracassei retumbantemente. Os glutões do primeiro andar não queriam perder os privilégios, os CDFs do quarto andar diziam que liberação antecipada não era prêmio mas castigo, porque perderiam segundos preciosos de aula.

Sem base, sem alianças, sem aprovação popular, pichei o martelo e foice na parede da escola. Até hoje nunca tinha confessado. Fui eu, pessoal.

Na prática, o PT só piorou minha vida burguesa: o aumento do IOF para compras no exterior e a maldita tomada de três pinos me dão saudades enorme dos anos 90. Aécio seria um candidato infinitamente melhor para mim, homem-branco-heterossexual-que-viaja-para-fora-do-Brasil-uma-vez-por-ano-e-faz-a-festa-na-H-&-M. Mas democracia não é – ou não deveria ser – isso que virou, esse exercício do voto narcísico, em que pastor vota em pastor, policial vota em policial e carioca vota em bandido.

Talvez por isso a democracia representativa seja um desastre. Ninguém deveria representar os outros, porque ninguém está, de fato, pensando nos outros.

Confesso, que no meu tempo de representante, tanto à direita quanto à esquerda, só pensava no rissole.  

GREGÓRIO DUVIVIER   

Para contextualizar o clima, escutemos Olívia Byington, mãe do Gregório numa música belíssima do poeta Geraldo Carneiro e Nando Carneiro (isso foi entre os anos 70 e 80)


Ainda sobre a "VACINA PARA CAVALO" - José Nilton Mariano Saraiva

Globo acha relatório do TCE-MG que cita “vacina para cavalo” como investimento em saúde
Postado em 20 de outubro de 2014 às 6:27 am

No debate realizado neste domingo, 19 de outubro, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, leu uma frase que ela atribuiu a um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais: “Conselheiro do TCE diz que ‘é duro engolir que vacina para cavalo seja contabilizada como despesa com Saúde’”.

De acordo com relatório do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, o conselheiro Sylo Costa, em reunião de conselheiros que analisou a distribuição de recursos para a saúde em Minas Gerais, realmente afirmou que: “Tenho de confessar que é duro engolir que vacina para cavalo seja contabilizada como despesa com Saúde. Entendo que despesa com Saúde tem de ser aquilo que é gasto com o SUS – Sistema Único de Saúde”

"VACINA PARA CAVALO" - José Nilton Mariano Saraiva

Um dos questionamentos recorrente nos debates entre os presidenciáveis tem sido o “gerir a coisa pública”. E aí, nesse item, a presidenta Dilma Rousseff faz questão de lembrar que quando Governador de Minas Gerais, o senhor Aécio Neves teria irresponsavelmente deixado de aplicar o mínimo constitucional nas áreas de saúde (R$ 7 milhões) e de educação (R$ 8 milhões). Tanto é que teria sido chamado pelo Ministério Público a assinar um Termo de Ajustamento de Gestão (TAG), se comprometendo a aplicar naquelas duas áreas o que lhe era determinado por lei (o senhor Aécio Neves confirmou a assinatura do TAG, embora, inexplicavelmente, não aceite que haja cometido falhas sobre).

Especificamente, no tocante à saúde, no debate da Record, ontem, a novidade estarrecedora é que, no afã de “fechar a conta”, o governo mineiro teria incluso e contabilizado como despesa para saúde (da população) a compra de “VACINA PARA CAVALO”, o que teria levado um dos auditores do Tribunal de Contas de MG a manifestar-se nos seguintes termos: “É DURO ENGOLIR QUE VACINA PARA CAVALO SEJA CONTABILIZADA COMO DESPESA PARA A SAÚDE” (o senhor Aécio Neves ouviu atentamente a acusação da Presidente Dilma Roussef, mas preferiu nada comentar a respeito; por quê ???).

Esse tipo de procedimento – fraude contábil - caracterizaria o tal “choque de gestão”, sempre evocado pelo senhor Aécio Neves ???

Partidos totalitários em democracias constitucionais.

Escrito por José Antônio Giusti Tavares | 19 Outubro 2014


O fato de que o PT ou mesmo qualquer de seus próceres jamais tenha revisto formal e publicamente as concepções originárias do partido, tendo mesmo recusado a comprometer-se com o pacto constitucional de 1988, revela que lamentavelmente está ainda viva a estratégia revolucionária totalitária que fora enunciada naquele ano. 


Nas democracias constitucionais que funcionam com o sistema presidencial de governo, a representação política e o governo são constituídos por dois procedimentos senão diferentes pelo menos independentes entre si, ambos em eleições universais competitivas periódicas e regulares e com mandato por tempo determinado. Naquelas que funcionam com o sistema parlamentar de governo a representação política eleita pelo voto popular direto nomeia o governo que, diante dela responsável, exercita suas funções enquanto dela detém a confiança, contando, entretanto, com a faculdade contraposta de submetê-la a novas eleições. Nos dois casos são instituídos e funcionam efetivamente mecanismos de separação e de contenção recíproca entre os poderes constitucionais, bem como um Tribunal Constitucional, guardião supremo dos valores e dos preceitos constitucionais; e, em particular, no sistema parlamentar de governo institui-se a separação entre Chefia de Governo, responsável pela execução das políticas públicas, e a Chefia de Estado, responsável pelo equilíbrio da ordem constitucional. Enfim, na democracia constitucional toda autoridade pública é submetida, em princípio, a mecanismos de responsabilização pública; e os direitos individuais, incluído o direito à vida, à liberdade, à propriedade e à associação, são assegurados pela lei constitucional e pelo poder judiciário.

Os mecanismos institucionais da democracia constitucional são eficazes, sem serem invasivos ou ofensivos, para assegurar o equilíbrio da ordem política e, nela, a liberdade e os direitos fundamentais do ser humano, sem o que não há sequer justiça social. São eficazes, mas são desarmados: são fios de seda, como os denominou Guglielmo Ferrero, o notável jurista, cientista político e historiador liberal italiano da primeira metade do século precedente. Mas fios de seda não permitem atar o dragão da maldade.

Assim, em uma democracia constitucional e representativa, sobretudo quando erodida e fragilizada pela decadência de suas elites, bem como pela corrupção e pela desinformação políticas generalizadas, não só os partidos constitucionais, que se movem nos limites da ordem pública constitucional, mas aquela própria ordem, devem enfrentar o paradoxo de que se encontram com freqüência em inferioridade de condições frente aos partidos revolucionários totalitários que, participando da política institucional, não só não observam aqueles limites mas manifestamente, por suas proposições e por suas atitudes, atentam permanentemente contra aquela ordem.

O paradoxo descrito decorre de quatro fenômenos evidentes. 

Em primeiro lugar, a democracia constitucional é a mais complexa e delicada dentre as formas políticas e muito dificilmente pode competir pela preferência do homem comum com o totalitarismo, que recorre a uma simplificação brutal da realidade política, substituindo a informação e a análise racional pelo apelo direto ao inconsciente e à emocionalidade de indivíduos mergulhados em situação de massas. 

Em segundo lugar, ao participarem da ordem política constitucional os partidos totalitários beneficiam-se das prerrogativas e dos recursos que ela confere, sem obrigar-se aos valores, às regras e aos limites que ela impõe e, sobretudo, sem abrir mão do comportamento revolucionário, conspiratório, insurrecional e golpista.

Fora do governo mas, sobretudo, ao ocupá-lo, adotam simplesmente a estratégia leninista-trotskista da dualidade de poder, que consiste em conspirar pelo alto, do interior das instituições, e mobilizar de baixo, mobilizando camadas sociais disponíveis e receptivas e, enfim, gerando pressões societárias, inclusive armadas. Este é o caso exemplar, no Brasil, do Partido dos Trabalhadores e de seu braço armado, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, como revela a Circular do Diretório Nacional na qual aquele partido justificava a sua recusa inicial de obrigar-se à Constituição de 1988, que consagrava as normas e as instituições da ordem constitucional estabelecida: 

“O PT, como partido que almeja o socialismo, é por natureza um partido contrário à ordem burguesa, sustentáculo do capitalismo. (...) rejeita a imensa maioria das leis que constituem a institucionalidade que emana da ordem burguesa capitalista, ordem que o partido justamente procura destruir”.

Ainda em 1988, o atual governador petista do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, sustentou, com a sua conhecida competência doutrinária, na revista partidária Teoria e Debate (n°4,pp. 38-41), a estratégia leninista-trotskista da dualidade de poder:
“...o partido deve responder às exigências de uma longa disputa pela hegemonia (...) com a construção de uma cultura política e de uma ideologia socialista em bolsões altamente organizados daqueles setores revolucionários, em direção a uma ruptura com o Estado burguês... com respostas dentro e fora da ordem (...), sob pena de limitar-se aos enfrentamentos na esfera política das instituições da ordem, sendo inexoravelmente sugado por ela”. 

A noção gramsciana, ultra-leninista, de hegemonia, muito difundida na América Latina, significa poder monopólico e é, portanto, absolutamente incompatível com o pluralismo político essencial à democracia constitucional.

Alguém muito complacente poderia objetar às citações acima que elas pertencem ao ano de 1988 e que, entrementes, o partido e o político que as enunciaram podem ter alterado suas atitudes políticas. A objeção seria pueril mas respondê-la introduz a oportunidade de pontuar um princípio elementar.

Partidos e homens públicos têm a responsabilidade de publicar não só as suas concepções e estratégias políticas, mas as revisões ou mudanças que, quanto àquelas, tenham feito. Em 1959, no Congresso de Bad Godesberg, o Partido Social-Democrata Alemão declarou, em um documento formal amplamente divulgado, que a partir daquele momento renunciava a qualquer tipo de confessionalismo político e, em particular, à noção de partido portador de uma teoria, exorcizando, assim, o fantasma do marxismo. 

O fato de que o PT ou mesmo qualquer de seus próceres jamais tenha revisto formal e publicamente as concepções originárias do partido, tendo mesmo recusado a comprometer-se com o pacto constitucional de 1988, revela que lamentavelmente está ainda viva a estratégia revolucionária totalitária que fora enunciada naquele ano. Ademais, ao longo dos doze anos do governo petista, as tentativas sucessivamente frustradas de violar os princípios, as normas e as instituições da democracia constitucional e representativa – entre as quais o Programa Nacional de Direitos Humanos III, de 2009, e a Política Nacional de Participação Social, de 2014 – demonstram claramente que não há ambigüidade que consiga ocultar o empenho continuado e cada vez mais radical, por parte do neocomunismo petista, de destruir a democracia representativa e constitucional edificada com tanto esforço, substituindo-a por uma democracia plebiscitária e totalitária. 

Em terceiro lugar, os cidadãos comuns, que participam dos partidos constitucionais ou com eles se identificam, partilham a sua dedicação, as suas energias e a sua lealdade entre múltiplas atividades e associações, entre as quais a política e os partidos possuem uma importância limitada, ocupando mesmo um espaço menor. Não há nessa atitude nada de errado. Ao contrário, como já Aristóteles observara, a participação política moderada constitui requisito fundamental da democracia constitucional, que o filósofo denominava simplesmente politéia. Contudo, pertence à natureza e à lógica dos partidos totalitários apelar para a participação e para a mobilização políticas permanentes, para o profissionalismo e para o ativismo revolucionários de tempo integral e, enfim, para a politização da totalidade das esferas da existência, incluídas aquelas mais íntimas.

Enfim, em quarto lugar, a compreensão adequada dos valores sobre os quais está fundada a democracia constitucional e das normas e das instituições com as quais opera, bem como dos processos econômicos por referência aos quais se definem as políticas públicas e o comportamento dos partidos nas sociedades democráticas contemporâneas, exige dos indivíduos, em virtude de sua complexidade e sutileza, um nível muito elevado de discernimento intelectual, que se encontra normalmente fora do alcance da informação e do entendimento do homem comum. 

A rigor, a participação racional e responsável nas decisões democráticas exige do cidadão um nível relativamente elevado de informação factual, de saber contextual e de saber estrutural, que ele normalmente não possui. Sob tais condições, a democracia constitucional muito dificilmente pode competir pela preferência do homem comum com o totalitarismo, que recorre a uma simplificação brutal da realidade política e econômica, substituindo a informação e a análise racional pela ideologia, um “saber de custo próximo de zero, que contém, por outro lado, um apelo direto à emocionalidade e ao inconsciente de indivíduos mergulhados em situação de massa. 

Enfim, o exercício da liberdade e da responsabilidade públicas, inerente à democracia constitucional, implica em assumir custos e riscos, requerendo dos indivíduos um grau pouco comum de segurança psicológica que lhes permita conviver com a incerteza. O recurso normal para reduzir a incerteza e os riscos é provido pela informação factual e pelos saberes contextual e estrutural, o que envolve custos imediatos e a médio e longo prazo, que os indivíduos que pertencem aos segmentos mais baixos da sociedade não podem assumir.

Assim, para a maioria das pessoas, pouco capazes de conviver com a incerteza e suportar os riscos inerentes à liberdade pessoal e pública, a ideologia totalitária proporciona uma explicação omnicompreensiva da realidade e da história, que lhes restaura magicamente e a baixo custo a segurança; e o partido ou o movimento totalitário, que a interpreta nos diferentes casos, provê uma autoridade externa onipotente que retira daquelas pessoas o inquietante peso da liberdade de decidir.

Diante desse desigual e insólito desafio as democracias constitucionais mais avançadas e sólidas armam-se com recursos previstos na lei constitucional, o mais importante dos quais é a proscrição de partidos políticos que promovem, estimulam ou apóiam processos conspiratoriais ou qualquer outra forma de violência política: a cláusula de constitucionalidade dos partidos, contida no art. 21, (2) da Constituição da República Federal da Alemanha e eficazmente aplicada pelo seu Tribunal Constitucional, é o exemplo de maior proeminência:

“Os partidos que por suas finalidades ou pelas atitudes de seus partidários tentam desvirtuar ou eliminar o regime fundamental de democracia e de liberdade, ou pôr em perigo a existência da República Federal, são inconstitucionais”.

É verdade que a Constituição Brasileira contém uma cláusula semelhante: o artigo 17 estatui, em seu caput, como requisito para a existência dos partidos políticos, a fidelidade ao “regime democrático”, ao “pluripartidarismo” e aos “direitos fundamentais da pessoa humana”, estabelecendo, no inciso II, “a proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes”; e, enfim, no § 4º, veda “a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar”. Resta aplicá-lo. 

Se, entretanto, um supremo esforço de esclarecimento não conseguir persuadir o eleitor comum que a democracia constitucional, conquistada a duras penas mas perversamente disputada, deve ser preservada, quaisquer que sejam as suas vicissitudes – então, a manipulação populista de justos descontentamentos e o ilusionismo messiânico pavimentarão o caminho auto-destrutivo que, exaurido em Cuba, está sendo trilhado no continente sul-americano pela Venezuela, pelo Equador, pela Bolívia, pela Argentina e pelo Brasil.

Não tenhamos ilusão. Eleições universais geram legitimidade democrática, mas não legitimidade constitucional. Como profetizou com acerto Alexis de Tocqueville, na ausência de sólidas e vigorosas instituições de representação política e de separação dos poderes constitucionais, incluindo a separação entre Chefia de Estado e a Chefia do Governo, bem como um Tribunal Constitucional, eleições plebiscitárias provêm a ante-sala do bonapartismo e da democracia totalitária.

Enfim, eleições e reeleições plebiscitárias consecutivas provêm um claro e importante contributo a governos populistas totalitários empenhados em programas de redistribuição direta e ostensiva da renda nacional em benefício das populações pobres ou na linha da miséria. Aparentemente empenhados na eliminação da pobreza, esses governos têm clara consciência de que sua perpetuação no poder é alimentada pela pobreza e dela necessitam, do que decorre que, na realidade, empenham-se não em eliminar a miséria, mas em mantê-la estável e dependente, aguardando-a nas urnas. Sob tais condições é altamente improvável que eleições fortaleçam a democracia constitucional; ao contrário, há alta probabilidade de que contribuam poderosamente para destruí-la.

A experiência histórica registra importantes casos em que o totalitarismo ocupou o Estado pela via eleitoral, entre os quais o fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão, nenhum dos dois foi debelado pela força da sociedade que aprisionara; ao contrário, ambos foram eliminados pela derrota militar infligida de fora, por nações invasoras.


José Antônio Giusti Tavares é professor de Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pesquisador Associado no Centre d’Études et de Recherches Internationales, Fondation Nationale des Sciences Politiques, Paris, em 1985 e 1986. Guest Scholar em 1998, e Visiting Fellow, em 2002, do Helen Kellogg Institute for International Studies, Notre Dame University, Indiana, US.

A guerra é contra a REDUÇÃO DA DESIGUALDADE (por Weden)

Quando Getúlio Vargas, em maio de 1954, anunciou o aumento de 100% no salário mínimo, estava dando, sem perceber, o início à sua via crucis. Houve forte oposição midiática, partidária e de setores de empresariado, em consonância com a insatisfação da minúscula classe média da época, além de militares de alta patente (lembrar do Memorial dos Coronéis). Rapidamente, do "descalabro financeiro" que a medida "certamente representaria" até o "mar de lamas da corrupção" a retórica anti-getulista só precisaria de um pequeno salto. Três meses foram o suficiente para levá-lo ao suicídio.

Lição da história: a discussão moralista sobre o "mar de lamas" atribuída ao PT pela mídia e oposição - como se fosse maior que em outros períodos - é só a cortina de fumaça para o problema real que hoje mobiliza, principalmente, as classes A e B contra Dilma: ninguém nestes estratos sociais agüenta mais o processo de desconcentração de renda, iniciada com Lula (ver ao lado a diferença impressionante entre os índices de intenção de votos num e noutro candidato nestes segmentos).

Aumento do salário mínimo acima do crescimento do PIB, ganhos reais das classes mais baixas, profissionalização das empregadas domésticas, ascensão de grupos sociais das classes E para D e D para a C, políticas de transferência de renda, cotas para universidades, tudo isso produz um profundo incômodo nas classes A, B e, não podemos esquecer, a C tradicional.

Mais carros nas ruas significa que pobres desceram dos ônibus, atrapalhando o trânsito. Mais gente nos restaurantes significa que "terei" que procurar os mais caros - o mesmo nas escolas privadas. Em que momento da história, vimos as classes A e B preocupadas com a saúde no país? Nunca. Até que uma "cambada" começou a adquirir planos e obrigou aqueles poucos usuários a migrar para planos mais caros.

A guerra atual é econômica. Encontrar o porteiro em Nova York realmente, como diria Danuza Leão, é insuportável.
Por isso cai como uma luva o pronunciamento de Armínio Fraga, afirmando que o salário mínimo está muito alto. É bem diferente ter que pagar R$ 750, ainda que míseros, para uma empregada doméstica fora os encargos, ou poder remunerar, como disse Delfim Neto, este "animal doméstico" com uns R$300 ou menos, que foi o SM que Fraga deixou quando saiu do governo em 2002.

Ora, um salário de 300 para uma jornada diária de 8 horas, e ainda quem sabe poder dormir no trabalho - naquele nojento "quartinho de empregada" - significa direito a mucamas, herdeiras da escravidão. Não ter este "direito" é demais para as classes mais abastadas. Ainda mais quando se sabe que ser abastado no Brasil é ganhar mais de 4 ou 5 mil reais.

Numa sociedade que atravessou o século com heranças escravagistas (basta ver quanto usineiros pagavam aos seus lavradores, antes da regulamentação do trabalho rural, ou como a mídia conservadora esperneou quando a Previdência passou, no governo Lula, a garantir a aposentadoria para camponeses), a idéia de uma sociedade mais igualitária ou, para ser mais preciso, menos "diferenciada" economicamente é um acinte.

A subida do salário mínimo referencia vários serviços: cabeleireiras podem cobrar mais - que abusadas - o pedreiro passa a querer "um absurdo", o condomínio ficou mais caro, porque o salário do porteiro está "pela hora da morte", e o motorista ousa me deixar na mão porque conseguiu coisa melhor: "Imagina, virou taxista e autônomo!". Tudo isso é insuportável para um país acostumado à transferência de renda às avessas.

Isso porque esta nação teve o desplante de saltar do vergonhoso penúltimo lugar entre os mais desiguais, à época de FHC, para a posição atual de 17o. em desigualdade - em 170 nações do mundo. É o fim dos tempos!

Há hoje 153 em melhores condições de igualdade (o tal índice Gini). Portanto, continuamos nos envergonhando. Mesmo assim, o governo petista que se cuide, se, reeleito, conseguir reduzir ainda mais a desigualdade. O ódio de classe tende a se elevar a níveis quase nazistas nos próximos anos.

Pois a guerra é eminentemente econômica. As classes A e B e a C tradicional (principalmente na faixa intermediária) querem aquele mundo de volta. Assim que retiradas todas estas conquistas, o país voltaria à sua calmaria habitual. Uma calmaria de cada um em seu lugar. Uma calmaria covarde, mantida muitas vezes sob punhos fortes. Se necessário, a gente chama a PM para conter os rebeldes. Ou quem sabe reduz a idade penal, para trancafiá-los desde novos.

As velhas classes médias tinham orgulho da desigualdade. Afinal, a pobreza material do outro escondia, como um maquiador profissional, a própria pobreza moral de uma elite que parece ter, mesmo sem ter vivido, saudade da escravidão.

Em tempo: O complexo de vira-latas tem mesma idade da "Abolição". Ao ver aqueles pretos libertos "vadios" nas ruas, não se agüentava. Já não bastava o calor? "Que Paris é esta meu Deus?". Coincidentemente, ou não, é o mesmo complexo que vem servindo para a atual revolta das elites.


COMO ENTENDO QUE MIGUEL ARRAES JAMAIS VOTARIA EM AÉCIO NEVES - José do Vale Pinheiro Feitosa

Meu pai tinha o sobrenome. Eu, no entanto, não o tinha. Carregava com orgulho o sobrenome da minha mãe. Mas o sofrimento familiar, a começar pelos primos, pelos filhos de Célia e Miguel que foram crianças como eu no mesmo ambiente, pelos tios, pela ignomínia de ver nas "revisas semanais" da época Miguel Arraes preso em Fernando de Noronha. Aquele homem que nunca pegou em armas, nunca se escondeu atrás de nomes falsos (por mera covardia), tudo que fez em política foi pelo voto e com o povo de Pernambuco e muita simpatia do Brasil inteiro. 

Quando retornou ao Brasil, uma geração de políticos jovens tinha ocupado o espaço Pernambuco da oposição. Ele voltou como um herói nacional, mas teve que ralar pelas cidades do estado para se colocar em liderança novamente. Miguel Arraes não foi um dos maiores políticos do Brasil do século XX apenas porque tinha projeção, ele tinha projeção porque não pertencia à elite pernambucana, era um homem dos sertões e ao lado de um projeto nacional se pôs. 

Entre o projeto de governo do PT e de Miguel Arraes tinha muita integralidade estratégica e diferenças táticas, até pela matriz social de um e de outro. Miguel Arraes nunca se pôs ao lado de FHC, nunca chegou perto do PSDB e sempre se posicionou contra a política do Estado Mínimo e da prevalência dos interesses do Sistema Financeiro (neoliberalismo). 

Pela proximidade, foram quatro anos que ainda vivi no Crato, eu sei, lembro, tenho testemunhas, a família lembra, recorda, não se esquece do comportamento escuso, ausente, até covarde de uma gente que apoiava o Golpe Militar a partir de 1964. Isso não se esquece e sempre que argumentos se manifestam tentando confundir o passado para justificar as próprias posições no presente, a lembrança se manifesta viva como o voto que daremos no próximo dia 26 de outubro.  

Miguel Arraes foi atacado porque defendia um país igualitário, com uma sociedade de direitos humanos, um país soberano, amigo das nações, mas livre para definir o seu destino no interesse do seu povo. Miguel Arraes nunca foi aliado do agronegócio, sempre pensou no progresso do camponês, nunca jogou com o destino do povo, jamais vacilou, mesmo quando por ordem tática havia de fazer acordos políticos.

Miguel Arraes, o grande líder da esquerda nordestina e brasileira, era um nome de realce na esquerda mundial. O próprio exílio o colocou ao lado dos grandes movimentos libertários da África e da Ásia. Viveu ao lado de refugiados, torturados, banidos, expulsos por toda a América Latina e especialmente do Brasil. Miguel Arraes, foi perseguido pelos organismos do governo americano que fizeram ampla campanha e sabotagens contra ele. 

Miguel Arraes, a unidade, a união, nunca se poria ao lado de Aécio Neves por tudo que conhecemos dele. Por toda a história de Arraes no campo da ação política fica claro que ele é um guia até hoje. É, pela sua história e a herança que nos deixou, quem vai orientar o nosso voto. 

Não esqueçamos que esta velha política dos surfistas da corrupção é o principal argumento da direita brasileira desde a República Velha. Como não podem demonstrar as verdadeiras intensões de suas políticas, eles destroem, criam enredos e histórias, gritam a pleno ódio e geram torcidas violentas como as de futebol, tudo com a fumaça de que corrupto são os outros. 


Quando Miguel Arraes retornou ao Brasil esta mesma direita que vocifera no ombro do Aécio Neves, pôs cartazes dizendo que ele era o homem de seis milhões de dólares, a baixaria típica destes privilegiados que temem a cada minuto perder a mamata. E nunca esqueçam que tentaram arrastar Eduardo Campos, há muitos anos atrás, no famoso caso das Precatórias. E agora mesmo lançam na sala o Senador Guerra já morto, do PSDB, só para justificar o vazamento de nomes do PT.