por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 28 de dezembro de 2011


Rainer Maria Rilke



Rainer Maria Rilke, por vezes também Rainer Maria von Rilke (Praga, 4 de dezembro de 1875 — Valmont, Suíça, 29 de dezembro de 1926) foi um dos mais importantes poetas de língua alemã do século XX. Escreveu também poemas em francês.

O Anjo
Com um mover da fronte ele descarta
tudo o que obriga, tudo o que coarta,
pois em seu coração, quando ela o adentra,
a eterna Vinda os círculos concentra.
O céu com muitas formas Ihe aparece
e cada qual demanda: vem, conhece
-.
Não dês às suas mãos ligeiras nem
um só fardo; pois ele, à noite, vem
à tua casa conferir teu peso,
cheio de ira, e com a mão mais dura,
como se fosses sua criatura,
te arranca do teu molde com desprezo.
(Tradução: Augusto de Campos)



Incomensurável
Apá Silvino
Composição: Abidoral Jamacaru

Incandesce a cidade
o campo, o espaço
e o brilho incomensurável
de qualquer lugar
jorra mel do teu riso
brandura dos olhos
perfuma as águas
por onde andar
e faz coro com o canto
de quem não tem rancho
faz pouso no rancho
de quem quer amar
é amor
seu padrinho o tempo
já faz tanto tempo
que dá todo tempo
de andar pelo tempo
do campo florar
eu te dou de presente
o aroma da flor
o zumbido da abelha
a frescura da chuva
pra você levar
e antecipo as coisas
que ainda não tenho
mas que um dia eu lhe entrego
pra você velar
gira amor, girassol
a fragrância, o brilho
o zumbido, a abelha
a brandura em torno de você
tudo é deus, tudo é seu, tudo é meu
tudo chega no olho
e penetra no fundo
de quem quer amar

AMIGO(A) por Rosa Guerrera


Deixa que eu fique aqui
Sempre a teu lado
A escutar tua voz,
Ouvir sonhos partidos...
E na mudez aprender tua linguagem
E gargalhar ao som do teu sorriso.

Deixa que eu tire a dor
Que tens na alma,
E dê a tua angústia,a harmonia...
Que eu transforme em versos
Tuas dores
Cantando em compassos
De folia.

Deixa que hoje
Com a alma em festa
Eu agradeça aos céus a alegria,
De sermos tão amigos (as)
Companheiras(os)
Sempre na Fé , na dor, sem fantasias

E se amanhã a morte ou o acaso
Traçar em nossas vidas um “adeus”...
Na tua lembrança fique o meu abraço,
E que eu leve em meu peito o rosto teu!

Na Rádio Azul


Feliz 2012

"Quando 2011 começou, ele era todo seu. Foi colocado em suas mãos... Você podia fazer dele o que quisesse... Era como um Livro em Branco, e nele você podia colocar um poema, um pesadelo uma blasfêmia, uma oração. Podia... Hoje não pode mais; já não é seu. É um livro já escrito... Concluído. Como um livro que tivesse sido escrito por você, ele um dia lhe será lido, com todos os detalhes, e você não poderá corrigi-lo.
Estará fora de seu alcance.
Portanto, antes que 2011 termine, reflita, tome seu velho livro e o folheie com cuidado. Deixe passar cada uma das páginas pelas mãos e pela consciência; faça o exercício de ler a você mesmo. Leia tudo... Aprecie aquelas páginas de sua vida em que você usou seu melhor estilo. Leia também as páginas que gostaria de nunca ter escrito. Não, não tente arrancá-las. Seria inútil. Já estão escritas. Mas você pode lê-las enquanto escreve o novo livro que lhe será entregue. Assim, poderá repetir as boas coisas que escreveu, e evitar repetir as ruins.
Para escrever o seu novo livro, você contará novamente com o instrumento do livre arbítrio, e terá, para preencher, toda a imensa superfície do seu mundo. Se tiver vontade de beijar seu velho livro, beije-o. Se tiver vontade de chorar, chore sobre ele e, a seguir, coloque-o nas mãos do Criador. Não importa como esteja... Ainda que tenha páginas negras, entregue e diga apenas duas palavras: Obrigado(a) e Perdão!!!
E, quando 2012 chegar, lhe será entregue outro livro, novo, limpo, branco todo seu, no qual você irá escrever o que desejar..."

Feliz 2012 a todos!

Maurice Ravel



Joseph-Maurice Ravel (Ciboure, 7 de março de 1875 – Paris, 28 de dezembro de 1937) foi um compositor e pianista francês, conhecido sobretudo pela sutileza, das suas melodias instrumentais e orquestrais, entre elas, o Bolero, que considerava trivial e descreveu como "uma peça para orquestra sem música".
por socorro moreira
por socorro moreira


Parla !
Pois é , amigos ouvintes, após o capão minguado do Natal, a Cidra espumante nos copos descartáveis , o ribombar das bombas rasga-latas, os presentinhos (de coração) do “Mundão do Real” e os abraços e preces dos familiares , eis , por fim, que mergulhamos nas esperanças de 2010.O ritual de passagem adocica um pouco o amargor passado e entreabre no nosso espírito as venezianas para um novo tempo. É como se passássemos o apagador no quadro negro e o deixássemos virgem , ávido por novas aquarelas. As mãos cerradas durante todo o ano se abrem para o aperto fraternal, os cenhos graves desarmam-se. Todos, de alguma maneira, descobrem a mágica possibilidade do recomeçar. Termina-se por se fazer também um balanço de cada vida, computando-se perdas e receitas, não na área financeira, mas na nossa fina contabilidade interior. Aprende-se com as derrotas , é certo, mas antes de tudo, a passagem de ano administra-nos o bálsamo encantador do esquecimento. O passado cai em exercício findo e esvai-se perdido na sua implacável imutabilidade. O Ano que se inicia surge, sempre , brilhante à nossa frente, como um eldorado perfeitamente visível e alcançável.Esmaecem-se as agruras passadas, as decepções , os devaneios antigos, as ilusões plantadas no inverno anterior e que feneceram antes da colheita prevista. A vida apresenta-se adiante como uma massa de moldar esperando que nossas mãos sábias lhe dêem a forma e o sopro criador: “Parla !”
Este ar de início de jornada, propiciado pelo Ano Novo, torna o caminho cheio de surpresas e expectativas. Talvez, seja por isso mesmo, que medram, nesta época, as pitonisas, os videntes, os Nostradamus. Todos se arvoram de adivinhadores, como se fosse factível prever o destino de um sem número de estradas possíveis que serão abertas , pouco a pouco, por incontáveis operários , através da vária lâmina do sonho e do volúvel gume da vontade humana.Alguns ficarão inevitavelmente à beira do caminho, poucos atingirão a meta traçada e a grande maioria aguardará outros anos e outros recomeços: esta é a única previsão infalível para 2010.
O mais importante de tudo : não perder a dimensão do ritual. A essência da vida resume-se no sonho e não no despertar.O encanto da procura é bem mais completo que a visão efêmera e orgásmica do encontrar.No fundo , talvez, a existência seja apenas uma quimera, um simples devaneio, um sonho com suas fantasias , seus fantasmas, suas oníricas alegrias , vezes com seus pesadelos tremendos e que acaba quando nossa bêbada individualidade se mescla à força sonhadora de toda a natureza. Aí sonharemos junto com todo o universo.

J. Flávio Vieira

Canção das Mulheres - Lya Luft



Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.

Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.

Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.

Lya Luft

Feliz Ano Novo!

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente.

Para você, desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.

Para você, desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste novo ano, desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família esteja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas! Mas nada seria suficiente...
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE!
(Carlos Drummond de Andrade)

Esperança - Mário Quintana- Colaboração de Zélia Moreira


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Texto extraído do livro "Nova Antologia Poética", Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 118.
http://www.releituras.com/mquintana_esperanca.asp