por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 28 de dezembro de 2011


Parla !
Pois é , amigos ouvintes, após o capão minguado do Natal, a Cidra espumante nos copos descartáveis , o ribombar das bombas rasga-latas, os presentinhos (de coração) do “Mundão do Real” e os abraços e preces dos familiares , eis , por fim, que mergulhamos nas esperanças de 2010.O ritual de passagem adocica um pouco o amargor passado e entreabre no nosso espírito as venezianas para um novo tempo. É como se passássemos o apagador no quadro negro e o deixássemos virgem , ávido por novas aquarelas. As mãos cerradas durante todo o ano se abrem para o aperto fraternal, os cenhos graves desarmam-se. Todos, de alguma maneira, descobrem a mágica possibilidade do recomeçar. Termina-se por se fazer também um balanço de cada vida, computando-se perdas e receitas, não na área financeira, mas na nossa fina contabilidade interior. Aprende-se com as derrotas , é certo, mas antes de tudo, a passagem de ano administra-nos o bálsamo encantador do esquecimento. O passado cai em exercício findo e esvai-se perdido na sua implacável imutabilidade. O Ano que se inicia surge, sempre , brilhante à nossa frente, como um eldorado perfeitamente visível e alcançável.Esmaecem-se as agruras passadas, as decepções , os devaneios antigos, as ilusões plantadas no inverno anterior e que feneceram antes da colheita prevista. A vida apresenta-se adiante como uma massa de moldar esperando que nossas mãos sábias lhe dêem a forma e o sopro criador: “Parla !”
Este ar de início de jornada, propiciado pelo Ano Novo, torna o caminho cheio de surpresas e expectativas. Talvez, seja por isso mesmo, que medram, nesta época, as pitonisas, os videntes, os Nostradamus. Todos se arvoram de adivinhadores, como se fosse factível prever o destino de um sem número de estradas possíveis que serão abertas , pouco a pouco, por incontáveis operários , através da vária lâmina do sonho e do volúvel gume da vontade humana.Alguns ficarão inevitavelmente à beira do caminho, poucos atingirão a meta traçada e a grande maioria aguardará outros anos e outros recomeços: esta é a única previsão infalível para 2010.
O mais importante de tudo : não perder a dimensão do ritual. A essência da vida resume-se no sonho e não no despertar.O encanto da procura é bem mais completo que a visão efêmera e orgásmica do encontrar.No fundo , talvez, a existência seja apenas uma quimera, um simples devaneio, um sonho com suas fantasias , seus fantasmas, suas oníricas alegrias , vezes com seus pesadelos tremendos e que acaba quando nossa bêbada individualidade se mescla à força sonhadora de toda a natureza. Aí sonharemos junto com todo o universo.

J. Flávio Vieira

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