por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 4 de agosto de 2015

ANJOS CAÍDOS

Eis que filho, sou o mesmo que o pai, de onde minhas entranhas se originaram. E em nome do pai segui pelos campos construindo outras casas semelhantes à dele. E em nome dele lutarei. Até mesmo morrerei pois onde na terra ele não houver, nada mais de mim haverá.

Eis que no mundo os filhos do filho nascerão e ao descendente jurarão obrigação de vida e morte. E neste passo entre uma geração e outra, uma fenda abismal haverá. Nas duas margens o dilema de Babel se revelará.

De cada lado novas palavras substituirão as antigas. E as margens de ambos os lados do abismo serão cultivadas e os rebanhos se multiplicarão. Enquanto criação dividida se esquecerão.

Até que um liame dará passagem de uma margem à outra.

Neste dia Lúcifer decairá lá do alto, bem no centro deste encontro dos descendentes. E sobre eles implantará o apocalipse de tal maneira que tudo é justificativa, eu serei Pai e o outro Demônio. Não interessará a verdade, apenas a pregação, que interpreta este encontro ao outro como a luta entre o bem e o mal.

E dançarão o rito macabro como polos oposto onde ora se é o bem e ora se é o mal. E tanto tempo o redemoinho de poeira se levantará, sem que por muito tempo percebam, que a jura de luta e morte ao pai é a fornalha desta falsa dualidade.

Uma vez que nos campos, apenas novos canteiros floresceram.  

EXPULSÃO DO PARAÍSO

E tu que te engasgastes com os pedaços deste fruto proibido. E pelas veredas do paraíso andastes sem destino. Do plenilúnio à face escura da lua. De nascente a poente. De verão à primavera.

Tantos passos.

E o suor do teu rosto escorreu.

Escorreu pelas depressões da face até revelar-se salino no sentido do paladar. E assim compreender outro sabor, que não aquele do fruto proibido. E diante da nomenclatura de todas as coisas, compreendeu, pela primeira vez, que seu próprio ser seria capaz de captar o movimento das partes nomeadas.

A este movimento, entre o sabor do fruto proibido e a salga de teu próprio suor, chamou-se a virtude da expulsão do paraíso. E também compreendeu o verdadeiro sentido da virtude.

Compreender a virtude deste movimento coloidal, que permanece continuamente relacionando os nomes a predicativos, das engrenagens do paraíso.


O paraíso do qual não houve expulsão, apenas teoria sobre a realidade, ao invés de ser ela própria.