por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ulisses, meu irmão

um tanto Gepeto
outro tanto pinochio...
um tanto professor
outro, aluno inquieto

o nome é plural
(termina com esse)
seu silêncio, sua rima
tem sabor de uma prece

fazedor de coisas boas
e senhor das melodias
improváveis improvisos
brotam noites raiam dias

um abraço do amigo
encontrado nesta vida
bem e glória pra nós todos
na sua data querida

Feliz aniversário, Ulisses Germano! - Por Gabriella Federico





ULIG

Força da natureza,
enchente de janeiro.

Professor de talento
artista verdadeiro

Realizador de objetos,
musicas, poesia, formas,
esculturas em barro falantes,
cenas teatrais brincantes,
métodos de ensino conturbantes.

Homem, criança, mestre,
ator, palhaço, saltimbanco.

Como não admirá-lo,
e curtir seu encanto?




Amanhã é dia especial para Ulisses Germano!



Desejamos-lhe desde já e sempre , sucesso, alegrias, amor e poesia !

Feliz aniversário, poeta, músico, artista plástico, amigo nosso e de todas as artes !

Grande abraço, no Azul Sonhado!

Outro olhar para cordel



Publicado em 8 de janeiro de 2011, no Diário do Nordeste


O poeta cearense Ulisses Germano: "O que escrevo faz menção às coisas que leio, vejo e escuto. Não é o erudito pelo erudito, são aprendizados adquiridos que costumo registrar"
EZELITA GIRÃO/ DIVULGAÇÃO

Explorar elementos com teor mais erudito na literatura de cordel é uma das propostas trazidas pelo professor e artista plural Ulisses Germano. Sua poética tem como fonte inspiradora a vida e os sentimentos humanos


Bom de prosa, Ulisses Germano arranca sonoridade das palavras e poesia de tudo aquilo que vê ou sente. Cordelista, artista plástico, professor, músico e poeta, ele tira de suas próprias experiências de vida a inspiração necessária para seus cordéis. "Retiro muitos elementos da cultura nordestina. Escrevi um folheto chamado ´A História do Espinho que Furou os Olhos de Lampião´. Nesse cordel, dou voz e vez ao Espinho que expõe o seu discurso sobre a temática do cangaço que envolve muito lirismo, mas também fraudes, crimes e corrupções. O espinho de quipá encontra no meio de uma cancela um corrupto que começa a execrar a imagem de Lampião".

O cordelista completa: "muita coisa tem sido escrita sobre o cangaço, então eu resolvi escrever essa fábula. O corrupto tenta subornar e comprar o Espinho. Ele se enfurece e depois se acalma tentando explicar para o deputado corrupto que tem muita gente que confunde memória curta com consciência tranquila. No folheto ´A Poética da Indiferença´, eu e Josenir Lacerda defendemos a tese de que o oposto do amor não é o ódio: é a indiferença. No ódio você ainda identifica o objeto odiado: ´Eu lhe odeio!´. Na indiferença o objeto é negado com mais perversidade. É lógico que um assunto tão abrangente como esse não pode ser abordado em sua inteireza nos 32 parágrafos de um folheto, mas o cordel também pode ser catarse".

Da parceria com a amiga e também cordelista Josenir Lacerda, ele faz emergir belezas como a "Poética da indiferença", a "Poética da inveja" e a "Poética do cangaço". Além das produções individuais: "A quintessência da existência" e o já citado "A história do espinho que furou o olho de Lampião".

Há quatro anos, o professor vem se aventurando pela literatura de cordel. Paixão antiga que lhe segue desde os tempos de menino. "Nunca na vida tinha me atrevido a fazer versos obedecendo à métrica e à rima. Um dia a poetisa Josenir Lacerda lançou um desafio de escrever um folheto de cordel em parceria. No começo eu relutei, mas Josenir tem a maestria do convencimento e eu acabei acreditando que realmente poderia fazer um cordel. Portanto, meu primeiro cordel foi escrito em parceria com ela", explica. Por entre métricas e rimas, Ulisses Germano recupera lembranças ou, simplesmente, solta versos sobre amores, política, seres inanimados e pessoas reais. O cordel é aquilo que o torna leve. É o que lhe faz expurgar as dores e os rancores. Não é literatura inferior, como se apressa em dizer, mas a vida ritmada. De feitura tão difícil como um soneto.

"Uma boa amizade/ irmanada no respeito/ dura uma eternidade/ não deixa marca no peito/ o amor é uma semente/ que nasce dentro da mente/ que ama de qualquer jeito/Não é fácil conviver/ muito menos preservar/ o bom amigo quer ver/ o outro amigo lutar/ sem invejar seu sucesso facilita o processo/ que conduz ao verbo amar" (um trecho de "A quintessência da existência").

Encantamento

Nascido em Iguatu e radicado no Crato, Ulisses Germano herdou dos avós, o clarinetista José Facundo e a bandolinista Ormecinda Correia, o amor pelas artes. Sentimento que lhe fez explorar diferentes áreas artísticas. Já criou na música, na literatura e nas artes plásticas. Uma imersão que o possibilita reinventar sua arte.

A favor de um cordel que fuja do "matutês", como gosta de enfatizar, Ulisses Germano traz para seus cordéis elementos e temáticas mais acadêmicas. "Meus amigos brincam comigo que meus cordéis precisam de notas de rodapé. O que escrevo faz menção às coisas que leio, vejo e escuto. Não é o erudito pelo erudito, são aprendizados adquiridos que costumo registrar".

Para ele, o cordel é um universo cheio de encantamentos. O primeiro, em sua opinião, diz respeito ao formato dos folhetos ilustrados por xilogravuras. "Considero o cordel o nosso primeiro livro de bolso. Os que são produzidos pela Academia dos Cordelistas do Crato e pela Lira Nordestina de Juazeiro do Norte ainda preservam a antiga tradição de confeccionar artesanalmente os folhetos. E isso me encanta. É Arte!".

Quanto aos outros encantamentos apontados por Ulisses, estão a métrica e o ritmo que as palavras rimadas impõem para a cadência de sua leitura. "Um cordel bem lido é pura música. Todos os assuntos podem ser abordados na literatura de cordel. Nunca podemos esquecer que essa arte é fruto da oralidade, e a multiplicidade de temas abordados por esse estilo de escrever ao longo dos anos atestam essa verdade".

Para este ano, o cordelista prepara vários projetos, perpassando diferentes campos artísticos. "Estou também produzindo trilhas para filmes documentários: ´Fundação Romualdo´; ´Um milagre paleontológico de Bola Bantim´; ´Professor Álamo da URCA´; e ´Água pra que te Quero´, da fotógrafa Nívea Uchôa. Todos serão lançados este ano. Meu mais recente cordel é intitulado ´A Proeza do Peixe Pedra´".

Ulisses Germano diz adorar esta alcunha: "Peixe Pedra! E como não poderia deixar de ser, eu também dou voz e vez para o Peixe Pedra que tem a mania de declamar sextilhas: O passado é infinito/ O futuro também é / A origem está no mito /Da Ciência e da Fé / No longo e lento atrito / Da pedra com a maré".
ANA CECÍLIA SOARES

REPÓRTER

canção do moinho- Por João Nicodemos




a pedra de mó
que o moinho movia
moeu a saudade
no meu coração

o vento ventando
a ventana vazia
virou ventania
a minha canção

agora nem porto
nem sonho ou quimera
nem mera esperança
nem vinho nem pão

a pedra de mó
que movia o moinho
puída no tempo
não moe mais não

Ave canora - Por Telma Brilhante

Cheiro insensado
nos sapatos novos
de couro curtido

Caminhos tranquilos
de inocência
Nas praças floridas

O bentevi
entoou um canto
de alvíssaras
no ermo dos fios.

O bazar de Dona Zulmira - Emerson Monteiro

Às vezes, sem pressa, circulo os corredores secretos das lembranças, observando suas paredes marcadas de rabiscos misteriosos, tangido pelas mãos eficientes da imaginação. Vou reunindo elementos para reconstituir instantes agradáveis que transportam a mundos existentes em algum lugar nem sempre de acesso fácil, no entanto suficientes de neutralizar outros instantes atuais menos agradáveis, até aborrecidos, que as ondas da vida trazem às praias da realidade.
Numa dessas aventuras, voltei no calendário e revi quando cursava o terceiro ano primário, hoje terceiro do fundamental I, no Ginásio São Pio X, educandário das irmãs do silêncio instalado na Praça da Sé, em Crato, do lado de baixo, no prédio da Irmandade de São Vicente de Paulo.
Era colega de Hugo Linard, que já tocava acordeom nessa época. Sempre que havia sessão artística aos finais de semana, era ele dos números principais, pois Dona Chiquinha Piancó, nossa professora, nunca deixava por menos; Hugo daria seu jeito e traria o acordeom para essa apresentação, sendo ele um garoto franzino que devia arranjar o carregador e transportar o instrumento até o colégio; se não, nada feito.
Por ocasião da véspera de uma dessas sessões, Hugo e eu, saímos à procura desse carregador, conforme a liberação da professora. E aqui chego ao que quero contar, a visita que fizemos ao bazar de Dona Zulmira.
Ficava na Rua Miguel Limaverde, lado da sombra, antes da casa da esquina em que funciona a Ábaco. No prédio onde residia, logo na sala da frente Dona Zulmira instalara sua loja, formada de tudo que era presente, caixas e mais caixas nas prateleiras que iam do chão ao teto, forradas dos brinquedos mais incríveis, maravilhas dignas dos contos do Oriente.
Meu amigo desde que nos conhecemos naquele ano, Hugo nem prevenira do que faríamos. Eu jamais supunha existisse em Crato tais prodígios. Fiquei abismado, digamos assim, perante o estoque precioso da inesperada loja ali reservada.
Bom, após demorar o suficiente de ver a pilha de jogos de salão, palhaços, carros, aviões, instrumentos musicais, bolas de variados tamanhos, piões, bonecos coloridos, embalagens e embalagens de surpreendentes artefatos, retornamos ao colégio quais saídos da fábrica dos sonhos.
Depois disso, nenhuma outra vez tomei conhecimento da loja, o que restaria só nas dobras da ficção caso minha mãe, já bem recentemente, deixasse de contar ser Dona Zulmira uma sua parenta, prima segunda, por parte da família Bezerra de Menezes. Nessa hora, recordei a tarde longínqua e as emoções ocasionadas pelo incrível bazar que ela possuía, algo semelhante a papel mágico que escolhesse, algumas vezes, desempenhar, além (quem sabe?) da imaginação fértil de qualquer infância.

Tocar. Liduina Belchior.


O Toque das Minhas Mãos:



Em ti é paixão e amor,


Em meus filhos: amor pleno,


nos amigos: desvelo,


nos clientes, aconchego,


nos colegas: ternura,


nos funcionários: carinho,


nos chefes: afago,


nos desconhecidos: respeito.

Pensamento para o Dia 07/04/2011


“Meras palavras não são suficientes quando você reza. Você deve oferecer seu coração a Deus em oração. Grandes almas oferecem seus corações a Deus em oração. No Mahabharata, Draupadi, a esposa dos Pandavas, sempre rezava assim: 'Querido Senhor, eu Lhe adoro dia e noite. Por favor, seja misericordioso e me proteja. Se for compassivo comigo, não serei incomodada por todos os desafios e provações que possa ter de enfrentar'. Fiel a sua oração, ela sempre recebeu a proteção de Deus e superou inúmeros problemas que teve de enfrentar em sua vida. Sua devoção ao Senhor Krishna permaneceu inalterada, apesar de enfrentar muitos desafios e provações em sua vida. Alguns podem orar ao Senhor Rama, outros podem orar ao Senhor Krishna. Nomes e formas são muitos, mas a Divindade é uma só. O Atma é a Divindade sem nome sem forma.”
Sathya Sai Baba
DE NOVO A VIOLÊNCIA, DE NOVO DEUS É LEMBRADO
Semana passada, escrevi um simples comentário a cerca de uma frase cunhada por um pai que acabara de perder duas filhas nas mãos de um facínora, em São Paulo.
Na ocasião, revoltado com a aceitação tácita de tão brutal acontecimento, onde o pai invocara o nome de deus para perdoar o crime, externei o meu pensamento sobre a impunidade dos homens, acobertada pelo beneplácito divino, e citei alguns exemplos pinçados do livro máximo dos católicos, a bíblia sagrada, seu guia, além de outros fatos históricos, comprovados, narrando mortes de seres humanos, ou para expandir a igreja católica ou porque as vitimas professavam outra fé, adorando outros deuses, que não o criador divino, adorado pelos católicos.
Sabia, diante mão, das críticas que viriam, posto haver tabus seculares quando o assunto é deus, dono da vida e detentor do poder da morte e do perdão de todos os males que se cometam em seu nome, desde que  se cumpram suas obrigações para com as igrejas que o representam, ou seja, pagando os dízimos, os óbolos, alimentando seus pastores, mantendo abastecida a casa de deus, comprando indulgências para lograrem um lugar nos céus, sentados à direita de deus pai e obterem, dessa forma, a tão sonhada vida eterna, com todos seus pecados expiados, não interessando se mataram, estupraram, saquearam, seqüestraram, tripudiaram dos inimigos, enfim, cometeram toda sorte de barbaridades, desde que se arrependessem, na última hora, dos crimes e tendo a consciência de que compraram o seu perdão, assim serão perdoados.
Pois muito bem, vieram-me as criticas através de e-mails, telefonemas e conversas informais com os amigos. Umas em concordância com meu raciocínio, outras contra. Acho isso um salutar exercício do arbítrio e defesa de princípios, afinal, como dissera um grande escritor, toda unanimidade é burra.
De todos os que me abordaram, duas opiniões distintas, de dois grandes amigos, escritores de boa lavra, chamaram-me a atenção: um, no alto de sua experiência forense, acostumado com as seqüelas da violência em nossa urbe, acudiu-me o raciocínio, comentando sobre o mal que as exacerbações religiosas provocam na sociedade, onde o homem joga para um certo deus, que nunca teve a sua existência comprovada, a explicação de todos os flagelos humanos. Essa foi a sua visão sobre o que escrevi, no que me parecera correto na nossa conversa. Um outro, como disse, de escol similar, criticou-me de forma veemente, aduzindo que eu fomentara a violência em meu texto, justo eu, na conta  do meu querido amigo, um poeta sensível e que não poderia escrever um artigo pondo em dúvida a existência de deus e, o mais terrível, fazendo apologia da violência. Debalde, tentei mostrar-lhe que minha linha de raciocínio era diversa. Enfim, aceitei a crítica e dei-lha o devido respeito.
Essa semana, novamente, os noticiários deram lugar a mais fatos de violência, com fortíssimo viés de elementos religiosos e que, infelizmente, vieram a corroborar com aquilo que houvera escrito semana passada..
Aqui em Fortaleza, num bairro de classe média, vários carros estavam estacionados no canteiro central da avenida Desembargador Gonzaga, em frente a uma igreja muito conhecida. Ao ser comunicada do fato irregular, quanto ao estacionar-se  em local proibido, uma viatura da AMC para lá se dirigiu, passando a multar os veículos ali parados, enquanto seus fiéis proprietários assistiam ao seu culto semanal. Ao saberem do evento, os devotos de deus, que em sua casa estavam lhe rendendo graças e pedindo mais para mais poderem pagar, ouvindo a palavra de deus, que deveria ser de paz, esperança, amor ao próximo e outras citações do tipo, para lá acorreram e, embriagados pela palavra do senhor, depredaram os carros da autarquia municipal, agrediram seus agentes, proferindo o que, para eles, seriam blasfêmias, dado o baixo calão das palavras proferidas. Com certeza, após registrada a ocorrência, foram para seus santos lares perdoados por deus, uma vez que estavam reunidos em seus nome e nas imediações de uma de suas casas ( são tantas as moradas do senhor), em seu nome rezavam ou oravam ( as idiotices religiosas fazem distinção do uso desses verbos) e, por isso mesmo, perdoados e prontos para lhe renderem louvores nas semanas seguintes. O que diriam, os carolas de plantão, se o fato houvesse ocorrido nas imediações de uma bar e os agressores fossem alguns bêbados? Com certeza, estariam queimando no sagrado fogo do inferno pelo crime cometido.
 No Rio de Janeiro, outro facínora atira e mata 12 crianças e ferindo tantas outras, dentro de uma escola, deixando uma carta onde o que se lê são palavras com pedidos de perdão a deus, jesus cristo e outras sandices, que não vou enumerar, já que a carta está mais do que divulgada na mídia mundial.
Não preciso falar mais nada em minha defesa de que não fomentei a violência, de que sou contra, apenas tenho o direito de me insurgir contra ela e de atacá-la com a mesma virulência. Jamais serei ferido e darei a deus o prazer frio da vingança, tampouco a outra face. Se a mim se chagarem com paz, alegria, ternura e humanidade, em mim terão o poeta romântico, questionador de outros assuntos. Não serei cúmplice da omissão por princípios religiosos, que nunca tive, a não ser quando meus pais me empurraram, goela abaixo, a seita católica.
Com muito respeito a meus amigos,os que só enxergaram nas minhas palavras um apelo gratuito à violência, a eles me reporto para que me expliquem o porquê desses crimes para o perdão de deus e outros tantos que diuturnamente povoam as páginas policiais do país e, em sua análise, convençam-me de que eu sou o fomentador dessa violência; se minhas palavras provocaram tamanhas atrocidades.. Se tenho eu esse pendor e essa divina força, com todo o respeito que tenho a meus diletos amigos, serei um fortíssimo candidato a me tornar mais uma pessoa da santíssima trindade.

PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ

Texto de Bertold Brecht

Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia varias vezes destruída
Quem a reconstruiu tanta vezes?
Em que casas Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo
Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Cesares?
A decantada Bizancio
Tinha somente palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu alem dele?

Cada pagina uma vitoria.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?

A arte de Samuel Araújo


Recados para Nicodemos:


Ulisses Germano disse...

Caro amigo Nicodemos,

ouso nunca duvidar
se a dose do veneno
for grande, vai matar
não sendo é café pequeno
de anticorpos ocupados
lutando contra os enfados
que roubam nosso sereno

José Carlos Brandão disse...

O meu vizinho Ovídio,
de tão peçonhento,
à boca pequena,
eu o chamava Ofídio.

O Pequi fugiu do prato - por José do Vale Pinheiro Feitosa



Liduina Belchior roeu um pequi a vista de todos e seus olhos não brilhavam como seria mais fácil de se dizer. Não, olhos que brilham se incendeiam pelo que vêm. Liduina não olhava para o fruto do Pequi. Ela o saboreava. São olhos que expressam outro sentido. O sabor tem um olhar encantado, apertado, como se as pálpebras quisessem a penumbra para que o ser se concentrasse noutra esfera da relação com o mundo. É um olhar diferente, pois o brilho traduz a chegada do evento aos olhos, enquanto o olhar de Liduina se encontra no prório processo do acontecimento. Quando o olhar brilha, ele adivinha, se antecipa ao que ocorrerá com a presença daquele momento. Já o olhar de Liduina, são janelas para inteireza entre a natureza específica do fruto do pequi e a boca em tudo que isso tem historicidade das franjas do Araripe, especialmente dos Cratenses.

Como bem diz Liduina: o pequi é tudo ou nada. Isso é importante, pois quem tem na raiz cultural uma fruta como essa, tem tudo para ser de uma radicalidade só comparada àquela que despacha como o fruto proibido do paraíso. Mesmo em seu profundo conservadorismo, o cratense o é, radicalmente conservador. Como radicalmente iconoclasta ou radical em suas raízes folcóricas.

E a coisa é tão interessante, pois no caso do Pequi do Ceará, ele só ocorre numa pequena mancha do território, ele é mais radical ainda. Pois é restrito, não é abrangente, acontece quase que apenas no consumo dos cratenses, não igualmente nas outras vizinhas cidades. Não se estranhe que a irmã siamesa Juazeiro do Norte, usasse o pejorativo piquizeiro para brincar com o outro lado. No cariri o consumo do pequi é uma ilha isolada no meio de um continente de cozinha sertaneja. Em Góias, ou em Montes Claro em Minas Gerais, o pequi é consumido por grandes faixas de municípios, faz parte da cultura geral.

Agora vem o vazio enorme. O Pequi fugiu do prato. O momento foi breve, me refiro a apenas dois restaurantes, mas significativos. Fui num restaurante quase artesanal, bem no alto, acima da nascente, lá pedi pequi e não tinha. Não faziam porque a clientela não gostava. O mais grave foi no Pau do Guarda, que aliás tenho um reparo a fazer. Lá não se faz mais pequi, os pratos não são pedidos ou serão devolvidos pelos frequeses, não se come mais o Pequi. O que aconteceu, até entendi, eles abrirão uma filial imensa em Juazeiro, a sua freguesia não é mais cratense. E os "cratenses" que lá estão ou são por demais shopping center ou não foram criados na cultura do cariri.

O reparo sobre o Pau do Guarda. Uma coisa é evolução e outra aculturação. A evolução acontece no evoluir das próprias bases, enquanto a aculturação se faz pela introjecção de uma base alienígena. O ideal é que os donos do estabelecimento, abrisse um com esta cara de Picanha que existe feito praga por todo o país, mas deixasse que a velha cozinha caririense continuasse seu evoluir, com seus elementos, com seus ingredientes e temperos. A este mantivesse a mesma denominação, ao outro lhe desse outro qualquer, ou um destas manjada Picanha do .....e completava com um nome qualquer.

Por último. De Fortaleza à Bahia, aliás especialmente na Bahia, os letreiros não dizem mais "Carne de Sol", mas Carne do Sol. O artigo definido me deu um sabor de carvão de carne.

Por Everardo Norões




Rimbaud matemático

Recompôs
todas as incógnitas
e com letras gregas
desvendou como
subjugar o infinito.
Depois,
armou-se
para o duelo:
anotou equações,
descreveu as curvas do sonho,
e aguardou a bala
para a conclusão
do último
teorema.


PRANTO




PRANTO

Eu não quero ouvir o barranco.
Eu não quero ouvir o rio e os peixes.
Eu preciso aprender a chorar em silêncio.
A minha dor vai arrebentar as paredes.

A cabeça de boi no portal da casa
é branca como a minha dor.
O meu cavalo encostou as narinas no chão
agonizando,
agonizando com gosto de terra na boca.

As rodas da carroça gemem nas pedras.
As nuvens pesadas roncam no céu escuro.
As crianças estão geladas, duras de frio.
Os bois no pasto mugem a dor do mundo.

Os lampiões projetam sombras na cozinha,
as sombras dançam nas telhas negras da cozinha.
A fogueira no quintal lança labaredas
como estrelas desesperadas.

Eu não quero ouvir o barranco.
Eu não quero ouvir os mortos.
Eu quero chorar em silêncio
como quem morre.

O deserto cada vez mais pesado,
a noite cada vez mais pesada.
Nem se respira de tanta dor.
Como quem morre.