por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 8 de abril de 2011

DE NOVO A VIOLÊNCIA, DE NOVO DEUS É LEMBRADO
Semana passada, escrevi um simples comentário a cerca de uma frase cunhada por um pai que acabara de perder duas filhas nas mãos de um facínora, em São Paulo.
Na ocasião, revoltado com a aceitação tácita de tão brutal acontecimento, onde o pai invocara o nome de deus para perdoar o crime, externei o meu pensamento sobre a impunidade dos homens, acobertada pelo beneplácito divino, e citei alguns exemplos pinçados do livro máximo dos católicos, a bíblia sagrada, seu guia, além de outros fatos históricos, comprovados, narrando mortes de seres humanos, ou para expandir a igreja católica ou porque as vitimas professavam outra fé, adorando outros deuses, que não o criador divino, adorado pelos católicos.
Sabia, diante mão, das críticas que viriam, posto haver tabus seculares quando o assunto é deus, dono da vida e detentor do poder da morte e do perdão de todos os males que se cometam em seu nome, desde que  se cumpram suas obrigações para com as igrejas que o representam, ou seja, pagando os dízimos, os óbolos, alimentando seus pastores, mantendo abastecida a casa de deus, comprando indulgências para lograrem um lugar nos céus, sentados à direita de deus pai e obterem, dessa forma, a tão sonhada vida eterna, com todos seus pecados expiados, não interessando se mataram, estupraram, saquearam, seqüestraram, tripudiaram dos inimigos, enfim, cometeram toda sorte de barbaridades, desde que se arrependessem, na última hora, dos crimes e tendo a consciência de que compraram o seu perdão, assim serão perdoados.
Pois muito bem, vieram-me as criticas através de e-mails, telefonemas e conversas informais com os amigos. Umas em concordância com meu raciocínio, outras contra. Acho isso um salutar exercício do arbítrio e defesa de princípios, afinal, como dissera um grande escritor, toda unanimidade é burra.
De todos os que me abordaram, duas opiniões distintas, de dois grandes amigos, escritores de boa lavra, chamaram-me a atenção: um, no alto de sua experiência forense, acostumado com as seqüelas da violência em nossa urbe, acudiu-me o raciocínio, comentando sobre o mal que as exacerbações religiosas provocam na sociedade, onde o homem joga para um certo deus, que nunca teve a sua existência comprovada, a explicação de todos os flagelos humanos. Essa foi a sua visão sobre o que escrevi, no que me parecera correto na nossa conversa. Um outro, como disse, de escol similar, criticou-me de forma veemente, aduzindo que eu fomentara a violência em meu texto, justo eu, na conta  do meu querido amigo, um poeta sensível e que não poderia escrever um artigo pondo em dúvida a existência de deus e, o mais terrível, fazendo apologia da violência. Debalde, tentei mostrar-lhe que minha linha de raciocínio era diversa. Enfim, aceitei a crítica e dei-lha o devido respeito.
Essa semana, novamente, os noticiários deram lugar a mais fatos de violência, com fortíssimo viés de elementos religiosos e que, infelizmente, vieram a corroborar com aquilo que houvera escrito semana passada..
Aqui em Fortaleza, num bairro de classe média, vários carros estavam estacionados no canteiro central da avenida Desembargador Gonzaga, em frente a uma igreja muito conhecida. Ao ser comunicada do fato irregular, quanto ao estacionar-se  em local proibido, uma viatura da AMC para lá se dirigiu, passando a multar os veículos ali parados, enquanto seus fiéis proprietários assistiam ao seu culto semanal. Ao saberem do evento, os devotos de deus, que em sua casa estavam lhe rendendo graças e pedindo mais para mais poderem pagar, ouvindo a palavra de deus, que deveria ser de paz, esperança, amor ao próximo e outras citações do tipo, para lá acorreram e, embriagados pela palavra do senhor, depredaram os carros da autarquia municipal, agrediram seus agentes, proferindo o que, para eles, seriam blasfêmias, dado o baixo calão das palavras proferidas. Com certeza, após registrada a ocorrência, foram para seus santos lares perdoados por deus, uma vez que estavam reunidos em seus nome e nas imediações de uma de suas casas ( são tantas as moradas do senhor), em seu nome rezavam ou oravam ( as idiotices religiosas fazem distinção do uso desses verbos) e, por isso mesmo, perdoados e prontos para lhe renderem louvores nas semanas seguintes. O que diriam, os carolas de plantão, se o fato houvesse ocorrido nas imediações de uma bar e os agressores fossem alguns bêbados? Com certeza, estariam queimando no sagrado fogo do inferno pelo crime cometido.
 No Rio de Janeiro, outro facínora atira e mata 12 crianças e ferindo tantas outras, dentro de uma escola, deixando uma carta onde o que se lê são palavras com pedidos de perdão a deus, jesus cristo e outras sandices, que não vou enumerar, já que a carta está mais do que divulgada na mídia mundial.
Não preciso falar mais nada em minha defesa de que não fomentei a violência, de que sou contra, apenas tenho o direito de me insurgir contra ela e de atacá-la com a mesma virulência. Jamais serei ferido e darei a deus o prazer frio da vingança, tampouco a outra face. Se a mim se chagarem com paz, alegria, ternura e humanidade, em mim terão o poeta romântico, questionador de outros assuntos. Não serei cúmplice da omissão por princípios religiosos, que nunca tive, a não ser quando meus pais me empurraram, goela abaixo, a seita católica.
Com muito respeito a meus amigos,os que só enxergaram nas minhas palavras um apelo gratuito à violência, a eles me reporto para que me expliquem o porquê desses crimes para o perdão de deus e outros tantos que diuturnamente povoam as páginas policiais do país e, em sua análise, convençam-me de que eu sou o fomentador dessa violência; se minhas palavras provocaram tamanhas atrocidades.. Se tenho eu esse pendor e essa divina força, com todo o respeito que tenho a meus diletos amigos, serei um fortíssimo candidato a me tornar mais uma pessoa da santíssima trindade.

3 comentários:

socorro moreira disse...

Surpreendente depoimento.

Parabéns, Braz!


Abraços

Braz disse...

Obrigado, Socorro. De vez em quando temos o direito de nos revoltar. Grande abraço

socorro moreira disse...

Volte sempre. Volte logo.

Abs