Quando crescer, eu vou pro Ceará. Repeti esta frase um sem número de vezes. Desde menino estou indo...
O Ceará de minha infância está na voz de meu pai que cantava lindas valsas de Augusto Calheiros e dizia palavras que não estavam no repertório local. Estava nas músicas de Luiz Gonzaga que minha mãe e e meu pai cantavam. Estava no beju de tapioca, no prato de baião de dois que mamãe tentava imitar, com sua cozinha amineirada (muito boa também). Fazia pra agradá-lo. E nos agradava a todos também. Seu sotaque, a melodia em sua voz, um misto de vaqueiro e de tenor, principalmente quando ficava bravo, tinha uma voz forte, em um corpo franzino e valente. Nunca o vi descansando, ou esperando algo, sempre ativo, indo e vindo com ligeireza juvenil, mesmo aos sessenta anos. Me contou algumas histórias de sua vida no ceará, que nos anos de 1950, seu pai levara a família para morar no Crato. Fora um comerciante e, no pós-guerra, as condições em Brejo Santo não eram boas. Disse que sua família morou na rua Nelson Alencar e, ainda hoje, tento adivinhar o número, se a casa ainda existe. Mas existe no meu coração, na minha memória um Ceará só meu, de minha imaginação infantil. Estou no Ceará. Estou indo pro Ceará!