por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Nosso Sonho Americano - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Há cerca de quinze anos, quando a Coelce, onde eu trabalhava, estava sendo preparada para privatização, ficou decidido entre uma infinidade de providências, que seus engenheiros deveriam aprender a falar inglês, para melhor se comunicarem com os futuros patrões. Então, no próprio local de trabalho, uma hora antes do expediente, passamos a ter aulas de inglês três vezes por semana. Qual não foi a minha surpresa ao verificar que muitas palavras do  idioma de  Shakespeare  já eram usualmente faladas em nosso país! Provavelmente devido a utilização dos micro-computadores, uma novidade que surgia naquela época, com seus "e-mails," "facebook", "home pages," "delete" ou talvez por influência da televisão ou quem sabe, para demonstração de "bom gosto" ou elitismo das pessoas ditas mais educadas. No meu entender, isso revela mesmo nosso subdesenvolvimento sócio-cultural.

Uma volta a esses luxuosos centros de compras, aliás "shopping centers" como costumamos chamar, faz com que nos sintamos no exterior, com a vantagem de fácil acesso e não ser preciso tirar passaporte. Palavras como "sale, light, square, delivery, site" e tantas e tantas outras são usualmente faladas em nosso país. Já pensaram nos famosos "queimas" da velha Casa Abrahão sendo anunciados como "sale"?  Remédios sendo comprados na "Central Drugstore" do seu Zuza da Botica? Nossas compras semanais na Cantina do Oliveira sendo  processadas por "delivery"? Ou o que responderia o velho Bantim ao pedirmos um "lunch light" em sua sorveteria?

Pois não é que aquele curso de inglês me fez regressar a 1964?  Lembrei-me de que na minha primeira semana de aulas no então primeiro cientifico de um colégio de Salvador, ao atender uma solicitação do professor de português para uma redação sobre o orgulho de ser brasileiro, uma aluna ruiva, de rosto escondido por pesados óculos de grau sustentados pelos seus cabelos cor de fogo, escreveu que não tinha nenhum orgulho de ser brasileira, pois gostaria de ser norte-americana. O professor elogiou aquela redação e a leu para toda turma, ressaltando a coragem dessa aluna e, o estilo de escrita corretíssimo, embora não concordasse com suas idéias, não poderia se negar de lhe atribuir nota dez. Anos depois, eu soube que aquela aluna morrera tragada pelas ondas do mar na praia de Piatã, sem realizar o sonho de ir morar nos "States", onde provavelmente iria sentir orgulho de ser brasileira.

Penso que para falarmos o inglês definitivamente, falta pouquíssima coisa. Que dizer quando as pessoas mais simples desconhecem uma palavra do português? Pois nós tivemos uma prova disso no final de 2011. Estávamos em Natal, no vizinho estado do Rio Grande do Norte, quando visitamos o mais novo "shopping center" daquela cidade. Numa sorveteria, toda turma que nos acompanhava resolveu pedir sorvetes, pois fazia muito calor. Havia ali a mais variada espécie de sabores. Então eu indaguei ao sorveteiro se havia algum tipo de sorvete dietético:
- Não! - Respondeu ele secamente.
 Magali que chegara ao balcão alguns segundinhos depois perguntou:
- Você tem sorvete "diet"? (Pronuncia-se: "daite"). 
- Temos sim! - Respondeu ele.
Olhei para cara dele e não me contive. Perguntei ríspidamente:
- Você é americano? É?

Estava ali a maior prova de que o inconsciente coletivo do brasileiro tem esse sonho! Sermos todos nós norte-americanos, como aquela ex-colega baiana, para maior desgosto dos nossos avós portugueses que, graças a nós brasileiros  transformamos o idioma de Camões na quinta língua mais falada do mundo.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Nota: Eis a relação das dez línguas mais faladas no mundo por números de pessoas nativas: 1° Mandarim (China) 2° Hindi (Índia); 3° Espanhol; 4° Inglês; 5° Português; (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e Guiné Equatorial, São Tomé e Principie, Goa, Timor Leste, e Macau.) 6° Árabe; 7° Bengali, 8° Russo; 9° Japonês, 10°  Francês. 
 
Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Amar acima de tudo revoluciona o todo - José do Vale Pinheiro Feitosa

Seguindo a ideia de uma outra utopia frente ao atual sistema capitalista. Toda utopia é a construção do futuro e quando aplicada à realidade vai enfrentar as contradições. Como dizia o filósofo Alemão Ernest Bloch: viver o futuro no presente. Nem sempre realizáveis, as utopias ao menos se prestam para que seus cultores sintam a renúncia dos seus motivos nobres. É muito comum entre os cristão a renúncia ao amor fraterno, pelo menos na prática, em razão de sociedades desiguais que aceitam a servidão humana.

Agora mesmo o Papa Francisco tem dito coisas que ferem mortalmente o atual sistema de lucros e transações sob base do interesse compensatório. O modelo você sabe, vale pelo que em negócio me proporciona. Estendido, por exemplo, com as indulgências pagas, com o dízimo e a tabela dos preços dos sacramentos.

Nem preciso falar em figuras abjetas que pregam milagres com a mão, enquanto na outra sustenta o saco que recepciona o lucro do milagre. Falo de coisas do tipo de quem chega para “encomendar” o corpo de um rico e se engana ao se aproximar do corpo de uma família pobre. Quanta decepção pelo engano, interrompe o ritual antes da metade e vai em busca da família que o encomendou.

E eis que o Papa Francisco anda a pregar o amor gratuito de Deus por nós. Retorne à palavra gratuito, que não requer pagamento. Não depende da transação. E se conclui que a pessoa que é muito amada é levada, naturalmente, a amar muito. Quem é amado de modo gratuito, sem ter que dar nada em troca, ama sobretudo a todos.


Algo mais revolucionário em relação a este mundo baseado no sucesso, no acúmulo de bens materiais e em levar vantagens nas transações com o outro? Isso é de uma radicalidade que põe por terra todos os alicerces em que a própria Igreja foi construída e se sustenta.