Há
cerca de quinze anos, quando a Coelce, onde eu trabalhava, estava sendo
preparada para privatização, ficou decidido entre uma infinidade de
providências, que seus engenheiros deveriam aprender a falar inglês,
para melhor se comunicarem com os futuros patrões. Então, no próprio
local de trabalho, uma hora antes do expediente, passamos a ter aulas de
inglês três vezes por semana. Qual não foi a minha surpresa ao
verificar que muitas palavras do idioma de Shakespeare já eram
usualmente faladas em nosso país! Provavelmente devido a utilização dos
micro-computadores, uma novidade que surgia naquela época, com seus "e-mails," "facebook", "home pages," "delete"
ou talvez por influência da televisão ou quem sabe, para demonstração
de "bom gosto" ou elitismo das pessoas ditas mais educadas. No meu
entender, isso revela mesmo nosso subdesenvolvimento sócio-cultural.
Uma volta a esses luxuosos centros de compras, aliás "shopping centers" como costumamos chamar, faz com que nos sintamos no exterior, com a vantagem de fácil acesso e não ser preciso tirar passaporte. Palavras como "sale, light, square, delivery, site" e tantas e tantas outras são usualmente faladas em nosso país. Já pensaram nos famosos "queimas" da velha Casa Abrahão sendo anunciados como "sale"? Remédios sendo comprados na "Central Drugstore" do seu Zuza da Botica? Nossas compras semanais na Cantina do Oliveira sendo processadas por "delivery"? Ou o que responderia o velho Bantim ao pedirmos um "lunch light" em sua sorveteria?
Pois não é que aquele curso de inglês me fez regressar a 1964? Lembrei-me de que na minha primeira semana de aulas no então primeiro cientifico de um colégio de Salvador, ao atender uma solicitação do professor de português para uma redação sobre o orgulho de ser brasileiro, uma aluna ruiva, de rosto escondido por pesados óculos de grau sustentados pelos seus cabelos cor de fogo, escreveu que não tinha nenhum orgulho de ser brasileira, pois gostaria de ser norte-americana. O professor elogiou aquela redação e a leu para toda turma, ressaltando a coragem dessa aluna e, o estilo de escrita corretíssimo, embora não concordasse com suas idéias, não poderia se negar de lhe atribuir nota dez. Anos depois, eu soube que aquela aluna morrera tragada pelas ondas do mar na praia de Piatã, sem realizar o sonho de ir morar nos "States", onde provavelmente iria sentir orgulho de ser brasileira.
Penso que para falarmos o inglês definitivamente, falta pouquíssima coisa. Que dizer quando as pessoas mais simples desconhecem uma palavra do português? Pois nós tivemos uma prova disso no final de 2011. Estávamos em Natal, no vizinho estado do Rio Grande do Norte, quando visitamos o mais novo "shopping center" daquela cidade. Numa sorveteria, toda turma que nos acompanhava resolveu pedir sorvetes, pois fazia muito calor. Havia ali a mais variada espécie de sabores. Então eu indaguei ao sorveteiro se havia algum tipo de sorvete dietético:
- Não! - Respondeu ele secamente.
Magali que chegara ao balcão alguns segundinhos depois perguntou:
- Você tem sorvete "diet"? (Pronuncia-se: "daite").
- Temos sim! - Respondeu ele.
Olhei para cara dele e não me contive. Perguntei ríspidamente:
- Você é americano? É?
Estava ali a maior prova de que o inconsciente coletivo do brasileiro tem esse sonho! Sermos todos nós norte-americanos, como aquela ex-colega baiana, para maior desgosto dos nossos avós portugueses que, graças a nós brasileiros transformamos o idioma de Camões na quinta língua mais falada do mundo.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Nota: Eis a relação das dez línguas mais faladas no mundo por números de pessoas nativas: 1° Mandarim (China) 2° Hindi (Índia); 3° Espanhol; 4° Inglês; 5° Português; (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e Guiné Equatorial, São Tomé e Principie, Goa, Timor Leste, e Macau.) 6° Árabe; 7° Bengali, 8° Russo; 9° Japonês, 10° Francês.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Uma volta a esses luxuosos centros de compras, aliás "shopping centers" como costumamos chamar, faz com que nos sintamos no exterior, com a vantagem de fácil acesso e não ser preciso tirar passaporte. Palavras como "sale, light, square, delivery, site" e tantas e tantas outras são usualmente faladas em nosso país. Já pensaram nos famosos "queimas" da velha Casa Abrahão sendo anunciados como "sale"? Remédios sendo comprados na "Central Drugstore" do seu Zuza da Botica? Nossas compras semanais na Cantina do Oliveira sendo processadas por "delivery"? Ou o que responderia o velho Bantim ao pedirmos um "lunch light" em sua sorveteria?
Pois não é que aquele curso de inglês me fez regressar a 1964? Lembrei-me de que na minha primeira semana de aulas no então primeiro cientifico de um colégio de Salvador, ao atender uma solicitação do professor de português para uma redação sobre o orgulho de ser brasileiro, uma aluna ruiva, de rosto escondido por pesados óculos de grau sustentados pelos seus cabelos cor de fogo, escreveu que não tinha nenhum orgulho de ser brasileira, pois gostaria de ser norte-americana. O professor elogiou aquela redação e a leu para toda turma, ressaltando a coragem dessa aluna e, o estilo de escrita corretíssimo, embora não concordasse com suas idéias, não poderia se negar de lhe atribuir nota dez. Anos depois, eu soube que aquela aluna morrera tragada pelas ondas do mar na praia de Piatã, sem realizar o sonho de ir morar nos "States", onde provavelmente iria sentir orgulho de ser brasileira.
Penso que para falarmos o inglês definitivamente, falta pouquíssima coisa. Que dizer quando as pessoas mais simples desconhecem uma palavra do português? Pois nós tivemos uma prova disso no final de 2011. Estávamos em Natal, no vizinho estado do Rio Grande do Norte, quando visitamos o mais novo "shopping center" daquela cidade. Numa sorveteria, toda turma que nos acompanhava resolveu pedir sorvetes, pois fazia muito calor. Havia ali a mais variada espécie de sabores. Então eu indaguei ao sorveteiro se havia algum tipo de sorvete dietético:
- Não! - Respondeu ele secamente.
Magali que chegara ao balcão alguns segundinhos depois perguntou:
- Você tem sorvete "diet"? (Pronuncia-se: "daite").
- Temos sim! - Respondeu ele.
Olhei para cara dele e não me contive. Perguntei ríspidamente:
- Você é americano? É?
Estava ali a maior prova de que o inconsciente coletivo do brasileiro tem esse sonho! Sermos todos nós norte-americanos, como aquela ex-colega baiana, para maior desgosto dos nossos avós portugueses que, graças a nós brasileiros transformamos o idioma de Camões na quinta língua mais falada do mundo.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Nota: Eis a relação das dez línguas mais faladas no mundo por números de pessoas nativas: 1° Mandarim (China) 2° Hindi (Índia); 3° Espanhol; 4° Inglês; 5° Português; (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e Guiné Equatorial, São Tomé e Principie, Goa, Timor Leste, e Macau.) 6° Árabe; 7° Bengali, 8° Russo; 9° Japonês, 10° Francês.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo