por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

De quem são os louros ?



Os Cangatis dominaram a política em Matozinho por mais de quarenta anos. Ligados diretamente à UDN ,  fizeram , por muitos anos, da cidade um feudo. Aos amigos as brechas da lei, aos inimigos sobravam os rigores. Existia, inclusive , um slogan na região :
                        ---“Em Matozinho ou é  Cangati ou coitado”!
                         Naquele ano, no entanto, a coisa estava pegando fogo. Sinderval Bandeira envergara a bandeira do PSDB local, com amplo apoio do  governador, seu correligionário e entraram dispostos a dizimar a dinastia dos Cangatis. Tantos anos de poder haviam viciado a poderosa família que carregava consigo a certeza da invencibilidade. Nem percebiam que o poder desgasta, que se vão criando mais desafetos que amigos e que insidiosamente sempre se vai firmando, na população,  um desejo de se respirar novos ares. Que mudem ao menos os bolsos ! --- bradava Jojó Fubuia , na praça, resumindo as aspirações de mudança dos matozenses. A campanha eleitoral foi tensa e violenta: tripas gaiteiras vazadas, tapa em terreiro dos olhos, cachaços lascados. Abertas as urnas, para total surpresa do candidato Pedro Cangati, Sinderval foi leito com mais de sessenta por cento dos votos.
                        Em cidade pequena, esse filme sempre tem final previsível. Nos  últimos meses do mandato , Pedro  procedeu a um verdadeiro desmonte da prefeitura. Parecia vingar-se daqueles que , no seu entender, o haviam traído. Atrasou salários dos funcionários, cancelou pagamento de contas , suspendeu coleta do lixo, suspendeu distribuição de medicamentos, demitiu sumariamente uma chusma de funcionários. Jojó me dizia que isso é um absurdo, coisa de vila de muros baixos  e acrescentava: em cidade grande, amigos, não é assim , não ! É muito pior !
                        Não bastasse esse desmazelo, na última semana, o prefeito resolveu fazer o rapa no que restava na prefeitura. Encostou um caminhão e providenciou a mudança: móveis, máquinas de escrever, documentos, tudo. Deixou apenas o cofre velho, no meio da sala, mesmo assim sem um centavo furado dentro dele. Fechou o prédio praticamente vazio e ainda jogou as chaves dentro do Rio Paranaporã.  
                        Uns quinze dias antes da posse de Sinderval, Marinaldo Pé de Zamba, um bodegueiro da Serra da Jurumenha, entrou de prefeitura adentro, com um pacote mal enjembrado na mão. Era uma gaiola coberta com papel de embrulho , cheia de furos esparsos, feitos de maneira irregular. Procurou Mundico Bizerra o Secretário de Finanças. Deu entrada na sala do barnabé e explicou o motivo da viagem. Sabia que o mandato atual estava terminando e como estava devendo a Mundico uma dívida refém à dispensa de alguns impostos do seu pequeno comércio, vinha cumprir o prometido . Esticou a embalagem  e colocou em cima do Bureau da autoridade:
                        --- Mundico, tá aqui! Tô pagando o combinado! Sei que agora você , com essa mudança de política, vai ficar mais por baixo de que diferencial de cururu. Pois to pagando homem de Deus, taqui seu papagaio ! O bicho é falador que é danado !
                        Mundico agradeceu pela lembrança, tranqüilo por não ter ninguém na sala para testemunhar o escambo. Resolveu colocar a caqueira com o papagaio no seu gabinete, até levá-lo para casa, nas proximidades da posse do opositor. Pois bem, o danado do louro presenciou todo o combinemos do saque, justamente nos dias que antecederam ao butim. Eram reuniões e mais reuniões. Vamos carregar isso, vamos roubar aquilo, não vamos deixar pedra sobre pedra, vamos  limpar o cofre... No dia do arrastão, a sanha foi tanta que até o papagaio de Mundico foi afanado e levado à casa do prefeito, junto com todo o resto dos pertences públicos.
                        Os pessedistas, no poder, não perderam tempo. Espalharam em todas as bocas difusoras da cidade, o verdadeiro saque cometido pelos Cangatis. E fofoca em cidade pequena é como coceira em macaco: não tem que dê fim.  Substitui com larga vantagem as outras mídias. Pedro Cangati estava sobre acirrado ataque da população por conta da roubalheira explícita. No entanto, o que mais lhe enchia o saco era o velho papagaio que , não parava de repetir, as tramóias que aprendera na Secretaria de Finanças .
                        --- Currupaco... Vou pegar todo o dinheiro do cofre...Currupaco... vou carregar os móveis lá pra casa...Currupaco vou roubar os documentos e queimar...
                        Cangati começou a se invocar com o louro. Não queria aquele testemunha ocular ( ou auditivo) ali, enchendo o saco o tempo todo, como um verdadeiro dedo-duro. Fulo da vida, meteu a mão na gaiola, amarrou o papagaio com um barbante e ameaçou:
                        --- Vai ficar assim uma semana, seu filho da puta, para nunca mais roubar!
                        O louro, todo ingriziado, ficou ali em cima da máquina de costura, sem poder se mover.  Estava ali já há uns dois dias, quando observou, na parede, uma imagem de São Sebastião, naquela pose clássica. Amarrado numa árvore e todo flechado, com o pezinho levantado à Ana Botafogo e um olhar enviesado suspeitíssimo de soldada romana. O papagaio resolveu , então, entabular conversa:
                        --- Ei, mulher ! Tu tá escândalo ! Me diz , há quanto tempo tu tá amarrada aí nessa árvore ?
                        São Sebastião, meio a contragosto, responde:
                        --- Há uns mil e oitocentos anos, pelo menos...
                        O papagaio saltou, quase quebrando os barbantes , e surpreso, quis saber:
                        --- Mil e Oitocentos Anos ? O que diabo foi  que tu roubou ? Tu é deputado ? Senador ? Governador ? Participou do Assalto do Banco Central ? Vôte !

J. Flávio Vieira

Bolerando como chuva...


Chove sem parar na cidade do Crato.
 O calor passou, e o frio das emoções encontra espaço.
 Fico racional quando a chuva esfria o tempo.
Fico caliente quando escuto pingos, e vejo a rua empoçada.
Planejo o ano, como manda o poema postado por Stela... Tão oportuno!
Sossego o coração. Ouso confiar no que espero... Vida energizada de paz e saúde!
Afora isso, espero um tiquinho de  amor. Valor superior a todos os prêmios que a “sorte” destinou. Afinal tem bem maior do que experimentar a alegria dos sentimentos?
Amem!
Não exatamente como Narciso...
- “ECO”, amorosa (o)!


OS SONHOS DE JANEIRO SÃO SONHOS DO ANO INTEIRO


POEMA DE DANIEL LIMA

De que é feito janeiro?
De fios de esperança?
De desejos, palpites?
De agonias e sonhos?

De que é feito janeiro?

     Janeiro sou eu dormindo.

Os sonhos de janeiro
     são sonhos do ano inteiro.

     Chamam-se planos, projetos
os sonhos de janeiro.

     Janeiro vê dezembro
não como um vizinho às suas costas,
     já passado e vivido:
     janeiro vê dezembro no futuro.
Depois dos onze meses que ainda faltam.
 
     Ai de ti, se em janeiro
não fabricas estrelas
     e utopias.

Estrelas não há.
                    A noite é preta.
     Mas que importa?
É no escuro que se inventa
                      a luz,
     a saída,
                    a vida,
     a estrela.

E além disso é janeiro.
     Há estrelas.

Inventar lindas coisas é ofício
   de pintores e músicos,
de poetas e místicos
     e de janeiro.

Janeiro tem gosto
                       de pitangas e abacate          
    e é da cor que desejas.

Ele é tua realidade irrealizada
     mas sempre renascida.

Há sol e calor e suor
     mas há chuva em janeiro.

Alguém não há que nunca se molhou
     em chuva de janeiro.

Tu que tens tão requintado gosto
     não morras em janeiro.

Mancharias de luto os meses todos do ano
     que a viver não chegaste.

Bebe a luz, embriaga-te
     de vinho,
        de ar,
              de som.
Embriaga-te de ti mesmo,
     sê Narciso,
        é janeiro.

E procura esquecer-te
      que o tempo passa,
         corre a vida
             e envelheces.

Vive em janeiro a novidade da
                                   vida.

Vive em janeiro os meses todos do ano.
     Vive em janeiro o agora
     de tudo, o que será ainda
(ou talvez nunca o seja
     e, por isto, mesmo, vive-o
          antecipadamente
               agora).
                                                



Os "Fábio Júnior" que não são "Júnior" - José Nilton Mariano Saraiva

O uruguaio Mazurkiewicz, sem favor nenhum um dos grandes goleiros do mundo (juntamente com o russo Yashin, conhecido por “Aranha Negra” em razão de usar chuteiras, meões, calção, camisa e boné impecavelmente pretos e que pegava “até pensamento”), merece a homenagem que o pai-torcedor lhe prestou, ao batizar o filho com o seu nome. Só que a homenagem saiu um tanto quanto “truncada” (para não dizer “atrapalhada”), já que Mazurkiewicz transformou-se em Mazuquiebe, conforme nos relata com a competência de sempre o Zé do Vale. Isso, no entanto, não deslustra ou invalida a intenção original. O ídolo foi reverenciado, sim.
Lamentável é que a televisão brasileira e a imprensa tupiniquim, ao noticiar a sua morte, não tenham mostrado ou se referido às suas portentosas defesas ou aos verdadeiros milagres operados por Mazurkiewick embaixo das traves, mas, sim, haja priorizado o vídeo e feito comentários sobre duas “presumíveis” falhas cometidas pelo próprio, mas que, na realidade, se concretizaram muito mais em razão da genialidade de Pelé, então no auge da sua forma, do que propriamente por erro do grande goleiro: o “drible da vaca” que quase resultou em gol e o “tiro de meta” cobrado pela goleiro e seguido da imediata “devolução” da bola, do meio do campo em direção ao gol. Momentos antológicos do futebol.
Mas, retomando o fio da meada, uma outra homenagem que merece ser citada teve como autora a mãe do jogador Fábio Júnior (hoje defendendo o América Mineiro) e foi revelada pelo próprio, de forma quase que acidental. É que, ao término de mais uma partida pelo Campeonato Brasileiro, o repórter abordou-o para a tradicional entrevista sobre o resultado do jogo, o gol que fizera e coisa e tal e, ao final, respeitosamente resolveu mandar um abraço para o “seu Fábio”. E aí se deu o diálogo esclarecedor: Jogador: Que “seu Fábio” ???”. E o repórter, surpreso: “Ué, seu pai, você não é o Júnior ???”. O jogador, assustado, retomando a palavra: “Tá de brincadeira, o nome do meu pai é Bastião”. O repórter, abismado; “Como, seu nome não é Fábio Júnior ??? E, aí, veio o esclarecimento definitivo: “Não, cara, é que minha mãe é fã de carteirinha do cantor Fábio Júnior e resolveu homenagear ele me dando o mesmo nome”. O repórter, mais tranqüilo, não perdeu a pose:  “Bem, então dê o meu abraço em seu Bastião, ok” ??? Jogador, rindo: Ok.
A curiosidade é que nenhum dos “Fábios” é filho de nenhum “Fábio”, a fim de ter no sobrenome o “Júnior”: enquanto o que “poderia” ter sido o pai (o cantor) se chama Fábio Correa Ayrosa Galvão (nascido em São Paulo em 21.11.1953 e é filho de William), o que “quase” foi seu filho (o jogador), assina Fábio Júnior Pereira (nascido em Minas Gerais em 20.11.1977 e é filho de Sebastião), ainda hoje continuam a exercer competentemente as respectivas profissões, apesar, evidentemente, da acentuada diferença de idades: nasceram no mesmo mês (11), quase no mesmo dia (20/21), mas, o ano (quanta diferença): 1953 e 1977. Pensando bem, bem que um poderia ser pai do outro, não ???



As madrugadas voltaram.
Da varanda admito a mesma configuração da calçada. O céu é que muda de tom. Ora escuro, ora estrelado. O sentimento é viajante... Esconde-se no passado, aflora no futuro. O tempo presente se ocupa em arrumar as malas.
E assim a vida se faz viagem, com deslocamentos reais ou abstratos. Começo a contar os dias.Sou matemática do infinito para um finito fato. No fundo, apenas registro passagens; o entre e sai das emoções. O espelho acusa sutis ou assustadoras alterações.
Janeiro, Fevereiro,... Fim de festa; começo de férias.
- Assim me parece a vida do aposentado que não para.
Escuto os apitos noturnos, e tento adivinhar os sinos de “Notre Dame.”
Podemos tudo sem sair do canto?
E se voarmos sem encontrar um canto?
- Somos expectadores, aplaudimos atores/autores, cochilamos!

Hora de silêncio. Todas as músicas declararam greve ou estão rezando...
Bom dia, dia 3, de 2013!