por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 11 de maio de 2015

QUEM CHORARÁ COM ELE? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Com os olhos marejados, nariz vermelho, a face de sofrimento um jovem, aqui em Paracuru, levantava uma questão central para o futuro do país. Uma questão que machuca mais do que nunca pois praticamente exonera o compromisso social com a demanda da família do rapaz.

A sogra, em franca insuficiência cardíaca, precisava de urgente troca de uma das válvulas do coração. Antes que imagine tudo de ruim, mire-se na explicação mais adiante. Ela demandava o direito dela à saúde dentro do Sistema Único de Saúde, de acesso universal, gratuito, igualitário e com participação social.

Depois de um périplo de empurra-empurra, incompatível com o conceito de sistema, era jogada de um lugar para outro que não resolvia e nem encaminhava a solução. Finalmente chegou a um hospital conveniado com o SUS na capital cearense.

Para espanto familiar, não havia quem recepcionasse a paciente, ninguém chamava um profissional e, finalmente, uma supervisora por pressão familiar descobriu que no andar dos médicos, nenhum sinal deles havia. E mais ainda, quando alguém apareceu não cuidou de encaminhar o caso. Simplesmente enrolou a família no seu desespero.

Como se tratava de gente com prestígio social e político um amigo foi acionado, telefonou para o “colega” no hospital que então partiu para a ação que até então enrolara.

Continue comigo.

Uma das figuras mais populares de Paracuru, aposentado como diretor da Universidade Federal, grande músico, detentor de enorme poder de comunicação tem igual problema numa válvula cardíaca. Aí pelos, também credenciados, Planos de Saúde.

O que aconteceu?

Um caso de estenose foi diagnostico há cinco anos e o médico simplesmente não operou e deixou o estreitamente evoluir até um estágio extremamente perigoso, com grande possibilidade de morte súbita. Em seguida não atendeu mais ao paciente, a secretária passou a avisar que ele estava em formação no exterior.

Na última revisão de imagem da lesão da válvula, ele ouviu o tal doutor trabalhando normalmente. Quando foi a um cirurgião mais consciente, este ficou perplexo com a atitude do “colega”. Francamente explicou que o plano paga pouco pelo procedimento e o cara havia fugido do problema. Mas no extremo da covardia e o espírito de ave de rapina jamais deixou claro para o paciente que procurasse outro profissional. Simplesmente deixou que ele evoluísse até o risco de morte.

 Fique mais um pouco.

O sogro do rapaz que, então, revelou todo o desespero do seu choro, aconteceu aqui mesmo em Paracuru. Um cirurgião que serve à cidade simplesmente adiou a extração de um câncer de pele (o tipo mais agressivo o espino-celular) para quarenta dias. E não adiantou o pedido de outro colega, pai do rapaz.

Qual, então, o denominador comum das três histórias. O SUS e Planos de Saúde foram tomados por um conjunto de abutres que no limite só pensa em negócio. Em ganhar rios de dinheiro numa fragmentação de procedimentos que reduzem a efetividade de qualquer tratamento e aumenta os danos à saúde.

Enfim, o modelo liberal e capitalista de exercício da medicina tem se mostrado perverso, tolhendo a liberdade, a segurança e o futuro da humanidade. Ou nos voltamos aos fundamentos do Controle Social verdadeiro, não chapa branca, que bebe suas lutas nas demandas da sociedade e que jamais se torna um capacho a serviço de prefeitos e vereadores, ou este modelo só produz choro e desespero.

Não precisamos entrar numa caça às bruxas e nem no andar meramente punitivo, mas precisamos antes de tudo colocar o interesse de todos à frente da exploração comercial da saúde pública. Não se trata apenas de desonestos profissionais de saúde, mas de um modelo que os estimula a isso. Já vimos isso no tempo do INAMPS e estamos novamente na linha deste comportamento.


Talvez não explique tudo, mas parte da revolta desses profissionais com o mais Médico venha desta antiética prática do negócio com a doença. Negócio que se alimenta nos doentes reduz a efetiva do tratamento e causa mais danos à saúde de mortalidade por causas evitáveis.