por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 21 de maio de 2011

"CAÍ NO MUNDO E NÃO SEI COMO VOLTAR"- Eduardo Galeano- Colaboração de Altina Siebra


O que acontece comigo é que não consigo andar pelo mundo pegando coisas e trocando-as pelo modelo seguinte só por que alguém adicionou uma nova função ou a diminuiu um pouco…
Não faz muito, com minha mulher, lavávamos as fraldas dos filhos, pendurávamos na corda junto com outras roupinhas, passávamos, dobrávamos e as preparávamos para que voltassem a serem sujadas.

E eles, nossos nenês, apenas cresceram e tiveram seus próprios filhos se encarregaram de atirar tudo fora, incluindo as fraldas. Se entregaram, inescrupulosamente, às descartáveis!
Sim, já sei. À nossa geração sempre foi difícil jogar fora. Nem os defeituosos conseguíamos descartar! E, assim, andamos pelas ruas, guardando o muco no lenço de tecido, de bolso. Nããão! Eu não digo que isto era melhor. O que digo é que, em algum momento, me distraí, caí do mundo e, agora, não sei por onde se volta.
O mais provável é que o de agora esteja bem, isto não discuto. O que acontece é que não consigo trocar os instrumentos musicais uma vez por ano, o celular a cada três meses ou o monitor do computador por todas as novidades. Guardo os copos descartáveis! Lavo as luvas de látex que eram para usar uma só vez.
Os talheres de plástico convivem com os de aço inoxidável na gaveta dos talheres! É que venho de um tempo em que as coisas eram compradas para toda a vida!
É mais! Se compravam para a vida dos que vinham depois! A gente herdava relógios de parede, jogos de copas, vasilhas e até bacias de louça.

E acontece que em nosso, nem tão longo matrimônio, tivemos mais cozinhas do que as que haviam em todo o bairro em minha infância, e trocamos de refrigerador três vezes.
Estão nos incomodando! Eu descobri! Fazem de propósito! Tudo se lasca, se gasta, se oxida, se quebra ou se consome em pouco tempo para que possamos trocar.
Nada se arruma. O obsoleto é de fábrica. Aonde estão os sapateiros fazendo meia-solas dos tênis Nike? Alguém viu algum colchoeiro encordoando colchões, casa por casa? Quem arruma as facas elétricas? o afiador ou o eletricista? Haverá teflon para os funileiros ou assentos de aviões para os talabarteiros?
Tudo se joga fora, tudo se descarta e, entretanto, produzimos mais e mais e mais lixo. Outro dia, li que se produziu mais lixo nos últimos 40 anos que em toda a história da humanidade. Quem tem menos de 30 anos não vai acreditar: quando eu era pequeno, pela minha casa não passava o caminhão que recolhe o lixo! Eu juro! E tenho menos de ... anos! Todos os descartáveis eram orgânicos e iam parar no galinheiro, aos patos ou aos coelhos (e não estou falando do século XVII). Não existia o plástico, nem o nylon. A borracha só víamos nas rodas dos autos e, as que não estavam rodando, as queimávamos na Festa de São João. Os poucos descartáveis que não eram comidos pelos animais, serviam de adubo ou se queimava..

Desse tempo venho eu. E não que tenha sido melhor.... É que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com "guarde e guarde que alguma vez pode servir para alguma coisa", mudar para o "compre e jogue fora que já vem um novo modelo".

Troca-se de carro a cada 3 anos, no máximo, por que, caso contrário, és um pobretão. Ainda que o carro que tenhas esteja em bom estado... E precisamos viver endividados, eternamente, para pagar o novo!!! Mas... por amor de Deus! Minha cabeça não resiste tanto. Agora, meus parentes e os filhos de meus amigos não só trocam de celular uma vez por semana, como, além disto, trocam o número, o endereço eletrônico e, até, o endereço real.
E a mim que me prepararam para viver com o mesmo número, a mesma mulher e o mesmo nome (e vá que era um nome para trocar). Me educaram para guardar tudo. Tuuuudo! O que servia e o que não servia. Por que, algum dia, as coisas poderiam voltar a servir.
Acreditávamos em tudo. Sim, já sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas poderiam servir e que coisas não. E no afã de guardar (por que éramos de acreditar), guardávamos até o umbigo de nosso primeiro filho, o dente do segundo, os cadernos do jardim de infância e não sei como não guardamos o primeiro cocô.

Como querem que entenda a essa gente que se descarta de seu celular a poucos meses de o comprar? Será que quando as coisas são conseguidas tão facilmente, não se valorizam e se tornam descartáveis com a mesma facilidade com que foram conseguidas?

Em casa tínhamos um móvel com quatro gavetas. A primeira gaveta era para as toalhas de mesa e os panos de prato, a segunda para os talheres e a terceira e a quarta para tudo o que não fosse toalha ou talheres. E guardávamos...
Como guardávamos!! Tuuuudo!!! Guardávamos as tampinhas dos refrescos!! Como, para quê? Fazíamos limpadores de calçadas, para colocar diante da porta para tirar o barro. Dobradas e enganchadas numa corda, se tornavam cortinas para os bares. Ao fim das aulas, lhes tirávamos a cortiça, as martelávamos e as pregávamos em uma tabuinha para fazer instrumentos para a festa de fim de ano da escola.
Tuuudo guardávamos! Enquanto o mundo espremia o cérebro para inventar acendedores descartáveis ao término de seu tempo, inventávamos a recarga para acendedores descartáveis. E as "Gillette" até partidas ao meio se transformavam em apontadores por todo o tempo escolar. E nossas gavetas guardavam as chavezinhas das latas de sardinhas ou de corned-beef, na possibilidade de que alguma lata viesse sem sua chave.

E as pilhas! As pilhas das primeiras Spica passavam do congelador ao telhado da casa. Por que não sabíamos bem se se devia dar calor ou frio para que durassem um pouco mais. Não nos resignávamos que terminasse sua vida útil, não podíamos acreditar que algo vivesse menos que um jasmim. As coisas não eram descartáveis. Eram guardáveis.
Os jornais!!! Serviam para tudo: para servir de forro para as botas de borracha, para por no piso nos dias de chuva e por sobre todas as coisas, até para enrolar carne comprada no açougue e tudo o mais.
Às vezes sabíamos alguma notícia lendo o jornal tirado de um pedaço de carne!!! E guardávamos o papel de alumínio dos chocolates e dos cigarros para fazer guias de enfeites de natal, e as páginas dos almanaques para fazer quadros, e os conta-gotas dos remédios para algum medicamento que não o trouxesse, e os fósforos usados por que podíamos acender uma boca de fogão (Volcán era a marca de um fogão que funcionava com gás de querosene) desde outra que estivesse acesa, e as caixas de sapatos se transformavam nos primeiros álbuns de fotos e os baralhos se reutilizavam, mesmo que faltasse alguma carta, com a inscrição a mão em um valete de espada que dizia "esta é um 4 de bastos".
As gavetas guardavam pedaços esquerdos de prendedores de roupa e o ganchinho de metal. Ao tempo esperavam somente pedaços direitos que esperavam a sua outra metade, para voltar outra vez a ser um prendedor completo.
Eu sei o que nos acontecia: nos custava muito declarar a morte de nossos objetos. Assim como hoje as novas gerações decidem matá-los tão-logo aparentem deixar de ser úteis, aqueles tempos eram de não se declarar nada morto: nem a Walt Disney!!!
E quando nos venderam sorvetes em copinhos, cuja tampa se convertia em base, e nos disseram: Comam o sorvete e depois joguem o copinho fora, nós dizíamos que sim, mas, imagina que a tirávamos fora!!! As colocávamos a viver na estante dos copos e das taças. As latas de ervilhas e de pêssegos se transformavam em vasos e até telefones. As primeiras garrafas de plástico se transformaram em enfeites de duvidosa beleza. As caixas de ovos se converteram em depósitos de aquarelas, as tampas de garrafões em cinzeiros, as primeiras latas de cerveja em porta-lápis e as cortiças esperaram encontrar-se com uma garrafa.
E me mordo para não fazer um paralelo entre os valores que se descartam e os que preservávamos. Ah!!! Não vou fazer!!! Morro por dizer que hoje não só os eletrodomésticos são descartáveis; também o matrimônio e até a amizade são descartáveis. Mas não cometerei a imprudência de comparar objetos com pessoas.
Me mordo para não falar da identidade que se vai perdendo, da memória coletiva que se vai descartando, do passado efêmero. Não vou fazer.

Não vou misturar os temas, não vou dizer que ao eterno tornaram caduco e ao caduco fizeram eterno. Não vou dizer que aos velhos se declara a morte apenas começam a falhar em suas funções, que aos cônjuges se trocam por modelos mais novos, que as pessoas a que lhes falta alguma função se discrimina o que se valoriza aos mais bonitos, com brilhos, com brilhantina no cabelo e glamour.
Esta só é uma crônica que fala de fraldas e de celulares. Do contrário, se misturariam as coisas, teria que pensar seriamente em entregar à bruxa, como parte do pagamento de uma senhora com menos quilômetros e alguma função nova. Mas, como sou lento para transitar este mundo da reposição e corro o risco de que a bruxa me ganhe a mão e seja eu o entregue...

Eduardo Galeano

* Jornalista e escritor uruguaio

ESSA QUE EU HEI DE AMAR- Colaboração de Rosemary Borges Xavier






Essa que eu hei de amar

Tem que ser sincera
Compartilhar comigo
De mil quimeras
E demonstrar todo amor
Que em meu peito encerra

Essa que eu hei de amar
Tem que ser bela
Um sorriso meigo
De beleza singela
Que o calor da solidão
Ao seu lado gela

Essa que eu hei de amar
Venha voando ao vento
Sendo a brisa suave
Que me alivia no momento
Para que cesse em mim
Todo o meu lamento

Essa que eu hei de amar
Pode ser a solução
De todos os problemas
Que perturba meu coração
Que a vil e mais sagaz
Conhecida solidão

Essa que eu hei de amar
Amar até morrer
Pode ser o bálsamo
Que alivia o meu sofrer
A menina mais mimosa
Do meu bem querer

Essa que eu hei de amar
Não me fará padecer
Pois será a solução
Que eu procurei ter
Em toda minha vida
Me dando prazer

Como eu vivo louco
Não me canso de procurar
E a busca continua
E não poderei desanimar
Mas sei que encontrarei
Essa que eu hei de amar


Israel Batista

Devenir, devir - Wally Salomão





Término de leitura
de um livro de poemas
não pode ser o ponto final.

Também não pode ser
a pacatez burguesa do
ponto seguimento.

Meta desejável:
alcançar o
ponto de ebulição.

Morro e transformo-me.

Leitor, eu te reproponho
a legenda de Goethe:
Morre e devém

Morre e transforma-te.


São sempre linhas
as paisagens,
a cortarem geometricamente
nossas rotinas.
As curvas senoidais
das serras,
as retas dormentes
das planícies.

E nós:
pequenos pontos
num papel rasgado.

(Everardo Norões)


Genealogia - Por Joaquim Pinheiro




Genealogia é o estudo da origem e evolução das famílias. Normalmente, quem escreve aborda a própria família e todo mundo gosta de falar bem dos seus e é comum trabalhos da espécie omitir dados negativos e ressaltar feitos enobrecedores. Padre Neri Feitosa no entanto, fugiu à regra. Vejam como descreve o núcleo familiar de um seu Tio, que chamaremos apenas de “Major”, casado com uma sobrinha:

- Antônio era mouco e tinha uma fala diferente, por um só lado da boca;
- Rosita, além de feia, era “pisca e banguela. Usava superpostos uns dentes incisivos superiores de ouro, em forma de malhos e isto a deformava mais ainda;
- Zezinho, era excepcional, naquela época dizia-se mesmo “retardado”;
- Edith, era muito pequena, magra e sem beleza feminina...;
- Mundinha, era franzina como os pais e tinha boa configuração física, mas mostrava extravagâncias nas atitudes, revelando falha mental;
- Rosita casou com Antônio B..., de Juazeiro, que todos chamavam Antônio Doido. Quase cego, no dia do casamento olhou a noiva bem de perto e disse: “Eu casei com a Mundinha”! O Major falou: “Não! Você me pediu Rosita e se casou com a Rosita”! Ele disse: “É, eu fico com este diabo mesmo”.

A brochura do Padre Neri “A grande Família Bezerra de Menezes” me foi gentilmente cedida pelo meu amigo e vizinho Francisco (Chico) Callou.


Joaquim Pinheiro

A dialética da compaixão Everardo Norões


Todas as janelas da literatura de Ronaldo Brito – seja ela conto ou teatro – abrem-se para uma cidade imaginária. No entanto, essa cidade existe. E o que a torna real são seus personagens, seres que habitam ruas, praças e, sobretudo, nossos silêncios. Por onde passei ou vivi, encontrei personagens como Maria Caboré ou Sebastião Candeia, mas que se chamavam, por vicissitudes da geografia ou da cultura, Mustafá ou Mohamed, Ibraimo ou Abdelkader.
Para a literatura, as tragédias humanas necessitam de um cenário; mas pouco importa se esse cenário é Crato, Recife, ou um lugarejo mítico situado em algum cosmos particular, como a Santa Maria de Onetti.
No fundo, ele é sempre o disfarce de um lugar que não existe. E é esse o grande milagre da literatura.
O Crato de Ronaldo é um lugar universal e ao mesmo tempo extremamente seu, porque apenas ele o observa assim: como a Orã de Camus, a Cairo de Taha Hussein, a Maputo de Mia Couto, ou a Recife de Joaquim Cardozo.
Numa visita da banda cabaçal Irmãos Aniceto, ao país do Sul, um de seus integrantes foi levado a um alto edifício. E, então, alguém lhe perguntou o que avistava dali. – O Crato!, respondeu. Ronaldo Brito é feito do mesmo fogo e do mesmo barro desses irmãos Aniceto.
Os personagens de Ronaldo são protagonistas de um sertão destruído, território da desolação, onde os valores arcaicos foram triturados por uma espécie de máquina infernal, mas que sobrevivem pela alquimia da imaginação,
única matriz da literatura. Maria Caboré, que entrava “na simplicidade das pedras do rio, onde sentava para enxugar-se do banho”, é sua Santa Maria Egipcíaca; Sebastião Candeia, personagem de um dos contos do livro, é uma metáfora do sofrimento metafísico do autor: o combate contra si mesmo e contra esse seu mundo desmantelado e perdido. É também a contrapartida do absurdo jogo da criação, no qual ele se percebe o eterno e inevitável perdedor:
por mais que pense ter criado um novo invento acaba por se dar conta de que apenas repete os pequenos dramas do homem de qualquer lugar.
A literatura de Ronaldo Brito, no seu Livro dos homens, opõe-se a uma outra literatura que sugere um sertão de brasões, de fidalgos e de reis, simples liturgia de veneração às sombras. As sombras do que somos.
É uma literatura do real transfigurado, e não a figuração do irreal.
O fio da meada dos contos do Livro dos Homens nos conduz à linhagem clássica de Guy de Maupassant: narrativas com inícios e fins, pontuadas pelas contingências do humano, marcadas pelo sentido da exatidão, o rigor do estilo.
Mas, o que mais surpreende e cativa nestes contos de Ronaldo (entre os quais destacaria Qohélet) é aquela mesma paixão pelo próximo que transborda dos livros de um outro escritor, médico, como ele: Miguel Torga, o grande mestre do conto português.
Em cada uma das histórias deste livro encontramos uma pequena epopéia
da loucura e da desgraça do Livro dos homens, que são, afinal, os eternos alimentos do entretenimento e da compaixão do Leitor.


 por Everardo Norões

A Crônica Brasileira - Por: Stela Siebra Brito





CLARICE LISPECTOR E A CRÔNICA

Clarice Lispector escreveu crônicas no Jornal do Brasil, de 1967 a 1973, reunidas no livro A descoberta do mundo, publicado pela primeira vez em 1984. Nestes textos Clarice se mostra mais: “nesta coluna, estou de algum modo me dando a conhecer”, comenta na crônica de 21 de setembro de 1968. “Na literatura de livro permaneço anônima e discreta”. Meses antes, em crônica de 22 de junho, “Ser Cronista”, a escritora afirma: “Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente sobre o assunto” e faz uma série de observações sobre o que é crônica e seu estado de espírito em relação a “ir me tornando pessoal demais”.
Se a crônica é um gênero leve, ameno, de leitura fácil, consegue celebrar o cotidiano e mostrar belezas insuspeitadas, Clarice o fez com sinceridade, sem mudar sua forma de escrever. Na crônica já citada (22 de junho) a autora declara seu desejo de aprofundamento da comunicação na sua escrita consigo e com o leitor e diz estar contente: “agrada-me que ele (o leitor) fique agradado”.
Na crônica de 27 de novembro de 1970, A Antiga Dama, a escritora relata com singularidade e profundidade, mas numa linguagem leve e de fácil leitura, o dia seguinte da visita que uma senhora, moradora de uma pensão, fez à casa do filho, num certo domingo, e onde aí pernoitara e tomara banho na banheira da nora. Neste texto, Clarice trata de um assunto corriqueiro, por isso circunstancial, mas dá-lo um acabamento magistral, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza. De um passeio de uma velha mãe à casa do filho, a autora mostra o retrato de uma mulher que sai do seu dia a dia, e que logo no retorno à pensão está imbuída de uma altivez, de uma certeza de que “a família era a base da sociedade”, para mostrar-se no fim do dia, após vomitar o jantar da casa do filho, antes elogiado como “magnífico”, uma rainha destronada, derrotada.
A marca da escritura de Clarice Lispector está presente, como ela quer, como ela sabe fazer. E assim finaliza a crônica: ”O Rei Lear. Estava quieta, grande, despenteada, limpa. Fora feliz inutilmente”. Eis o texto:

A ANTIGA DAMA
Morava numa pensão da Rua São Clemente. Era volumosa, e cheirava a quando a galinha vem meio crua para a mesa. Tinha cinco dentes e a boca seca, árida.
Sua reputação passada não fora inventada: ainda falava francês com quem tivesse oportunidade, mesmo que a pessoa também falasse português e preferisse não corar com a própria pronúncia. A ausência de saliva tirava-lhe qualquer volubilidade da voz, dava-lhe uma contenção. Havia majestade e soberania naquele grande volume sustentado por pés minúsculos, na potência dos cinco dentes, nos cabelos ralos que, escapando do coque magro, esvoaçavam à menor brisa.
Mas houve a segunda-feira de manhã em que ela, em vez de sair de seu minúsculo quarto, veio da rua. Estava lisa e com o pescoço claro, sem nenhum cheiro de galinha. Disse que passara o domingo na casa do filho, onde pernoitara. Estava de vestido preto de um cetim já fosco. Em vez de ir para o quarto mudar de roupa, vestir um de seus vestidos de algodão barato, e ser apenas uma pessoa sozinha que mora numa pensão, sentou-se na sala de visitas, prolongando o domingo, e disse que a família era a base da sociedade. A propósito de qualquer coisa, referiu-se de passagem a um banho de imersão que tomara na confortável banheira da nora – o que explicava a sua falta de cheiro e o pescoço não encardido. Deixando sem jeito os pensionistas ainda de pijama e robe, ficou sentada horas junto ao jarro da sala, só tendo conversas adequadas a um suposto salão invisível.
De tarde, via-se que os sapatos abotinados já lhe apertavam demais os pés. Continuou, porém, a dama na sala de visitas, levantada a grande cabeça de profeta.
Mas, na hora em que elogiou o jantar magnífico da casa do filho, seus olhos se fecharam de náusea. Depressa foi para o banheiro, ouviram-na vomitar, recusou ajuda quando lhe bateram à porta do quartinho.
Na hora do jantar, apareceu e pediu apenas uma xícara de chá: estava de olheiras marrons, com o largo vestido de estampadinho de ramagem, e de novo sem cinta e soutien. O que ainda restara de estranho era a pele mais clara. Alguns pensionistas evitaram olhá-la e à sua derrota. Não falou com ninguém. O Rei Lear. Estava quieta, grande, despenteada, limpa. Fora feliz inutilmente.


Stela Siebra Brito

Grande, Grande, Grande - Por José do Vale Pinheiro Feitosa


Uma canção que não deve às sujeições do amor da nossa brega canção de quermesse. Composta por A. Testa - T. Renis - 1972 e também cantada por Mina Mazzini e Vikki Carr: Grande, Grande, Grande. Sem categorias de lutas políticas e sociais. Sobretudo a sujeição ao amor, o mais dramático, injusto e verdadeiro ato da humanidade em sua marcha de permanente superação, perdas e reencontros.

Con te dovrò combattere,
non ti si può pigliare come sei.
I tuoi difetti son talmente tanti
che nemmeno tu li sai.

Sei peggio di un bambino capriccioso,
la vuoi sempre vinta tu.
Sei l'uomo più egoista e prepotente
che abbia conosciuto mai.

Ma c'è di buono che al momento giusto
tu sai diventare un altro.
In un attimo tu
sei grande grande grande, le mie pene
non me le ricordo più.

Io vedo tutte quante le mie amiche
son tranquille più di me.
Non devono discutere ogni cosa
come tu fai fare a me.

Ricevono regali e rose rosse
per il loro compleanno.
Dicon sempre di si,
non hanno mai problemi, son convinte
che la vita è tutta lì.

E invece no, invece no
la vita è quella che tu dai a me.
In guerra tutti i giorni,
sono viva, sono come piace a te.

Ti odio e poi ti amo,
poi ti amo, poi ti odio
e poi ti amo.

Non lasciarmi mai più.
Sei grande grande grande, come te
sei grande solamente tu.

Ti odio e poi ti amo,
Poi ti amo, poi ti odio
e poi ti amo.

Non lasciarmi mai più.
Sei grande grande grande, come te
sei grande solamente tu.

Non lasciarmi mai più.
Sei grande grande grande, come te
sei grande solamente tu.

Com esta tradução em Português quase ao pé da letra. Diferente da feito por Zizi Possi:

Contigo deverei combater,
não posso aceitar-te como és.
E teus defeitos são tal modo tantos
que nem mesmo tu o sabes.

És mais que um menino caprichoso,
Queres que sempre vença tu.
És um homem mais egoísta e prepotente
que jamais hei conhecido.

Mas tem de bom que no momento justo
sabes tornar-te um outro.
Num átimo tu
és grande grande grande, minhas penas
não as recordo mais.

Eu vejo tudo quanto minhas amigas
são mais tranqüilas do que eu.
Não devem discutir cada coisa
como tu me obrigas a fazer.

Recebem presentes e rosas rubras
pelos seus aniversários.
Dizem sempre que sim,
não tem nunca problemas, são convictas
que a vida é toda ali.

E ao invés não, ao invés não,
a vida é aquela que tu me dás.
Em guerra todos os dias,
sou viva, sou como agradas a ti.

Te odeio e após te amo,
após te amo, após te odeio
e após te amo.

Não me deixes nunca mais.
És grande grande grande, grande como tu
és grande somente tu.

Te odeio e após te amo,
após te amo, após te odeio
e após te amo.

Não me deixes nunca mais.
És grande grande grande, como tu
és grande somente tu.

Não me deixes nunca mais.
És grande grande grande, igual a ti
és somente tu.

Se um pouco mais, nada como a canção na voz de Mina ou do próprio Tony Renis, nele invertendo o papel do homem pelo de uma mulher. No Youtube é fácil a de Mina.

 por José do Vale Pinheiro Feitosa

Casamento Perfeito- Por Zélia Moreira



Neste espaço o cinema brasileiro também tem destaque.
Trago pra vocês o filme "Deus é Brasileiro". Comédia de 2003, dirigida por Cacá Diegues, baseado no conto de João Ubaldo Ribeiro," O santo que não acreditava em milagres", e adaptado por Cacá Diegues, João Emamuel Carneiro e Renata de Almeida. Tem no elenco Antônio Facundes, no papel de Deus, que resolve tirar férias e vem ao Brasil para conversar com seu substituto, mas tem dificuldade de encontrá-lo( claro!) e na busca, viaja pelo país.
Tem portanto um lado cômico/irônico, na abordagem de problemas do cotidiano brasileiro. Mas o que quero enfatizar mesmo é o lado poético.
Em algumas cenas e principalmente na cena final - o que vemos é poesia pura!

Cenário perfeito: um casal apaixonado, um barquinho à deriva num lago sob a luz do luar, tendo como fundo musical Melodia Sentimental de Heitor Villa-Lobos/Dora Vasconcelos, na voz de Djavan.
Pronto! Independente de qualquer deslize ocorrido no decorrer do filme, esta cena é impagável.
Vamos conferir?




Zélia

Ícaro - Por José Flávio Vieira


Olhos fitos na avenida, tudo parecia inimaginavelmente diminuto. Dali de cima, as coisas se desencadeavam em slow-motion, como se à distância a vida não tivesse pressa. Os homens e os veículos se deslocavam lentamente, como se adivinhassem premonitoriamente que a correria é um anzol lançado pelo abismo. Soava, em meio a tudo ,um silêncio grávido e perturbador. Seria essa a idêntica visão que teria desse mundo, quando já não fizesse parte dele? Desfeito o zoom , tudo parecia tão perfeito! As ruas traçavam paralelas e perpendiculares quase geométricas; os carros transitavam com excessivo cuidado e as pessoas marchavam com passos simétricos e aparentemente calculados. Até o mais céptico dos homens , àquela distância, terminaria por concluir que deveria haver um maestro, de batuta erguida, dirigindo, ao longe, aquele espetáculo. O tabuleiro de xadrez , estendido lá em baixo, com suas casas traçadas e divididas pelos fios elétricos, pareciam aguardar a mão gigantesca pronta a marcar a próxima jogada. Súbito, a aguda simetria da paisagem lhe feriu a alma, como se ,de repente, fizesse um contraponto com seus caóticos conflitos interiores. Aos cinqüenta anos, caminho estreito à frente, os dias todos exatamente iguais , como se clonados por um anjo mau; um casamento que se findara por decurso de prazo mas que teimava em apodrecer no meio do povo; um emprego num Banco onde era ameaçado diuturnamente : "-- Sabe como é seu Ermano, o mercado anda muito exigente, essas máquinas todas fazem o serviço do senhor, com a vantagem de não reclamar e nem Ter cara de ressaca...ou o Senhor produz ou vai plantar batatas! ". A solução para todos os seus problemas estava bem ali, diante dos seus olhos, alguns poucos segundos e..... Tumm! Resumiria-se tudo na perplexidade curiosa dos transeuntes, nas lágrimas de crocodilo da família, na fingida cara de tristeza do chefe e dos colegas e na tranquilizadora franja do esquecimento. Ali , porém , estava a contemplar a paisagem e o mundo daquela altura parecia tão perfeito, tão harmonioso, que por um momento se afastaram todas as suas amarguras e frustrações , como se a exatíssima vastidão do universo sorvesse suas mesquinhas pequenezes. Fechou um pouco os olhos para recobrar as forças e caminhou em direção ao abismo. Estancou , novamente, quando, como numa miragem, foi despertado: viu surgir no edifício ao lado, num salão de festas de cobertura, um palhaço, puxando a roda com várias crianças e entoando o "Atirei o Pau no Gato". Como numa projeção de slides, retornou ao aniversário dos seus cinco anos, quando a vida aparecia para ele igualzinho à Casa de João e Maria : paredes de bolo, telhas de chocolate, ladrilhos de bombons. Aquela certamente era a trilha sonora perfeita , para o seu vôo de Ícaro: suas frágeis asas tostadas apelo sol da realidade . Observou, porém, antes da decolagem, mais detidamente o palhaço, com sua máscara, seu nariz de framboesa e sua maquiagem carregada. Então, foi como se baixasse o santo. Somos todos tantos dentro de nós mesmos, personagens sem conta neste palco da vida..., pensou, se um não vem desempenhando bem o seu papel, elimina-se este personagem, ao invés de incinerar toda a peça e destruir o teatro. Deu meia volta, desceu as escadas. Em casa mandou a mulher à merda, no trabalho mandou o chefe à PQP e só parou quando teve a certeza absoluta que havia suicidado completamente o Ermano. A partir daí, renasceu em meio aos seus eus tantas vezes confusos , loucos , contraditórios, mas redivivos.

J. Flávio Vieira

P.S. - Esta é para Socorro e foi inspirada numa vôo real acontecido com o Normando.

As estrelas por nomes de mulheres - Por José do Vale Pinheiro Feitosa


Os pequenos fazendeiros do nordeste eram tudo: pecuaristas, criadores de bode, galinha no terreiro, porco no chiqueiro, legumes e algodão, alguma tarefa de maneio e a feira por dinheiro. Por isso mais do que singela, é sincera a estrofe do boiadeiro: são dez vaquinhas é muito pouco é quase nada...

E aquele homem rico como o pretendente de Xanduzinha, dava nomes ao seu rebanho. Assim como os primeiros observadores dos céus. Quando a visão do universo afinal desmedido ainda se fixava em constelações e estas em estrelas. E como eram lindos os nomes das estrelas, pela inteligência da civilização árabe, pela filosofia dos gregos e dos arautos do império romano. Quem sabe algo da Pérsia, talvez do Hindustão ou do Império Chinês.

Como é bom abrir a porteira da noite e ficar pastoreando as estrelas do firmamento. Tão lindos nomes femininos que gostaria de procriar tantas mulheres só para lhes dar os nomes das estrelas. Ficar na beira do universo pronunciando a cada sílaba os seus nomes. Chamar uma delas de Acamar, aquela que habita a Constelação de Eridam; ou Adara em Cão Maior; Al Nair no Cruzeiro do Sul; Albireo, Alcor, Aldebaran a alfa da Constelação do Touro. E em Perseu achar Algor; seguir adiante com Alhena e Alpha Centauros. Corre o olhar até Altair, Alzir, Antares na Constelação do Escorpião.

Quando encontramos Atlas e temos uma que se chama b.u.n.d.a uma sigla na grafia certa. Betelgeuse em Orion; Canopus, Casto, Chara, Decrux, Diadem, Electra, Furud, Gianfar, Grumium, Hadar, a nossa pequenina, miudinha quase nada Intrometida do Cruzeiro do Sul. Jih, Kaus australis; Lys, Lúcida Anseris; Mayara na Constelação do Touro. Megrez, Merga, Mimosa, Miram, Muscida, Naos, Nashira, Nusakan; Pleione, Praecipua e Prócion que é a Alfa de Cão Menor. Rana, Rasala, Sargas, Shaula, Sualocin, Tania Borealis e a Tania Autralis, Terebellum, Tyl e Zavijava.

Mas os rebanhos cresceram tanto, os telescópios foram ao limite da máquina e são tantas galáxias, mais do que pensávamos das estrelas, que tudo deixou de ser nomeado. Agora são códigos incompreensíveis e áridos como a linguagem binária dos computadores.


 por José do Vale Pinheiro Feitosa

Paixão Fulminante - Por Joaquim Pinheiro





Início dos anos 70, apartamento de dois quartos no bairro da Torre, Recife, 6 acadêmicos, todos cratenses, assistiam um festival de músicas italianas numa TV preto e branco. Exceto o Dr. Cori, os demais eram primos entre si. O papo rolava solto, nem as músicas nem os intérpretes monopolizavam a atenção do pequeno grupo de telespectadores. De repente, um primo deu um salto e exclamou: Que coisa linda!!! Pregou os olhos no monitor e acompanhou a apresentação até o final como se estivesse em transe. Paixão fulminante. No dia seguinte, o primo percorreu as lojas de disco da cidade em busca do LP daquela musa, da qual só sabia o primeiro nome. Recorreu a um vizinho jornalista com trânsito na Rádio Jornal do Comércio para conseguir fotos da cantora. Dois ou três meses depois da aparição na TV, o “Romeu” cratense, então morador da Rua Conde de Irajá, entrou em casa com semblante de ganhador de medalha de ouro mostrando, como troféu, uma página de revista italiana com a foto preto e branco da cantora que arrebatou seu coração. A ilustração permaneceu algumas semanas afixada na parede ao lado do beliche do apaixonado e depois desapareceu. Ignoro como e quem deu fim à ilustração.

Há poucos dias, recebi um e-mail com endereço eletrônico do youtube e, para minha surpresa, a personagem era a artista responsável pela perturbação amorosa do primo. Trata-se de Romina Power, filha do famoso artista de filmes épicos de Hollywood, Tyrone Power. Para os padrões dos anos 60/70, era realmente linda. Confiram.


Joaquim Pinheiro


No ho l´etá - por José do Vale Pinheiro Feitosa


Quando compreendi o que me dizia, poderia ser, mas não foi uma decepção. De fato estava confuso. Era uma menina de 10 anos, eu tinha 19, não podia admitir, mas ambos nos apaixonáramos. Ela, um pássaro voando, eu penitente no estrado do confessionário. Jamais poderia dizer o que sentia, mas ela não tinha dúvida, enquanto eu negava. Admitia que não pudesse admitir. Hoje sei que estava apaixonado, mas na ocasião desempenhando o papel do adulto ético, um horror à paixão pedófila. Enquanto representações sinceras, eram outros os sentimentos. Trairiam a firmeza ética? Sim.

Mas não de momento, qual fraqueza de ocasião. Uma traição ao longo do tempo.

Irmã de um colega desde os tempos da alfabetização. Lembro quando a família comemorou o nascimento da menina. O seu crescimento, brincado, atrapalhando nossos esforços de estudo, sempre pedindo que eu desenhasse em folhas de papel que roubava do pai, paisagens e interiores de casas para brincar. Com o desenho no chão, as bonecas, carrinhos, miniaturas de animais, daquele cenário tosco, do aprendiz de desenhista, ela fazia um enredo sem igual. Perdi concentrações nas notas de colégio, observando, sem querer admiti-lo, a narrativa fantástica que bordava sentimentos.

No aniversário de sete anos. Eu tinha 16 anos, já me abraçava às adolescentes em boleros de corpos fundidos, nas matinês do clube social. Ludibriava a censura na porta do cinema para assistir os filmes de 18 anos. Fumava, me embebeda, lia romance, ouvia rock, trocava revistas do Carlos Zéfiro. Não fiquei tuberculoso com tamanhos esforços, nem a mão criou cabelos. Mas fui ao aniversário, apesar da pouca oferta naquele mundo infantil. E os olhos hipnóticos do coração retiraram com um simples espinho minha armadura juvenil:

- Eu vou me casar contigo e a teu lado viver a vida toda brincando.

Confissão que provoca riso. Cara de príncipe encantado, piadista de salão, queria disfarçar a intensidade do olhar dizendo tais palavras. Para equilíbrio na cena insegura, contei histórias de contos de fada, mas ela não mudou o olhar. Era firme e certeiro como são as convicções da história. Uma vez dito, aconteceria.

Quando compreendi a cena, a sombra do pecado cobriu meu coração. Viera jantar com a família, pois iria para a capital fazer universidade. O meu colega saiu com a namorada, os pais foram ao cinema, mas a menina, então com 10 anos, pediu-me para ficar um pouco mais e ouvir um disco.

Ela me deu a mão quente e puxou-me na direção da vitrola. Um perfume de paraíso saia dos seus cabelos, os seios nascentes despontavam sob o tecido fino, a cintura afinava e os quadris se avolumavam. Enquanto o mundo girava com as mudanças no corpo da menina, disfarçava de mim mesmo, o que sentia ao observá-las. Levou-me até um sofá junto à janela. Ligou o som, pôs o disco que despencou no prato feito meu sentimentos. Começava a girar e a agulha a correr os sulcos e ela sentou-se a favor da luz da sala, deixando seu rosto iluminado face ao meu. Olhar profundo e muda enquanto a música tocava. Em italiano, na voz de Gingliola Cinquetti, um tom de menina cantando:

Non ho l´etá. Non ho l´etá..per amarte...No ho l´etá... Per uscire solo con té.

Fervia e gelava em ondas sucessivas. Na música a mesma promessa de três anos atrás: Deixe que eu viva um amor romântico, na espera que chegue aquele dia. Não tenho idade. Para amar-te. Se você quiser. Se você quiser. Esperar-me naquele dia. Terá todo o meu amor por ti. A vitrola fez a última volta do compacto e desligou.

Ela foi comigo, sem dizer mais nada, até a porta de casa. Estiquei o braço para despedir-me e ela cobriu meu cumprimento com ambas as mãos. Mas não pronunciou sequer um adeus. Apenas prendia-me na eternidade com seu lindo e profundo olhar verde. Eu balbuciei algo como:

- Esperarei.

Esperei durante todo o curso universitário. Filho de pais pobres, trabalhando, fiquei seis anos sem voltar à cidade. A marca de uma linguagem simbólica, enviava cartas com uma única frase: a cada dia a espera diminui. Uma meizinha para minhas paixões arrasadoras à proporção que recebia a resposta de volta. Não eram letras, bilhetes ou poemas. Dentro do envelope a foto de uma menina virando adolescente, a adolescente se tornando o ente mais lindo que o mundo inventa em natureza de mulher. A vida e suas magnitudes por razão de viver. Apelei ao espiritismo: fôramos amantes em vidas passadas. Amor riscando o zênite da eternidade.

No início do sexto ano da minha ausência, as fotos continuavam afirmando a linda mulher, mas o cenário havia se modificado. Tinha Recife ao fundo. No final daquele ano a beleza dela era irretocável, mas a moda da roupa se modificara. Estilo mais militar, calças, jaquetas, cabelos presos, um ar de masculino feio como se fosse possível. No sétimo ano, assim que completei o curso, tratei de ser contratado na minha cidade.

Viver a prometida plenitude, embora a espera fosse um grande motivo para se viver. Assim que cheguei à cidade, um bilhete para ela: agora terás todo o meu amor. No meio do ano as fotos foram paulatinamente ficando coletivas, ela e um grupo de mulheres e depois com outros homens. Nas férias ela estava atolada de estudos e não veio. No final desse ano a quantidade de fotos diminuiu.

Após a passagem do ano, um bilhete dando-me o horário de chegada à cidade. Com meu carro fui até a rodoviária. Ela desceu iluminando a rodoviária. Mais que as fotos. Não a beijei, continuava encostado à barreira entre a menina e o adolescente. Fui saindo, lentamente, da rodoviária. Ela pediu-me para subir um morro que dominava a cidade e no qual havia um belvedere. Ficamos olhando a nossa cidade, ainda sem dizer palavras, tramando o futuro. Nisso ela foi até o bagageiro e pegou um gravador. Sentou-se ao meu lado e o ligou.

- Caminhando contra o vento. Sem lenço e sem documento...No sol de quase dezembro eu vou.

Olhando para a cidade, nem uma vez para mim, continuou ouvindo a fita, agora em outra música:

- Soy loco por ti América....Soy loco por ti amore.....Estou aqui de passagem, sei que adiante um dia vou morrer, de susto, de bala ou vício...

Agora explico os sentimentos traídos ao longo do tempo. Ela no movimento armado contra a ditadura, foi para o exílio e hoje está casada com um Canadense e mora na Austrália.

 por José do Vale Pinheiro Feitosa

Santa Rita de Cássia


Santa Rita de Cássia, nascida Rita Lotti (Roccaporena, 1381 — Cássia, 22 de maio de 1457), foi uma monja agostiniana da diocese de Espoleto, Itália. Foi beatificada em 1627, canonizada em 1900

Curiosidades

Santa Rita é, juntamente à Santa Filomena, uma das padroeiras do município de Codó, no Maranhão.
Santa Rita é a padroeira do município de Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, sendo no Nordeste considerada a Madrinha dos Sertões. Nesse município está localizada uma imagem de Santa Rita de 56 metros de altura, sendo a maior estátua católica do mundo e a maior estátua das Américas, superando com folga o Cristo Redentor (com apenas 38 metros) e até a estátua da liberdade (44 metros). Santa Rita de Cássia é a padroeira da cidade de Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo. Cujo aniversário é 22 de Maio dia do falecimento da Santa.

* Sta Rita é a santa de devoção da minha mãe. Li sobre a sua vida, na infância, numa revista em quadrinhos.Depois escutei pessoas falarem: quem é devoto de Sta Rita sofre muito! 
Amanhã é também um dia especial par uma cratense do nosso coração: aniversário de Dona Anilda Arraes. Figura presente em todos os momentos da minha vida..Respeitada e amada !

Um abraço amoroso, grande mestra !

Foto das irmãs : Alda, Anilda e Almina Arraes

AO POETA ZÉ MARCOLINO - Marcos Barreto de Melo




“Oh! que saudade imprudente
No meu peito martelando
Quando estou só me lembrando”
do meu saudoso poeta

Com o peito apertado
De um matuto aperreado
Quero cantar num repente
O que o meu coração sente
Quando penso no destino
Que num gesto repentino
Carregou do nordestino
O grande Zé Marcolino

Poeta Paraibano
Da cidade de Sumé
Fez o povo arrastar pé
Nas quatro festas do ano
Cantando baião e côco
Numa sala de reboco

No Pajeú, no Piancó
A saudade é uma só
A cantiga do vem-vem
Hoje é triste como nunca
E o pássaro carão
Já não faz adivinhação
Inconformado com o destino
Do mestre Zé Marcolino

Zivaldo Maia - Zivaldo Canta



MÚSICA DO CEARÁ

Trechos de uma entrevista concedida por Zivaldo à jornalista Ethel de Paula e publicada no jornal "O Povo":

"No Sítio São José, em Jaguaruana, lugarejo-natal, as noites eram de violadas. Zivaldo Maia cresceu embalado pelo violão de dois irmãos e dos primos, porque o pai já havia aposentado os oito baixos. Antes de dormir, ouvia, ao longe, as serenatas, consolo de quem sequer possuía rádio de pilha. O dom acordou cedo, quando nem bem completara cinco anos de idade, o que surpreendeu os de casa. ''Sentia quando meus familiares erravam na harmonia e no dia seguinte, toco de gente, criticava'', recorda o hoje virtuose. Compositor, arranjador e intérprete, o mestre aperfeiçoou-se ouvindo. ''Vim para Fortaleza com mais de 30 anos e passei a observar violonistas referenciais como Nonato Luís e Pedro Ventura, criando novos acordes baseado no que escutava. Nunca pude viver apenas de música. Em compensação, tive encontros memoráveis e posso me considerar realizado por ter ouvido elogios do maior violonista de todos os tempos: Raphael Rabello''... "Na memória, Zivaldo guarda com particular afeto o feliz encontro com Lua, durante uma de suas passagens por Fortaleza, à beira-mar. ''Quem me apresentou a ele foi Padre Gotardo, autor do hino composto para o Papa João Paulo II. À mesa, toquei ''Violando'', de minha autoria, que inclusive já foi gravada por Nonato Luís e Sebastião Tapajós. Ele gostou tanto que no mesmo instante pediu para ir em minha casa. Queria compor junto. Nessa tarde, fizemos a primeira parte de uma música, ele solfejando e eu ao violão. Não chegamos a terminá-la, mas o fato é que tenho esse material inédito entre minhas gravações caseiras'', revela."

Violonista com técnica apurada que mistura o erudito e o popular, Zivaldo gravou seu primeiro CD em 1996 "Zivaldo Puro e Simples" , onde registrou suas canções ao violão. Sua composição mais gravada é "Violando", a mesma que ele mostrou ao Rei do Baião. Ela foi registrada por Sebastião Tapajós e João Cortez no CD "Brasilidade" e por Nonato Luiz em dois CDs, "O Choro da Madeira" de 99 e "Ceará" de 2001.
Em 1999, Zivaldo decidiu gravar um novo disco, desta vez cantando também. E o resultado é o registro de canções que falam de um tempo que deixou saudade em quem viveu e em quem não viveu também, mas gostaria de ter estado lá. O CD nos remete a uma Fortaleza tranquila, com os seresteiros embaixo das janelas e moças românticas espiando pelas frestas. Para conseguir esse clima, Zivaldo recorreu a parceiros como Jair Amorim, Oímpio Rocha, Alano Freitas, Fausto Nilo, Ana Cléria, Hildeberto Torres e Totonho Laprovítera que colocou letra na famosa "Violando". Há também um pout-pourri de sambas que vão de Ataulfo Alves e Noel Rosa à Luiz Assumpção. O CD traz duas participações especiais: Fausto Nilo cantando a parceria dele com Zivaldo e Ayla Maria , interpretando "Violando".

Músicos que participam do disco: Adelson Viana (piano/acordeon), Tarcísio Sardinha (violão/cavaquinho), Aroldo Araújo (baixo), Carlinhos Ferreira (clarinete), Luizinho Duarte (bateria/percussão), Aluísio (pandeiro), Aguiar (trombone), Zé Carlos (trompete) e Carlinhos Patriolino (bandolim).

ZIVALDO MAIA - ZIVALDO CANTA
1-Bobô (Zivaldo Maia/Olimpio Rocha)
2-Pout-pourri: Pois é (Ataulfo Alves)/Aperto de mão (Jaime Florence/Horondino Silva/Augusto Mesquita)/Arrependimento (Silvio Caldas/Cristóvão de Alencar)/Boneca de pano (Assis Valente)/Feitiço da Vila (Noel Rosa/Vadico)/Fita Amarela (Noel Rosa)/Adeus, Praia de Iracema (Luiz Assumpção)/Não me diga adeus (Luis Soberano/João Correia da Silva/Paquito)/Lata d'água(Luis Antonio/J.Jr)/Só pra chatear (Píncipe Pretinho)
3-Último apelo (Zivaldo Maia/Alano Freitas)
4-Lua Branca (Chiquinha Gonzaga)
5-Foi assim (Zivaldo Maia/Olímpio Rocha)
6-Naquele tempo (Pixinguinha/Benedito Lacerda/Jair Amorim)
7-Princesa (Zivaldo Maia/Jair Amorim)
8-Grito nordestino (Zivaldo Maia/Hildeberto Torres)
9-Promessa (Zivaldo Maia/Olímpio Rocha)
10-Linhas melódicas (Zivaldo Maia/Ana Cléria)
11-Violando (Zivaldo Maia/Totonho Laprovítera) - voz: Ayla Maria
12-Ianê (Fio de Esperança) (Zivaldo Maia/Fausto Nilo) - voz: Fausto Nilo

Tiago Araripe - Compacto com Tom Zé



Nos anos 70, o cantor e compositor cearense TIAGO ARARIPE era radicado em São Paulo e, foi lá, que ele realizou o registro fonográfico que se tem de sua obra musical. Sua primeira gravação em disco, foi um compacto simples em parceria com Tom Zé pela gravadora Continental, em 1974.

TIAGO ARARIPE (com TOM ZÉ) - Compacto simples da Continental
CS-50.571 - 1974
Lado A: Conto de fraldas (Tom Zé)
Lado B: Teu coração bate, o meu apanha (Tiago Araripe/Décio Pignatari)

Marcadores: Tiago Araripe

Cleivan Paiva - Guerra e Paz


"Cleivan Paiva é de Simões, Piauí. Cearense por destino. Em sua primeira arribada pousou, de viola em punho, no Cariri cearense. Em Crato, início dos anos setenta, uniu-se a poetas do Grupo de Artes Por Exemplo-principalmente ao poeta Rosemberg Cariry. Nasceram as primeiras parcerias e vieram os tempos dos "Ases do Ritmo", grupo local de bailes, e as apresentações, como compositor, no movimento artístico da região. No violão e na guitarra, Cleivan tecia o fio de sua trajetória musical. Tudo lá, registrado no seu fraseado: do toque seresteiro-herança paterna- à batida de bossa nova; do ponteio da viola de feira àquela escala ao modo de um velho blue; beatlemania, bandas cabaçais, jovem-guarda, rodas de maneiro-pau e tropicália; balacubaco geral que o artista mais atento e inquieto incorpora sem copiar e devolve sob a forma de composições de extrema originalidade. Tudo, enfim, sem render-se aos modismos das chamadas "indústrias de cultura". "Guerra e Paz" é isto aí: uma mostra da materialização dessa longa trajetória sonora, vivenciada na geografia de díspares regiões. Nos anos 70, Cleivan formou, ao lado de Bá Freire, Isânio Santos, Audizio (Tapioca) e Bill Soares (ex- Papa Poluição) - o Ave de Arribação. O grupo arribou mesmo e, fatalmente, atuou em São Paulo; shows no metrô, nas praças e nos teatros da periferia. Quando desfeito, seus integrantes buscaram outros rumos musicais. Cleivan fez (faz) de tudo no ramo; desde gravações, como acompanhante em estúdios, até apresentações em casas noturnas. Também atuou em festivais: na Tupi classificou "Perímetro Urbano" (Nota: Na ocasião defendida por Marku Ribas) , incluída nesse disco (nele rende tributo a Victor Assis Brasil, tocando-a com arranjo do genial saxofonista). Antes disso, participou do Festival Universitário de SãoPaulo, com trabalhos de parceria com Rosemberg Cariry e Ivan Alencar. Conhecíamos Cleivan através de inúmeras fitas que caíam em nossas mãos, neste circuito ultramarginal, revelador das mais ricas reservas musicais que não estão no mercado. Mas, por aí a obra fica escondida e só os mais chegados tem o privilégio de ouvi-la. É necessário, então, romper o cerco imposto pela indústria fonográfica multinacional, aliada a certos impérios da comunicação vendidos aos seus interesses. E pinta o inevitável disco independente ou alternativo. Guerra e Paz é mais um nesta desigual batalha contra os "gigantes" que anunciam um certo "marasmo cultural"no atual momento brasileiro e tiram do colete rendosos modismos musicais que vem "salvar"o país desta suposta indigência criativa . Toda esta farsa se passa na terra de Vandré, Hermeto, Elomar, Cego Oliveira e Chico Maranhão; isto sem falar em tantos outros músicos e compositores de extraordinário talento que só tem suas canções registradas nos cassetes da vida. São os passageiros daquele trem que avança, conforme escreveu Marcus Venícius, "sem chegar a nenhuma estação/de rádio/sem fazer nenhuma parada/de sucesso!" Até quando permanecerá este boicote contra a mais legítima música popular brasileira ? Sabemos apenas que é preciso teimar na resistência, na lutra contra este imperialismo cultural."

Texto de Firmino Holanda escrito em 1984. Atualmente Cleivan Paiva mora no Crato, CE.

CLEIVAN PAIVA - GUERRA E PAZ
Participações especiais de Luanda (voz) e Vitor Assis Brasil (arranjo de base da música
"Perímetro urbano"
Músicos: Marcos Juan, Proveta, Gil, Demontier, Ubaldo, Isânio Santos, Tapioca, Rubens Quinin e Cacá. Cleivan Paiva toca violão e guitarra, além dos vocais.
Lado A:
1-Raso da Catarina (Cleivan Paiva)
2-Santa Cruz de Capibaribe (Oswaldinho)
3-Rosa (Cleivan Paiva)
4-Canudos (Cleivan Paiva/Rosemberg Cariry)
5-No sertão e na cidade (Cleivan Paiva/Rosemberg Cariry)
6-Para cantar o amor distante (Cleivan Paiva/Rosemberg Cariry)
Lado B:
1-Guerra e Paz (Cleivan Paiva/Rosemberg Cariry)
2-Angorá (Cleivan Paiva/Luanda)
3-Perímetro urbano (Cleivan Paiva/Aloísio Silva)
4-Procura (Cleivan Paiva/Getúlio Oliveira)
5-Incenso (Cleivan Paiva/Rosinha de Canãa)
6-Serenidade (Cleivan Paiva/Geraldo Urano)

Marcadores: Cleivan Paiva, Nação Cariri Discos

Janelas Marinha - Cícero Braz de Almeida


Posso partir
Sem mais olhar pra trás
Sem medo de me perder
De me sentir incapaz
De olhar de novo a vida
Com mais prazer, sem despedida.

Vi que o amor
Viaja com as marés
E quando volta traz
Prazeres e seduções
Que dão ao corpo e à alma
Todo o sentido das paixões.

Parti quando senti
Que minha alma despertou
Olhou outras janelas
e descobriu outros caminhos;
cansou de ser sozinha
e noutro cais se atracou
e disse: nunca mais
e disse que jamais
vai conviver com a solidão.
Rio/2003


José RRosemberg nas Tramas do Século XX - por José do Vale Pinheiro Feitosa




Se a alguém se poderia nomear ser de um determinado século, este seria José Rosemberg. Poderia, pois se dizer que alguém é o mais profundo do século XX não se torna uma anunciação banal. Nós em grande maioria vivemos nas tramas dos séculos, mas comumente não encontramos as maquinarias que os movem. Somos parte, vivemos o seu espaço e tempo, mas somos tocados por uma mistura de angústias, sonhos, frustrações que se perdem em significado. Apenas vivemos aquela escala da história da humanidade como um todo amorfo do que chamamos as dificuldades da vida. Dificuldades da vida como se estas fossem inerentes à vida.

José Rosemberg estava radicalmente ligado ao século XX. Entendia perfeitamente suas misérias e vantagens, compreendendo seus mecanismos históricos de onde teriam vindo e no que resultariam. Era ajustado homem da racionalidade fundada desde o Renascimento e o Iluminismo, um militante contra a assimetria social, um cientista que entendia não apenas o objeto de sua observação, mas o contexto em que esta observação era realizada.

Era do século XX aquele século simultaneamente trágico e transformador. Trágico ao derrubar até o último muro de um hectare remoto da micronésia igual acontecia ao porto de Liverpool e seu embarque e desembarque contínuo do comércio mundial que tomou conta de todos os oceanos. Todos, inclusive a camada de gelo dos pólos que tantos imaginam derretidas pelos limites que a natureza apresenta frente ao “progresso humano”.

Transformador como o século das revoluções, das grandes guerras, inclusive do holocausto que atravessou em miséria sua etnia judaica tão próxima ao progresso Europeu desde o mercantilismo. Se alguém disser que o século XX é o século da Europa, pode tomar a essência de José Rosemberg e ali estará a Europa ocidental e sua imensa porta de liberdade e possibilidades.

Quando se tomar os textos científicos do professor e for surpreendido pelo fascínio com que ele os elaborava. Quase se divertindo com a linguagem dos números, da genética, da biofísica e bioquímica, abordando questões complexas da epidemiologia, percebe-se que aí não se esgotava o cientista. Ele compreendia seu século, deu um salto qualitativo ao revelar o conduto histórico daquilo tudo, os motivos pelos quais assim se conformavam e os limites sem o quais não se entende nada.

José Rosemberg inventava o tempo, o tempo do seu século, quase como um alfaiate, tomado da profissão do pai, costurando a vestimenta de uma era. Por isso não existem separações nos seus domínios: artes, ofícios, pensar e executar fazia parte de um contínuo que é a própria história. Por isso quando se for levantar o papel que ele teve como historiador da medicina moderna e particularmente da brasileira, vai-se encontrar um texto original e inigualável em termos da revelação social e política desta imensa prática quase capitalista da atualidade.

Ao compreender o seu século como um movimento fundamentado no embate da forças sociais, José Rosemberg na prática se torna imortal. Aquela imortalidade dos grandes cenários da humanidade, livres dos salões e dos chás das cinco.

VIRA A PÁGINA - por rosa guerrera



Quando o vento da saudade açoitar teu coração
E o vazio do caminho de jogar na solidão ....

Quando o silencio da ausência
Fizer morada nas tuas mãos e a felicidade acontecida
Se chamar recordação ...
VIRA A PÁGINA !

E continua a leitura desse livro chamado VIDA..
Muitos capítulos ainda estão a tua espera ...

Risa@

Diversidade Cultural - Por José de Arimatéa dos Santos

Ao observar numa rua os indivíduos no seu ir e vir de todo dia podemos ver o quanto somos diferentes em todos os aspectos. Normal e saudável essa diferença que marca profundamente a espécie humana. Mas há aqueles que querem impor sua vontade, estilo ou modo de vida e é contra a toda e qualquer diversidade. Nesse momento vou procurar focar meu pensamento na diversidade cultural, pois hoje se comemora o dia da Diversidade Cultural que é uma data instituída pela ONU(Organização das Nações Unidas) e tem o objetivo de promover o diálogo e o desenvolvimento. 
Na cultura de massas vemos que inexiste de fato essa diversidade cultural, principalmente na música tocada nas rádios. O rádio é uma mídia que aprendi a gostar desde tenra idade e acredito ser a mais próxima do povo. Mas é nele que predomina, a força econômica de alguns, o mesmo estilo, música e seja o que for. No final de janeiro estava eu num quarto de hotel  em Fortaleza e lá pelas tantas da noite a insônia me abateu. Liguei o rádio e tenho o hábito de ficar mudando de emissora a todo instante. Fiquei surpreso com a qualidade das músicas. Músicas nacionais e internacionais de primeira grandeza que durante o dia não se toca de jeito nenhum. Mas a realidade é dura e cruel e logo no início do dia volta-se a tocar esse forró eletrônico e música sertaneja. Pareceu até sonho um dia as rádios voltarem a tocar a diversidade musical.
É mais do que necessário o incentivo do poder público para todas as manifestações culturais, pois a riqueza brasileira no campo cultural é infinito. Cada região brasileira tem sua marca cultural predominante e que mostra a verdadeira brasilidade de cada recanto verde e amarelo. O folclore, a dança, a cerâmica, o carnaval e tantas manifestações culturais estão vivas e merecem mais apoio para a continuidade e as gerações futuras também têm o direito de usufruir dessa nossa riqueza. E nesse dia mundial para a  Diversidade Cultural, o Brasil tem condições de contribuir muito nesse processo porque a nossa rica diversidade cultural está solidificada na união das culturas européias, africanas e indígenas. O mundo se sente representado aqui no nosso país e só falta a volta do respeito pela maioria e a diversidade cultural se consolidar de vez em nossas vidas.

Visitem minha exposição virtual "Temporada de Dança"
clic na imagem.