por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 21 de junho de 2012




Quando o amor se desliga de uma construção, quando o barraco fica  sem portas, paredes,  teto... Pra que comprar a tinta , os lustres, a pia da cozinha?
O investimento está na  busca de outro amor. Melhor do que chorar a perda é pensar  que da próxima vez, vida ou hora, o relógio vai parar, no instante de felicidade que não foge !

socorro moreira



Meus escuros se enchem de mistérios
Ficam loucos , ficam cegos
e as respostam se distanciam de mim.
Quando nasce a lua ...
Não sei o lado que me aclara
quero colher toda luz
num só olhar
Mostro o céu
pra minha alma
Toco no imaginário
distante de mim.

(socorro moreira)



 Escureceu o céu, nublou o pensamento , pediu pão com café e um bom papo. Fico sentindo o friozinho que saiu da barriga , e se espalhou pelos braços.Gosto da rua  solitária . É como o recreio da alma, que passeia livre , e se embriaga
Acabei de fazer uma lista dos meus  mestres. Foi como se estivesse me matriculando no passado, mas podendo escolher a aula. Quero reprise das aulas de Dr. Zé Newton; as histórias das viagens de Dona Lurdinha Esmeraldo;o conhecimento científico de Dona Ivone;as aulas expressivas de Alderico, e aquele desenho leve, perfeito de Dr.Zé Nilo.
Na vitrola do meu pai , umas valsas, em tom baixinho. Um bilhete amoroso , guardado nas caixinhas das saudades, e aquela pétala de flor, que eu  quis  dentro de mim.
Vou calçar meu par de meias furadas , me enrolar no lençol de algodãozinho estampado, e ler , pelo menos uma página, de um livro de Jorge Amado.

socorro moreira

Espera ...- por Socorro Moreira

estou catando o feijão
e fugindo do fogão.
o amor devoto pelas panelas...
me dizem elas :
preferimos você na janela

de olhos perdidos
querendo um caminho.
respondo:
aqui é porto de poesia
os navios atracam e descarregam
rimas sentidas
às vezes leio e bebo
outras vezes olho de soslaio
assustada com o meu interior declarado

nos versos
amarro a fita do verbo
e deixo o coração solto
no encontro de olhares
- espelhos fatais !

Rio com um barulho desses

  Com a morte do velho Venceslau  Kandanga, após as lágrimas pouco sentidas, os filhos se reuniram para fazer o balanço do que interessava: o espólio. Estavam todos contendo uma indisfarçada felicidade. Venceslau vinha de uma ascendência abastada: fazendas, terras, imóveis e dinheiro em espécie eram perceptíveis nos velhos retratos espalhados na parede. O patriarca da família --- Kandic Kandanga --- teria vindo da Armênia, aí pelo início do Século XIX e, de mero vendedor de confecções, terminara por montar um imenso império fabril. Com as gerações e os inventários  que se sucederam,no entanto, os novos ricos foram pouco a pouco dissipando o patrimônio. Riqueza adquirida sem  suor, evapora como ele. Entre uma e outra amante, entre uma e outra excentricidade, entre uma e outra separação judicial, os cobres duramente conquistados por Kandic, esvaíram-se como por encanto.
                                   Aberto o testamento do tetraneto de Kandic, o velho Venceslau, não deu outra. Ficara apenas a casa do patriarca e   um prédio de cinco andares – o Edifício  Rio-- , sito num bairro não muito privilegiado, para ser rateado entre os dez filhos, três viúvas e seis netos de Venceslau.  Iniciou-se, imediatamente, a terceira guerra mundial. Familiares endividados, mantendo, porém,  a importância dos tempos áureos, cada um desejava levar o maior pedaço do último quinhão. Arrastando-se a pendenga, para o gáudio dos advogados, terminaram por ter que vender a casa para cobrir as custas judiciais e, sob risco de ficar a herança para os causídicos e não para os descendentes, entraram por fim num acordo. Resolveram, salomonicamente, dar um apartamento do edifício para cada  herdeiro e, depois de mais de dois anos, por fim, fecharam o inventário do velho Venceslau.
                                   Como estavam todos na maior pindaíba, morando de aluguel, mudaram-se todos para seus apartamentos recém herdados.  No primeiro momento, as coisas andaram bem. Todos se sentiram de alguma maneira felizes com o alívio financeiro. Mas era bem previsível : a bomba estava armada e com estopim faiscante e curto. As desavenças não demoraram. Conflitos relativos às pretensas melhores condições de um ou outro apartamento se tornaram frequentes.  Começaram os atrasos reiterados da taxa de condomínio, por incrível que possa parecer executados pelos mais remediados e não pelos mais pobres. Exatamente atrasavam aqueles que mais consumiam a água e a luz. A conservação do velho prédio estava péssima e já apareciam algumas rachaduras progressivas em algumas paredes.  Eram marcadas reuniões com os moradores,  geralmente inúteis, pois os inadimplentes faltavam. Um belo dia,  o esperado ocorreu: desligaram a luz e cortaram a água do imóvel. Aí a gritaria foi geral. Os pobres reclamavam com razão, pois estavam pagando pela irresponsabilidade dos outros. Os menos lascados empavonavam-se, mantendo aquele ar de importância que herdaram dos seus ascendentes e dizendo enfaticamente : --  é nisso que dá, querer ser simples e vir morar num muquifo desses!
                                   Marcaram uma reunião de emergência, mas ninguém compareceu: simplesmente porque nenhum queria arcar com a vaquinha necessária para sanar o problema. Uns dois meses depois, no escuro e seco como outubro em Picos, no meio da noite, ouviram-se um grande estralo e um pequeno tremor. Todos acordaram apavorados e desceram as escadas num átimo. Em pouco, toda a descendência do velho Venceslau estava de camisola e pijama no meio da rua. Chamada a Defesa Civil, após vistoria, o Edifício  Rio foi condenado: Está prestes a cair, não tem qualquer condição de habitabilidade, disse o Coronel responsável. Providenciadas , de urgência, algumas tendas, à noite,  o Síndico chamou, por fim, mais  uma Reunião de condôminos. Pressionados, por fim, os moradores , já sem teto, resolveram comparecer. As discussões foram longas e demoradas. Depois de umas cinco horas, finalmente, houve consenso. A Ata foi devidamente lavrada : O problema será resolvido pelas futuras gerações dos Kandic, marcaram , então, uma próxima reunião para daqui a vinte anos quando os futuros herdeiros do Edifício Rio, já taludos e em condições de deliberar,  deverão tomar as devidas providências. O convite já foi até redigido e o conclave já tem um nome : Rio + 20.

J. Flávio Vieira

versos sem papel - por Socorro Moreira



Você corta o filme
amarga o recado
deixa o mel
na porta do enxame
deixa a flor
na madrugada aberta
morrer na manhã


Sono que se vai
O lado vazio e silencioso da cama
Arrumo o lençol que fala...


Presente com tinta
Futuro sem papel
Passado amarrado
Pipas voam alto do além para cá...
Conquistam espaço
Na janela do quarto
vejo um pedaço do céu!

Colaboração de Edmar Cordeiro


Capuccino caseiro


Ingredientes
1 lata de leite ninho
1 lata ( pequena) de café soluvél
1 colher de café de bicarbonato
1 lata de Nescal ( pequena) ou Toddy
1 colher de café de canela em pó


Coloque no liquidificador todos os ingredientes e misture bem
Depois de misturado, coloque em potinhos para guardar
Quando quiser tomar misture o tanto desejado no leite bem quente e curta um capuccino gostoso e barato


A poesia de Lupeu lacerda !

O coração é um móvel estranho que
não cabe na sala
Que se esconde
no peito
Que não posso pegar
na minha mão
Nem polir com uma
flanela amarela
Mas é ele quem dita meu
poema
E que manda minha mão
escrever
Minha derradeira carta
De amor

O Laço de Fita – Castro Alves

O Laço de Fita – Castro Alves

Não sabes crianças? 'Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
                              Num laço de fita.

Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
                                  O laço de fita.

Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
                        Num laço de fita.

E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh'alma se embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
                               Ó laço de fita!

Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu... tens por asas
                                Um laço de fita.

Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
                           Teu laço de fita.

Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N'alcova onde a vela ciosa... crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico preso
                            No laço de fita.

Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c'roa...
                              Teu laço de fita.


Fonte:
ALVES, Castro. Espumas flutuantes. in Poesias Completas. São Paulo : Ediouro, s.d. (Prestígio)