Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.
Depois de algumas décadas consegui manter uma secretária doméstica. O espaço criado, meu ócio, é um convite compulsório pra contar em linhas tortas, a vida na terceira idade.
As horas se arrastam como na infância, atenta às badaladas. O leiteiro é motoqueiro, e me parece engraçado. Vende-se cheiro verde e bananas, na bodega aqui do lado.
As modistas perderam o glamour. Delas corro léguas. São raras e quase despreparadas. Difícil porém é achar roupas baratas.Mas pra que tanta vaidade, se já não assisto missa aos domingos?
Sem saudosismo... Mas até a galinha caipira perdeu seu gostinho mágico. As mãos de avó e mãe, hoje desencarnadas, deixaram de plantar florzinhas nos canteiros desta casa.
Casas sem pilão, e sem mão. Nos últimos tempos corremos atrás de receitas que incluíam enlatados. Chega!
A simplicidade voltou ..Arroz, feijão, uma poeira de farinha, tudo no fogo brando, e um pedaço de carne assada. Desligo a TV, mas as calçadas vaziam desprezam a primeira estrela.
Tenho uma proposta de amor ausente. Realidades solitárias – eis a questão! Mas não tem nada não!
Os correios não entregam cartinhas de amor, nem telegramas. Era tão bonitinho no tempo em que, ao invés de faturas dos cartões, recebíamos envelopes aéreos com letras bem desenhadas.Rasgava o envelope de qualquer jeito e lia do fim pro começo...” do seu...Querida!”..E assim ia.Ia um sonho de amor, noite afora, noite e dia.
Nestes tempos de junho era de praxe um vestido romântico com rendas e estampados.A boca ficava mais vermelha e o cangote mais perfumado.Cabia fita ou rosa no cabelo, brinco na orelha pendurado.Sapatos de saltos, nem que as pernas entortassem.
Quadrilhas!
E o cavalheiro? Tinha lenço no pescoço, um bigode bem charmoso, uma pegada aprumada.Saltavam os olhos; abriam sorrisos...
- Me dá um beijo na boca, moça do meu gosto...Se me negares, eu roubo!
- Paguei penitência... Suave, doce Ave-Maria!
• Queria muito aliança de brinquedo. O dourado e o bombom. O papel de celofane verde, amarelo ou azul.
• Àquela no bolso não pesa, nem obriga juramento, que se debate como o vento, na folha da macaúba.
• Anoitece. Fiz bolo em homenagem à Walda.Desde menina comemoro esta data.Ela tem o nome da minha mãe, além de ser uma colega e amiga, que nunca perdeu lugar especial, no meu coração.
Ah, meu amor, estamos mais safados
Hoje tiramos mais proveito do prazer
E somos um
Quando dormimos juntos, sonhos separados
Que nós não vamos confessar de modo algum
Ah, meu amor, ah, meu amor
Quantas pequenas traições
Pobres mentiras diplomáticas de puras intenções
Estamos condenados
Ah, meu amor, de discretos pecados
Formamos esse ser tão uno divisível
Parece incrível
Que nós tentemos que ele dure eternamente
Nessas metades incompletas
Mas decentes
Hoje amanheci com esta música na cabeça.Ela é pouco divulgada, e a gente só consegue aprendê-la pela metade.
Mas existem versos geniais, ou parecidos demais com tudo que desejamos do amor: que ele seja eterno, não enquanto dure , mas enquanto a gente vive.Respeito os amores que se firmam. A melhor e mais admirável qualidade humana é saber relaxar, no amor da sua vida.
Tive um amigo que dizia: " sou mau marido".Quem tem minha parte namorado tem a melhor parte. Mas a gente deseja o sonho separado, na mesma cama. A gente deseja o trivial café da manhã...Que besteira!
O amor é um material intacto. Quando acontece é luxo e lixo pra eternidade.