por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 3 de fevereiro de 2019

“CIRCO” ou “PUTEIRO” ??? – José Nilton Mariano Saraiva


E quando se pensava que o ambiente iria mudar, com a entrada de novos atores, eis que os “palhaços-engravatados” com assento no tal Senado Federal nos propiciaram, nos dois últimos dias, espetáculos tristes e deprimentes, de 5ª categoria, dignos da mais recôndita periferia (com todo respeito à periferia).

É que, sem nenhum respeito a quem quer que seja (já que com transmissão ao vivo e a cores pra todo o Brasil), durante a eleição interna para eleger quem comandaria aquela casa, as supostas “excelências” quase que entram em luta corporal, ao tempo em que sobraram expressões “carinhosas”, do tipo canalha, ladrão, bandido e por aí vai.

A dúvida que ficou é se aquilo é um “circo” de periferia com seus “espetáculos” dantescos, ou se podemos compará-lo a um “puteiro” mambembe, onde as “damas” geralmente entram em confronto para ver que consegue ficar com o dote (cliente) que ofereça mais.

A certeza é que, lamentavelmente, nos próximos quatro anos tudo vai continuar a mesma merda de sempre e vamos ter que suportar e conviver com essa corja de bandidos que fazem da vida pública nada mais que um rentável meio de vida. E o Brasil ??? Que se foda.

Triste... mas verdadeiro.

WINNER (Dr. Demóstenes Ribeiro)



          Quando eu era criança, em meio a tantas histórias, vovô acariciando os meus cabelos, falava repetidamente: Comandante, eu perdi a guerra civil espanhola, mas você será um vencedor. Voluntário contra o fascismo, ao lado de Apolônio de Carvalho e outros heróis, ele jamais aceitou a vitória de Franco.
          No entanto, contrariando o seu desejo, não estudei no Colégio Militar. Aluno medíocre em escolas particulares, nunca me afeiçoei aos livros. Gostava mesmo era de nadar, surfar e jogar futebol. Inventaram de eu ser franciscano e foi um fracasso. Frei Anselmo me viu com uma revista “Play Boy” e, fui expulso. Vovó chorou muito, mas eu só pensava em mulher. Não tinha a menor vocação.
          Aí, fora do convento, conheci a maconha e as baladas. Minha mãe pensou que um intercâmbio me colocaria nos eixos e me mandou pro Canadá. Porém, nada é tão ruim que não possa piorar. Lá eu só me diverti e não aprendi nada. Trouxe um diploma de conclusão do ensino médio e apenas um inglês razoável. Veio o vestibular e nenhuma profissão me fascinava. Cocaína, ecstay e LSD eram a minha felicidade. Pra ganhar um automóvel, entrei numa faculdade qualquer.
          Carro novo e boa mesada. Roupas de grife e heavy metal. Festas rave, o maior barato. O dia dormindo e a noite por aí. Passei a vender, além de consumir. Vieram as dívidas e as ameaças de morte. A minha mãe se desesperou, saldou os débitos e me internou numa clínica. No final, ela faliu, caiu na mão de agiota e estourou o cheque especial.
          Escapei da clínica e continuo numa boa. Não tomo remédio nem gosto de psicólogo. Vez por outra me entristeço quando encontro alguém da pré-escola. Hoje são médicos, advogados, engenheiros e eu nessa vida de merda. Perdi a faculdade. Como outros colegas, fui reprovado por faltas.
          Mas, com humildade, devagarzinho e, em memória do meu avô, eu vou me recuperar. As coisas estão melhorando. Um amigo meu, que é dançarino, bolou uma grande jogada. Ele me apresentou a umas velhotas como “personal trainer” domiciliar. Sou bonito, sarado, bom de papo e elas se encantaram comigo.
          Por uma boa grana, ensino qualquer exercício e topo qualquer parada. Às vezes, me aborreço, é claro. Outro dia, uma masoquista siliconada berrava para eu lhe apertar mais e mais: quase a matei e por pouco não estourei a sua prótese.
          Hoje, sou quase exclusivo da viúva de um desembargador. Ela pesa uns cento e trinta quilos, mas paga bem e me chama de Neném. Na última vez, chegando à sua cobertura, estava bem embriagada. Deixou o uísque na minha mão e disse que já voltava. Logo as luzes se apagaram, ficou somente um abajur lilás.
          Completamente nua e dando uma de soprano, Lola sacudiu as banhas cantando “Babalu” e me beijou desesperada.  Numa das mãos balançava a chave de um carro e dizia imperativa: vem Neném, vai descendo, bota essa língua bem dentro de mim, bem dentro mesmo, o mais fundo que você puder.
          Tomei um uísque triplo e fui descendo. Uns peitos enormes, ela girou e tinha a bunda fria, mas a boceta fumegava. Fechei os olhos, tapei o nariz e mandei bala.
          Está enojado? “I’m not a  loser!”: moro na Beira Mar e foi assim que ganhei esse “Corolla.”


É NA AUSÊNCIA QUE A SAUDADE VIVE (Rubem Alves)


Porque concordamos em gênero, número e grau, postamos o texto de Rubens Alves, à reflexão de todos os que não se deixam manipular por essa farsa chamada "religião" (católica, protestante, evangélica e por aí vai).

José Nilton Mariano Saraiva

*******************************

EU NÃO TENHO RELIGIÃO.

Não vou a igrejas, não participo de rituais, não acredito nos seus dogmas. Preciso não ter religião para amar a Deus sem medo, com alegria e, principalmente, sem nada pedir. NÃO TENHO RELIGIÃO PORQUE NÃO CONCORDO COM AS COISAS QUE ELAS DIZEM DE DEUS. Deus é um Grande Mistério. Está além das palavras. Diante do Grande Mistério a gente emudece. Fica em silêncio.

Discordo a partir do pronome “ele”.
DEUS “ELE”, MASCULINO ? ONDE FOI QUE APRENDERAM SOBRE O SEXO DE DEUS ? DEUS TEM SEXO ? SE TEM SEXO, POR QUE NÃO “ELA”, DEUS MULHER ? Como a mulher do Cântico dos Cânticos? A IGREJA CATÓLICA NÃO CONHECE A MULHER. CONHECE APENAS A “MÃE” QUE FOI MÃE SEM TER SIDO MULHER.

DEUS, por que não uma flor, a mais perfumada? Por que não um mar sem fim onde a vida navega? Místicos houve que disseram que Deus é uma criança que nos convida a brincar... Mas pode ser também que Deus seja música, como pensaram os místicos pitagóricos.

Ter uma religião é falar as palavras sagradas daquela religião e acreditar nelas. As religiões se distinguem e se separam: pelas diferenças das palavras que usam para se referir ao sagrado. Se elas nada falassem, se houvesse apenas o silêncio diante do Grande Mistério, a Babel das religiões não existiria. Diante do Grande Mistério apenas uma palavra é permitida, a palavra poética, porque a poesia não o diz, mas apenas aponta para ele. O Grande Mistério está além das palavras.

Só tenho uma religião, ela se chama poesia. Por isso, amo a Cecília Meireles, sacerdotisa profana, que quando queria se referir a Deus falava sobre um mar sem fim, misterioso e selvagem. Quem em silêncio contempla o mar sem fim ouve vozes em meio ao barulho das ondas. Também Fernando Pessoa sabia disso. Mas, prestando bem atenção, é possível ver, a voar sobre o mar sem fim, um pequeno pássaro que canta: “Leve é o pássaro, e a sua sombra voante, mais leve. E a cascata aérea de sua garganta, mais leve. E o que lembra, ouvindo-se deslizar seu canto, mais leve...”

Os poetas escrevem em transe: não sabem sobre que estão escrevendo. Faz muitos anos, escrevi um livro para minha filha. Ela tinha 4 anos. Eu iria fazer uma demorada viagem pelo exterior e ela ficou com medo de que eu morresse e não voltasse. Apareceu-me, então, uma estória, A menina e o pássaro encantado.

Resumida, era assim: era uma vez uma menina que amava um pássaro encantado que sempre a visitava e lhe contava estórias; o pássaro a fazia imensamente feliz. Mas sempre chegava um momento quando o pássaro dizia, “tenho de ir”, a menina chorava porque amava o pássaro e não queria que ele partisse. Menina, disse-lhe o pássaro, aprenda o que vou lhe ensinar:

EU SÓ SOU ENCANTADO POR CAUSA DA AUSÊNCIA. É NA AUSÊNCIA QUE A SAUDADE VIVE. E A SAUDADE É UM PERFUME QUE TORNA ENCANTADOS A TODOS OS QUE O SENTEM. QUEM TEM SAUDADES ESTÁ AMANDO. TENHO DE PARTIR PARA QUE A SAUDADE EXISTA E PARA QUE EU CONTINUE A AMÁ-LA, E VOCÊ CONTINUE A ME AMAR...”.

E partia. A menina, sofrendo a dor da saudade, maquinou um plano: quando o pássaro voltou e lhe contou estórias e foi dormir, ela o prendeu numa gaiola de prata dizendo: “Agora ele será meu para sempre”. Mas não foi isso que aconteceu. O pássaro, sem poder voar, perdeu as cores, perdeu o brilho, perdeu a alegria, não mais tinha estórias para contar. E o amor acabou. Levou tempo para que a menina percebesse que ela não amava aquele pássaro engaiolado. O pássaro que ela amava era o pássaro que voava livre e voltava quando queria. E ela soltou o pássaro que voou para longe. A ESTÓRIA TERMINA NA AUSÊNCIA DO PÁSSARO E A MENINA SE ENFEITANDO PARA A SUA VOLTA.

Minha intenção, ao escrever esta estória, era simples: consolar a minha filha. Mas quando foi publicada ganhou um sentido que não estava nas minhas intenções: começou a ser usada em terapia, com casais possuídos pela ilusão de que, engaiolado, o amor seria posse eterna.... Desde então passei a presentear noivos com uma gaiola da qual eu arrancava a porta. Mas, passado algum tempo, uma pessoa me disse: “Que linda estória você escreveu sobre Deus!” “Sobre Deus ?”, eu perguntei sem entender. “Sim”, ela me respondeu. “O PÁSSARO ENCANTADO NÃO É DEUS ? E AS GAIOLAS NÃO SÃO AS RELIGIÕES, NAS QUAIS OS HOMENS TENTAM APRISIONÁ- LO ?”

Aprendi, então, da minha própria estória, algo que não sabia: Deus como um Pássaro Encantado que me conta estórias. Amo o Pássaro. Odeio as gaiolas. O Pássaro Encantado não pousa em galhos para cantar. Não é possível fotografá-lo. Canta enquanto voa. Dele, o que temos é apenas a sua leve sombra voante e a cascata aérea de sua garganta... Quando ouço o seu canto, ele já passou. Só é possível vê-lo em seu voo, por trás. Vai-se o Pássaro. Fica a memória do seu canto.

Um pássaro voando é um pássaro livre. Não serve para nada. Impossível manipulá-lo, usá-lo, controlá-lo. Pássaro inútil. E esse é, precisamente, o seu segredo, a sua inutilidade; ele está além das maquinações dos homens. Sua única dádiva é o seu canto. Só faz um milagre, um único milagre: quando, chorando, lhe peço “Passa de mim esse cálice”, ele canta e o seu canto transforma a minha tristeza em beleza. Por isso eu nada lhe peço. Sei que ele não atende a pedidos. O seu canto me basta: ao ouvi-lo transformo-me em pássaro. E voo com ele...


MAS AÍ VÊM OS HOMENS COM AS SUAS ARAPUCAS E GAIOLAS CHAMADAS RELIGIÕES. E cada uma delas diz haver conseguido prender o Pássaro Encantado em gaiolas de palavras, de pedra, de ritos e magia. E cada uma delas afirma que o seu pássaro engaiolado é o único Pássaro Encantado verdadeiro…

Por que prenderam o Pássaro? Porque o seu canto não lhes bastava. Não lhes bastava a beleza. Na verdade, não o amavam. O QUE OS HOMENS DESEJAM NÃO É A BELEZA DE DEUS. O QUE ELES DESEJAM É MANIPULAR O SEU PODER. O que eles querem é o milagre. O canto do pássaro poderia lhes dar asas para voar. Mas não é isso que querem. O que desejam é o poder do pássaro para continuar a rastejar: Deus, transformado em ferramenta. Ferramenta é um objeto que se usa para se atingir um fim desejado. Assim são os martelos, as tesouras, as panelas... O QUE AS RELIGIÕES DESEJAM É TRANSFORMAR DEUS EM UMA FERRAMENTA A MAIS. A MAIS PODEROSA DE TODAS.

A ferramenta que realiza os desejos. Como o gênio da garrafa. POIS NÃO É ISSO QUE É O MILAGRE, A REALIZAÇÃO DE UM DESEJO POR MEIO DA MANIPULAÇÃO DO SAGRADO ?    Só é canonizada santa uma pessoa que realizou milagres: o milagre é o atestado do seu poder para manipular o divino.

E é assim que as religiões se multiplicam, porque os desejos dos homens não têm fim, e os seus santuários se enchem de santos de todos os tipo.  Os santos milagreiros são nossos despachantes espirituais, todos eles a serviço dos nossos desejos, atenderão nossos desejos a preço módico, se rezarmos a reza certa e prometermos publicar o milagre em jornal, e pela televisão se anunciam fórmulas, sessões de descarrego, águas bentas milagrosas, exorcismo de demônios, os DJs de cada religião têm uma música na fala que lhes é própria…

Assim, a poesia do canto do Pássaro Encantado se transforma em manipulação do pássaro engaiolado. E não percebem que aquele pássaro que têm dentro de suas gaiolas não é o Pássaro Encantado, que não se deixa engaiolar, porque é como o vento, e voa como quer, e tem uma única dádiva a oferecer aos homens: a beleza do seu canto.

À TRANSFORMAÇÃO DA POESIA EM MANIPULAÇÃO MILAGREIRA OS PROFETAS DERAM O NOME DE IDOLATRIA...