por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Gaita

O amor não é fome
nem sede eterna.

Não é no outro
que se busca
a fonte.

É um estado
que começa
no fogo

(o coração queima
faz cinza do passado)

Embora ainda vazia
uma concha guarda
o encanto do mar.

Um ai sem nome.
Um suspiro perdido.

Não há saudade.
Lembranças.
Memória.

O amor não foge
quando se abriga
dentro do silêncio

(um trote de vento
sobre areia da praia)

Toda fábula
(destino, acaso)

são os devassos
que cantam a tristeza
no fúnebre brilho dos olhos.

Prepare-se para o amor:
enlouqueça.

E não dependa
do próximo.

Do olhar do outro.
Do humor do outro.

Enlouqueça sobretudo
aquele que se espanta.

ATÉ DEUS CHOROU Joao Marni


ATÉ DEUS CHOROU



Basta a visão de uma cachoeira ou da terra a partir do espaço, para imaginarmos um criador para tanta beleza. Aquele único olho azul no pano de fundo preto do firmamento, nos arrebata, nos encanta. O palco dos seres vivos, lugar privilegiado, talvez único em todo o universo. Não aconselho- nem  compactuo,- a quem quer que seja, atribuir a Deus as desgraças emanadas do próprio homem que, a exemplo de todos os viventes, encontra-se em evolução e, portanto, sujeito a imperfeições. Somos ainda capazes de realizarmos gestos e atitudes bipolares: ora extraordinariamente belos e agremiantes, solidários, ora brutais e desagregantes. Na nossa caminhada rumo à leitura do plano divino, acertamos e também erramos.
Recentemente, minha alma tumultuada passou por mais duas experiências marcantes: a primeira diz respeito ao resgate do garoto Kiki Joachin do terremoto do Haiti. Saiu dos escombros após dias soterrado, com um semblante de pura vitória da vida sobre a morte. Não havia medo em seus olhos, apenas alegria, euforia, apesar dos sinais da sede e da fome em seu corpinho frágil. Os gritos e as lágrimas dos bombeiros traduziram e transcreveram a correta interpretação dessa leitura do que Deus espera de todos nós. Foi tudo o que uma criança representou para humanidade, naquele momento: a solidariedade que deveria nos acordar todos os dias, sem que tivéssemos que passar por algum tipo de sofrimento ou provocação, pesadelo do nosso dia a dia.
O segundo episódio revela o quanto estamos longe na nossa busca. Alcides, jovem negro e filho de uma catadora de lixo no Recife, (ela teria outra condição se tivéssemos vergonha na cara e não elegêssemos quem não presta para nos governar), tirou o 1º. lugar na faculdade de biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco, sem nunca haver visto um computador em sua escola pública. Amado por todos do campus da universidade, por ser símbolo de inclusão social e por seu largo sorriso e insuperável determinação. Era um resiliente. Mas foi abatido por assassinos, em sua casa pobre, comovendo todo o Brasil em pranto. Era ainda uma crisálida, deixando a humanidade órfã e envergonhada, sem saber das cores de suas asas em vôo por sobre os jardins da vida.
Quem sabe, um dia escreveremos que estas foram lembranças de um tempo pretérito, que já vai longe, e que a vida seja de fato tão bela como um sim, em meio a tantos nãos... Que não se configure só como um jogo de encontros aleatórios e improváveis, onde um fica com o maior pedaço, em detrimento do outro: como na fúrcula das aves (o osso da sorte), quando o disputamos. Que os vãos disfarces do homem, que tanto nos punge o coração, só ocorram em bailes de carnaval!
O homem é o único animal que chora. Talvez seja uma esperança. As minhas não costumo enxugar; deixo-as desabarem sobre o peito e depois que ganhem o chão. A vida nos foi dada para que a tornemos sempre mais bela e feliz para todos, pelo que precisamos urgentemente ser artífices e artistas deste projeto divino.

A força maior do Universo - Emerson Monteiro

Das proposições, a mais pretensiosa, querer definir em palavras o indefinível. Descrever o indescritível. Gerar das equações um resultado impossível de números inexistentes. Isso, de contar o que representa o sentimento mais elevado, a essência de tudo. Dizer o que significa o Amor em linguagem humana, tarefa das impossíveis, admissíveis, no entanto, à medida do furor das intenções.
A paixão consciente, isto seria o amor. A força maior do Universo, isto que aciona todos os movimentos que houver num dia e haverá no outro, nas curvas tortuosas dos sempres inextinguíveis. A luz de todos os nascentes, visão de todos os olhos existentes e inimagináveis. A unidade primeira das quantidades, avaliável ao Infinito das saturações. Voz de todas as falas, destino de todos os caminhos, próximos ou distantes, em qualquer território, no campo das probabilidades.
Quando nasce um filho, traz consigo a tônica do Verbo Divino, razão principal das existências, desde o fator original dos espécimes primeiros à partição milenária das multiplicações, em menor ou maiores quantidade. O Tudo e o Nada, em iguais proporções. A Força e o Poder, nas consequências inatingíveis de visões e sonhos. Maravilha das maravilhas, prazer fugidio nas seduções, linguagem dos becos e religião das religiões.
Amor, palavra e energia, concentração de pensamento, feixe de raios convergentes numa única direção e nelas todas, direções livres e sentido absoluto das linhas e dos pontos em batimento cardíaco permanente. Algo notável, ainda, porém, quimera de tantos e muitos. Valor infinitesimal. Volume descomunal. Transformação de água em vinho, chumbo em ouro, dos alquimistas e navegadores de substâncias sagradas. Cálice sagrado, pedra filosofal, fortaleza indevassável, vitória em batalhas siderais, vetor de mobilizações sociais, bandeira de palácios em festa, condição numeral dos pitagóricos; o drama e a solução dos conflitos, nexo das histórias misteriosas, linha melódica de danças e sinfonias, fusão de corpos e junção das luminosidades, em galáxias e superfícies, projetos e planos das populações espalhadas entre o oásis e as caravanas, busca desesperada dos tesouros e prospecção de minerais raros.
Instinto de procura e encontro, o amor fala nas ficções e canta nos poetas, conduz romancistas pelas sendas da civilização. Música das esferas, sabor dos elementos, quantia das moedas deste mundo. Razão principal das tradições, o amor dos animais e insetos vem nas flores e nos passarinhos, pigmento das cores oferecidas pela luz ao vigor das águas nos caudais das quedas livres; nos sóis, nas luas, nos ventos, raios e trovoadas, tempo máximo e pulsação da Eternidade.
Som nos naipes e nas elevações; o fervor das orações. O poder superior das preces silenciosas, senso e fé dos desejos virtuosos dos trabalhadores do Bem. O amor, a fala contundente dos corações enamorados. Amor, solidão dos mosteiros e conventos, vida, resistência e renúncia; emoção das emoções, estação final e princípio de jornadas espaciais; alegria das borboletas em nuvens, nas estradas desertas; trilho e meta dos viajores perdidos, jogados aos mares tempestuosos, saudades e abraços de boas vindas; perfume das rosas e tela dos gênios pintores; e sorriso aberto das crianças felizes. A volta ao recomeço...
O amor, das proposições, a mais pretensiosa, querer definir em palavras o indefinível. Descrever o indescritível.

Transparência





Manhã viúva do vento . Céu anil , nuvens esparsas .Mãos calejadas , unhas impregnadas de alho. Flores secas de uma festa inacabada . Olhos rasos d'água das cebolas cortadas... Corpo intoxicado de todos os amores e alimentos inadequados.

Um pedaço do Piauí chega no portão: petas , doce de buriti , cajuína , rapadura e até doce de limão. Remessa da Dona Valda. Picoense que um dia , sofreu por mim as dores do parto. E eu aqui , num ócio calculado e merecido , querendo comprar o caminho para o mar , já asfaltado , pelo trânsito de quem faz o percurso há muitos anos ... De lá pra cá , e daqui pra lá.

Na " vitrola" , Noel , interpretado por João Nogueira. "Gago Apaixonado "... é muito engraçado ! Minha nora , moça nova , gargalha e confessa : Nunca escutei essa música. Quem inventou existe ou existiu ? Pacientemente , e com ares de quem tudo sabe , respondo : Ele nem completou 30 anos. É justo da tua idade , e eterno no assunto !

O verdureiro passa , e eu fico com um cacho de bananas e um molho de cheiro verde pra perfumar o feijão. A carne já está cheirando... Aluguei o forno , que esquentadíssimo , doura o meu almoço.

No mais , escuto a polifonia ( ou cacofonia ?) da propaganda eleitoral. Sem candidato a Prefeito , aposto nos desígnios de Deus. O Emerson sendo vereador , cultura será direito !

Blogs silenciosos como o cemitério , nas manhãs em que o Anjo da Temperança está de folga. Que faz por aí , quando ninguém morre ?

o Jiló da vida




A expiação é jiló, sal amargo.
O homem , em seus lugares torturados.
O jardim desfolhado; o vestido que virou trapo
Os olhos perdidos , numa chuva que não passa
O silêncio de quem não sabe pedir
A fragilidade de quem não pode fazer
A displicência de quem não enxerga , o tudo a ver.
Tristeza no ar ...
Moitas nativas ,
rasgadas por um propósido descabido ...
Magoam com o olhar , o canto que amamos ...
Sorriso amarelo , no verde que aspiramos.
A natureza chora por nós...
Vale da madrugada ,
nem tudo está perdido !


Psiquê

Saia justa , me ajuda
Saltos sem acrobacias
Pronta para um tango ...
Uno ... Vamos ?
Olhos nos olhos ...
Suportas ?
Sou feliz !
Se esclarecer , apaga
Amor sem pé , nem cabeça ...
É retrato falado
de mim mesma !
Ele é joia rara ...
Diamante Negro
pros meus lábios.
Estúpido é o cupido
Psiquê pisou na bola
Flechas certeiras
lhe feriram !

Comentário que Luis não consegiu postar...

Socorro,

Vejo suas fotos, você menina e você hoje, madura. Claro que prefiro você agora. Se a encontrasse na foto antiga, só se fosse para “criá-la”, pois você me chamaria de “vô”... Eu refluiria, triste, “ (...) estou no filme errado (...)”, mas você hoje sei me chamará “você”, olhos nos olhos , coração no coração!! Gostei muito das – duas – fotos, e sei que você me dá hoje com a pureza e a energia demonstradas na sua foto de menina!!
Não tenho eu como lhe enviar fotografias, pois geralmente não tirei fotos na minha vida, ainda que tive alguma máquina nalgum momento, mas nunca me interessou assim... Tenho poucas fotos de toda minha vida. Da época do Ceará, por exemplo, 1978 a 1980, não tirei uma sequer, não tenho qualquer registro daquela época, apenas minha memória. O mais forte, que até hoje recordo, foi a primeira pessoa – você – que encontrei em Fortaleza, quando cheguei à cidade, outubro, que estava naquela pensão, procurando um amigo, que me dera tal endereço, mas ele não estava, e você chegou dourada, brilhante, solar! Fiquei impressionado, nenhum encontro foi para mim tão forte, até porque você naquele ofuscou tudo que veio a seguir... Ainda a vi no Anísio, mais tarde, no mesmo dia... Acompanhada, só o que pude fazer então foi prestar minha reverência natural! O próximo encontro nosso sei também que será único, porque temos objetivo pessoal comum definido, o que nunca tivemos antes, isto é, elaborado em comum!!
. o o .


Você falou de clareza e sinceridade em meu texto. Clareza decorre certamente de um domínio prático desenvolvido no trabalho de revisão textual, já desde 1994, mas em meu nascimento Vênus está em Gêmeos, na 3ª. casa astrológica. Isso me deixa com um sentimento externo intenso de comunicação, e interno igualmente intenso. – A 3ª. casa, de gêmeos, você sabe, é da natureza intelectual, não é isso? – Vênus é o amor, a beleza externa e interna, coesiva, da natureza! Onde temos Vênus em nosso mapa realizamos com a máxima competência amorosa! (Procurei agora, não consegui encontrar, o seu mapa natal, para comentar sobre Vênus em seu momento de nascimento, mas não o consegui encontrar, tão bem-guardado está... Depois vemos!!) – A sinceridade acho que vem da franqueza taurina, sutil como a de um tapinha de um elefante nas costas da gente... Todo taurino é franquíssimo!... O trabalho comunicacional acho o grande recurso que tenho, pois tão favorecido astrologicamente.


Quinta-feira, 13 de janeiro... – 2ª. parte

Querida, após escrever para você mais cedo, fui à televisão, a tragédia na região serrana do Rio de Janeiro. Convivemos lá. Não sei o que dizer. Espero que as pessoas se salvem, que sua vida seja recuperada. A mesma coisa acontece em São Paulo, em todos os lugares, em nosso país.

O atendimento público ‘não consegue’ prever as situações de calamidade, e as administra precariamente, quando acontecem. Falta a previsão. O que fazem tais pessoas, que ocupam as funções públicas? Como não reveem as situações passadas, no presente, de modo a preveni-las para o futuro? Sua vida se resume em ter altos salários e estabilidade? O mundo existe para atender aos seus caprichos? Não funcionam?!
Uma equipe que assume a governança praticamente desconhece o que a anterior fazia, não lhe dá continuidade ao que está em curso, muda as pessoas, começa tudo de novo, e novo ciclo de corrupção tantas vezes é (re)iniciado. É infelizmente o que mais temos visto, no Brasil.
Precisamos trabalhar juntos para prevenir as situações, no presente, ao revermos o passado, em todos os campos da nossa vida humana. Na atualidade, com a internet, podemos participar em todos os cantos do país, e do planeta. Imagino que a ONG que trabalharemos fará assim, ao tempo que nos preparamos colaboradores em capacitação para atuar em todos os sentidos. É preciso que estanquemos a sangria produzida pela incompetência estúpida, corrupção canalha e preconceito imbecil, em nosso país e no mundo.

Tudo o necessário é natural, existe à disposição comum. Com o pensamento e sua expressão, mais claro algum recurso material mínimo, que nós mesmos geraremos, é preciso agirmos logo, ou continuaremos a ver tragédias semelhantes às que nos têm acontecido diariamente, em todos os lugares. Elas sempre acontecem pela via da natureza, por causa da nossa atuação desrespeitosa, despreparada e alienada anterior, mas também pela nossa atuação de novo alienada despreparada e desrespeitosa atual mesmo. Por isso, convivemos com a violência e a droga, a prostituição e a doença, frutos da ignorância egoísta.

Porque falta a tantos condições dignas de sobrevivência, no curso de todo o tempo em que vivem, não acontece nada para lhes resolver os problemas, de fato, acabam por se enfileirar do lado da expropriação dos outros pela comercialização – igual faz o sistema com seus tentáculos originários da doença proprietária privada egoísta, administrada pelo estado executivo, legislativo e judiciário, resguardado pelas “forças armadas” – das drogas escravizantes e das armas semelhantes às que a Constituição permite aos poderes “republicanos” atuais.

O trabalho que temos é gigantesco, mas não mais do que nós unidos. É muito legal que utilizemos nossa arte para louvar a beleza, mas a devemos utilizar para transformar o status quo, na atualidade, por causa da imensa necessidade existente. Talvez no momento atual utilizemos a proporção de 99% de arte engajada para 1% de arte estética, de louvor à vida, por causa da dimensão de precisão de mudança. É preciso concitarmos a todos para o exercício criativo da realização de um mundo novo.