por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 31 de outubro de 2013

"A hora é agora" - José Nilton Mariano Saraiva

Tão brincando com fogo. E a experiência ensina que quem brinca com fogo tende a queimar-se (cedo ou tarde). Principalmente quando impera a falta de cuidados, os excessos, a afobação, enfim, o desrespeito ao bom senso e às leis. A reflexão acima tem a ver com as tais manifestações que se espraiam pelo país desde junho passado. Manifestações que, se pacíficas, ordeiras e com objetivos definidos, encontram respaldo no próprio texto constitucional (tanto que o Governo tem, via polícia militar dos Estados, na medida do possível, se limitado a proteger seus integrantes ao longo das caminhadas). Mas que perdem tal respaldo a partir do momento em que seus integrantes confundem liberdade com libertinagem, democracia com anarquia. Afinal, esconder-se atrás de uma máscara objetivando atentar contra o patrimônio público e privado (depredando a torto e a direito), impedir o ir e vir das pessoas, agredir os que tentam manter a ordem, bloquear vias importantes por onde escoa a produção nacional e por aí vai, não é bem um “ato democrático”. Exemplificancdo: a rodovia Raposo Tavares é uma das principais do estado de São Paulo, por onde trafegam milhares de veículos diariamente; não só automóveis particulares e o transporte público, mas, principalmente, caminhões e carretas que transportam cargas para os mais diversos rincões do país. Ou seja, a Raposo Tavares é um dos importantes corredores por onde se processa o “giro da roda” - a movimentação da economia do país. Eis que, de repente (e a televisão mostrou ao vivo), a Raposo Tavares literalmente parou em razão de um quilométrico e monumental congestionamento, em pleno dia útil. É que, mais à frente, obstruindo-a e provocando tal confusão, doze (12) pessoas (sim, senhores, apenas doze solitários “manifestantes”) se acharam no direito de parar a maior cidade do país, via protestos contra a falta de moradia. Já na rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, cerca de 90 pessoas impediam o ir e vir de quem quer que seja, ao tempo em que incendiavam caminhões e ônibus, em protesto pela morte de um adolescente de 17 anos por um policial militar. Fato é que, se agora o Governo Federal não tomar uma decisão dura o suficiente para se fazer respeitar (tolerância zero, via intervenção da Força de Segurança Nacional), os tais manifestantes sentir-se-ão à vontade para deflagrarem um movimento anárquico de inimagináveis proporções. E o objetivo maior, sabemos todos nós, é levar a anarquia até o ano 2014, quando o Brasil estará na mídia mundial em razão da realização da Copa do Mundo e das eleições presidenciais. E aí, as manifestações de junho de 2013 serão consideradas “fichinha”, “café pequeno”, ante os estragos que pretendem implantar, já que desmoralizando o Governo e o próprio país ante a comunidade internacional. Urge, pois, que o Governo Federal entre pra valer no embate, antes da chegada definitiva do caos. A hora é agora.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

"Ronda" - José Nilton Mariano Saraiva

A partir do momento em que o Governo do Estado do Ceará se decidiu pela criação do programa “Ronda do Quarteirão” (espécie de tropa de elite da polícia militar) visando combater com mais eficiência a bandidagem (segundo a propaganda oficial), uma medida causou estranheza: sob o pífio argumento de que as prováveis perseguições de marginais deveriam ser feitas por carros potentes e rápidos, os veículos a serem utilizados pelos policiais seriam de uma só marca, com tração 4 x 4 e cilindrada 2,7. E aí se descobriu a cereja no bolo: a Toyota era a única marca que atendia àqueles requisitos e a Newland, revendedora de tal marca em Fortaleza a beneficiada, a quem também caberia a manutenção (caríssima) de toda a frota, por tempo indeterminado. Hoje o programa “Ronda do Quarteirão”, se constitui numa espécie de calcanhar de Aquiles do Governo do Ceará, porquanto criticado por gregos e troianos, além do que seus integrantes não teriam recebido o tratamento adequado para manobrar equipamento tão sofisticado, daí as constantes quebras e, conseqüentemente, em constante manutenção nas oficinas da Newland (afinal, única beneficiária). Ainda assim, independentemente das críticas e do pífio resultado alcançado, o Governo do Estado do Ceará houve por bem abrir licitação para a compra de nada menos que 400 (quatrocentos) novos carros, a serem incorporados à frota. E aí surgiu um problema: desta vez, a General Motors (Chevrolet), que houvera fabricado um carro com as mesmas qualificações da Toyota, foi a montadora vencedora da licitação, já que com um melhor preço. E aí, estranhamente, usando de um artifício capaz de suscitar dúvidas, o Governo do Estado do Ceará houve por bem desclassificá-la, sob a alegativa de que os novos carros deveriam ter a cilindrada de 3,0 e não mais 2,8, como na licitação anterior. Isto posto, o carro escolhido foi o mesmo (Toyota), a revendedora a mesma (Newland), que ficará responsável pela manutenção da frota. O prejuízo para os cofres público será da ordem de R$ 10,0 milhões (o suficiente para comprar 63 carros a mais), daí o Tribunal de Contas do Estado já ter sido acionado pelo aguerrido Deputado Heitor Ferrer. Mas, como naquela corte o Governo manda e desmanda o contribuinte não deve alimentar expectativa de que a coisa seja mudada. Agora, aqui pra nós, bem que poderiam nos informar qual o percentual da comissão que a Newland tá disponibilizando para ter tantos privilégios.

sábado, 26 de outubro de 2013

"Biografias" - José Nilton Mariano Saraiva

Mas...afinal, biografias devem ou não ser autorizadas ???

O bafafá a respeito nos remete a uma entrevista concedida pelo jornalista Lira Neto, depois que colocou no mercado, em 2009, a volumosa (e cara) biografia que produziu enfocando Cícero Romão Batista (são mais de 500 páginas).

Pois bem, após narrar o conceito “objetivo” da Igreja Católica a respeito (tanto que na prática redundou na expulsão do sacerdote das suas hostes), bem como as “subjetividades” dos fanáticos adeptos (tanto que sem nenhuma comprovação dos pretensos milagres), aquele jornalista foi instado a pronunciar-se se acreditava realmente na ocorrência do tal “milagre da hóstia”.
Depois de tergiversar, gaguejar, pigarrear, Lira Neto diplomaticamente tirou o braço da seringa ao afirmar que àquela época, lá (em Juazeiro) houvera acontecido “alguma coisa”, mas que não poderia precisar o quê. Ou seja, até o biógrafo levanta dúvidas a respeito da veracidade da informação que acabara de divulgar.

Sem dúvida, uma ducha de água fria nos adeptos de Cícero Romão Batista, que aguardavam um depoimento incisivo e contundente de sua parte, confirmando a sua convicção a respeito, afinal não manifestada.

Assim, o houvera acontecido “alguma coisa”, do biógrafo Lira Neto, deixa a porta entreaberta para que livremente trafegue versões outras e mais consistentes, inclusive e principalmente a da própria Igreja Católica, segundo a qual o tal “milagre da hóstia” não passou de uma grotesca farsa, desbragado charlatanismo (tanto que seu “arquiteto-idealizador” foi sumariamente desautorizado, excomungado e expulso da instituição).

Particularmente, entendemos que ancorados no generoso e amplo sentido embutido no conceito “liberdade de expressão”, ninguém tem o direito de sair por aí devassando a vida de outrem, sem prévia autorização, já que objetivando puramente fins mercantilistas.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A mala e a alça



J. Flávio Vieira

                               Tardezinha. Beira de praia. O sol sangra distante ao som rítmico das ondas que se espedaçam na areia . Preamar. De quando em vez,  o chuá-chuá mântrico é entrecortado pelo agudo grito das garças riscando os céus. A moça sentara-se num banco e observava tudo, atentamente, como testemunha privilegiada,  o espetáculo. A paz e a beleza do mundo como que se transportavam para dentro dela: arrefeciam um pouco seus muitos conflitos interiores, como se lançassem água fria na fervura. De repente, um menino se aproxima da mocinha. Carregava lá seus dez anos distribuídos num corpo franzino, bronzeado,  vigiados por olhos vivíssimos. Trazia , embaixo do braço, uma pequena tabuleta onde prendera um pedaço de cartolina e, na outra mão, um crayon. Ela percebeu, claramente, pela conversa que se seguiu, que a necessidade o havia apeado cedo da inocência e das fantasias infantis. Parecia uma fruta que se tivesse colocado no carbureto pra antecipar o amadurecimento.
                               --- Moça, você não quer que eu pinte seu retrato ? São só dez reais e vai ficar muito bonito !
                               Por baixo da cartolina branca, trazia , então,  vários modelos já pintados anteriormente e que usava como publicidade. Apresentou-os pausadamente à cliente. A mocinha, de início, resistiu à investida, mas o menino carregava muitas artimanhas e técnicas de sedução.
                               -- Dez reais não é nada!  A senhora é tão bonita  que eu devia era fazer de graça !  Juro que pintaria,  se não estivesse precisando pagar uma continha na barraca  ali de seu Anfrízio!
                               De alguma maneira,  o garoto sabia que a beleza da paisagem, àquela hora,  imantava  todos de um sentimento de permanência, de eternidade. Como se o crayon tivesse a capacidade de tornar sólido,  o etéreo daqueles instantes,  fossilizar a efemeridade daquele momento mágico. Talvez, por tudo isso, a mocinha tenha acedido.
                               --- Tá certo ! Mas quero sair linda, viu ?
                               O pintor sentou-se no chão,  diante da moça refestelada no banco e, rápido, começou a esboçar os contornos do rosto, tendo no segundo plano:   algumas nuvens e um projeto de lua cheia.  Usava os dedos e o dorso da mão para espalhar, aqui e ali,  a tinta e uma borracha para eventuais correções. Conhecia os mistérios da profissão e percebia que toda mulher, nesse mundo, se acha mais bela do que aparenta. Entendia, pois, na sua psicologia pictórica, que a interatividade com a modelo é, sempre,  essencial no  resultado final.
                               --- Moça, seu rostinho é meio redondo, você não prefere que eu alongue um pouco ?  Acho que fica mais bonito!
                               --- Alongue, meu filho, tenho um complexo danado dessa cara de lua cheia...
                               O pintor , freneticamente, como um Pollock tupiniquim, esparramava a tinta na cartolina enquanto , meticulosamente, ia indicando possíveis correções que podiam melhorar a arte final.
                               --- Essa cicatrizinha no queixo, não é bom tirar ?
                               --- Tire, isso foi de um acidente que quero esquecer!
                               --- Se eu aumentar um pouco o busto, você vai ficar mais sensual !
                               --- Pois aumente !
                               --- Seu narizinho é charmoso, mas é um pouco chato. Posso arrebitar ?
                               --- Arrebite, vá lá ! Você presta atenção em tudo, né ?
                               --- Seu cabelo tá curtinho, acho que ficava mais legal se a gente botasse um pouco mais de volume, cobriria  mais suas orelhas que são um pouco cabanas...
                               --- Pois avolume,  eu quero é ficar melhor ! Já que não posso fazer  plástica, ao menos no retrato é possível, né ?
                               Em poucos minutos , com movimentos cada vez mais rápidos e sincronizados, o menino finalizou a obra. Assinou num cantinho : “Juvenal” e, logo abaixo, datou: “2013”. A menina observou, detalhadamente,  o quadro e gostou do que viu. Ali estava  justamente como gostaria de ser, sem um defeito sequer: linda, deslumbrante, poderosa, com um sorriso pendendo nos lábios. Pagou, elogiou o trabalho do artista e saiu para casa levando sua relíquia debaixo do braço. No outro dia,  mandou botar no quadro , com uma moldura antiga e dourada  e um passe-partout  bege.  Afixou  na sala de jantar,   logo acima do divã azul.  
                               Os dias se passaram e a menina começou a encafifar. O retrato lá estava lindo e deslumbrante, todo visitante admirava-se da beleza da obra, mas ,invariavelmente, seguia-se a pergunta fatídica;
                               --- Quem é ? Sua irmã? Uma prima ? Sua tia ?
                               De tanto responder e explicar, cansou. Resolveu tirar o quadro da parede. Chegou à conclusão que nós somos nós , não só por nossas qualidades, mas também por nossos defeitos.  Sem a alça,  a mala poderia  ser até mais bonita  e simétrica, mas seria apenas uma caixa. As pretensas deformações que nos tornam mais feios são , justamente, aquelas que nos dão a identidade , que terminam nos fazendo diferentes e únicos.

Crato, 24/10/13
                              

terça-feira, 22 de outubro de 2013

VISITA À NASCENTE DO SÃO FRANCISCO

Conhecia a nascente do Rio São Francisco em 2007. Vejam como então descrevi a paisagem especial que conheci e que agora revisito:

http://poesiacronica.blogspot.com.br/2007/10/viagem-nascente-do-rio-so-francisco.html

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A tal "emancipação" - José Nilton Mariano Saraiva

Dos 5.564 municípios distribuídos pelos diversos Estados da federação, mais de 90,0% tem como principal fonte de renda o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), transferência de recursos do governo federal sem a qual não fechariam a contabilidade.

Por essa razão, afigura-se-nos um equívoco sem tamanho que o Legislativo brasileiro (Câmara e Senado) tenha aprovado e encaminhado para sanção do Executivo (Presidência da República) lei chancelando a emancipação (transformação) de 180 distritos em novos municípios.

Afinal, sabendo-se que a arrecadação dos diversos impostos municipais representa tão somente 5% da receita de uma prefeitura, como irão manter a estrutura burocrática necessária para pagar Prefeito, Vice, Câmara de Vereadores, Secretários e o funcionalismo em geral ??? O que sobrará para ser investido em obras e serviços ???

Além do que, há de se levar em conta que a lei estabelece um novo rateio no âmbito dos próprios estados no caso de criação de novos municípios, qual seja: as nascentes urbs terão coeficientes individuais fixados pelo TCU, que entrarão no levantamento de cada estado para a divisão dos recursos, levando, conseqüentemente, à redução das cotas individuais das demais comunas (as já existentes).

Assim, dando com uma mão e tirando com a outra, nada mais temos do que a famosa “socialização da miséria”, porquanto simplesmente  dividir-se-á o mesmo bolo com novos e famintos usuários.

Alfim, um detalhe desalentador: estudos preliminares estimam um impactante aumento de R$ 9,0 bilhões (mensais) nos gastos públicos com a criação dos novos municípios. Valerá à pena, tendo em vista que transformar-se-ão em meros currais eleitorais de políticos profissionais, ao longo do tempo ???

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A latrina no horário nobre



J. Flávio Vieira

                                               Uma polêmica divide a classe artística do país: deve-se exigir ou não autorização dos interessados,   em casos de biografias ?  O Código Civil, atualmente, reza que qualquer cidadão pode impedir a publicação de biografias a seu respeito, se se sentir atingido na honra, boa fama ou respeitabilidade ou se se destinarem as biografias a fins comerciais. Atualmente, existem impedidas de publicação biografias de : Raul Seixas, Roberto Carlos, Guimarães Rosa.  A Associação Nacional dos Editores de Livros, no entanto, entrou no Supremo Tribunal Federal com uma ADIN ( Ação Direta de Inconstitucionalidade), justificando que a proibição das biografias não autorizadas fere frontalmente o preceito constitucional da Liberdade de Pensamento. Artistas se posicionaram, imediatamente,  em falanges diferentes. Um grupo importante chamado “Procure Saber” que inclui : Milton Nascimento, Erasmo e Roberto Carlos ,Chico Buarque, Caetano Velloso, Djavan, Gilberto Gil dentre outros, é frontalmente contrário à ação; já o GAP ( Grupo de Ação Parlamentar Pró-Música) que engloba músicos como Frejat, Alceu Valença, Léo Jaime, Leoni e Dudu Falcão entendem que as biografias devem ser produzidas sem necessidade de prévia autorização.
                                               Não sendo advogado, percebo que o embate não diz respeito, apenas aos simples pontos levantados nas notícias : Direito à Privacidade X Liberdade de Pensamento. Há , certamente, junto a tudo isso a importante questão do Direito ao uso da imagem. Artistas célebres e famosos não se conformam, claro, que suas vidas sejam expostas sem sua autorização expressa e, mais, alguém (biógrafos e editores) lucre fartamente com isso , sem que nem um centavo cai na caixinha do artista.  Os defensores da liberdade biográfica dizem que  se o biografado se sentir atingido de alguma forma, poderá ir à justiça em busca de indenizações por danos morais ou por conta do uso indevido da imagem, sendo, no entanto, necessário lembrar a lerdeza da justiça brasileira. Muitos, por outro lado, já deverão ter falecido e já não terão voz para se defender e apresentar outras versões mais palatáveis que as apresentadas pelos jornalistas.  Além do mais, em caso de difamações ou calúnias,  a simples indenização não cobre o dano terrível muitas vezes causado pela veiculação de uma notícia escabrosa ( mesmo que verdadeira). Uma vez quebrado o colar de pérolas,  já não é  mais possível refazer e montar  todas as peças.
                                               Se a gente observar direitinho os dois grupos, são justamente os artistas mais  midiáticos e importantes do país que se posicionam contra o liberou-geral. Certamente, são eles que mais têm a perder nesta questão. Serão os mais biografados e suas vidas as mais especuladas e dissecadas. Quanto mais podres encontrados : mais mídia, mais polêmica e mais Best-Sellers.
                                               Vou meter minha colher nesse angu de caroço. Sinto-me a antítese do biografado. Minha vida não daria sequer um cordel e empacaria a venda em qualquer barraquinha de feira. Sem glamour, sem aventuras mais pitorescas, sem tramas rocambolescas, percebo minha clara isenção para falar do melindroso assunto. Não há vida que sejam livros abertos, amigos. Todos nós temos nossas páginas pregadas com goma arábica no meio do tomo. Se escarafunchar mesmo não existem heróis nesse mundo : nem santos, nem valentes, nem honestos sem máculas. Cada um de nós carrega o Dr. Jekyll e o Dr. Hyde bem pertinho. Às vezes, um simples e mínimo defeito físico nos tortura, uma deformidade de caráter, uma orientação sexual nos atravanca a vida. Mesmo a Liberdade de Pensamento, como bem maior, tem lá seus limites. É justo , por exemplo, em nome dela, estimular o preconceito? Defender o Nazismo ? Propalar o extermínio por fogo dos moradores de rua ? A privacidade de cada um de nós é um Direito Sagrado. O que se passa na alcova e no banheiro só a mim interessa. Ninguém tem o direito de invadir este espaço, sem meu franco consentimento e tornar públicos segredos que só a mim interessam. Isso não é Bulling ?
                               As histórias trágicas envolvendo até mesmo Memórias de Família são corriqueiras. Pedro Nava, o maior memorialista brasileiro, fala da quantidade de inimigos que arranjou na própria parentada, quando começou a traçar o perfil pouco abonador de alguns ascendentes. Recentemente, um escritor na região , num livro sobre a sua vida, mostrou uma visão própria e desabonadora do próprio pai: foi motivo suficiente para a intriga de irmãos e sobrinhos. Imaginem tudo isso escrito por terceiros e,  mais: além de chafurdar na latrina ainda ganhar dinheiro com isso?  Como vocês reagiriam lendo a biografia do pai ou avô com detalhes sórdidos de crimes cometidos, de trapaças realizadas às escondidas, de distorções sexuais impensáveis , mesmo que sabidamente verdadeiras ?
                               Há países de primeiro mundo como França, Estados Unidos, Reino Unido e Espanha  onde as biografias não autorizadas são permitidas, mas as indenizações são prontas e rápidas àqueles que sofreram algum tipo de difamação. Aqui, o destino dos caluniados e difamados seria  seguir uma procissão enorme de recursos a processos, enquanto o esterco espalhava-se ventilador afora. Leis de primeiro mundo pressupõe-se sejam aplicadas com justiça do mesmo jaez.
                               Posso parecer retrógrado, mas continuo defendendo que o diálogo entre mim e a latrina não precisa ser filmado e veiculado como atração no horário nobre.

A "fotografia" - José Nilton Mariano Saraiva

Não deve existir coisa pior no mundo para o ser humano do que ser pego no “flagra”, no exato momento do cometimento de algum deslize ou da materialização (prática) de um ato excrescente, não tão convencional, que vá de encontro aos bons costumes e à normalidade. E quando tal situação ou momento é “imortalizada pela fotografia” (a tal prova provada) e posteriormente veiculada em primeira página num veículo de penetração nacional, como um jornal de grande circulação, por exemplo, o constrangimento de quem a praticou deve ser algo amazônico, capaz até de fazê-lo recolher-se durante um tempo, até que a poeira baixe e os ânimos serenem. Pelo menos pra quem tem um mínimo de “simancol”.

Pois bem, como é de conhecimento público, a última eleição para a Prefeitura de Fortaleza foi pau puro, briga feia, embate acirrado, jogo bruto e pra lá de pesado, com acusações de ambas as partes: de um lado, o candidato da prefeita sainte (Luizianne Lins) e de outro, o candidato do governador do Estado (Cid Gomes). No meio, como fiel da balança e alvo de todas as atenções, quem findou levando a melhor foi o eleitor dos bairros periféricos da capital, porquanto caminhões e mais caminhões, com carradas de “dinheiro vivo”, teriam sido distribuídos na noite anterior ao pleito. E aí, por uma apertada margem de votos (teoricamente comprados) o candidato apoiado pelo senhor Governador do Estado acabou por suplantar o indicado da prefeita.

Vida que segue, compreensivelmente, dia seguinte, as manchetes (garrafais) dos jornais matutinos da capital se referiam ao seu resultado, destacando a minguada vitória de um praticamente noviço na política cearense, o médico e deputado Roberto Cláudio, criação da “grana desenfreada” e da equipe de marqueteiros da máquina governamental (sim, porque se pessoalmente trata-se de uma figura afável, esteticamente é um autentico desastre: baixinho, careca, redondo de gordo e pesando quase 200 quilos).

Pois bem, muito mais que a manchete do jornal em si, o que chamou a atenção foi a “fotografia” colorida de meia página (na primeira página), publicada para ilustrá-la: nela, com um sorriso de orelha a orelha e claramente turbinado por alguma substância milagrosa (excesso de álcool ???), o assessor do Governador, ex-prefeiturável, ex-governamentável, ex-tudo e, por fim, secretário de Governo, senhor Ferrúcio Feitoza, deixara de lado a formalidade do terno e gravata e carregava nos ombros, sozinho e até com certa facilidade, o peso-pesado Roberto Cláudio e seus quase 200 quilos.

Foi o bastante para se compreender o repentino destaque conseguido pelo senhor Ferrúcio Feitoza que, de uma hora pra outra passara a ser “vendido” como um dinâmico e moderno gestor, modelo de executivo a ser cortejado e imitado, tanto que houvera sido mencionado como concorrente ao cargo do agora prefeito eleito; na realidade, cristalizou-se na opinião pública a certeza de que tal figura não passava de um monumental puxa-saco, bajulador asqueroso e sem nenhum escrúpulo.

Meses após, pra seu azar, através das “redes sociais” (sempre elas) o senhor Ferrúcio Feitoza foi novamente “flagrado”, como sempre sorridente, só que dessa vez dentro do carro do amigo Governador do Estado (evidentemente que no banco de carona), num desses passeios em que o chefe do executivo cearense se permite realizar sem a companhia do motorista particular e todo o seu séquito de seguranças.

O “detalhe” curioso da bendita “fotografia”: como que para corroborar o pejorativo “juízo de valor” que houvera sido emitido lá atrás a seu respeito (na época da eleição), o senhor Ferrúcio Feitoza dessa vez levava, não nos ombros, mas no próprio colo, dedicando extremada atenção, carinho e zelo, o “cachorrinho” do chefe (ninguém sabe se chegou a levar alguma “mijada”).  

PUXA (vida, haja) SACO, como pode alguém se submeter a tamanhos vexames, pelo e em nome do poder ???

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A "aposentadoria" - José Nilton Mariano Saraiva

De par com toda a carga simbólica que a envolve (a certeza de ter sido “útil” e de não ter passado pela vida “em vão”), a “aposentadoria” deveria se constituir numa espécie de merecido prêmio àquele que durante boa parte da vida “ralou” duro para possibilitar o contínuo “giro da roda” e, conseqüentemente, o evoluir do processo produtivo; e, como natural contrapartida, o desejável seria a formação de um capital mínimo que permitisse ao aposentando um tranqüilo descanso mais adiante (e/ou pelo menos a sobrevivência com certa dignidade).

No entanto, não só no Brasil, mas, mundo afora, o tal do “capitalismo selvagem” (via globalização desenfreada), literalmente “decretou” que apesar da “bagagem” adquirida (conhecimento) e da experiência acumulada ao longo dos anos (o saber fazer), aquele que se aposenta passa a ser uma espécie de “produto descartável”, verdadeiro trambolho a obstar o progresso dos mais jovens e, pois, passível de descaso e desrespeito por parte dos que “estão chegando” (a “meninada”). Excluí-los, portanto, passa a ser a senha vigente; escamoteá-los, a palavra de ordem; deletá-los de vez, uma necessidade.

Assim, não tenham dúvidas de que a tão badalada “reinserção” do aposentado no processo produtivo, cantada e decantada em verso e prosa, não passa, em verdade, de uma miríade distante, verdadeira utopia (ou enchimento de lingüiça), porquanto as barreiras para tal se apresentam a partir do momento em que o “carimbo” de aposentado é aplicado àquele que passou a vida labutando com vigor (mas que ainda assim se apresenta física e mentalmente apto à luta). 
 
A propósito, permitimo-nos dividir com vocês, aí do outro lado da telinha, a magistral colocação da escritora francesa Viviane Forrester sobre os dois momentos: aposentadoria (01) e pós-aposentadoria (02).

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Sobre a aposentadoria:

“Tantas vidas encurraladas, manietadas, torturadas, que se desfazem, tangentes a uma sociedade que se retrai. Entre esses despossuídos e seus contemporâneos, ergue-se uma espécie de vidraça cada vez menos transparente. E como são cada vez menos vistos, como alguns os querem ainda mais apagados, riscados, escamoteados dessa sociedade, eles são chamados de excluídos. Mas, ao contrário, eles estão lá, apertados, encarcerados, incluídos até a medula. Eles são absorvidos, devorados, relegados para sempre, deportados repudiados, banidos, submissos e decaídos, mas tão incômodos: uns chatos. Jamais completamente, não, jamais suficientemente expulsos. Incluídos, demasiado incluídos, e em descrédito. É dessa maneira que se prepara uma sociedade de escravos, aos quais só a escravidão conferiria um estatuto.”

Sobre o pós-aposentadoria:

“Longe de representar uma liberação favorável a todos, próxima de uma fantasia paradisíaca, o desaparecimento do trabalho torna-se uma ameaça, e sua rarefação, sua precariedade, um desastre, já que o trabalho continua necessário de maneira muito ilógica, cruel e letal, não mais à sociedade, nem mesmo à produção, mas, precisamente, à sobrevivência daqueles que não trabalham, não podem mais trabalhar, e para os quais o trabalho seria a única salvação”.


Porreta, não ???  

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A "caixa-preta" do Judiciário - José Nilton Mariano Saraiva

De relevantes serviços prestados à sociedade, o Ministério Público Federal do Ceará (um verdadeiro “ninho de cobras criadas”, no bom sentido), empossou na sua presidência, dias atrás, o desassombrado Procurador da República Alessander Wilcson Sales, sem favor nenhum um técnico competente e que prima pela seriedade e transparência nos seus atos.

Tanto é que, anos atrás, em artigo publicado conjuntamente com o também Procurador da República José Adonis Callou (no jornal O POVO), emitiu o seguinte “juízo de valor” a respeito do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, sediado em Recife:

“Na área de jurisdição do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (Recife-PE) é quase impossível investigar fatos ilícitos praticados por agentes postos em elevadas esferas políticas e da economia”, porquanto...“por aqui é muito comum decisões que trancam as próprias investigações”, já que... “quase sempre as decisões dos Juízes Federais de primeira instância, em atendimento a solicitações do Ministério Público, visando à defesa de interesses coletivos, são imediatamente cassadas pelo TRF”.

O que se comenta é que, como na condição de simples “procurador” não lhe faltou coragem de referir-se publicamente à “caixa-preta” do Judiciário, o Governador do Estado do Ceará já estaria preocupado com possíveis intervenções do novo Procurador Geral da República nos vários escândalos que tramitam na Procuradoria da República local, envolvendo o erário público.

A expectativa da sociedade é, pois, que ele “não bata o catolé” e se disponha a ir fundo na investigação das várias denúncias que envolvem o Governo do Ceará, divulgadas pela imprensa já há um certo tempo. 

domingo, 13 de outubro de 2013

IV ENCONTRO DOS FILHOS E AMIGOS DO CARIRI

 
IV ENCONTRO DOS FILHOS E AMIGOS DO CARIRI
O evento se realizará em Fortaleza (CE).
LOCAL: Náutico Atlético Cearense
DIA : 26 de outubro de 2013
HORA: a partir das 21:0 hs
BANDA: BRASA SEIS
INGRESSOS : R$ 20,00 (vinte reais)
TEMA:HOMENAGEM À CIDADE DE CRATO
CONTATO: (085) 9613-3936
INGRESSOS JÁ ESTÃO À VENDA NA SECRETARIA DO CLUBE
HAVERÁ VENDA DE INGRESSOS NA PORTARIA

sábado, 12 de outubro de 2013

"Mistura" indigesta - José Nilton Mariano Saraiva

Ao “esquecer”, por mera conveniência pessoal, o conceito “pejorativo” que emitira a respeito dos “partidos políticos”, aliando-se a um deles (o PSB, que abriga o supra-sumo do que há de mais conservador e sectário), Marina Silva não só decepcionou os antigos companheiros da tal “rede sustentabilidade” como, também, findou por admitir tacitamente se achar disposta a “vender a alma” ao diabo a troco de uma compensação qualquer (sua candidatura a vice); ao desnudar-se por inteira, findou por mostrar que, ao contrário do que pregara e difundira ao longo da sua trajetória, não é nem um pouco “diferente” dos políticos tradicionais, porquanto neo-partícipe do mesmo jogo sujo que os caracterizam. E em assim procedendo, renegando tudo o que pregara, Marina Silva pode ter assinado o próprio “atestado de óbito”, politicamente.

É que, a partir de então, o seu “puritanismo” tenderá a sofrer um corrosivo processo de desgaste, tanto ético como moral, ao aliar-se a práticas e métodos que reprovara no passado, mas que constam do cardápio “pragmático” do novo chefe, Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB. Tanto é que este, de passagem por Belo Horizonte, ao confraternizar com Aécio Neves admitiu formalmente que o seu partido poderá se “misturar”, sim, com outras agremiações na disputa estadual, visando obter ganhos no plano federal.

E mais: na tentativa de viabilizar a qualquer custo sua candidatura à Presidência da República, Eduardo Campos admite a possibilidade de... “nos Estados dividir palanques de candidatos a governador com outros postulantes ao Palácio do Planalto”. Tanto que lá mesmo em Minas Gerais o martelo já teria sido batido, com o PSB já tendo se aliado ao PSDB, no que para ele seria uma mera... “experiência de palanque duplo”.

Em português claro e cristalino: para Eduardo Campos, as alianças estaduais entre PSB e outros “partidos” em torno de um mesmo candidato a governador serão não só toleradas como estimuladas, contanto que lhe traga dividendos mais à frente.


Terá Marina Silva estômago pra suportar tal tipo de “mistura” indigesta ???