por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Apenas a vida - Por José de Arimatéa dos Santos

Foto: José de Arimatéa dos Santos
Imagem bonita cheia de vida e de verde que encanta nossos olhos e escutamos o cantar dos pássaros e o barulho dos galhos das árvores. Para mim é prazeroso está na mata e no silêncio ensurdecedor da floresta escutar o quanto a vida pode ser bem diferente em que a paz é possível e o amor entre as pessoas palpável.
E aquele barulhinho dos pássaros e as folhas que caem no chão fazendo aquele balé da vida, pois o chão do mato se transforma diuturnamente no solo fértil de muita vida e doçura.
Tanta qualidade de vida em que a poluição ainda está longe e para quem vive da mata sabe dar valor a cada centímetro de mata. Sabe de seus perigos por que o homem invade sempre com a violência de assassino da natureza. Mata o bicho, derruba as árvores e polui o rio. Que santa ignorância!
É necessário um outro olhar para a mata. Olhar de curiosidade e de contemplação. Estudar todo o ciclo da natureza para que a exploração seja de forma sustentável. Posso está delirando, mas muita comunidade na amazônia ou outro bioma nos dá aula da boa convivência com a mãe natureza.
Respeito e carinho. A mata também merece. Por que devastar um sem número de área de floresta? A vida pulsa a todo vapor nas matas e aquele clima tão peculiar das florestas nos diz muito. É microcosmo tão perfeito em que tudo funciona tão maravilhosamente.
Vale a pena pensar e viver a floresta. E está a passar da hora de mudarmos nossos conceitos e tirar das matas a riqueza, mas de uma forma mais equilibrada biologicamente em que a vida se perpetue séculos, séculos, séculos...

OFÍCIO - por Ulisses Germano

O ofício de todo artista/
é levar contentamento/
tendo sempre, sempre em vista/
o mais puro sentimento/
De fazer do seu cantar/
Uma forma de abraçar/
a vida a cada momento!


(Didicado ao poeta-cantador Geraldo Júnior)

"Velhinho de programa" (humor)

Idoso charmoso, com lindos olhos meio verdes (cobertos com cataratas), loiro (só dos lados), corpo malhado (pelo Vitiligo) e sarado (das doenças que já tive, menos do enfarto, recente). Atendo em motéis, residências, elevadores panorâmicos etc. Só não atendo em drive-in por causa das dores na coluna. Alegro festa de Bodas de Ouro, convenções e excursões da Terceira Idade. Meço pressão, aplico injeções e troco fraldas geriátricas, tudo com o maior charme. Atendo no atacado e no varejo. Traga suas amigas. Maiores de sessenta e cinco, por força de lei, não pagam, mas só terão direito a horário recomendável para a saúde. Serão concedidos descontos para grupos: quanto mais nova, maior o desconto. Por questões de vaidade, não serão permitidas filmagens, pois operei recentemente uma hérnia inguinal, e que se mostra meio anti-estética. Na cama, dou sempre três. Três opções sexuais para a parceira: MOLE, DOBRADO OU ENROLADINHO. Como fetiche, posso usar touca de lã, pantufas e cachecóis coloridos. Outra GRAAAAAAANDE vantagem: já tenho Parkinson, o que ajuda muito nas preliminares. TOTAL DISCRIÇÃO, pois o Alzheimer me faz esquecer tudo que fiz na noite anterior.

"Passagem do tempo" -

Só pra voces constatarem a "evolução" provocada pela "passagem do tempo".
Dois momentos distintos, mas nem por isso exuberantes do Demis Roussos.
Deleitem-se....

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Ribamar - Por Norma Hauer





Ele nasceu no dia 9 de dezembro de 1919, aqui no Rio de Janeiro, recebendo o nome de JOSÉ RIBAMAR PEREIRA DA SILVA.
Foi um dos principais parceiros de Dolores Duran.

Conheci-o quando não era ainda um nome famoso, como funcionário do Ministério da Educação.

Na época já tocava piano e era conhecido como pianista entre seus colegas de rapartição.

Iniciou sua carreira de músico profissional em 1950, acompanhando Dolores Duran. Ainda nesse ano, venceu o concurso para escolha de um pianista de música popular na Rádio Nacional.
Em 1952 teve sua primeira composição gravada: o bolero "Duas vidas", com Esdras Pereira da Silva (seu irmão), na voz de Fernando Barreto. Atuou como violinista de Fafá Lemos e com outros grupos, formando em 1953 seu próprio grupo.

Quando ele lançou, de sua autoria e Dolores Duran, o samba "Idéias Erradas ", na voz de Carlos Galhardo, ofereceu-me o disco "ainda tininho", recém-saído da gravadora.

"Ternura Antiga" letra de Dolores, ele musicou após a morte da autora, que confiava nele para musicar alguns de seus versos. Isso quando ela não fazia letra e música.

Da dupla, podemos ainda "apontar""Quem sou Eu"; "Pela Rua; "Se eu Tiver ", isso sem citar o mais bonito "Ternura Antiga", cujo sucesso ela não conheceu.

Ribamar faleceu em 6 de setembro de 1987, sem completar 68 anos.

Tocando em boates e outras casas noturnas, conheceu Marisa "Gata Mansa", que o acompanhou por toda sua vida artística.

Foi um dos principais parceiros de Dolores Duran.

Conheci-o quando não era ainda um nome famoso, como funcionário do Ministério da Educação.

Na época já tocava piano e era conhecido como pianista entre seus colegas de rapartição.

Iniciou sua carreira de músico profissional em 1950, acompanhando Dolores Duran. Ainda nesse ano, venceu o concurso para escolha de um pianista de música popular na Rádio Nacional.
Em 1952 teve sua primeira composição gravada: o bolero "Duas vidas", com Esdras Pereira da Silva (seu irmão), na voz de Fernando Barreto. Atuou como violinista de Fafá Lemos e com outros grupos, formando em 1953 seu próprio grupo.

Quando ele lançou, de sua autoria e Dolores Duran, o samba "Idéias Erradas ", na voz de Carlos Galhardo, ofereceu-me o disco "ainda tininho", recém-saído da gravadora.

"Ternura Antiga" letra de Dolores, ele musicou após a morte da autora, que confiava nele para musicar alguns de seus versos. Isso quando ela não fazia letra e música.

Da dupla, podemos ainda "apontar""Quem sou Eu"; "Pela Rua; "Se eu Tiver ", isso sem citar o mais bonito "Ternura Antiga", cujo sucesso ela não conheceu.

Tocando em boates e casas noturnas,conheceu Marisa "Gata Mansa", passando a acompanhá-la ao piano, até sua morte em 6 de setembro de 1987, sem completar 68 anos.

Norma

Pelo amor de Manoel - Rejane Gonçalves



Pedro já chegara à eternidade velho. Incomodava-se, talvez por isto, ter que ficar quase sempre sozinho, ele e as mil e tantas chaves tilintando no bolso de seu camisolão, desassossegadas, por terem, elas e Pedro que se desdobrar entre aquele mundo de casa, o cuidado com as almas moradoras e ainda a prestimosa recepção às almas recém libertas do corpo. Não era fácil entender os sumiços, as saídas noturnas do Senhor e muito menos as desculpas, os motivos escusos de que se valia para abandoná-lo ali. Só. Imerso na estúpida brancura desse mar de nuvens.
Hoje, mais do que nunca, lhe parecera pouco convincente, poderia dizer até inacreditável o teor da explicação recebida, tanto que por não ser capaz de ultrajar o respeito encaliçado em sua mente de servo, fez que sim com a cabeça, quando Ele contara com voz mansa, igual se quisesse acalmar uma criança inconsolável, que àquela noite teria de mais uma vez se ausentar.
Moveria seu Espírito feito asas de uma imensa águia sobre a face de todas as águas. Era preciso, dissera, para satisfazer ao amor de uma criatura, na qual, num tempo muito mais distante do que seja qualquer tempo atrás, havia plantado um desejo, uma semente da criação de uma mulher, a mesma que Ele, com a barba por fazer e toda sua competência de Criador, não conseguira terminar. Da primeira vez por causa de uma estúpida preguiça. Da segunda, por tédio, fastio, sei lá. Da terceira vez por não suportar que os olhos, escolhidos para ela, fitassem o Eterno com a intimidade de um irmão gêmeo. Não achava justo olhar para dentro de uma velhice mais velha que a Dele. Era ameaçador. E que portanto ele, Pedro, entendesse. Precisava ir. Estar presente na hora exata de colher o poema na palma da mão.
Zangado, Pedro abriu o pesado portão de ferro, aquele que sempre fora reservado ao Senhor. Viu a túnica branca esvoejante se transmutar em alvas penugens de um pássaro descomunal. Seus olhos já acostumados à repetição desta cena, nela não mais se fixavam. Seu coração – mesmo que ordenasse cala-te, o que vês é puro artifício, magia primária apenas – nunca conseguiu se acostumar. Jamais obedeceria a ordem de Pedro e de novo bateu desgovernado ante a grandiosidade do espetáculo. Cada vez mais descontente Pedro desejou que o poema não ficasse pronto, e se ficasse que o poeta, zeloso de sua criação, conseguisse escondê-la do Criador.
Com o alvorecer, ele ouviria bochichos, veladas notícias das águas da Terra. Aquela foi a noite em que todas serenaram. Adejando sobre elas, o leve tremular das asas de Deus assemelhava-se a um pano translúcido que sobreposto à face das águas, controlasse suas ondulações, regendo o ritmo, suavizando o movimento. Era uma Bandeira hasteada, entregando-se e resistindo ao vento.


(texto escrito após a leitura do poema “Teresa” de Manuel Bandeira)
por Rejane Gonçalves

Soneto das Definições - Carlos Pena Filho


Não falarei de coisas, mas de inventos

e de pacientes buscas no esquisito.

Em breve, chegarei à cor do grito,

à música das cores e do vento.

Multiplicar-me-ei em mil cinzentos

(desta maneira, lúcido, me evito)

e a estes pés cansados de granito

saberei transformar em cataventos.


Daí, o meu desprezo a jogos claros

e nunca comparados ou medidos

como estes meus, ilógicos, mas raros.


Daí também, a enorme divergência

entre os dias e os jogos, divertidos

e feitos de beleza e improcedência.


Poema extraído do livro A Vertigem Lúcida

Poema sem "T"er - Socorro Moreira



Perdi o olhar que piscava estrelas
A boca que mordia a lua
O coração ardendo de luz!

Miro a noite, miro a vida
Vivo a sorte, conto os dias
No meu hoje você vai voltar.

Eu vou passar ... - por Rosa Guerrera


Eu vou passar na sua vida
Como por tantas outras já passei!
.
Vou passar como o rio que corre
Como o sol que brilha
Como um céu estrelado
Numa noite quente de verão ...
.
Vou passar como os pingos da chuva
Como o pássaro que voa
Em Direção ao infinito
Como as nuvens dispersas que
Velejam um abóbada Celeste ...
.
Vou passar ... mas não vou poder sair!
Porque, onde quer que você vá
Haverá um rio a correr
Um brilhar um sol
Um Céu um piscar estrelas
E um pássaro a voar
Em Direção ao infinito ...
.
E em todas essas coisas
Você me sentirá presa
Pertinho de você ...
Bem dentro do seu coração!
.
Mesmo que ...
Eu já tenha passado na sua vida ...

rosa guerrera

Versos Particulares -De Nicodemos para Normando




Esse moço, de quem falo,
ven travestido nos traços
que traço a nankim,
nas tontas notas que toco,
nos tortos versos que faço...

Esse moço, de quem falas,
eu encontro nos becos por onde passo
no silêncio das casas desabitadas...
nas cordas tangidas, nas notas levadas ao vento...

Na madeira que corto, buscando a forma, desnutrida de perfeição.
Nas invenções inventadas para cruzar a vida... esta longa jornada
tão curta e doída.
Nas cartas seladas, lidas e relidas, em silente saudade...

Não sei onde anda esse moço,
talvez aqui ao meu lado agora...
talvez agora a seu lado sorrindo...

Esse moço, de quem o Tempo nos privou,

Restam umas fotos, restam uns dezenhos...
Não há paredes que possam recebê-los...

e como dói!

por João Nicodemos

Nem morta - Alcione

Renovação


A Renovação na casa de Caçulino Viriaga terminou por se transformar num divisor de águas, nos eventos produzidos em Matozinho. Invariavelmente ,as renovações, por ali, mantinham um padrão quase que imutável. Convidava-se meio mundo de gente e o outro meio terminava indo mesmo sem convite. Pintava-se a casa previamente, com uma demão de cal virgem: a casa que ficava nova e reluzente. Os convivas compareciam com as melhores roupas: aquelas guardadas no fundo do baú para a missa do galo. A casinha atapetada de gente , dentro e fora, inchava mais ainda ante a sucessão de fogos que varavam o céu e explodiam numa algazarra danada, convocando mais gente para a festividade. Os santos na parede da sala vestiam-se de flores do campo e a imagem de Santa Genoveva , na mesinha da sala, aguardava pacientemente a entronização . O clima de festa era puxado pela bandinha cabaçal de dois pífaros, uma caixa e um zabumba. De repente o silêncio era exigido para o início dos trabalhos religiosos. D. Tudinha , a beata mais importante da vilazinha, debulhava, com ar circunspecto, os mistérios do terço, entremeado ainda de “Salve-Rainhas” e “Creio em Deus Pai”. Terminada a longa reza, após a entronização, os músicos eram os primeiros convidados ao jantar. O cardápio, invariável, trazia as inúmeras opções locais: porco na rola, galinha à cabidela, muncunzá e um aluá conservado em pote grande com fins de manter a geladíssima temperatura. Uma ou outra garrafa de mendraca terminava por aparecer de contrabando e a bandinha mantinha o rela-bucho, no terreiro batido, até altas horas.

Caçulino, naquele ano, sobre a influência de Federalina Gouveia, a esposa, resolveu modificar o padrão. A mulher tinha andado na capital, recentemente, e voltara embebida de ares grã-finos. Fora comprar umas bugigangas da china para vender numa banquinha de feira e contaminara-se com aquele importância besta. Começou logo modificando o nome do evento: Renovação soava muito brega. Avisava ao povo para ir a uma Festa de Arrepiar. Ouvira na capital um tal de Happy Hour e resolveu matozinizar o termo para facilitar o entendimento daquela ingrizia. Avisou ainda que a roupa tinha que ser passeio completo. Federalina danou-se quando os convidados lá chegaram de calça e camisa caquis, chapéu atolado até as orelhas e chinela currulepe : era essa a maneira que sempre completamente se vestiam para passear. Caçulino ,também, alijou a banda cabaçal da festividade e contratou uma bandinha com violão, reco-reco, bateria e mantiveram –sabe-se lá porque— os dos pifeiros. Tudinha também foi dispensada e chamaram um beata de Bertioga , carismática de carteirinha, D. Miralvina , para comandar a solenidade religiosa. Os santos na parede eram também totalmente estranhos : São Raimundo de Penaforte, Santa Gema Galgani e São Félix de Cantalice e entronizariam uma Nossa Senhora de Aquiropita.

Quando Miralvina começou a solenidade, a diferença era gritante. Cantava, gritava, cantarolava, mandava as pessoas botarem as mãos para cima , saltarem e dançarem. Um labacé danado. E mais, a solenidade, ou o showvação, se prolongou muito. Já eram quase dez horas quando Miralvina , enfim, puxou as Ave-Marias. Um Padre Nosso e uma Ave-Maria para a alma de fulano, um Padre-Nosso e uma Ave-Maria para a alma de Beltrano. Quando por fim terminaram todas as almas conhecidas, começaram as orações para todos os parentes e aderentes que tinham ido para São Paulo. Os convidados, com fome e sono, já estavam impacientes. Lá pras tantas Miralvina, pensativa, já sem opções puxava:

--- Um Padre Nosso e uma Ave-Maria para a alma de....

Jojó Fubuia, impaciente e melado como visgo de jaca, já gritou de lá:

--- Dos seiscentos mile cão ! É só quem tá faltando receber oração das almas do céu, inferno e do purgatório ! Vôte !

Terminado, por fim, a Showvação de Miralvina, todo mundo já estava de língua de fora. Uns três velhos já tinham dado pilôra , com fome : gente acostumada a jantar por volta das quatro da tarde. Encetou então aquilo que Caçulino já definiu com dificuldade e que cabra de língua engrolada não pronunciava: o Show Pirotécnico. Uns foguinhos de artifício, misto de lágrimas, busca-pés, pichites , rasga-latas e bufas-de-velhas. Após a pirotecnia de Caçulino , a Big Band ( assim ele a definiu) foi chamada para o banquete. Aí estourou uma outra surpresa, o Menu : um tal de Strognoff. Segundo o velho Balbino Silvestre ( um dos acometidos pela pilôra) era uma gogoroba danada: parecia um chouriço misturado com carne, só que salgado, como pia batismal. Depois da Banda, o povo entrou abaixadinho no tal de strogonoff, gostaram do tempero do bicho : uma fome canina que já os varava há mais de seis horas.

Quando a banda voltou e tentou recomeçar a festa, notou-se uma diferença substancial. Empacou. Os pifeiros não conseguiam soprar uma nota sequer. Caçulino, agoniado, os cobrou. Queriam música, festa, era prá isso que estava pagando. Só aí os pifeiros, desconfiados, informaram que seria impossível tocar. O quê? Tão ficando doidos? O que está acontecendo? O maestro, então, descobriu o malfeito:

--- Seu Caçulino, quando a gente estava jantando, um sem-vergonha veio aqui e passou pimenta malagueta na embocadura dos pífaros. Nós estamos com os beiços ardendo como se mordidos por maribondo de chapéu.

A confusão estava feita. Quem foi-quem não foi! Desconfiaram de Jojó, mas não existiam provas, nem testemunhas. Uma hora depois, Salustiano Onofre , um funcionário da prefeitura, começou a passar mal. Dor de barriga e vômitos. Terminou na botica de Janjão Cataplasma e quase embarca. Jojó ,comentando depois o acontecido, disse que ele se envenenou porque quis, não foi falta de aviso, o nome da comida já estava dizendo : Estraga Onofre. O certo é que quase todos os convidados se viram acometidos do mesmo mal de Salustiano: faltou moita a redor de duas léguas. Isso porque a timbaúba mais frondosa do sítio já estava reservada para Caçulino e Federalina que passaram a noite toda de cócoras e de sabugo na mão.

O desarranjo foi tão miséria, comentou Jojó dias depois na praça da matriz, que vocês não sabem da melhor:

--- Lembram do velho Gustavo Filomeno? Pois é, o homem é cheio de riquififes, segue uma dieta danada, não come isso, não come aquilo. Tudo faz mal prá ele, até água! Pois bem, foi para a Renovação de Caçulino e lá viu a novidade das comilanças e simplesmente não tocou em nada, nem na água benta!

--- Esse pelo menos escapou, né Jojó? ---Sacou de lá Onofre, de olho fundo, mais magro uns três quilos ! Pelo menos um, né?

--- Que nada, Onofre, que nada ! Não comeu nadinha, mas sentiu o cheiro ! Pois três dias depois, ia subindo a Serra da Jurumenha e foi soltar um peido, pois num cagou nas calças, rapaz?


J. Flávio Vieira

Musa afinando duas liras


 
                                                                                                     

A musa afina duas liras:
uma para o desejo,
outra para o delírio.



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Musa afinando duas liras
Interior de taça ática de figuras vermelhas e fundo branco de Erétria.
Data: -470 / -460
Paris, Musée du Louvre
Créditos: Marie-Lan Nguyen, 2005
 
 
 
 

FÉRIAS NO TERRAÇUS - PRÉ-NATAL

Estamos de férias. Dezembro é um mês mágico, com todas as pessoas em alto astral e no embalos das comemorações natalinas e de passagem de ano. A Sertão Pop Produções está fazendo este evento um dia antes do Natal, o pré-natal, em um sexta-feira que certamente será perfeita. Para isso convidou duas bandas que estão sendo destaque no cenário musical caririense. A Banda Cariri Blues, com o seu projeto "BLUIZ GONZAGA", onde faz uma releitura da obra do "REI DO BAIÃO" em ritmo de blues, um trabalho inédito e super gostoso de ouvir e curtir. A outra banda a deliciosa "LOSTHEOS" que se volta para o rock e o blues tocados com muita criatividade e bom gosto, é um dos maiores destaques da cena alternativa do Cariri, com uma legião de fãs impressionante.
Portanto, essa noite será realmente mágica, como é a magia do encontro, da alegria e da curtição.
Vamos nessa?

OBS: Quer que a logomarca da sua empresa apareça nesse evento? Seja um parceiro nosso. Entre em contato através dos telefones (88) 9666.9666 / 8824.2131 / 3521.5398 ou passe-nos um e-mail para kaikaluiz@gmail.com
OS VERSOS QUE ESCREVI
ERAM DE TINTAS DE SANGUE:
CADA GOTA UMA SÍLABA
CADA MANCHA UMA PALAVRA
ESPARRAMADA DE SINCERIDADE.

Ulisses Germano


Saracura-três-potes - Emerson Monteiro


Várias vezes, aos inícios e finais do dia, ouço o canto melancólico dessa ave ecoar nas encostas da serra onde moro neste Cariri. Também conhecida por saracura-do-brejo e sericóia, quase sempre é mais escutada do que vista, segundo as enciclopédias. Tanto é verdade que só avistei um exemplar numa rara ocasião, às margens do riacho que dá origem ao Rio Grangeiro. Ela vive nas áreas alagadas de mato fechado. O acorde do seu bonito canto forneceu-lhe os nomes pelos quais a denominaram.

Bicho arisco e razoável, a saracura ainda consegue fugir da sanha da nossa civilização que gerou dependência dos quadros da mãe natureza às leis dos países, de comum difíceis de execução.

Pois bem, enquanto o saudosismo não paga dívida e os tempos mudaram, agora ninguém mais se conforma deixar de derrubar as mangueiras para comer a safra, e sobreviver virou artigo de luxo, palavra de ordem nos tempos bicudos das aparências. Conservar por conservar pertence aos milionários desocupados, qual mostra o projeto do Código Florestal em andamento no Congresso brasileiro.

Cambaleiam e agonizam os panoramas ecológicos desde antigamente, quando jamais imaginaram os profetas a velocidade estonteante que dominou acontecimentos da Terra. Fico tanto meio contrariado diante das teses românticas que falam de preservação ambiental em conferências intermináveis de salões forrados com a mesma madeira de lei que defendem e ajudam a eliminar. Creio incoerente festejar derrotas, neurose que dói e sacode os impérios práticos na história continuada.

Gerações e gerações cresceram destruindo famílias e famílias naturais, quando querem salvar o que restou em museus e zoológicos fedorentos, de animais entristecidos, capturados nos ambientes originais ora extintos.

Mais cedo do que imaginava, ouço vagar nos corredores da consciência trechos da bela composição de Roberto Carlos: Seus netos vão te perguntar em poucos anos / Pelas baleias que cruzavam oceanos / Que eles viram em velhos livros / Ou nos filmes dos arquivos / Dos programas vespertinos de televisão.

Ah, mas deixe de lado isso de visão bucólica que, nalgumas horas sujeita relembrar sonhos abandonados na casa do sem jeito, nesse mundo de rascunhos perdidos no ar. Dispense, por gentileza, manias arcaicas que caíram em desuso e servem de alimento sintético às pretensiosas crônicas.