por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 17 de junho de 2013

Povo é Povo e Velhaco é Velhaco - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quando algo nasce primeiro ouve-se o choro do respirar. Depois vêm os cuidados com a fragilidade do novo. Mas o novo mesmo leva algum tempo até se tornar o presente.

Isso para usar como metáfora sobre o movimento da juventude brasileira que se aproxima dos movimentos mundiais contra a crise do capitalismo e todo o seu conteúdo político: neoliberalismo, corporações econômicas, imperialismo, neocolonialismo, conservadorismo e sociedades a serviço de poucos.

Agora a metáfora não explica a enorme capacidade humana e suas manifestações. Os seres humanos aprendem com a história e sabem utilizar este aprendizado.

O primeiro deles é que a ninguém é dada a liberdade de usar os benefícios que fez a todos para errar sem reparos. O que vale na relação política é a prática em curso. O que não significa o imediato, mas o mediato que se entende como um rumo. Mas só porque acertou não se pode errar, a vaia sempre acontecerá. Principalmente se alguém acabou de assistir à pauleira da polícia em manifestantes e sentiu os olhos arderem com o gás lacrimogêneo.

O segundo é que movimentos sociais e políticos bem estruturados conhecem o rumo de sua luta e aprendeu a ler a realidade nas ruas no calor das refregas. O comandante da polícia de São Paulo, cargo comissionado do governador do PSDB, sugeriu à lideranças do Movimento do Passe Livre, que lidera as manifestações, que usasse a bandeira do pedido de prisão dos condenados pelo mensalão.

O terceiro que para se encontrar na luta das ruas é preciso reconhecer os aliados e os inimigos. O Secretário de Segurança de São Paulo numa desfaçatez de fazer corar até uma pedra de cal fez duas sugestões às lideranças do MPL reveladoras das estratégias da repressão contra o próprio movimento.
Sua Excelência sugeriu que as lideranças avisassem bem antes o roteiro das manifestações. Vamos sair deste ponto, cruzar tal rua, dobramos aqui, seguiremos por lá de tal modo a revelar todo o campo onde a forças de repressão se posicionarão. Assim como preparar um corredor polonês para levar cacetada em fileira.

A outra sugestão do sacripanta foi que os membros do MPL vestissem as mesmas camisetas com as mesmas cores para que a polícia pudesse distingui-los do restante da população. Aí seria mais fácil do que jogar videogame. Era só passando camisetas e os alvos atingidos.


A resposta do MPL para as três propostas do fino da velhacaria foi não. Mas no fundo borbulhava algum palavrão.   

O Salmão - José do Vale Pinheiro Feitosa


Entre o céu e a terra há uma estrada de sofrimento e morte. A terra onde eclodem os ovos e se tornam vida no ambiente das nascentes dos rios ou dos lagos gelados das altitudes. E quando a adolescência alonga seu corpo sai das terras altas numa viagem a favor da correnteza até as baixadas marinhas onde o mundo se lhe apresentará como projeto de futuro.

E o futuro se realiza no plâncton dos mares. Nas correntezas sinfônicas da grande narrativa dos oceanos. Tantos semelhantes, muitos predadores, o sentido trocado dos canais ora como El Niño ou como La Niña. De tudo que o universo se contamina do lixo industrial, do arrastar com força de megatons atômicos do casco dos navios petroleiros perturbando toda a dinâmica da costa. 

É uma vida de criação, de solução frente às contradições, um construir na permanente desconstrução. No meio do cardume que protege a individualidade na trama do coletivo, mesmo que alguns membros caiam pelo avanço faminto dos predadores. Mas é uma vida em permanente substituição. Em contínuo apreender as necessidades.

Em permanente aprendizado do movimento dos oceanos. Com seus ciclos naturais e seus desastres ambientais. Aprender sobre o meio em que se desenvolve é a regra da permanência nele, além do contributo, se não em capítulos inteiros, pelo menos a redação da linha de um inciso.

E quando se toma de plenas forças no ambiente salgado dos mares em que vive, vem a necessidade de gerar outros iguais e tudo o mais é esquecido. Abandona a carreira na qual se consolidara e sai em decidido contrafluxo em busca de sua origem, abandona as águas salgadas e migra na renascença da água doce com uma determinação nascida simultaneamente em si e fora de si.

Todos fazem o mesmo. Portanto uma grande necessidade externa ao corpo e ao projeto de vida no mar. Rasga a desembocadura daquele mesmo rio onde um dia desceu e, contra a correnteza e a força de gravidade, toma a sinuosidade do aclive montanhoso como destino.      

Salta corredeiras, com seu corpo sobre as pedras, rasgado pelas lâminas das lascas que a erosão das águas soltam. Enfrenta pequenas cachoeiras, se emaranha no cipoal e galhos que descem pelas águas. E vai em busca de sua origem. Contra sua higidez física. Contra sua migração marinha. Contra a sanidade da vida conhecida e, até então, satisfeita.

Paradoxalmente o Salmão retorna ao lago onde eclodiu e nele libera milhões de ovos que gerarão outros de sua espécie. E se esta dramática vida é a síntese de todos na natureza mutável é, no entanto, o curso determinado com a participação dos atores e neles, apesar da ordem geral, reside a micronarrativa de uma vida.

Mas não os Salmões das multinacionais nórdicas do sul do Chile. Multinacionais que inventaram um falso ciclo que engana esta narrativa. No lago Llanquihue eclodem os ovos e em viveiros fazem crescer milhões num ritmo de granja a engordar e crescer rapidamente. Em seguida põem a todos em imensos tanques e os transportam até as gaiolas na costa do mar.

E aprisionados, mesmo que em ambiente marinho, os salmões não mais fazem o seu projeto de vida, mas o projeto de engordar o preço das ações nas bolsas de valores. Os salmões são ludibriados com a simulação do retorno às corredeiras de origem e assim nidam os ovos necessários ao ciclo do grande negócio.


Os salmões do Chile são como o povo do Chile: uma narrativa para mover o grande capital. Que além dos ovos ainda têm a rica venda da carne do salmão abatido logo após completar sua missão nesta ordem. Tornar a vida do poderoso investidor e do grande executivo numa especial e individualista presença sobre o destino do que resta do sufoco do aumento na passagem de ônibus dos trabalhadores. 

JR - "neo-colonialismo" - José Nilton Mariano Saraiva

Quando já pensávamos que, após 513 anos de vida, finalmente havíamos nos livrado da condição de “colônia” européia, eis que através do futebol descobrimos que não. E a constatação é de uma obviedade siderúrgica, hermética, irrecorrível (como diria Nelson Rodrigues): ao ser apresentado à torcida como novo jogador do time do Barcelona, o jogador Neymar entrou em campo já envergado a famosa camisa bicolor do novo time, só que com um pequeno detalhe: às costas, embora não constasse o número que irá usar (que tal o 17, idade da nova namorada global ???) lá constava a novidade, o JR. Sim, oficialmente agora ele passa a se chamar Neymar JR, embora tenha passado toda a sua vida futebolística brasileira usando apenas o nome Neymar. Não se sabe o “porquê” da mudança, mas, provavelmente, terá sido iniciativa-exigência do novo patrão. Como, "quem paga manda, obedece quem tem juízo..."
Pois bem, eis que agora, para surpresa de todos nós, no primeiro jogo da seleção brasileira pela Copa das Confederações, diante do Japão, aqui no Brasil, tomamos conhecimento da marmota descomunal: é que, além de envergar aquela que a mídia brasileira considera a camisa mais famosa (a de número 10) os “gênios” do futebol brasileiro resolveram repentinamente mudar a grafia do nome do jogador, agregando as duas letras – JR - garantidoras que existe, sim, o Neymar-pai.

Teria sido determinação do novo exigente patrão ??? Ou será que para agradar os europeus a cúpula da CBF resolveu que o que é bom para a Europa é bom também para o Brasil ??? Tal atitude poderia ser rotulada uma espécie de “neo-colonialismo” ???  

Mau começo - José Nilton Mariano Saraiva

Ainda bem que a própria seleção japonesa de futebol resolveu nos mostrar, dentro do quadrilátero gramado, que o ufanismo exacerbado da mídia esportiva brasileira, na tentativa de promover a seleção nacional, jamais se justificou. Bisonhos, inocentes, limitados e ainda por cima extremamente cansados, os nipônicos jamais confirmaram o oba-oba, a rasgação de seda, o verdadeiro carnaval que fizeram a respeito do time: primeira seleção a se classificar para a próxima Copa do Mundo, evolução do biotipo japonês (hoje com um ou outro jogador atingindo 1,80 m de altura) até o fato de ter sido treinada, lá atrás, pelo jogador Zico, então iniciando como técnico (que jamais vingou). Assim, com um gol “acidental” do tal do Neymar (na verdade, o Fred tentou matar a bola do peito e findou, sem querer, dando um passe para ele), aliada à sempre má colocação do goleiro (que falhou ali, assim como no segundo gol) os ocidentais mostraram que ainda têm muito que aprender.
Agora, vem aí a esforçada seleção do México (aqui em Fortaleza), e essa mesma mídia trata de nos lembrar que nos últimos confrontos entre as duas esquadras os jogos foram parelhos, que eles já ganharam uma dessas Copas em cima do Brasil (4 x 3) e por aí vai, sem que se atente que na briga pra participar da próxima Copa do Mundo os mexicanos estão ameaçados de não lograrem êxito, já que atrás dos Estados Unidos e Costa Rica na tabela classificatória.

E o tal do Neymar ??? Continua sem jogar nada e a cair muito (mesmo ante uma marcação frouxa como a japonesa), mas, ainda assim, eleito o “craque” do jogo. Os critérios utilizados ??? O gato comeu.