por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Na beira do Apa



Na beira do Apa
tinha uma casa rosada
Onde Marina morava,
Bonita, sem batom!

Na beira do Apa
tinha um pé de manacá
debaixo dele eu fiava
amava e olhava as águas
no turbo turco de um olhar.

Na beira do Apa
a vista era de amizade
uma ponte separava
solo nosso e paraguaio.

Na beira do Apa
uma guarânia ou o Floyd
no bar Getúlio tocava.
A Baby de Bela Vista
fazia doce de abóbora
com ela e os seus filhotes,
comia sempre uns pedaços.

Na beira do Apa
o sol, o céu, estrelas e luas
Não tinham nação, nem noção...
Da saudade que eu sentia
do meu antigo torrão.
.
Um amigo cantava "Marinalva”
Tocava "Mercedita”
florzinha singela,
lembra bem aquela época
onde o tempo era harpa!
(SocorroMoreira)


Quando desligo o telefone
Percebo que permaneces em mim
O som passeia nos meus sumidouros
acorda sentimentos e instintos
me faz desejar o impalpável
aspiro o cheiro que imagino
Entrego ao travesseiro o meu abraço
Fecho os olhos
e sinto teu beijo me fazendo cócegas

Amores Clandestinos


O filme “Amores Clandestinos” fez sucesso , nos anos 60. Vinha bem a calhar, dentro do contesto da época.Depois de comprar o ingresso, passar pelo porteiro, delegado de menor, entrava na penumbra da sala, e esperávamos o apagado de todas as luzes.
O único que conhecia todos os segredos ocultos era o Lanterninha. Focava cadeiras vazias, e focava por “descuido” aquelas ocupadas pelos casais, justo, os que fugiam da luz... Dos olhos da família, do preconceito social, e da própria timidez.
Tinham naturezas diversas, posto o dito: amores impossíveis, amores nascentes e crescentes...Amores dos amasses ( puro cheiro, puro sarro)...Amores tímidos, ingênuos e trêmulos ; amores despudorados, explícitos na “safadeza” do poder hormonal...Todos eram instigados , pela cumplicidade de um escuro técnico.
Muitas “pernas gordinhas”, (como a canção do Tiago Araripe), molhadas, sedosas, balançavam pés nervosos. Beijos de língua, de pescoço, de outras partes, outros pedaços do corpo... Como mãos, e bochecha do rosto!
Enlevada no enredo do filme, desligava-me da terra. , mas perdia meu olhar, muitas vezes, na doce tensão da espera.Um dia, ele chegou, e sentou-se numa fila adiante de mim. Encostou sua cabeça numa peruca canecalon, loura com a da Marilyn... Meus olhos desviados da tela ficaram lá, pregados e chorosos, naquele bandô total, que recebia afagos, e abraços.
Quando a fita anunciou o “THE END”, sorrateiramente mudei de lugar, e aproximei-me mais um pouquinho, pra descobrir na saída, se era azul, os olhos daquela diva.. O moço correu apressado, antes do acender das luzes. Enfim tudo claro! Eram dois olhos morenos. Olhos conhecidos, subservientes, corajosos e apaixonados....
Covarde, o meu gato!Estava lá, a musa de tantos brotos!Era assim, o cotidiano do maior entretenimento da City....
Divertia, aproximava, e escondia.
Transportava os nossos sonhos para o glamour hollydiano. Se não existisse a censura do Bispo, colada no mural do Café Crato, acho que não teria perdido nenhum drama escandaloso, que o cinema ensinava. Mas eu estava lá... Em todos de Marisol. Joselito, Shirley Temple, Walt Disney...Nunca, em “Amores Clandestinos” – (clássico com Sandra Dee e Troy Donahue – trilha sonora - Theme From A Summer Place... Linda!!!).
Namorei sem pegar na mão... Só no roçar dos braços. Mas não nego a presença do tesão, nas orelhas afogueadas. Namorei com cochichos no pé do ouvido. Com mordidas no pescoço, e balas pepper, zorro, ou anis.Namorei com os meus ídolos... Puros, românticos, sofredores, heróicos, belos, e gentis.
No Cinema não faltava: assovios, suspiros, gemidos, choros... Alguns até convulsivos. (Chorei assim, no filme Irmão Sol e Irmã Lua, e até na Paixão de Cristo).
A vida se harmonizava na sala de projeção.
Tempos sem analistas, psiquiatras...Tempos de sessão de risos com Jerry Levis, Cantinflas, o Gordo e O Magro, e Zé Trindade.
O Cassino de hoje é um campo de energia obscura. Ficou apenas o escurinho do cinema, na beleza deteriorada.
Perdemos a cortina grená. O lanterna iluminando a paixão dos casais...Foram-se o misturado dos perfumes, o mascarem dos chicletes Adams, o estouro das bolas do ping pong, na falta do beijo amado.
Era bom, até cochilar de viver, naquele ninho! Nada mais excitante, aventureiro e libidinoso, do que um encontro clandestino, na sessão das 4, no Cine Cassino.
O Lanterninha que ressuscite essa “Cratíadas”, como já fez Zé do Vale, noutro contexto.


Socorro Moreira


Pra você



A Linha e o Linho
Gilberto Gil
Composição: Gilberto Gil

É a sua vida que eu quero bordar na minha
Como se eu fosse o pano e você fosse a linha
E a agulha do real nas mãos da fantasia
Fosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-dia
E fosse aparecendo aos poucos nosso amor
Os nossos sentimentos loucos, nosso amor
O zig-zag do tormento, as cores da alegria
A curva generosa da compreensão
Formando a pétala da rosa, da paixão
A sua vida o meu caminho, nosso amor
Você a linha e eu o linho, nosso amor
Nossa colcha de cama, nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado
A casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

Insigne




Tantas curvas nos separam
Venha pelos ares
Chegue se puder
Fique se quiser
Não discuto com o destino
Encho-me de todas as vontades
que o possível  nos permite.
Quem sabe  estávamos inscritos
e agora fomos convocados?
Quem sabe você sempre foi
o anjo da minha guarda?
Aprendi com a vida
Sou imperfeita no amor
Trabalhemos  pelo melhor
O mais feliz
Com  a certeza  de que nos  merecemos !

Anos azulados


Anos Azulados


Nasci na década de 50, em agosto de 51. Nada existia de plástico, quase nada de enlatados . O doce era caseiro, o parto era doméstico, tudo se comprava na feira, até o rouge das moças, que não eram tímidas!

Mala de feira, geladeira a querosene, água de quartinha, pote de barro, caneca de alumínio, formas de sonhos (salpicados de açúcar e canela) e chupetas de umburana.

Minha primeira caneta foi Parker; mata - borrão, tinteiro, merendeira, goma arábica, farda com avental, caderno de borrão e caligrafia... De tudo isso só ficou o lápis-de-cor para avivar lembranças!

B A BA... Bá! Soletrávamos para aprender a ler, e depois partíamos para o mundo dos Contos de Fada, das Sherazades, dos Ali Babás... Acho que não perdi um conto, de todos os infantis! Quando a biblioteca se esgotava, a gente botava o povo grande pra inventar estórias, mesmo que fossem mentirosas que não terminassem com uma bela festança, e o desencanto dos sapos! Os personagens eram sempre órfãos, pequenos condes, princesas, madrastas, e um lobisomem. Meu sonho maior de consumo era ganhar uma varinha mágica, com o condão de me fazer moça, antes de ser tia; lua-de-mel no casamento, sem viuvez por chamados de guerra, impaludismo, angina do peito, e por aí afora! Foram tantos os pedidos, que vivi a lua por inteiro, e o sol, no pingo do meio dia!

Existiam as radiolas, tocando seus mambos, suas babalús, seus boleros, e samba - canções .

A Usina de Algodão dos Alminos era o nosso relógio. Ainda existiam as sirenes, nas escolas, avisando recreio, hora de cantar um hino, hora de correr pra casa, e se ocupar das fadas! Minha infância foi num mundo encantado, e mal - assombrado... Escapei das varíolas, cataporas, e falsos crupes... Nas mãos de Dr. Eldon (o meu preferido), Tarcísio Pierre, Júlio Felício, Macário, Gesteira, a gente vivia!

As mães também cooperavam com leite do peito, e comida natural... As modistas nos vestiam com tecidos de Anarruga, Lese, Filó, Tule, Organzas, Cambraias, sem dispensar as Chitas, nos dias de quadrilha. Zenira Cardoso marcava os nossos passos com sotaque francês, e energia festiva.

Hugo Linard já tocava acordeom... Era o caçula de todos os músicos! Os demais eram seresteiros, ou faziam parte da Banda Municipal com todos os dobrados da alma!

Festa de Padroeira tinha tontura de carrossel, cheiro de filhoses, e gosto de caldo de cana. Pipocas... Ora bolas! Chicletes Adams ou ping-pong!

Amendoim Torradinho, nos saquinhos ou no vinil... Mesmo que o corpo, ainda estivesse branco, longe da Cor do Pecado.

Ninguém aprendia a ler, sem passar pelo Externato 5 de Julho, sem conhecer Dona Anilda Arraes, Dona Chiquinha Piancó, Dona Rute e Dr. Zé Newton, Madre Feitosa, Monsenhor Montenegro... Sem falar nas freiras do Sta. Teresa, Patronato, que guardavam no internato, as meninas de outras cidades! O Ensino Público era valorizado, e nada deixava a desejar aos Colégios Particulares! Ser professora primária era o pódio da maioria das moças!

As Academias eram nas calçadas, com muito pula-pula , ou pra achar o cinturão-queimado. Os meninos jogavam futebol para entortar as pernas, e as meninas jogavam chibiú para encontrar o equilíbrio, nos malabarismos domésticos!

Quem não teve uma foto "by" Telma Saraiva? Quem não tomou sorvete em Bantim? Quem não usou Angel Face, Cashemere Bouquet, Vale Quanto Pesa, creme dental Gessy, Contourée, Madeira do Oriente, e perfumes da Coty?

Crato das noites frias de junho, dos balões encantados, das amplificadoras e rádios... Tocando "O GUARANI" ou "LENDA DO BEIJO ".

Calcei sandálias pisa-na-fulô, fiz primeira comunhão em traje de noiva, e arranjei os primeiros namorados, desfilando na Praça Siqueira Campos ( com saltos) ou nas procissões (com farda de gala). As tertúlias nas casas de família, os passeios nos açudes e cascatas eram permitidos... Faziam a nossa felicidade!

Tenho lembranças tão antigas, que a minha mãe diz: "Eu tenho é medo que você se lembre da hora em que nasceu". Tava muito escuro de onde eu sai. Precisava da luz desta cidade cearense, e não tive dúvidas: cheguei, sem vontade de partir!

Suspiros





Depois de alguns uivos,
novos suspiros..
E traição existe?
Existe a crudelíssima vida
que interrompe,
o bom da harmonia
A cura da dor
É um porre maior
que o próprio amor!

"Curare”

Doutor,
o antídoto da dor
é a dor?

Sentimento
despido de sonhos
teimoso, vive!

Sem fotografia na bolsa
Sem telefone no bolso
Te ligo, e me ligo
Dia e noite
Noite e dia!

Guerra fria



alma em agonia
o amor acaba,
o conflito fita
Rugas
marcas,
sinais do tempo
fora das fotos
que foram nuas
Olhar fugitivo
amor esquivo
perdido e esquecido,
na primeira mágoa
no primeiro instante
-Vinho envelhecido ,
me aguarde!

Triângulo Natural


Triângulo natural
O mar banhou-me com seu olhar
Nuances de azul e verde
espumas num delírio contido
Areia batida, salgada de mar
sereno tempo
Nublada vida
Ares desobstruídos
Vôos inalcançáveis
Compromissos cancelados,
antes de um veredicto.
meus pés pousam em terras desconhecidas,
mas não se atrevem a trilhar novo caminho
Fixo-me na linha do horizonte,
e na terra eu finco a vida.
Pensamento foge da morte
Brinca no mar...
Busca o céu que habitas.



E SE EU TE PEGAR, NO SENTIDO DO ALÉM?

E se eu te pegar com os olhos
Trazer-te pra dentro de mim?
Mostro o luminoso e o assombroso
Que a Pandora soltou, e ficou em mim

E se eu te tocar em todas as tuas letras
E com elas compor, uma nova sinfonia?
E, na hora “h”, descobrir no “g” do teu “x”,
Que sou o “z” da tua vida?

“Vês”? Meu “cê” é teu...
Eu "te" aprendi, nos "erres" da minha língua!
Meus médicos, nossos médicos !

Se é pra homenagear médicos, cada um tem os seus. Eu procuro viver sem procurar a doença , mas a gente tem que viver é sem provocá-la. Do tempo que eu nasci até 1975 só conhecia um doutor : Eldon Cariri. Depois que voltei, ele estava aposentado, e fiquei aos cuidados do Dr. Zé Flávio. Mas o Crato sempre rendeu bem , na área da saúde, tendo em vista a qualidade dos seus profissionais.Hoje o médico de família foi substituído pelos diversos especialistas.

Não posso esquecer as corridas que a minha mãe deu para Dr.Tarcísio Pierre, Dr Humberto Macário, Dr.Luciano Brito, nas nossas crises de garganta, nas suas crises de vesícula , e nos pequenos dodóis dos meus filhos, quando eram crianças. O Victor( meu menino do meio) é tão estudioso, que na maioria das minhas indisposições , permito que me cuide. Guardo os males maiores para a perícia incontestável do meu amigo e médico Dr. Zé Flávio.

A saúde, bem tão precioso , sem dúvidas , depende mais dos nossos hábitos de vida do que do péssimo atendimento público . Saúde no Brasil , se você não pagar caro por ela , pode mesmo morrer à míngua , como dizia minha avó , que era cliente de dois médicos de antigamente : Dr. Macário e Dr. Gesteira.

Imagino que, se eu comer e beber com disciplina e parcimônia, praticar alguma atividade física , evitarei os males que nos pegam de surpresa, mas que vivem latentes, no nosso organismo. Mesmo quem é portador de doenças graves , mas controláveis, pode ter qualidade de vida, e longevidade.

Acho que esse arrodeio todo foi pra expressar o meu carinho especial por Dr. Eldon, a quem muito considero, que me fez falta, e de quem sinto uma grande e terna saudade. Felizmente continua vivo e ativo. Estudiosíssimo , e paciente, sempre resolvia os nossos casos com sabedoria. Preciso fazer-lhe uma visita qualquer dia. Uma amiga próxima me contou que, depois de aposentado ele começou a estudar grego, tocar piano, e navegar na internet. Às vezes nos encontramos , e é sempre um momento de emoção.Nem vale ficar falando...Abraços a quem está vivo, e mora no Crato, eu posso fazê-lo , pessoalmente.

Quando ele chegou no Crato ,depois de formado ,tinha como especialidade a Pediatria. Foi meu primeiro médico. Um dia chegou para visitar-me a chamado da minha mãe, que desconfiava que eu estava com crupe. Na realidade era um falso crupe. Eu tinha dois anos e lembro do fato, perfeitamente. Ele me examinou, e falou: Maria do Socorro , eu quero ouvir sua voz. Eu pedi a minha mãe que armasse uma rede. Comecei a empurrar o pé na parede pra impulsionar o balanço, e cantei em toda altura ( roucamente) uma canção que estava em voga : Índia. Ele achou muita graça, claro !

Depois especializou-se em obstetrícia , e ajudou a nascer todos os meus irmãos , os meus filhos e sobrinhos. Todo mundo da minha família tem um caso de amor com aquele doutor. Porisso , devemos-lhe tanto !

Que Deus proteja a sua lucidez , por muitos e muitos anos.

Que deus ilumine a administração pública do país , no sentido de priorizar a saúde , valendo-se da sua competência e sensibilidade. Nem todo cidadão comum, em tempo algum, tem condições de pagar um plano de saúde ,que lhe garanta atendimento integral.

Da minha parte sou feliz e segura , nas mãos do Dr. Zé Flávio.

Insone




Um movimento insone
Um jeito insano de varar a noite
Eclipse mental
Ensaios de luz
Holografias ?
Eu pensei , você chegou !
E a sinastria ?
A intersecção é o conjunto União
Um diagrama luminoso como a lua cheia.
- Os elementos são estrelas !

Versos são pingos do céu
na minha rosa calma
Dançam nas entrelinhas
Acalmam sentimentos
Mergulham paixão dentro de um tempo
Escapam do momento sem perdão.

Meu pedaço de rua

"Se essa rua fosse minha, eu mandava ladrilhar..."

Uma travessa entontecida ,

quando fico de lá pra cá

É quase o fim e o começo

É esse , o meu endereço.


Daqui avisto a Igreja

Escuto o badalar dos sinos

A voz do Padre
A reza dos fiéis
Daqui não saio

Daqui alguém me tira

Um dia

No amanhecer ou entardecer.


Agora é hora do ângelus

O silêncio é fato

O astral é fado.

Todo mundo se entoca

Pra tomar café

Pra ver TV

Ou pra fazer o quê ?


Cada pessoa que passa

É como um ovni

Capto o sinal de vida

Sinto-me abduzida

Por essa fauna,

que parece flora

E o meu pensamento colhe !


Deus do céu

Protege essa tarde morena

e silenciosa
Protege os passos e pensamentos

De quem por ela corre

Lenta, absorta

ou devotadamente

Pérola


Uma pérola...
Nem é negra, nem é dela
É da ostra que a guarda
É da praia que a espera!

Esconderijo da flor

Podemos nos achar por amor, e de tanto amar, nos perder.


A promiscuidade amorosa é isenta de pecado...Culmina-se no amor maior!


Tenho uma emoção especial para cada pessoa que conheço,


mesmo àquelas que não vejo ...


Uma delas está no meu limite , na cauda do meu arcoíris.


Quando o sentimento não se desgoverna ,


fica coberto de mistério.


Quando explode, vira cinzas !


O amor contido , expande-se no silêncio ...


E no silêncio faz a festa.


Sopra ventos parados


Gera fagulhas, que depois se apagam.


Gosto da solidão ...


Persigo-a em todas as minhas eras


Nos intervalos , espalho o meu olhar


Alcanço nas órbitas, os afins e alguém mais.


Liberdade é alcançar, soltar,sem desgostar.


Estou farta nessa tarde...


O alimento das palavras


Deixa-me solta no ar !



Beijar é incompatível com cantar...


Mas nada é incompatível com sonhar.


È defeituoso o ser que não sonha...


Que não deseja, nem sente...


A morte mais sofrida... È em vida!

Dor de amor


A dor de amor está no choro e no riso
É dor querida ( sem masoquismos)
Impossível amar
sem aperto no coração
ora lato , ora abençoado
Depois de lamber a ferida
a gente transcende
Ama de novo
até doer a alma
Há um prazer místico e erótico
nesse processar divino ( amor)
e
humano ( a dor ) !

Pelo andar da carruagem, percebo que já morri muitas vezes nesta vida, e que viverei até fartar-me.

Pensando na vida


Tenho pensado mais do que vivido. Ao invés de encontrar o dia, eu apenas o espero com os olhos da paciência, e a impaciência dos sentidos.

Resolvi comprar um tênis, refazer lista de compras, e passar a borracha na metade das lembranças.

Estamos nos fins dos tempos. Uma expectativa de 30 anos de vida significa apenas alguns instantes. Depois será como no início... Uma inconsciência luminosa, dispersa no Universo.

Por que demorei tanto para compreender que morremos todos, todos os dias?

Nesses estágios paralelos, todos estão no caminho do fim definitivo. Pode até ser que tudo seja cíclico. Pode até ser que essa trajetória sofra alterações aleatórias ou propositais. Pode até ser que o sentido do infinito seja uma espiral, sem o extremo final.

No emaranhado de pensamentos, de linhas que se cruzam, ou se acompanham... Pago contas e faço compras. Fico triste com as notícias, e busco a arte como alento...

- Essa coisa estranha que mistura vida prática com imaginação.

- A música toca dentro de mim, mas só tenho acesso às palavras... E com rasuras!