por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 12 de junho de 2014

As palavras atraem? - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Mais uma Copa do Mundo! Desta vez no Brasil, fato que não ocorria há 64 anos. No ano de 1950, a nossa seleção teve excelente desempenho, tendo sido vice-campeã mundial, derrotada na final pelo Uruguai, em pleno Maracanã, construído para aquela copa. Um simples empate lhe traria o título, conforme previa o regulamento da  época. Segundo declaração do extraordinário Zizinho, um dos melhores jogadores daquela copa e do Brasil, a nossa seleção perdeu simplesmente porque o Uruguai possuía um time melhor.

No intervalo de tempo decorrido entre 1950 até nossos dias, a Alemanha já promoveu duas copas, o México outras duas; Argentina, Chile, África do Sul, uma copa cada um. Esses três últimos países que se encontram no mesmo nível econômico e de desenvolvimento do Brasil nos provaram que tal competição promovida e organizada pela FIFA não quebrou suas economias. Portanto eu vejo com muita preocupação a ligação dessa copa com o momento político em que estamos vivendo. Como se o resultado da Copa do Mundo tivesse influência direta com o resultado da eleição.

Outro dia, ouvi de uma médica que ela iria torcer contra o Brasil, pois se a nossa seleção for campeã do mundo, ela não suportará mais quatro anos sendo governada pelo PT. E assim, deve ser o pensamento de muitos da nossa elite econômica. E parece que subliminarmente* está havendo um incentivo para que se proteste contra a realização da presente copa. Sendo assim, como explicar o tal de "não vai ter copa!", campanha de cunho puramente fascista? Para pensamentos assim, convém lembrar que as palavras atraem. Entretanto, quando o Brasil perdeu a copa de 1950, e aquela doutora provavelmente não havia ainda nascido, Getúlio Vargas, representante da classe trabalhadora foi eleito, sem nenhuma interferência do resultado da Copa do Mundo.

A nossa seleção participou de todas as copas, desde a primeira realizada em 1930, tendo sido campeã do mundo cinco vezes, sendo até agora a equipe que mais vezes ergueu a taça! Foi a única seleção não européia a ser  campeã em solo europeu, enquanto nenhuma seleção européia ganhou no continente americano.  

Em 1958 o jogo mais difícil para o Brasil foi aquele contra o Pais de Gales, vencido pela "canarinho" por um a zero, gol de um menino de 18 anos incompletos que assombrou o mundo. Registrou a crônica esportiva da época que o goleiro Gilmar, ao entrar em campo nesse jogo, disse para o seu companheiro Nilton di Sordi:
- "Hoje eu morro, mas não perco esse jogo!" - Ao que Di Sordi completou:
- "E eu morrerei junto com você.

Gilmar faleceu no dia 25 de agosto de 2013, às 18h15min, pouco mais de vinte quatro horas depois de Nilton di Sordi que faleceu às 16h15min. do dia 24 de agosto de 2013. Será mesmo que as palavras atraem?


Por Carlos Eduardo Esmeraldo   

Notas:
* subliminar é um tipo de mensagem que não pode ser detectável conscientemente. É rigorosamente proibida de ser veiculada pelos meios de comunicação social.
1)  Dos vice-campeões de 1950 todos os jogadores são falecidos.
2) Dos 22 jogadores campeões do mundo de 1958, apenas sete jogadores ainda estão vivos: Zito, Dino Sani, Moacir, Pelé, Mazola, Pepe e Zagalo.
3) Dos 22 jogadores campeões do mundo de 1962 dez ainda  estão vivos: Jair Marinho, Altair, Zito, Mengálvio, Jair da Costa, Zagalo, Coutinho, Pelé, Amarildo, e Pepe

"PRA FRENTE, BRASIL" !!! - José Nilton Mariano Saraiva

Fora de campo, já começamos ganhando. Basta atentar para a “falação” dos “gringos” a respeito do nosso Brasil: “país enorme, bonito, com boa comida e mulheres lindas”, reverberam literalmente extasiados. Estranharam, e muito (ainda bem) o clima de paz e concórdia que encontraram nas nossas ruas, porquanto haviam sido alertados sobre a insegurança nelas reinante, não confirmada ou constatada por eles. Mas, principalmente, chega a ser comovente o depoimento deles a respeito da contagiante “simpatia, doação e receptividade” do nosso povo, diferente de “todos os povos do mundo”, asseguram, visivelmente impressionados.

E se alguém tinha alguma dúvida sobre algum legado que esta Copa deixará, é bom colocar o pessimismo de lado e anunciar em alto e bom som essa irrecorrível certeza: independentemente das obras inacabadas, da corrupção (que se faz presente em qualquer parte do mundo, quando da realização de um evento de tamanho porte), da dificuldade de comunicação por conta da diversidade de povos que nos visitam, adquirimos, sim, desde já, o “status” de candidato a “destino preferencial” de milhões de turistas, num futuro bem próximo. E, isso, claro, gera divisas.

Já em relação ao futebol propriamente dito, claro que existem sobejas condições de conquistarmos o “HEXA”. Temos um bom, experiente e competitivo time, uma torcida apaixonada e disposta a incentivar e carregar a seleção nas costas (se necessário) e, principalmente um “comandante” exigente e já testado e aprovado nessa mesma competição, quando nos sagramos pentacampeões, em 2002. E com um adendo importante: espécie de “psicólogo informal”, Felipão já mostrou ser capaz de fazer com que seus jogadores produzam mais do que são capazes (o tal do Neimar (cai-cai), por exemplo, jogou como “gente grande”, ano passado, na Copa das Confederações; particularmente, vamos torcer, de verdade, para que agora repita a dose, embora não o tenhamos na conta de um craque excepcional, como a mídia insufla).

Alfim, 64 anos depois da frustração pelo fracasso da primeira Copa do Mundo que patrocinamos, e das 05 monumentais conquistas posteriores (todas fora de casa), agora é chegada a hora de, dentro de casa, reafirmarmos ser o Brasil o mais gabaritado na arte de jogar futebol. A bola vai começar a rolar daqui a pouco. Que os “deuses do futebol” estejam do nosso lado.


PRA FRENTE, BRASIL !!!   

Tempo reencontrado

João Pereira Coutinho


Envelhecer não é apenas um fato biológico. É também estético. Segundo os ensinamentos do dr. Coutinho, envelhecer significa rever certos filmes ou reler certos livros que a nossa ignorância juvenil considerava obras-primas —e depois pular do sofá, sustendo o vômito e gritando de pasmo: “Mas como foi possível eu ter gostado de uma bosta dessas?”.
Recentemente, em mudanças, resolvi fazer uma tosquia na biblioteca. Mas, antes da tosquia, resolvi avaliar a qualidade do rebanho, começando pelos espécimes que ocupavam o panteão das paixões adolescentes.
Henry Miller estava no topo da lista, e a sua trilogia (“Sexus”, “Plexus”, “Nexus”), complementada pelos “Trópicos” (de Câncer e de Capricórnio), tinha deixado gratas memórias na memória da criança.
A criança, hoje a caminho da meia-idade, sentou e releu as páginas sublinhadas. E ficou abismada com a mediocridade da prosa e o priapismo repetitivo, sem sombra de humor, com que Miller polvilhava as suas fantasias parisienses. Como foi possível ter dado abrigo a Henry Miller durante tanto tempo?
Aliás, não apenas a ele: com os romances de Umberco Eco; a filosofia de Baudrillard; a poesia de Sylvia Plath foi precisamente a mesma coisa. Tudo para o balde.
E no cinema? Aqui, a minha vergonha é ainda maior: vinte anos atrás, eu acreditava genuinamente que Oliver Stone era um diretor de cinema. Fui acumulando os filmes do homem —”Nascido em 4 de Julho”, “The Doors”, o repelente “Assassinos por Natureza”— com gratidão cinéfila sincera.
Hoje, assistindo a qualquer um deles, é legítimo questionar que substâncias ilícitas eu consumia na década de 1990.
Pior: filmes declaradamente “sérios” e “dramáticos”, como “Nascido em 4 de Julho”, são impossíveis de engolir com cara séria. Acreditar em Tom Cruise como “marine” estropiado no Vietnã não é apenas “suspender a descrença”. É suspender qualquer atividade cerebral significativa.
E quem fala em Stone, fala dos exercícios nulos de Jonathan Demme (“Filadélfia” em primeiro lugar); nos filmes de Mike Nichols (começando logo em “A Primeira Noite de um Homem”); e, obviamente, nesse caso perdido que dá pelo nome de Ridley Scott. Se “Thelma & Louise” não é o pior filme dos últimos largos anos, eu desafio o leitor a apresentar uma alternativa.
Mas nem tudo é necessariamente mau. O que jogamos no balde com alívio e repulsa é compensado por tudo o que resgatamos dele.
Falei de Ridley Scott. Mas, 20 anos depois, eu desconhecia que o talento da família estava com o irmão Tony. Sim, a filmografia do senhor é majoritariamente pavorosa. Mas depois existem uns milagres lá pelo meio -os filmes com Denzel Washington, como “Chamas da Vingança”- que redimem todas as falhas e todas as pirotecnias escusadas.
Ressurreições são também devidas a diretores entretanto desaparecidos em combate, como Steven Kloves (que nos deu “Susie e os Baker Boys”, um filme etílico —em vários sentidos da palavra— e que envelheceu bem como os melhores vinhos) ou Lawrence Kasdan (que em “O Turista Acidental” dirigiu uma obra-prima do cinema americano moderno).
E, nos livros, uma confissão: a arte do conto foi destronando a ilusória grandiosidade do Romance (com maiúscula). Claro que os russos (como Dostoiévski), os ingleses (como Evelyn Waugh) ou os franceses (como Céline) permanecem intocáveis.
Mas sei hoje que, comparando colegas de geração, prefiro os contos de Richard Ford a qualquer romance de Don DeLillo; os contos de William Trevor a qualquer romance de Iris Murdoch; os contos de Hanif Kureishi a qualquer romance de Ian McEwan.
Lições para o futuro? Apenas uma: não confiar demasiado no passado. Como diria o velho Darwin, só sobrevive quem se adapta melhor aos desafios da evolução. O que significa que, evoluindo nós, os livros ou os filmes que ficam são aqueles que se adaptam aos dilemas, às alegrias e às tristezas que só chegam mais tarde nas nossas vidas.
O que jogamos no balde não é tempo perdido. É tempo reencontrado.

Fonte: Folha de São Paulo