por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

NEPAL - José do Vale Pinheiro Feitosa

O Nepal. Uma cunha entre dois continentes: a China e a Índia. Por isso mesmo se desenvolveu como a rota entre um e outro. Um comércio que lhes deu vantagens e criou uma civilização.

Que era o cadinho de muitos povos, especialmente as macros culturas indo-gangética e chinesa, entre elas o budismo tibetano. Além do mais é pelo e no Nepal que nascem os grandes rios que descem pela planície indiana. É ao mesmo tempo fonte e dispersor das águas que fizeram a fartura indiana.

É uma faixa de terras de pequenas e médias montanhas que se antecipam às elevações do Himalaia. Insuperável como cadeia de montanhas. Os Andes e o Alpes lhes prestam vassalagem em termos de altura.  

Olhem esta imagem do Himalaia e do interior do Nepal ao som de uma música Dimphu.


As partes mais altas do Himalaia se encontram no Nepal. Por isso a palavra Nepal parece originar-se de Nepaly que em sânscrito significaria “ao pé das montanhas. Assim é que os povos com maior desenvolvimento em escalar e sobreviver nas grandes altitudes são originários da tribo dos Sherpas.

As tribos mais antigas do Nepal, os Kirat já estavam lá há mais de 2.500 anos. Depois vieram migrações do sul: indo-arianos, dravidianos, gente do sul da índia e do Sri Lanka. Do norte vieram tibetanos e chineses.

Rota de comércio e múltipla formação étnica, deram ao Nepal uma música muito rica. Com instrumentos próprios e bons músicos. Além da associação constante com a dança. Os principais gênero são os Dohori (que se caracteriza por danças e vozes masculinas alternadas por vozes femininas num longo diálogo), tem a Deuda e Aadhunik geet.

Mas existem muitas músicas étnicas por via dos grupos que para lá migraram. A Dohori, por exemplo é da etnia Kirat. Além destes gêneros existem músicas devocionais originárias da índia e da pérsia muçulmana, além da música moderna que se desenvolveu em torno do cinema.

Enquanto imagens dos quarteirões tradicionais que ficavam em volta dos palácios (tais quarteirões chamados Durbar) vão passando, ouviremos um belíssima canção Dohori:



Andar pelo interior do Nepal é circular por subidas e descidas, curvas contínuas, atravessando vales de rios do degelo do Himalaia. Viajar pelo Nepal é encontrar casas no fundo dos vales e plantadas nas encostas. É olhar para as encostas e vê-las cortadas em curva de nível para o plantio do arroz.


Vejam estas imagens da Colina de Suayambhu que tem um peso muito especial na mitologia da formação de Katmandu. Uma mitologia de origem indiana com seus deuses que criaram a colina, e como um deles demorou para cortar os cabelos, nasceram os macacos que são relíquias e vivem soltos na colina. 

Aliás é sempre importante não esquecer que Buda nasceu no norte da Índia, já próximo do Nepal e que sua formação religiosa é Hindu. Devem estar acompanhando as imagens com outra música Dohori.


Nestas imagens chega-se até a fronteira do Nepal com a China, ali onde um dia foi o território independente do Tibete. Os veículos são parados constantemente nas estradas e sua carga examinada. Há intenso comércio na fronteira. Caminhões se acumulam para entrar na China.

As mulheres fazem o comércio formiguinha (igual àquele entre o Brasil e o Paraguai) através da ponte que separa Kodari da vizinha cidade chinesa de Zagmuzhen.

O ser humano é muito igual. O mundo é de um relevo variado e surpreendente. Quando somamos nossos corações aos outros povos, o mundo também é surpreendentemente belo, igual e diferente. 



À ESPERA DE UM TEMPORAL - José do Vale Pinheiro Feitosa

Considerando o horário de verão: são 18 horas e 32 minutos no Rio de Janeiro. A cidade entocou-se dentro de casa (digo apartamento, abrigo, hotel etc.). Desde as 14 horas que os trabalhadores foram liberados para retornarem aos seus domicílios em segurança.

Digo. Liberado, às vezes, para enfrentar a insegurança de suas moradias. Neste momento há um tempo fechado. Sem qualquer sinal de trovões, relâmpagos e outros componentes do anúncio que se tornou espera.

Espera que chegue um temporal. Inundando tudo. Derrubando barreira. Travando o fluxo da cidade. Formando correntezas. Alagados. Transbordando lagoas, levadas, riachos e rios.

Na espera um silêncio de automóveis. Seria a hora do rush. As ruas principais ainda têm volume, mas muito esvaziadas. Assim como o tempo que se antecipa a jogos da seleção brasileira no período da tarde quando todo mundo era liberado mais cedo.

A espera do previsto. Lá pelos lados da Pedra da Gávea e Morro dos Dois Irmãos, as nuvens se avolumam. Quando porções anuviadas intensamente plúmbeas começarem a se desgarrar do volume principal, chegou a hora desta gente bronzeada encontrar-se com o vaticínio.

Mas se a previsão furar? Não vier temporal? Apenas aquelas tempestades corriqueiras de verão? O que se há de dizer do serviço de meteorologia? Infelizmente diante de tantas mensurações, de tantos modelos matemáticos, como se justificar ao distinto público tamanho efeito adventício.

Eis que à ciência da previsão, segura e precisa, teria chegado ao estágio em que as imprevisões agora previstas, por outro lado passaram a sofre os males da omissão. O imprevisto, o não acontecido do que fora previsto. E retornamos à dúvida da imprevisão.


Mas não nos enganemos. Nós que vivemos nesta terra. A espera continua até muito depois do que pensamos. Vejamos o anoitecer e seus mistérios não contabilizados. Ali onde o contabilizado também perde ou ganha valor.