por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 16 de abril de 2011

FRAGMENTOS DE UM CORDEL - por UIisses Germano



Paulo Freire morreu triste
Helder Câmera também
O zumbido ainda existe
Na boca que diz amém
Esperança é ter certeza
Que a Lei da Natureza
Não pertence a seu ninguém!








A poesia de Artur Gomes



alguma poesia

I

não. não bastaria a poesia
deste bonde
que despenca lua
nos meus cílios.
num trapézio de pingentes
onde a lapa
carregada de pivetes nos seus arcos
ferindo a fria noite como um tapa
vai fazendo amor por entre os trilhos.

II

não. não bastaria a poesia cristalina
se rasgando o corpo
estão muitas meninas
tentando a sorte
em cada porta de metrô.
e nós poetas desvendando palavrinhas
vamos dançando uma vertigem
no tal circo voador.

III

não. não bastaria todo riso pelas praças
nem o amor que os pombos tecem pelos milhos
com os pardais despedaçando nas vidraças
e as mulheres cuidando dos seus filhos.

IV

não bastaria delirar Copacabana
e esta coisa de sal que não me engana
a lua na carne navalhando
um charme gay
e um cheiro de fêmea
no ar devorador
aparentando realismo hiper-moderno,
num corpo de anjo
que não foi meu deus quem fez
esse gosto de coisa do inferno
como provar do amor
no posto seis.
numa cósmica e profana poesia
entre as pedras e o mar do Arpoador
uma mistura de feitiço e fantasia
em altas ondas
de mistérios que são vossos.

V

não. não bastaria toda poesia
que eu trago em minha alma
um tanto porca,
este postal com uma imagem
meio Lorca:
um bondinho aterrizando lá na Urca
e esta cidade deitando água
em meus destroços

pois se o cristo redentor
deixasse a pedra
na certa nunca mais
rezaria padre-nossos
e na certa só faria
poesia com os meus ossos.


O Livro de José Carlos Mendes Brandão


ANEDOTAS DE QUINTINO CUNHA


Quintino Cunha
Tido como rival, na verve e no anedotário, de Emílio de Menezes e Paula Ney, José Quintino da Cunha era orador fluente, ficcionista, poeta, ficando conhecido também pelas suas tiradas de bom humor, que o levaram a fazer parte de um anedotário brasileiro. Ele nasceu na atual cidade de Itapajé (Ceará), antiga vila de São Francisco de Uruburetama, no dia 24 de julho de 1875.

A educação básica de Quintino Cunha foi feita praticamente na Escola Militar do Ceará, pois tinha veleidades de dedicar-se à vida da caserna. Extinta tal entidade, o poeta, que já versejava desde os quinze anos de idade e já mostrava seus dons oratórias, embarca para a Amazônia. Ali, recebeu "provisão" para advogar, antes mesmo de se formar em Direito, o que fará de volta à terra natal, em 1909.

Torna-se, desde então, no Ceará, orador consagrado, repentista, poeta boêmio, "não dando maior valia aos próprios méritos". Casando-se várias vezes, viveu em constante penúria financeira. O livro de versos mais famoso de Quintino Cunha, Pelo Solimões, segundo Raimundo de Menezes, foi publicado em Paris (1907) quando de uma viagem do poeta à Europa, isso antes de se formar em Direito de volta ao Ceará.

Para não fugir à estética de sua época, imposição do meio literário e dos contemporâneos, a poesia de Quintino Cunha presta tributo ao Romantismo e ao soneto decassílabo de inspiração parnasiana, mas com um destaque especial: o poeta usa expressões e locuções populares, o coloquialismo, o que teria levado João Quintino, seu irmão, e Mamede Cirino, a musicarem alguns de seus poemas.

Quintino Cunha ainda passa pela Assembléia Legislativa do Estado, como deputado (1913/1914), tendo morrido em Fortaleza, o "poeta de lúcida inspiração", no dia 1 de junho de 1943.

Na história da teimosia
Entre a rudez e a arrogância
É tão forte a ignorância
Tão cruenta e mendaz
Que a própria sabedoria
De tudo sabendo tanto
Não sabe dizer do quanto
Que o ingorante é capaz
Quintino Cunha, O Sábio


              O advogado Quintino Cunha, personagem do folclore do Ceará do início do século passado, fazia uma viagem de trem para Cariús (CE), mas no caminho havia uma parada em Iguatu (CE).
Era o dia da inauguração do novo prédio do Fórum (ou Foro, como queiram). Alguns colegas, ao encontrarem Quintino na estação, convidaram-no para participar da solenidade.
Mal-humorado, Quintino perguntou:
– Quem é o juiz?
– É o Doutor Fulano.
– O promotor?
– Sicrano.
– E o advogado?
– Beltrano.
Desdenhoso, o matreiro advogado torceu o nariz e resmungou:
– Pois isso não é um Foro! É um desaforo!
(Adaptado do livro “Anedotas do Quintino”, de Plautus Cunha. Colaboração de José Rodrigues dos Santos, de Fortaleza/CE)

Conta-se que, numa audiência em Fortaleza (CE), um professor de hipnose era acusado de furto.
A certa altura, disse este, em sua defesa:
– Se eu quisesse fugir, poderia fazer todos aqui dormirem!
O advogado Quintino Cunha, figura folclórica do Ceará, que acompanhava a audiência, interveio:
– Não é preciso, deixe isso a cargo de seu advogado!

Noutra feita, corria uma audiência quando o causídico adversário disse: – Doutor Quintino, eu estou montado na lei!
– Pois saiba que é muito perigoso montar num animal que não conhece bem.
(Adaptado do livro “Anedotas do Quintino”, de Plautus Cunha. Colaboração de José Rodrigues dos Santos, de Fortaleza/CE)

LEMBRETE CONVITE - Ulisses Germano


O domingo de amanhã
Vai haver muito chorinho
Na garagem dos chorões
Vou fazer o meu filminho
Documentando a moçada
Velha Guarda da pesada
Que não nos deixa sozinho



Por João Nicodemos


O Olhar do Sol - por José do Vale Pinheiro Feitosa



Por voltas das 6:30 horas com a janela aberta para o Corcovado percebo que o meu olhar é o olhar do sol. Como dizem os cantadores cegos com suas rabecas acompanhando o canto: a luz dos meus olhos. A floresta, em sua encosta virada para a Lagoa Rodrigo de Freitas, se destaca em trama, predominantemente vertical, dos troncos de suas árvores. Iluminam com tal intensidade que se sobressaem sobre todo aquele mar de folhagem.

Quando no zênite deste horário de verão, por volta das 13:30 horas, o meu olhar mudou. As copas das árvores tomaram a encosta do morro numa variação de verdes com uma suavidade de relevo. Quase todas as árvores estão do mesmo tamanho e o machado lanhante não abriu clareiras que rebaixam a vegetação ao tamanho da relva.

Por volta das 17:OO já tenho outro olhar. Como uma terceira visão, que não é a última, pois afinal virão os olhares matizados de reflexos urbanos na fase de lua nova e os da lua cheia igualmente concorrente das luzes da cidade. Neste terceiro olhar todos os troncos estão à sombra da minha percepção. As copas para o meu lado escureceram o verde, cada uma delas teima em ser o limite da minha visão, mas não consegue, pois a encosta se prolonga a oeste esticando o olhar.

E tomando por base os nossos olhares, o meu e o do sol, ao extrair sentenças da verdade terei falado do momento que o sol me deu. Seja a encosta de troncos de árvores, copas iluminadas, verde limitante ou o plano azul escuro inclinado a sul.

Como assistindo ao noticiário das sete horas na televisão e um milionário que mudou a constituição da cidade conquistou o terceiro mandato para prefeito de Nova York. Como esta notícia é banal e se passa despercebida, afinal são as excentricidades milionárias.

Mas causam furor se certas hipóteses de terceiro mandato vierem à tona e outras já realizadas neste olhar que o sol das ideologias oferece aos seus quadros. Como se o tom da matéria jornalista já fosse a própria iluminação solar. Um abrandamento quando as intenções ocorrem em “campo amigo”.

Afinal existem poderes acumulados e controle de fundos de dinheiro para que a sociedade aceite o mesmo mandatário por seis ou nove anos. Como existe um espírito conservador de que o Estado se faz por si mesmo independente do quadro político sobre ele. Neste caso naquelas sociedades em que a oposição se lixou no próprio embate.

Por José do Vale Feitosa

Olhares. Por Liduina Vilar


Temos na linguagem e na expressão corporal, mais específicamente na expressão facial, um agente comunicador e determinante que exterioriza e expressa emoções: o olhar.

Na área educacional, dentre todos os olhares, destacamos: o olhar tímido, o olhar vaidoso , o olhar do aluno ansioso, do aluno tranquilo, do líder, do submisso, do seguro, do inseguro, do extrovertido e muitos outros. É importante fazer a leitura bem feita desses olhares, para poder chegar junto, prestar apoio, se necesário. É a questão da acolhida, do despreendimento carinhoso e educativo. No senso comum, na vida corriqueira, temos: o olhar amoroso, o olhar autoritário, o olhar desprezível, o olhar sensual, o olhar sofrido, o olhar alegre, o olhar preocupado, etc...

E para ter condições de decifrar e entender cada olhar, é importante que nos coloquemos no lugar do outro ( empatia) para sentirmos a mesma emoção. E ai, por inferência, acrescida de um "olhar clínico", ajudar e partilhar do incrível e misterioso mundo psíquico das pessoas.

Finalmente interagir, exercitar e praticar a ajuda, a compaixão, e a caridade humana, fatores tão necessários para a convivência interpessoal.


Façamos isso.


Charlie Chaplin



Sir Charles Spencer Chaplin, KBE, mais conhecido como Charlie Chaplin (Londres, 16 de abril de 1889 — Corsier-sur-Vevey, 25 de dezembro de 1977), foi um ator, diretor, produtor, dançarino, roteirista e músico britânico. Chaplin foi um dos atores mais famosos da era do cinema mudo, notabilizado pelo uso de mímica e da comédia pastelão.

Charlie Chaplin atuou, dirigiu, escreveu, produziu e financiou seus próprios filmes, sendo fortemente influenciado por um antecessor, o comediante francês Max Linder, a quem ele dedicou um de seus filmes. Sua carreira no ramo do entretenimento durou mais de 75 anos, desde suas primeiras atuações quando ainda era criança nos teatros do Reino Unido durante a Era Vitoriana quase até sua morte aos 88 anos de idade. Sua vida pública e privada abrangia adulação e controvérsia. Juntamente com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith, Chaplin co-fundou a United Artists em 1919.

Seu principal e mais famoso personagem foi The Tramp, conhecido como Charlot na França e no mundo francófono, na Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Romênia e Turquia, e como Carlitos ou também "O Vagabundo" no Brasil. Consiste em um andarilho pobretão que possui todas as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro (gentleman), usando um fraque preto esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, um chapéu-coco ou cartola, uma bengala de bambu e - sua marca pessoal - um pequeno bigode-de-broxa.

Foi também um talentoso jogador de xadrez e chegou a enfrentar o campeão estadunidense Samuel Reshevsky.

Em 2008, em uma resenha do livro Chaplin: A Life, Martin Sieff escreve: "Chaplin não foi apenas 'grande', ele foi gigantesco. Em 1915, ele estourou um mundo dilacerado pela guerra trazendo o dom da comédia, risos e alívio enquanto ele próprio estava se dividindo ao meio pela Primeira Guerra Mundial. Durante os próximos 25 anos, através da Grande Depressão e da ascensão de Hitler, ele permaneceu no emprego. Ele foi maior do que qualquer um. É duvidoso que algum outro indivíduo tenha dado mais entretenimento, prazer e alívio para tantos seres humanos quando eles mais precisavam."

Por sua inigualável contribuição ao desenvolvimento da sétima arte, Chaplin é o mais homenageado cineasta de todos os tempos, sendo ainda em vida condecorado pelos governos britânico (Cavaleiro do Império Britânico) e francês (Légion d 'Honneur), pela Universidade de Oxford (Doutor Honoris causa ) e pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos (Oscar especial pelo conjunto da obra, em 1972).

Antônio Marcos - Emerson Monteiro


Por volta de 1968, quando os primeiros sinais de televisão chegaram ao interior cearense pelas ondas da TV Tupi, estação líder em audiência e carro-chefe dos Diários Associados, me achava trabalhando na agência do Banco do Brasil em Brejo Santo, onde permaneceria até 1971. Nesse período, Flávio Cavalcanti apresentava dois programas de sucesso na emissora, “Um Instante Maestro” e “Esta Noite Se Improvisa”.
Em “Um Instante Maestro”, vi pela primeira vez Antônio Marcos. Mostrava composições suas sob a égide daquele famoso apresentador. Magro, de cabeça raspada, expressão agressiva, originava-se do Movimento Artístico Universitário – MAU, grupo teatral que sofrera consequências repressoras do desmonte cultural de anos anteriores.
Feições ainda adolescentes, cantava e se acompanhava ao violão, inspiração talentosa e letras sentimentais, com personalidade deixava notar o êxito que conseguira no mercado fonográfico, conquistando a Jovem Guarda, junto de Roberto e Erasmo Carlos.
Suas aparições se repetiriam nos programas da Tupi, enquanto sua produção ganhava o rádio no País inteiro, levando-o ao estrelado, um dos símbolos da juventude, na década de 70. Quem viveu nesse tempo lembra de “Meninas de Trança”, “Porque Chora a Tarde”, “Sempre no Meu Coração”, “Seu Eu Pudesse Conversar com Deus”, “Como Vai Você”, “Namorada”, “Sonhos de um Palhaço”, “Sou Eu”, “Última Canção”, “Vamos Dar as Mãos e Cantar”, “O Homem de Nazaré”, “Tenho um Amor Melhor do que o Seu” e outras mais.
Em 1969, Marcos deixaria o grupo “Os Iguais”, com quem gravara compactos e um lp de canções estrangeiras (“Yesterday”, “Califórnia Dreaming” e “Yellow Submarine”, dentre outras), para começar carreira solo no disco “Antônio Marcos”, responsável por vender mais de 300 mil cópias.
Depois, faria cinema como ator (“Pais Quadrados, Filhos Avançados”, de J. B. Tanko) e teatro (“Hair”, peça dirigida por Altair Lima), em 1970.
Uniões amorosas intensas caracterizariam a imagem do artista. Casaria com Débora Duarte, atriz de reconhecida fama e, após tempestuoso romance desfeito, seria o marido da cantora Vanusa, e, por fim, de uma filha do rei Roberto Carlos, Ana Paula.
Nos inícios da década de 80, eu retornara ao Crato, e vim a conhecer Antônio Marcos, no Hotel Municipal de Juazeiro do Norte, apresentado por Francis Vale. Realizara um “show” no Cariri e conversamos longamente à beira de uma piscina numa residência situada na Lagoa Seca, enquanto ele bebia e cantava.
Na oportunidade ouvi dele algumas revelações pessoais, ao revelar que usara cocaína durante 17 anos. E seus amigos lhe diziam: - Tu és um verdadeiro cavalo, cheirar coca todo esse tempo e ainda estar aqui para contar a história.
Já havia vencido a batalha contra aquela droga terrível, porém cairia sob as garras do álcool, de quem se tornaria vítima, alguns anos depois. Antes disso, ainda visitaria o Cariri, dando vexame, cantando embriagado e fora de si na Iguatemi Shows, no Triângulo Crajubar, aonde planejei comparecer, mas que não pude fazê-lo, a fim de rever o ídolo popular de tão notória consagração.
Eram os meses finais e melancólicos da brilhante carreira artístico-musical do “moço triste”, que eu conhecera através do vídeo menos de um quarto de século atrás. Em 05 de abril de 1992, vítima de parada cardíaca em função de uma “insuficiência hepática fulminante”, morreria em São Paulo, com apenas 47 anos de idade.