por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A EPIDEMIA DO CAPITALISMO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Agosto de 1976. Até agora são 38 anos. Vivia-se a ditadura de Mobutu Sese Seko e o Zaire (que já fora Congo Belga) era um meio termo entre a velha estrutura da aldeia africana e as estruturas herdadas do colonialismo. Com a ditadura um desastre social e econômico.

No mesmo ano o Sudão também era um racha entre norte e sul. O norte muçulmano mais populoso e o sul tribal e com a religiosidade africana, toda baseada na espiritualidade dos eventos e fatos naturais. O sul do povo Banto o mesmo que também predomina em Angola.

Mabalo Lokela volta à sua casa e feliz com a incursão ao norte do Zaire, num Land-Rover na companhia do Padre Augustin da missão belga na aldeia Yambuku no noroeste do Zaire. Mabalo, também chamado de Antoine, tinha febre e febre era sinal de malária. Tomou uma injeção de cloroquina no hospital da missão belga e foi esperar a melhora em sua casa.

N´Zara aldeia do Sudão a pouco mais de cem quilômetros da fronteira do Zaire. Ugawa o homem mais rico da aldeia era dono de um clube de Jazz e ali os empregados de uma fábrica de algodão costumavam gastar parte do pequeno salário em bebidas e com as mulheres da casa. Ugawa adoeceu e como tinha grana foi para um hospital na cidade de Maridi cem quilômetros depois.

Mabalo comprara carne fresca de antílope para presentear a mulher. A partir desta compra uma tragédia acontece. A OMS se apavora, todos os laboratórios da Europa e o CDC americano tomam conhecimento de uma nova doença mortal que mata mais de 90% das pessoas em poucos dias.

Empregados da fábrica de algodão no Sudão adoecem com a mesma doença do dono do clube em que se divertiam. Seus familiares também adoecem, parentes são acometidos e num surto epidêmico toda a aldeia de N´Zara se encontra apavorada.

O hospital da missão em Yambuku espalha a doença em mais de uma centena de aldeias da Zona Bumba cujas pessoas recorriam a ele para se curar. As freiras, o padre, o pessoal auxiliar, atendentes são acometidas pela misteriosa epidemia e morrem um após o outro. Ugawa chega à cidade Maridi no Sudão e logo depois quase todo o pessoal do hospital morre assim como seus familiares. Maridi é sede da epidemia.

A região de Bumba fica perto do rio congo e de seu afluente, o rio ebola. Quando encontraram o vírus responsável deram a ele o nome de ebola e à doença igualmente. É esta que hoje, 38 anos após, continua sem prevenção, sem um soro, um quimioterápico ou uma vacina que proteja as pessoas. O Ebola se encontra ainda se espalhando nos hospitais miseráveis, os povos submetidos a quarentenas cruéis e a letalidade atingindo mais de 40% das pessoas que adoecem.

As razões sociais havidas no tempo de Mobutu persistiram, mas a “sustentabilidade” da doença e seu espalhado modo de se manifestar reproduz a larga exploração de minas, madeira e plantação para servir aos mercados estrangeiros. Os povos são expulsos das terras e o impacto ambiental é devastador para as condições naturais das florestas equatoriais da região.

A expulsão de suas terras ancestrais, a devastação das florestas, as levas populacionais em torno do agronegócio estão aproximando o ambiente natural e seus vírus das populações humanas urbanizadas. Hoje sabe-se que o mais provável reservatório natural do vírus ebola são os morcegos frugívoros que daí atingem mamíferos e depois o homem que manipula seu sangue e carnes.

Então recordando o tripé virtuoso do capitalismo: as grandes corporações continuam exaurindo a natureza na África, os laboratórios privados estão sujeitos aos capitais em bolsa de valores e ao sistema financeiro e os velhos e heroicos epidemiologistas, médicos, virologistas, entomologistas e outros profissionais que fizeram histórica até o final dos anos 70 todos estão como dizia Cazuza sobre seus heróis: mortos de overdose. A overdose do emprego e interesse dos grandes laboratórios que não têm interesse nos doentes de ebola.

Nove anos após a descoberta da epidemia de ebola, no dia de hoje, em 1985 morria em decorrência de uma infecção pelo vírus HIV um dos maiores mitos da beleza de Hollywood. Morria Rock Hudson que era grande amigo do papa do neoliberalismo: Ronald Reagan. Quando funcionários públicos, cientistas e movimentos sociais pediram recursos para enfrentar a doença, Ronald Reagan solenemente ignorou. Mas aí a morte chegou a um deles.


Don Francis, grande virologista, epidemiologista que viveu a maior parte de sua vida no campo combatendo epidemias, foi um dos técnicos mobilizados pela OMS para estudar a epidemia de ebola no Sudão. Don Francis foi afastado do governo por George Bush Júnior e hoje se dedica a trabalhar na produção de vacina para uma empresa comercial. Como aliás a partir de Reagan todas as verbas para manter os grandes laboratórios públicos, inclusive o CDC foram minguadas naquele ímpeto ideológico do Estado Mínimo.

O "precursor" do mensalão (II) - José Nilton Mariano Saraiva

Em adendo à nossa postagem anterior (A fala do “precursor” do mensalão), vide transcrição abaixo.
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DEBAIXO DO TAPETE – Em 8 anos de governo PSDB, mais de 4.000 processos engavetados pelo Procurador Geral da República.
O que é mais vergonhoso para um presidente da República? Ter as ações de seu governo investigadas e os responsáveis, punidos, ou varrer tudo para debaixo do tapete? Eis a diferença entre Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva: durante o governo do primeiro, nenhuma denúncia – e foram muitas – foi investigada; ninguém foi punido. O segundo está tendo que cortar agora na própria carne por seus erros e de seu governo simplesmente porque deu autonomia aos órgãos de investigação, como a Polícia Federal e o Ministério Público. O que é mais republicano? Descobrir malfeitos ou encobri-los?
FHC, durante os oito anos de mandato, foi beneficiado, sim, ao contrário de Lula, pelo olhar condescendente dos órgãos públicos investigadores. Seu procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, era conhecido pela alcunha vexaminosa de “engavetador-geral da República”. O caso mais gritante de corrupção do governo FHC, em tudo similar ao “mensalão”, a compra de votos para a emenda da reeleição, nunca chegou ao Supremo Tribunal Federal nem seus responsáveis foram punidos porque o procurador-geral simplesmente arquivou o caso. Arquivou! Um escândalo.
Durante a sabatina de recondução de Brindeiro ao cargo, em 2001, vários parlamentares questionaram as atitudes do envagetador, ops, procurador. A senadora Heloísa Helena, ainda no PT, citou um levantamento do próprio MP segundo o qual havia mais de 4.000 (quatro mil) processos parados no gabinete do procurador-geral. Brindeiro foi questionado sobre o fato de ter sido preterido pelos colegas numa eleição feita para indicar ao presidente FHC quem deveria ser o procurador-geral da República.
Lula, não. Atendeu ao pedido dos procuradores de nomear Claudio Fonteles, primeiro colocado na lista tríplice feita pela classe, em 2003 e, em 2005, ao escolher Antonio Fernando de Souza, autor da denúncia do mensalão. Detalhe: em 2007, mesmo após o procurador-geral fazer a denúncia, Lula reconduziu-o ao cargo. Na época, o presidente lembrou que escolheu procuradores nomeados por seus pares, e garantiu a Antonio Fernando: “Você pode ser chamado por mim para tomar café, mas nunca será procurado pelo presidente da República para pedir que engavete um processo contra quem quer que seja neste país.” E assim foi.
Privatizações, Proer, Sivam… Pesquisem na internet. Nada, nenhum escândalo do governo FHC foi investigado. Nenhum. O pior: após o seu governo, o ex-presidente passou a ser tratado pela imprensa com condescendência tal que nenhum jornalista lhe faz perguntas sobre a impunidade em seu governo. Novamente, pesquisem na internet: encontrem alguma entrevista em que FHC foi confrontado com o fato de a compra de votos à reeleição ter sido engavetada por seu procurador-geral. Depois pesquisem quantas vezes Lula teve de ouvir perguntas sobre o “mensalão”. FHC, exatamente como Lula, disse que “não sabia” da compra de votos para a reeleição. Alguém questiona o príncipe?
Esta semana, o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da presidência, colocou o dedo na ferida: “Os órgãos todos de vigilância e fiscalização estão autorizados e com toda liberdade garantida pelo governo. Eu quero insistir nisso, não é uma autonomia que nasceu do nada, porque antes não havia essa autonomia, nos governos Fernando Henrique não havia autonomia, agora há autonomia, inclusive quando cortam na nossa própria carne”, disse Carvalho. É verdade.

Imediatamente FHC foi acionado pelos jornais para rebater o ministro. “Tenho 81 anos, mas tenho memória”, disse o ex-presidente. Nenhum jornalista foi capaz de refrescar suas lembranças seletivas e falar do “engavetador-geral” e da compra de votos à reeleição. Pois eu refresco: nunca antes neste País se investigou tanto e com tanta independência. A ponto de o ministro da Justiça ser “acusado” de não ter sido informado da operação da PF que revirou a vida de uma mulher íntima do ex-presidente Lula. Imagina se isso iria acontecer na época de FHC e do seu engavetador-geral.