por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 31 de julho de 2014

As ameaças da Grande Transformação - Leonardo Boff

A Grande Transformação consiste na passagem de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado. Ou em outra formulação: de uma sociedade com mercado para uma sociedade só de mercado. Mercado sempre existiu na história da humanidade, mas nunca uma sociedade só de mercado. Quer dizer, uma sociedade que coloca a economia como o eixo estruturador único de toda a vida social, submetendo a ela a política e anulando a ética. Tudo é vendável, até o sagrado.

Não se trata de qualquer tipo de mercado. É o mercado que se rege pela competição e não pela cooperação. O que conta é o benefício econômico individual ou corporativo e não o bem comum de toda uma sociedade. Geralmente este benefício é alcançado às custas da devastação da natureza e da gestação perversa de desigualdades sociais. Nesse sentido a tese de  Thomas Piketty em O capital no século XXI é irrefutável.

O mercado deve ser livre, portanto,  recusa  controles e vê o Estado como seu grande empecilho, cuja missão, sabemos, é ordenar com leis e normas a sociedade,  também o campo econômico e coordenar a busca comum do bem comum. A Grande Transformação postula um Estado mínimo, limitado praticamente às questões ligadas à infraestrutura da sociedade, ao fisco, mantido o mais baixo possível e à segurança.Tudo o mais deve ser buscado no mercado, pagando.

O gênio da mercantilização de tudo penetrou em todos os setores da sociedade: a saúde, a educação, o esporte, o mundo das artes e  do entretenimento e até grupos importantes das religiões e das igrejas.  Estas incorporaram a lógica do mercado: a criação de uma massa enorme de consumidores de bens simbólicos, igrejas pobres em espírito, mas ricas em meios de fazer dinheiro. Não raro no mesmo complexo funciona um templo e junto a ele um shopping. Enfim, se trata sempre da mesma coisa: auferir rendas seja com bens materiais seja com bens “espirituais”.

Quem estudou em detalhe este processo avassalador foi  um historiador da economia, o húngaro-norte-americano Karl Polanyi (1886-1964). Ele cunhou a expressão A Grande Transformação, título do livro escrito antes do final da Segunda Guerra Mundial em 1944. No seu tempo a obra não mereceu especial atenção. Hoje, quando suas teses se vêem mais e mais confirmadas, tornou-se leitura obrigatória para todos os que se propõem entender o que está ocorrendo no campo da economia com repercussão em todos os âmbitos da atividade humana, não excluída a religiosa. Desconfia-se que o próprio Papa Francisco tenha se inspirado em Polaniy para criticar a atual mercantilização de tudo, até do ser humano e órgãos.

Essa forma de organizar a sociedade ao redor dos interesses econômicos do mercado cindiu a humanidade de cima a baixo: um fosso enorme se criou entre os poucos ricos e os muitos pobres. Gestou-se uma espantosa injustiça social com multidões feitas descartáveis, consideradas óleo gasto, não mais interessante para o mercado: produzem irrisoriamente e consomem quase nada.

Simultaneamente a Grande Transformação da sociedade em mercado criou também uma iníqua injustiça ecológica. No afã de acumular, foram explorados de forma predatória bens e serviços da natureza, devastando inteiros ecossistemas, contaminando os solos, as águas, os ares e os alimentos, sem  qualquer outra consideração ética, social ou sanitária.

Um projeto desta natureza, de acumulação ilimitada, não é suportado por um planeta limitado, pequeno, velho e doente. Eis que surgiu um problema sistêmico, do qual os economistas deste tipo de economia, raramente se referem: foram atingidos   os limites fisico-químicos-ecológicos do planeta Terra. Tal fato dificulta senão impede a reprodução do sistema que precisa de uma Terra, repleta de “recursos” (bens e serviços ou ‘bondades’ na linguagem dos indígenas).
A continuar por esse rumo, poderemos experimentar, como já o estamos experimentando, reações violentas da Terra. Como  é um Ente vivo que se autoregula, reage para manter seu equilíbrio afetado através de eventos extremos, terremotos, tsunamis, tufões e uma completa desregulação dos climas.
Essa Transformação, por  sua lógica interna, está se tornando biocida, ecocida e geocida. Destrói sistematicamente as bases que sustentam a vida. A vida corre risco e a espécie humana pode, seja pelas armas de destruição em massa existentes seja pelo caos ecológico, desaparecer da face da Terra. Seria a conseqüência de nossa irresponsabilidade e da total falta de cuidado por tudo o que existe e vive.


(*) Leonardo Boff, teólogo e escritor. Autor de Proteger a Terra-cuidar da vida: como escapar do fim do mundo, Record 2010.

Amigos,
De volta , enfim. Ainda meio mofino, meio dengoso, mas em casa, onde parece que o mundo todo foi resumido : a cama é mais macia, o clima mais acolhedor, onde cada simples objeto nos remete a viagens diferentes na nossa vida. Fora, nos sentimos sempre um pouco estrangeiros. E os amigos ? Ah, os amigos têm a fundamental importância de nos provar que a vida continua bem além do nosso quintal que, através de liames infinitos, é possível ampliar os horizontes da nossa cas...a e os limites da nossa família. A viagem se torna mais reluzente quando podemos compartilhar sentimentos e experiências. Voltar à casa paterna é, também, assim, poder abraçar afetuosamente todos os amigos e companheiros , aqueles que um acaso misterioso e mágico nos possibilitou dividir o mesmo espaço, o mesmo tempo , a mesma era. Obrigado !
Visita à casa paterna
Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.
Era esta sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
minhas irmãs e minha mãe... O pranto
Jorrou-me em ondas... Resistir quem há de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.
Rio - 1876.
Luís Guimarães Júnior
  1. Everardo Norões
  2. As histórias infantis se equivocam ao fazer crer aos seus leitores que o Bem sempre vence o Mal e a Sabedoria sempre derrota a Astúcia. Quase nunca é assim.
    Poucos percebem a ironia do malabarista que se exercita no sinal vermelho da avenida e diz ao proprietário do automóvel que lhe dá gorjeta (ou esmola?):
    - Com isso vou comprar um carro!
    Ele sabe que as acrobacias do político, do empreiteiro, ...do traficante serão sempre melhor recompensadas do que a alquimia do artista para transformar sofrimento em alegria ou em êxtase. O malabarista transpira no cruzamento da Padre Roma com a Rosa e Silva para conseguir alguns trocados e diz aquilo sabendo que nunca terá automóvel e que as pessoas nem consideram o que ele faz como um trabalho. É difícil perceber que ele está falando sério porque nossa cultura - a mesma que nega recursos ao artista - incutiu-nos que querer é poder e com esforço sempre se consegue chegar lá. Essa ideologia do 'esforço' é a mesma que abafa o ócio criador.
    Na mesma ordem de pensamento, é também um equívoco pretender que diploma confere ao titular capacidade para fazer alguma obra. Um burocrata da cultura exige de um músico a certificação de cursos e diplomas como se assinaturas com firmas reconhecidas fossem mais importantes do que o exímio exercício de tocara. O argumento de que a ausência de papéis justifica a negação da já pobre recompensa financeira atribuída aos artistas seria cômica se não padecesse daquela crueldade que foi tão genialmente esmiuçada por Kafka.
    Quando o músico - alguém reconhecido até por platéias estrangeiras eruditas - contou-me sua desventura com o funcionário da cultura que tentou lhe negar recursos para um trabalho sério, logo lhe contei o episódio de quando Villa Lobos chegou a Paris e, interrogado sobre quais universidades havia frequentado, respondeu sem hesitar:
    - A de Pixinguinha e João Pernambuco!
    P.S. A PROPÓSITO, TODOS QUE SE INTERESSAM PELA MÚSICA E PELA NOSSA CIDADANIA DEVERIAM PERGUNTAR : O QUE ACONTECEU COM A ORQUESTRA SINFÔNICA JOVEM ?
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