por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Estudantes têm aulas de artes nas ruas do Crato




Uma proposta bem diferente e divertida vem sendo desenvolvida na cidade do Crato com intuito de fazer com os alunos estudem, vivenciem e criem trabalhos a partir da arte contemporânea. O trabalho é desenvolvido com alunos do ensino médio do Colégio Estadual Wilson Gonçalves e do EEFM Teodorico Teles de Quental e é chamado de Laboratório de Estudos, Vivencias e Experimentos em Arte Contemporânea – LEVE Arte Contemporânea.


Com câmeras fotográficas, celulares e idéias, os estudantes vêm ocupando as ruas da cidade do Crato com intervenções e performances artísticas. Os alunos já produziram dois vídeos que estão disponibilizados na internet. Um dos trabalhos foi realizado no Calçadão da cidade, no qual foi feita uma performance em que o cabelo e a barba de um integrantes foram raspada e teve o seu corpo preenchido com palavras e jornais. Já no segundo trabalho, quatro estudantes foram embrulhados com jornais na rua Dr. João Pessoa. Os estudantes pretendem realizar uma performance e a intervenção ainda essa, o que resultará em mais dois vídeos.


De acordo com o idealizador do Laboratório, o artista/educador Alexandre Lucas, a proposta é baseada numa compreensão pedagógica do estudo relacionada a vivencia e pratica, a partir de elementos do cotidiano dos alunos. Ele destaca que o mais significativo são as produções dos vídeos que servirão como instrumento para pensar as praticas pedagógicas sobre o ensino de Artes.
Para aluna do Ensino do Médio da Escola Teodorico Teles de Quental, Clarissa Mota da Silva, o Laboratório dá a oportunidade de perceber visões diferentes. “Foi uma superação mim. Eu não me via capaz de também fazer arte”, diz a aluna.


Tainá Araújo, estudante do Colégio Estadual Wilson Gonçalves, destaca que adora fazer coisas diferentes e cita que através da arte contemporânea está conseguindo fazer isso. Ela frisa que antes das atividades serem realizadas na ruas são feitos estudos e planejamentos.


Maria Reijane Ferreira da Silva, também do Colégio Wilson Gonçalves cita que o Laboratório ajuda na desinibição e em é possível maneiras de se expressar, através da arte.
Os trabalhos que são realizados nas ruas são abertos a participação do público e artistas.
O Laboratório conta com a parceria do Coletivo Camaradas e do 18ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação -CREDE.


Serviço:
Caso queira participar das atividades de intervenções e performances realizadas pelo Coletivo Camaradas e o LEVE Arte Contemporânea entrar em contato: (88)92604870/88260008.

Algodão doce - por Socorro Moreira



O coração comporta muitos amores. A felicidade faz a opção de fidelidade. Num encontro amoroso de qualidade, ela é inerente. Não deixa entrar outros requerentes.
Pra que o desassossego, se o amor só deseja um tempo pro amor?
O malabarismo afetivo é tarefa circense. Por que deixar o circo pegar fogo?
Às vezes acontece...
Não por mal, nem por bem.Por acaso, talvez... Aí, se o sentimento de posse não existir, se a liberdade de amar foi conquistada, os sentimentos são lícitos e administráveis.
Melhor não deixar que a paixão cegue a razão.Deixar que ela siga por aí, sem destino, até se perder de sentir, ou transcender na poesia.

Ocultar emoções pode ser como dissolver um doce de algodão.
Gosto do branco, sem anilinas.Lembram nuvens, onde o rosa é possível.
Prazer  do cinturão queimado, brincadeira que esconde aquilo que procuramos.
Alegria da ciranda de roda com passos cadenciados que exorciza o que nos traz comoção.

Enfim...Nem tudo tem explicação.
Chamo de ilusão o que deveras sinto.
Chamo de realidade  tudo sem solução.

Noite de pensar, sem pesar; de sorrir à toa.
De dormir pra sonhar
E acordar, preocupada com o almoço
Sem o apetite apertar.

Romances morrem no ar.
Soltos, eles voam...
Aterrissam num lugar comum
Chamado lar.
Lá a paz é singular
E a felicidade se cria, e se fomenta
Na cumplicidade do abraço.

Abraços... .Cumprimentos humanos!
Alguns apertados
Outros mais chegados
Uns itinerantes...
Abraço é a expressão sagrada
Do corpo animal, se humanizando!

Nick Bar





por Jorge Mello em 16 de agosto de 2007
Publicado em Cancioneiro de Garoto






Piano Bar - Alberto Sughi
Detalhe de “Piano Bar”, gravura do artista plástico italiano Alberto Sughi.

Num bar da notívaga São Paulo da década de 50, um conjunto formado por bandolim, piano, contrabaixo e bateria toca um animado choro instrumental. Chega então um freguês, que é prontamente atendido pelo garçom:

– Boa noite!
– Boa noite.
– Ué, sozinho hoje?
– Estou… Queria aquela mesa, perto do piano.
– Pois não!

Repentinamente o bandolim pára o choro e o freguês pede firme:

– Maestro!

Surge então a voz aveludada de Dick Farney, entoando a letra de um samba-canção de sofisticada – porém envolvente – harmonia:

Foi neste bar pequenino
Onde encontrei meu amor
Noites e noites sozinho
vivo curtindo uma dor

Todas as juras sentidas
Que um coração já guardou
Hoje são coisas perdidas
Que o eco ouviu e calou

Você partiu e me deixou
Não sei viver sem teu olhar
O que sonhei só me lembrou
Nossos encontros no Nick Bar

Assim é o primeiro registro sonoro de Nick Bar, composição de Garoto e José Vasconcelos – este último, aliás, responsável pelo “diálogo” garçom-freguês acima (para ouvi-lo, vá até o player localizado no rodapé deste artigo).

Nesta gravação, Dick Farney possui a companhia musical de Radamés Gnattali (piano), Garoto (violão e bandolim, tocado no início), Pedro Vidal (contrabaixo) e Trinca (bateria). O disco, um RPM 78 rotações da Continental de número 16479, foi gravado em 23 de agosto de 1951 e lançado dois meses depois – existem duas outras gravações dela feitas pelo próprio Dick em dois outros discos de sua autoria.

O paulistano e noturno “Nick Bar”

Bairro do Bixiga à noite, em São Paulo - fonte da imagem: http://flickr.com/photos/slgiusti/217836390/A boemia paulistana no início da década de 50 tinha como emblemático ponto de encontro um bar localizado no tradicional bairro do Bixiga, no número 315 da rua Major Diogo, ao lado do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), servindo como um refúgio informal e charmoso para músicos, atores, escritores, artistas, socialites e boêmios da época.

Seu dono, o americano Joe Kantor, conhecido boêmio na cidade daqueles tempos, batizou-o de Nick Bar em referência à montagem “Nick Bar… Álcool, Brinquedos e Ambições”, título em português dado à peça de três atos “The Time of Your Life” (1939), do escritor e dramaturgo norte-americano William Saroyan , dirigida pelo italiano Adolfo Celi. Esta, por sinal, fora a primeira encenação profissional do TBC, inaugurado havia pouco tempo, em 1949.

O escritor e cineasta paulistano Marcos Rey em sua crônica intitulada “Bares da saudade” sintetiza de forma sucinta a magia e o glamour que envolvia e atraía seus freqüentadores:

“(…) Era o reduto da sofisticada geração que se dizia existencialista, discutia Sartre e se recusava a apertar a mão dos adeptos da música caipira. Os artistas de sucesso e jovens intelectuais diziam presente todas as noites. Os cronistas sociais passavam por lá. Estar no Nick podia ser notícia. Com um pouco de sorte sentava-se na mesa ao lado de Tônia Carrero, Maria Della Costa e Cacilda Becker. Vizinhos da fama. O tom da geração, o estar na moda, ser up to date, era ali, no Nick, onde muita gente tomou uísque pela primeira vez, curtiu a dor-de-cotovelo inaugural e aprendeu que era feio dormir cedo. Devia ser tombado e seus fregueses transformados em figuras de um alegre museu de cera. (…)”

A lembrança desse clima de boemia e musicalidade que rondava o bar se tornou lenda, perdurando na memória dos que intensamente vivenciaram aqueles momentos.



Letra e música nascendo juntas



Exterior - Por Wally Salomão



Por que a poesia tem que se confinar?
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?

Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
– carpe diem! –
fora da zona da página?

Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não pode travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?

Anti-erótico - Por Socorro Moreira



O olor de lavanda
nos lençóis e travesseiros
Uma brisa casual nos cabelos
Um cheirinho de baunilha saindo do forno

Já não sinto tuas mãos no meu corpo
Tua energia escapuliu no esquecimento.

Meu ponto G agora é ponto final
Espalhado e preenchido
Num espaço total.

Nada erótico...
Teu perfume de capim
Roupão de banho
Absorvendo a água que saiu de mim

Nada erótico
O apelo do pensamento
por um beijo que o vento
roubou e levou de mim.

Pedaço azul - Por Socorro Moreira



O silêncio é fria
No calor de Novembro
Me lambuzo no mel das frutas
E vivo o inverno que não chega
Agasalhada em mim mesma.
O sol diz que é verão
Que aclara os sentidos e a compreensão ...
Mas eu quero a prima das cores
Pintar de novo a parede
Que o meu coração desbotou

ti voglio tanto bene - Ernesto de Curtis- Colaboração de José do Vale Feitosa


Ernesto De Curtis, um dos maiores compositores italianos do final do século XIX e início do século XX. Era irmão de Giambatisti De Curtis, poeta, com quem fez a canção Torna a Surriento. O compositor nasceu em Nápoles em 1875 e lá morreu no último dia do ano de 1937. Compôs mais de uma centena de música entre as quais “Non ti scordar di me” e “Ti voglio tanto bene”.

Dimmi/ Diga-me
Che tuo amore non muore/ que teu amor não morre,
È come il sole d'oro/ é como o sol d´ouro,
Non muore mai piú/ não morre nunca mais.

Dimmi/ Diga-me
Che non mi stai a enganare/ que não estás a me enganar,
Che il sogno mio d'amore/ que meu sonho de amor
Per sempre sei tu/ para sempre é você.

Oh! Cara/ Oh! Cara,
Ti voglio tanto bene/ te quero tanto bem,
Non ho nessuno al mondo/ não tenho ninguém no mundo
Piú cara di te/ mais cara que tu.

T'amo/ Te amo,
Sei tu il mio grande amoré/ és tu o meu grande amor,
La vita del mio cuore/ a vida do meu coração
Sei solo tu/ é apenas tu.

Una Stella/uma estrela
Brilla in mezzo al cielo/ Brilha em meio ao céu
La mia stella sei tu/ A minha estrela és tu
Tu sei il mio camino/ Tu és meu caminho

Liberdade - Por Rosa Guerrera



Hoje eu vou rotular de liberdade o meu dia...
Rasgar todos os compromissos
E sem identidade na bolsa
Vou voar deitada numa folha imaginária!

Hoje eu quero ficar de bem com a vida!
Parar de questionar coisas que nunca entendi.
Deixar a velha mania de sofrer com as falhas humanas
E esquecer de chorar maldades e calúnias recebidas.

Hoje, vestida nessa liberdade
Eu vou “zoar” das trapaças do mundo
Cantando uma seleção de músicas “bregas”
Completamente absorta às opiniões alheias.

Hoje eu estou de bem com a vida
E todos os semáforos estão me sinalizando
a estrada verde esperança !
E que ninguém tente interromper
essa liberdade de ser eu mesma!

Hoje eu entendi que perdi muito tempo
E que toda primavera veleja rápido
pelos mares do destino...

Hoje, eu tirei férias de mim mesma...
E decidi de uma vez por todas
Que nunca mais brigarei

De novo com a Vida!

rosa guerrera

Silente- - Por Socorro Moreira




Lua metade
Selene obscura
Poema luz em completude
Luar em respingos
Réstias interiores
Piscares, picadas,
Quase involuntárias.

Vejo a calçada sem ciranda de roda
Combinações saíram de moda
Viola nos ombros errantes
Catam boêmios
De ouvidos etílicos
Que entregam a alma
Numa canção antiga

Tempos reais
Tempos carentes e vazios.
Falta o frescor dos meus sonhos
Não compro o imaginário
Faço contas na ponta do lápis
Analiso as margens...
Com elas vivo a loucura do que posso.

Almas distantes
Desalinham as paralelas
Momento eterno é terra !

Um texto de Adélia Prado - Colaboração de Altina Siebra


“Meu Deus, quanto jeito que tem de ter amor"


Adélia Prado

Uma personagem põe-se a lembrar da mãe, que era danada de braba, mas esmerava-se na hora de fazer dois molhos de cachinhos no cabelo da filha, para que ela fosse bonita pra escola.
Meu Deus, quanto jeito que tem de ter amor.
É comovente porque é algo que a gente esquece: milhões de pequenos gestos são maneiras de amar. Beijos e abraços são provas mais eloqüentes, exigem retribuição física, são facilidades do corpo. Porém, há outras demonstrações mais sutis: Mexer no cabelo, pentear os cabelos, tal como aquela mãe e aquela filha, tal como namorados fazem, tal como tanta gente faz: cafunés. Amigas colorindo o cabelo da outra, cortando franjas, puxando rabos de cavalo, rindo soltas.
Quanto jeito que há de amar.
Flores colhidas na calçada, flores compradas, flores feitas de papel, desenhadas, entregues em datas nada especiais: "lembrei de você".

É este o único e melhor motivo para azaléias, margaridas, violetinhas.
Quanto jeito que há de amar.
Um telefonema pra saber da saúde, uma oferta de carona, um elogio, um livro emprestado, uma carta respondida, uma mensagem pelo celular, repartir o que se tem, cuidados para não magoar, dizer a verdade quando ela é salutar, e mentir, sim, com carinho, se for para evitar feridas e dores desnecessárias.
Quanto jeito que há de amar.
Uma foto mantida ao alcance dos olhos, uma lembrança bem guardada, fazer o prato predileto de alguém e botar uma mesa bonita, levar o cachorro pra passear, chamar pra ver a lua, dar banho em quem não consegue fazê-lo só, ouvir os velhos, ouvir as crianças, ouvir os amigos, ouvir os parentes, ouvir...
Quanto jeito que há de amar.
Rezar por alguém, vestir roupa nova pra homenagear, trocar curativos, tirar pra dançar, não espalhar segredos, puxar o cobertor caído, cobrir, visitar doentes, velar, sugerir cidades, filmes, cds, brinquedos, brincar...
Quanto jeito que há.

Na Rádio Azul


Por Edmar Lima Cordeiro



RECADO



Quero sentir tuas emoções

Vibrar teu ser apaixonadamente

Amar-te inteira

Conhecer tua cabeça

Teus sentimentos

Preparar um instante

Que a paixão encante

Nascer daí um ser translúcido

Sem trauma

Amante do amor lascivo e quente

Envolver na calma deste instante

A paz suave dos amantes

Nada é impossível

Se as paralelas no horizonte encontram-se

Um dia espero tuas emoções sentir.

Edcor



Quinto dia de apresentações da Mostra SESC traz grandes surpresas para o público



Cariri, 14 de novembro de 2011



O quinto dia da Mostra Cariri de Culturas, dia 15, é marcado pela diversidade na programação.

No núcleo de artes cênicas, em Juazeiro do Norte, se apresentam os grupos Bricoleiros (CE), Eduardo Okamoto (SP), Carroça de Mamulengos (CE) e Companhia Dakar(HOL). O grupo cearense Bricoleiros apresenta, no Centro Cultural Banco do Nordeste, às 10h, “Criaturas de Papel”, espetáculos onde papéis brancos ganham formas geométricas e são transmutados em figuras cênicas que, meticulosamente animados, ganham vida. O artista paulista Eduardo Okamoto leva ao público, no Teatro Patativa do Assaré, às 12h, “Agora e na hora da nossa hora”, espetáculo que coloca em discussão uma cidade invisível, onde meninos de rua, que mal são notados, sobrevivem à chacina da Candelária. A companhia Carroça de Mamulengos apresenta, às 18h, no bairro Timbaúbas, “Seja noite ou seja dia, viva o Palhaço Alegria”, peça que põe em cena um palhaço de três metros de altura todo desmontado e que, após ser montado, apresenta cenas com bonecos de mamulengo. O toque internacional da programação fica por conta da Companhia holandesa Dakar, que apresenta no Sítio São José, às 16h, “Braakland”. O espetáculo é um conto sóbrio, inspirado nos romances do escritor sul-africano John Coetzee, que narra a história de nove personagens que vagam em uma terra esquecida sem se proteger e sem se defender. Sem o uso de palavras e com um olhar cinematográfico, o espetáculo propõe ao público acompanhar a desolação e a poesia desta narrativa a cinqüenta metros de distância.

No Crato, ainda no núcleo de artes visuais, o público confere as apresentações do projeto Palco Giratório. No teatro SESC Crato, às 9h, se apresenta a Companhia Plichinelo (SP), com “A lenda das lágrimas”. O espetáculo questiona o poder do amor, narrando a história de um casal indígena da tribo Tupi. No Crato Tênis Clube, às 18h, na sala Patativa do Assaré, se apresenta a Companhia do Tijolo (SP), com o espetáculo “Concerto de Ispinho e Fulô”. A peça narra uma entrevista com o poeta Patativa do Assaré, que se transforma num diálogo entre o popular e o erudito, o urbano e o rural, e culmina com a denúncia de um dos primeiros ataques aéreos contra civis no território brasileiro.

Em Nova Olinda, as apresentações se concentram no Teatro Violeta Arraes. Às 9h, a Companhia Desajuste (SP) apresenta “Mareados”, trama que narra a aventura de três palhaços que dividem uma embarcação até serem surpreendidos pela chegada de uma divertida náufraga. Às 19h, o grupo Teatro Novo (CE) encena “Anônimos”, peça que mostra um dia de visitas em um abrigo de idosos, no qual as personagens relembram um passado povoado de tristezas, alegrias, amores e sonhos que se renovam a cada amanhecer.

No núcleo de audiovisual, a programação de Juazeiro do Norte se concentra no Centro Cultural Banco do Nordeste. No Panorama de Cinema de Animação, que inicia às 16h, os espectadores podem acompanhar a exibição de curtas animados nacionais e internacionais. Às 18h, na Mostra de Longas-Metragens Rosemberg Cariry, será exibido o filme “Cine Tapuia”. A produção narra a história de um cego e de uma índia que viajam o sertão nordestino projetando velhos filmes. No Crato, o público assiste ao Panorama de Curtas Contemporâneas. As exibições são realizadas na Casa Ninho, às 15h. A programação tem início com o curta “Matryoska”, do diretor cearense Salomão Santana. Em seguida, são apresentados os curtas “Carta ao Pai” e “O homem com o celular de filmar”, ambos do diretor juazeirense Ythalo Rodrigues. Encerra a programação do dia o curta “Material Bruto”, do diretor Ricardo Alves.

Nas atividades do núcleo de artes visuais de Juazeiro do Norte, na Praça Padre Cícero, o público confere a exposição “A procura – Heterotipias dos percursos”. A exposição inicia às 14h. Na Galeria SESC, no mesmo horário, tem início a exposição fotográfica “Retratos de Coimbra”, do fotógrafo Michael Sasso. No Crato, são realizadas as exposições Veias Urbanas”, de Rafael Vilarouca, “Memórias e história do caminho de ferro no Ceará”, de Aderbal Nogueira, e “A Procura – Heterotipias dos percursos”. As atividades são realizadas na RFFSA, e iniciam às 14h.

No núcleo musical, em Juazeiro do Norte, se apresentam na Praça Padre Cícero, a partir das 23h, Aquiles e Outros Blues, com o show “Bluiz Gonzaga”, e Jefferson Gonçalves, com “Encruzilhada”. No Crato, no projeto “Armazém do Som”, se apresenta João do Crato e Banda, com o show “Alvíçaras ao Rei Luíz”.

No núcleo de tradição da Mostra, espaço dedicado ao incentivo da cultural popular local, acontece no Crato, às 14h, no terreiro da Mestra Zulene Galdino, uma prosa de quintal com o mestre de cultura Bule Bule. Às 19h, a terreirada recebe os grupos Reisado São Miguel e a banda cabaçal Santo Expedito. A apresentação fica por conta de Tranquilino Ripuxado.

No núcleo de literatura, os destaques da programação são os lançamentos literários. No Crato Tênis, às 19h, os autores Cleison Ribeiro e Francisca Pereira(Fanka) fazem o lançamento das suas obras. Cleison Ribeiro lança “Silêncio laminado do casulo”, e Fanka lança “Água da mesma onda”.

As apresentações acontecem nas cidades de Juazeiro do Norte, Crato, Nova Olinda e em mais 20 cidades da região do Cariri. São divididas em núcleos de audiovisual, música, artes cênicas, artes visuais, tradição e música, iniciando a partir das 9h. Os espetáculos e atividades da 13ª Mostra SESC Cariri de Culturas seguem até o dia 16 de novembro, nos municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Nova Olinda.






O RETIRO DE SOCORRO MOREIRA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Eu habito numa ladeira do Bairro Jardim Botânica. Assim como um retirado de todos os acontecimentos das ruas em enchente das megalópoles. Igual era o sítio Batateira, onde vive até sair para Fortaleza: um retirado do Crato.

O retirado é uma coisa interessante, pois não é ele apenas. Quando falamos em retiro praticamente estamos representando um movimento. Não é um lugar em si, é uma ausência de algo, mas é, ao mesmo tempo, a reflexão deste algo.

Quando a Socorro Moreira nos informa que se encontra em algum lugar que não tem internet, logo conclui: eis um retiro. Mesmo quando, cautelosa com o carinho dos amigos, informa do retiro aí é que este mais se acentua. Que lugar é este e não tem internet?

E tem paralelo na nossa cultura. Zé Dantas, aqui no Hospital dos Servidores do Estado, onde exercia a função de obstetra, olhando para o mar de casas e prédios da região da Gamboa e Santo Cristo. Quem sabe Zé Dantas numa noite de espera de um parto a termo, aquele evento que lhe permitiria finalmente dormir na alta madrugada a lembrar-se do seu retiro no Riacho do Navio.

Ora! Imaginei! A Socorro Moreira está num retiro. Teria ainda os pedaços da lua cheia tão pouco acontecida? As estrelas estariam fazendo um enxame luminoso a abraçar a realidade da nossa condição humana? E os silêncios musicais das noites nos tons de coruja, grilos e de algum animal do terreiro e do curral?

A Socorro estaria num retiro do nosso passado recente? Daquele de raros automóveis, dos ruídos da marcha dos cavalos, de algum tetéu nos açudes ou um vim-vim anunciando a chegada de alguém?

A qual retiro a Socorro pede socorro? Imagino! Aquele que resguarda a face deste Crato em mutação permanente onde os lembrados apenas o são por esquecidos que foram. Onde os esquecidos não são matéria do éter, ao contrário, são a materialidade dos resgates de nossos retiros.

Somos todos portugueses? - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

De tantas e tantas vezes escutar anedotas sobre a "pressuposta" pouca inteligência dos nossos descobridores, deu-me uma falsa impressão de verdade, a um ciúme ou quem sabe, uma revolta, provavelmente ambos iniciados nos tempos coloniais. Mas ao residir numa cidade, e aqui abro um parêntese e peço licença para usar uma palavra da moda, numa cidade com índice de "mobilidade" cada vez menor, onde construíram um viaduto para desafogar o trânsito e colocaram um semáforo por baixo; onde já encontrei uma rua cujo já mencionado sinal luminoso foi colocado cerca de dez metros após o cruzamento, impedindo os carros circularem pela rua transversal; onde uma de suas universidades oferece "curso de verão" em pleno mês de julho, quando oficialmente é inverno no hemisfério sul, é que cheguei à conclusão que não poderemos jamais zombar da inteligência dos fundadores do Vasco da Gama. Se precisasse de uma prova da sabedoria portuguesa, bastaria a fundação do meu "Vascão" para colocar por terra qualquer argumento contrário.

Entretanto, convém lembrar que os portugueses detêm a maior e melhor tecnologia em Engenharia Civil do mundo, sendo inigualáveis no domínio das Mecânicas dos Solos e das Rochas. É da responsabilidade dos engenheiros portugueses do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa o projeto e construção das grandes barragens norte americanas.

Será que falamos a mesma língua? De nada adianta os governantes dos países de língua portuguesa desejarem unificar o idioma. Nós brasileiros, jamais passaremos a chamar o concreto armado de betão e time de futebol de "equipa".

É bom lembrar que nós temos nossos vícios de linguagens que atropelam qualquer estrutura do idioma de Camões. Além, é claro, de desafiar a lógica. Um amigo, foi conhecer Portugal. Lá chegando alugou um carro e saiu pelo interior do país, pouco maior que o nosso Ceará. Com o mapa rodoviário à bordo, e admirado com a perfeição de suas estradas, esse amigo desejava conhecer um cidadezinha lá existente de nome Almeida, de onde vieram seus bisavós. Ao chegar a uma pequena vila, onde a estrada se bifurcava, resolveu perguntar a um velhinho que se aquecia ao sol da manhã:
- "Onde é que fica Almeida?" - Quis saber. E o velhinho, com muita simplicidade, respondeu:
- "Primeiramente deseje-me um bom-dia!"
- "Ah, desculpe-me, bom-dia!"
- "Muito bem, agora podes perguntar!" - Ordenou o português:
- "Onde é que fica Almeida?"
- "Ora que pergunta mais tola: Almeida fica em Almeida, pois!"

De outra feita, outro brasileiro, viajando pela Europa, alugou um carro em Lisboa para ir até Madri. Na saída da cidade, perguntou a um frentista de um posto de gasolina:
- "Esta estrada aqui vai para Madri?" - Quis saber, se expressando no nosso dialeto.
- "Pelo visto, quem estar a viajar para Madri és tu, pois essa estrada é nossa e se ela for para lá irá nos fazer muita falta, pois só temos ela!" - Zombou o bombeiro lusitano.

Afinal, os portugueses também sabem nos dar um merecido troco! No meu primeiro ano na Escola Politécnica da Bahia, apareceu por lá um colega português, o Braguinha, cuja família acabara de se mudar para o Brasil. De tanto a turma lhe encher as medidas, ele nos contou essa, com carregado sotaque:

Um português, recém chegado ao Brasil quis entrar num clube onde se realizava animado baile de carnaval. Na entrada, foi barrado pelo porteiro que alegava a festa ser exclusivamente para brasileiros. Insistiu uma segunda vez, uma terceira, até que viu um jumentinho a pastar junto ao meio fio da calçada. Arrastou-o até a portaria do clube, onde já se encontrava o presidente para impedir a entrada do português:
- Você já foi informado várias vezes que somente entra aqui os brasileiros! - E o português, empurrando o jumento para o interior do clube, gritou:
- Então vás tu, que és brasileiro!

Por Carlos Eduardo Esmeraldo