por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O acordo ou a corda

J. Flávio Vieira

Nas últimas semanas,  o Crato se viu assaltado por uma onda de seguidos suicídios. Alguns deles em pessoas jovens que deviam carregar nos olhos o dourado sonho da existência.  Este ato extremo, que leva pessoas a fugirem pela porta dos fundos, põem toda a cidade em polvorosa. Parentes e amigos jamais tirarão da mente um certo sentimento de culpa : -- Eu poderia ter pressentido os primeiros sintomas e , quem sabe, evitado a catástrofe ! Os conhecidos e transeuntes embebem-se num certo blues, como se perguntassem : o que há de errado neste mundo que ninguém o suporta sem algum tipo de anestesia ?
                                   Longe de ser um questão meramente doméstica, os suicídios alcançam, no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde, quase 900.000 mortes ao ano. Este valor numérico , pasmem vocês, ultrapassa as mortes por guerras, os homicídios e desastres naturais somados ! E, o pior de tudo, desde a década de 70, os suicídios cresceram mais de 60 % e, ultimamente, têm tomado um vulto totalmente inesperado. Acredita-se que a crise econômica global possa ter contribuído para o aumento. O desemprego, o arrocho salarial, principalmente em países europeus, a instabilidade da economia em nações outrora prósperas, impulsionam o desencanto junto à juventude. Acredita a OMS que a urbanização desenfreada , certamente, tem exposto a população às agruras e estresse das cidades e megalópoles. Desde 2010, pela primeira vez, a maior parte da humanidade vive em zonas urbanas e não nas rurais.  Deixamos o campo e sua plácida tranquilidade,’ para a violência da rua, do trânsito, a competição terrível no mercado de trabalho. E mais que tudo, perdemos a identidade e passamos, na cidade grande, a ser apenas um número, no meio da manada, com a clara sensação de que corremos em disparada para o abismo logo à frente.
                                   Estudos têm demostrado que os laços sociais são fortes aliados na prevenção dos suicídios. Amigos, namorados e namoradas, parentes,  esposas, maridos,  filhos, companheiros de trabalho  e  de farra são os liames imprescindíveis que nos prendem à vida e lhes dão algum significado. Estudos feitos nos EUA demonstram que quase metade dos adultos se consideram solitários e este preocupante percentual é exatamente o dobro da década de 80. Este isolamento proporcionado pela urbe , certamente,  estaria impulsionando os casos de depressão responsável esta  por mais da metade de todos os suicídios.
                                   Basta refletir sobre os destinos da modernidade , para se perceber que nós mesmos destilamos nossa própria cicuta. As pessoas fogem dos relacionamentos sérios, como o trombadinha da polícia. As relações passaram ser na sua maioria transitórias e eventuais : amizades coloridas, rolos, ficas. Mulher ou homem que consiga uma certa ascensão econômica prefere a cueca ou calcinha do parceiro na cadeira, nunca no guarda roupa. Casamentos se dissolvem como gelo em Teresina: a primeira cara feia, o primeiro bate-boca ou arranca –rabo é motivo para o divórcio. Já há incontáveis casais que simplesmente optam por não ter filhos, sob a alegação de que atrapalha demais e dá muita dor de cabeça. A explosão da comunidade global fez com que a comunicação ficasse, aparentemente,  mais fácil, mais rápida com o Smartphone, a Internet, o WhatZapp, as Redes Sociais. A tecnologia aproximou absurdamente os distantes, mas afastou terrivelmente os próximos. Nas rodas de bar , já não se conversa: se tecla. Passamos a ter incontáveis amigos virtuais, mas praticamente deletamos os amigos reais. O Curtir substituiu o bate papo, o olho no olho, o toque, o abraço. Não bastasse isso, a vida profissional se tornou um verdadeiro campo de guerra. Já não temos companheiros mas competidores. O objetivo de todos é o mesmo do Flamengo :  vencer, vencer, vencer. Como em toda maratona poucos vão ao pódio e muitos são os derrotados.  Viver é consumir e aí daqueles que ferirem esse mandamento básico. De repente, uma grande turba percebe-se só no mundo aniquilada : sem família, sem amigos, sem agregados, sem companheiros.  O parto atravessado da vida não se suporta sem anestesia: álcool, lexotan, tabagismo, cocaína, fanatismo, religião,  moralismo...  A solidão no meio da turba talvez seja a mais cruciante solidão. Vale a pena continuar a jornada ?
                                   Há algo errado na viagem, quando tantos desembarcam antes da estação final.  É preciso mudar o roteiro, aproximar o grupo de viajantes para que possam dividir a estafa do caminho e desfrutar juntos a paisagem que passa definitiva na janela. Como o trem   segue sempre  para o descarrilamento inevitável, o companheirismo, a solidariedade, a  amizade , no final, serão a única atração verdadeira do nosso roteiro turístico. Não dá para viver sozinho, nem existe felicidade individual. São as nossas relações interpessoais que nos atam ao vazio da existência. Só temos duas opções neste mundo : o acordo ou a corda.


Crato, 08/10/14 

O RUMO NORTE É O NOSSO DESATINO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quando nos apontam o rumo norte para o nosso destino, a morte abre as suas asas sobre o nosso desatino. Esta frase deveria ser um eco de razão a toda vez que um político, um líder ou um cidadão nos aponta os EUA como o nosso modelo de civilização.

Mesmo que o sonho do sucesso, a segunda chance, o mérito da conquista, o imenso prazer do consumir e pertencer a uma sociedade em que se agradece pelos empreendedores privados esteja a alavancar um desejo como compreensão da liberdade. Mesmo que seja isso, sempre imagine que o Brasil é grande, somos uma sociedade de mais de 200 milhões, temos uma cultura própria e capacidade de viver os nossos próprios sonhos e através da liberdade de nos realizarmos pelo nosso próprio conhecimento e arte.

Já temos problemas demais a enfrentar para desejarmos ser o gasoduto a alimentar a energia dos problemas dos outros. Os EUA formam um grande povo, a humanidade deve muito às suas instituições, à sua ciência e cultura. Mas o mundo tem sido vítima do imperialismo americano com suas agressões, golpes políticos, usurpação das riquezas, atraso e exploração dos povos e nem por isso os EUA têm a melhor sociedade. Nem muito inferior aos nossos problemas.

Os EUA inventaram, FHC e o PSDB embarcaram em seu ideário, a maneira mais soft de implantar seu “estilo” através do enriquecimento das suas empresas sobre a economia dos povos como o Brasil. As empresas vêm com toda a concorrência, mas com o estilo americano de ser (lobbys, holdings, oligopólio etc.) e para garantir um mercado fluído e sem conflito: inventaram as Agências Reguladoras. O papel delas é “controlar” o desejo dos consumidores por melhores serviços e menores preços. Dar um colchão de apoio ao “mercado”.

Leia o primor como os EUA defendem suas empresas através de trechos de um documento de empresas de fracking de gás de xisto para Ucrânia (aí toda briga com a Rússia): “Empresas norte-americanas podem investir diretamente na Ucrânia, levando com elas sua tecnologia. Empresas ucranianas podem contratar perfuradores norte-americanos com experiência, podem licenciar perfuradoras norte-americanas e empresas de tecnologia de sondagem sísmica por imagem, e podem importar equipamento norte-americano sofisticado de perfuração. O governo dos EUA pode estimular este desenvolvimento com programas patrocinados pelo Estado, como o Programa para Engajamento Técnico Não Convencional para Gás do Departamento de Estado.

É até óbvio, mas o Governo financia com impostos do povo dos Estados Unidos as suas empresas para que explorem as riquezas e a economia dos outros países. E fazem isso por cima de pau e pedra, por isso toda a briga na Ucrânia. Por isso eles bombardeiam países pelo mundo todo e acusam a Rússia pela anexação da Criméia como vestais numa noite sem lua. Na verdade toda esta guerra é que os EUA querem substituir o papel da Rússia como fornecedora de gás natural para a Europa,pela hegemonia da produção de gás de xisto por fracking.   

Nesta altura da nossa história a nossa principal reflexão, crítica e construção do futuro tem por base a nossa própria história. Não vamos seguir os passos de ninguém, os nossos problemas precisam ser resolvidos e não vamos adotar políticas que aumentem estes problemas ou então, retardem as suas soluções.
Os EUA não servem de espelho para nós os brasileiros. Vejam alguns dados do seu modelo de ser em alguns tópicos. A) Dois terços da população de Detroit não pode pagar as suas necessidades básicas e 46 milhões de americanos estão na pobreza; B) a taxa de mortalidade infantil dos EUA é a quarta mais alta entre 29 países mais desenvolvidos; C) a taxa de analfabetismo nos EUA entre adultos é de 14%, 21% dos americanos têm um nível de leitura inferior à 5ª série de estudo e 19% do diplomados do ensino médio não sabem ler; D) o sistema de saúde americano ocupa o último lugar em eficiência entre os 10 países mais desenvolvidos e tem o maior gasto per capita entre eles ($8.508).

Ora os EUA são um país bem sucedido e rico. Qual a sua questão? O modelo político, social e econômico com base puramente no liberalismo de mercado. Os números que lemos parecem até enganosos pois jamais imaginaríamos que eles fossem assim, mas são. São pelo excesso de individualismo, de exploração privada, de acesso por renda, de negócios lucrativos, de intermediações onerosas como advocacia, segurança e guerras geopolíticas.

Este modelo, por exemplo, transformou a educação numa mera fábrica de performance, sem preparar o ser humano e levando a que mães em desespero usem medicamentos nos filhos abaixo de 10 anos de idade apenas porque as professoras não encontram a performance que esperam. Isso sem contar a inúmeras fórmulas para atrair “consumidores”. E como consumidores os americanos ficam fora do ensino e tem tanta gente crítica ao governo brasileiro pelos nossos baixos níveis de educação.

O sistema de saúde americano, baseado em planos de saúde, é uma verdadeira esteira da era fordista, como as faculdades de medicina preparando especialistas, os laboratórios organizando o ensino, congressos e sociedades e as operadoras criando fundos que financiam a farra de médicos ultra-especializados. O grande problema, por exemplo, comparando-se com o sistema estatal inglês como gasto per capita de $3.405, é que não existem cuidados primário de saúde, não existe atenção básica, prevenção e promoção da saúde.

O Brasil precisa de um caminho próprio, especialmente longe de modelos que se mostram errados. Se não evoluímos para o modelo totalitário da União Soviética, igualmente, não precisamos adotar este capitalismo do Deus Mercado. Precisamos de uma união forte e de preparar lideranças que compreendam esta união e não se torne apenas meros empregas dos grandes negócios americanos.

Uma visão da política do governo Obama, dos presidentes de vários países por ai, incluindo ex-mandatários é de um salve-se quem puder onde todos se vendem para os grandes negócios e não atendem às verdadeiras decisões das sociedades. A posição dura da Polônia contra a Rússia na questão da Ucrânia é porque todo mundo estava “comprado” para empurrar o negócio do fracking de xisto. O filho de Joe Binden, vice-presidente dos EUA que lutou muito para a “democratização” da Ucrânia é diretor da principal empresa ucraniana de energia.


Esse é o mundo da decadência da sociedade de mercado.  

COMUNIDADE DE EXTERMÍNIO VESTINDO BRANCO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Generais e líderes nazistas no tribunal internacional de Nuremberg foram condenados por suas ações de guerra e extermínio. Ultrapassaram qualquer marca de humanidade mesmo no papel que lhes cabe que é a guerra. O mesmo pode ser dito a militares brasileiros que participaram de tortura a presos (nem sempre políticos ou militantes de esquerda) durante a ditadura militar. Eram soldados, guerreiros treinados para matar, mas mesmo assim cometeram crimes pois matar e torturar não é a missão específica mesmo parecendo ser.

Agora peguem um médico, ou outro profissional de saúde e o ponha na mesma função de um Mengele ou de assistente de tortura nas selas dos porões dos quartéis para acompanhar o limite e atestar com laudos falsos as causas da morte. Este é criminoso contra a humanidade e fere essencialmente a função quase divina de sua razão de ser: que é curar.

Médicos como Mengele são piores que a perversidade do guerreiro. Eles são traidores da função, da humanidade e praticam um ato que ultrapassa qualquer apresentação digna que possa ter. A respeito de que isso tudo?

Uma comunidade no facebook, com mais de cem mil seguidores, chamada “Dignidade Médica” acumpliciou-se aos porões da ditadura e aos banheiros dos campos de extermínio com Auschwitz na manifestação de alguns dos seus. Ao Conselho Federal de Medicina não basta responder com notas condenatórias, precisa buscar autores e punir exemplarmente. O MPF precisa agir com o mandato do direito.

O que manifestaram nesta comunidade do Face? Postaram frases como: “70% de votos para Dilma no nordeste! Médicos do nordeste causem um holocausto por aí! Temos que mudar esta realidade.” “Meus amigos, infelizmente temos de ser terroristas e nos colocarmos no nível de conversa que pobre entende!” “Colegas que votaram em Marina nesse primeiro turno, podemos contar com o apoio dos senhores para o segundo turno votando no Aécio.”

No dia em que grupos médicos chegaram a termos como estes, a profissão com um todo foi enlameada no fosso do maior nível de desinformação, analfabetismo e absoluto desprendimento da realidade. Aí temos a prova que mesmo a formação científica superior não é suficiente a promover humanidades como já sabíamos desde a Alemanha Nazista.