por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 17 de julho de 2011

O Livro "No Azul Sonhado !"




Está chegando a hora... Faltam apenas três dias. Este livro foi como a construção de um talismã. Pensado e construído, dia a dia. O resultado é um presente para todos os envolvidos.



Eu diria que é fácil materializar um livro...
Tínhamos o material humano, prontinho, e a nossa  boa vontade.
Tínhamos voluntários com Stela Siebra e Luiz Pereira.
Sobretudo,tínhamos o incentivo de muitos, como Tiago Araripe ( responsável pela dedicatória à Patativa e J.de Figueiredo Filho); o prefácio de Zé Flávio; a orelha de José do Vale Feitosa; contracapa de Emerson Monteiro, e a cumplicidade de 42 escritores : Carlos Esmeraldo, Magali, Leonel, Aloísio, Lupeu, Marcos Barreto, Tetê Barreto, Telma Brilhante, Roberto Jamacaru, João Marni, Nilo,  Geraldo Ananias, Assis Lima, Everardo Norões,  Joaquim Pinheiro,Isabela,Chagas,Wilton Dedê, Bernardo, Corujinha, Edmar, Rejane, Mara, Liduína, Domingos, Rosa, Severo, Cristina, Brandão, Pedro, Mariano, (músicos, cronistas, poetas...) sem contar com o apoio artístico de figuras como Salatiel Alencar, João do Crato, Nicodemos,Ulisses, Abidoral,Pachelly, Nívia Uchôa... 
É fácil fazer um livro sem patrocínios, sem muita grana ...Mas é impossível fazer qualquer coisa ,sem a solidariedade e o talento humano.
Sou agradecida a todos que tornaram este trabalho possível. Que ele fique entre os nossos livros, como registro das nossas emoções.
E não esqueçam!

Dia 20.07.2011, na sede do Instituto Cultural do Cariri, às 19h, confraternização entre escritores, autores, e amigos.

Nossa compreensão ,irrestrita ,aos autores ausentes, que não deixaram de participar na realização desse evento.
Boas vindas aos autores presentes – anfitriões da próxima grande noite!

Grande abraço!
Socorro Moreira

* Autores

Poema do Nicodemos

Meu último poema
será feito de silêncio.
Profundo e contrito
silêncio...
Sem palavra de adeus
nem aos seus
nem aos meus...
Dobrarei a esquina do tempo
sem saudade, sem dor
sem vontade de ficar.
certo que fiz o que pude
e o que não pude, tentei!

Desertos e mares, são desertos.
Hoje, desperto um pouco mais.
Fecho os olhos.Vejo melhor.
Longe longe passa um navio.
Espero chegar a tempo...

18 de julho - Dia do Trovador



São Francisco de Assis
Padroeiro dos Trovadores

O dia 18 de julho é o dia consagrado aos trovadores do Brasil. A data foi fixada por leis estaduais e municipais, onde quer que haja um cultor da Trova, em homenagem ao Trovador LUIZ OTÁVIO, o responsável pelo insuperável movimento literário brasileiro, que é o movimento trovadoresco nacional.
No dia do Trovador, todas as Seções da União Brasileira de Trovadores – UBT e Delegacias espalhadas por centenas de municípios brasileiros comemoram a data com almoços festivos, reuniões, com as chamadas chuvas de trovas, (centenas de trovas impressas) jogadas das janelas dos trovadores, para que os transeuntes se deliciem com as trovas que vão caindo ao sabor do vento. São realizadas palestras, enfim, cada seção ou delegacia comemora da melhor forma que pode a passagem do dia legalmente dedicado ao trovador.

“ A trova tomou-me inteiro !
tão amada e repetida,
que agora traça o roteiro
das horas de minha vida. “

“ Trovador, grande que seja
tem esta mágoa a esconder :
a trova que mais deseja
jamais consegue escrever ... “

“ Por estar na solidão
tu de mim não tenhas dó.
Com trovas no coração,
eu nunca me sinto só.”

"O mar nos deu a receita
de um viver sábio. Fecundo...
sendo salgado, ele aceita
as águas doces do mundo !"

João Nicodemos - A fusão do tradicional e o contemporâneo




É típico das artistas na contemporaneidade mesclarem seus trabalhos entre o novo e o antigo, entre o tido como popular e o erudito e com João Nicodemos não é diferente. Poeta, músico, blogueiro, artista visual que fervilha arte nas mais diversas linguagens.

Alexandre Lucas - Quem é João Nicodemos?



João Nicodemos - Um ser humano comum, com necessidades comuns a todo ser humano. Habitação, alimentação, procriação, amor e comunicação com outros seres, humanos ou não.



Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?




João Nicodemos - Quando a expressão artística é movida por uma necessidade inerente ao ser, ela se desenvolve com o próprio desenvolvimento deste ser, desde a mais tenra idade. É a própria razão de existir. Lembro de desenhar letras quando não sabia escrever; de tocar guitarra na tranca de madeira da janela; dançar numa peça infantil da escolinha e dizer o poema do sapo cururu que aprendi aos 7 anos e sei até hoje. Lembro de ver filmes do Chaplin, no colégio Dom Bosco e me encantar... Acho que tudo começou na infância mesmo.



Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?



João Nicodemos - udo o que vi e senti, tudo o que vejo sinto e percebo, me influencia; seja um som, um raio de luz, um aroma, uma palavra, um lapso de memória. Creio que a Poesia seja assim como uma energia que perpassa tudo que há; e pessoas com sensibilidade podem traduzi-la em obras artísticas, nas mais variadas linguagens. Assim, nas pinturas rupestres, na pintura de Leonardo, Picasso, Renoir, Portinari; na música de Vivaldi, Bach, Vila lobos, Irmãos Aniceto e Luis Gonzaga; Em Camões, Shakespeare, Machado de Assis, nos Cordéis; no Rock, no Blues, Jazz, Samba, Chorinho, em tudo isso vejo a presença da Poesia, e em meu trabalho busco sempre a Poesia. Mas, sem aprofundar o assunto... Quero dizer que busco me influenciar pela Beleza e pela Verdade o que já me dá trabalho suficiente...



Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória?





João Nicodemos - Em termos históricos, sou nascido em 1960, então vivi sob uma ditadura militar toda a infância e adolescência (e isso é marcante); ouvi “Beatles”,” Renato e seus Blue Caps”, música sertaneja (quando era feita no sertão e não era um produto da indústria cultural), tive a sorte de não ir à guerra do Vietnam (nunca entendi porque tem este nome se foi o tio San quem invadiu e fez a guerra) mas quase fui expulso da escola pela ditadura por defender idéias de liberdade – aos 11 anos... Vi o Tri-campeonato brasileiro com a melhor seleção que o Brasil já teve sob o jugo do pior governo que tivemos (Médici era o ditador de plantão). Vi, ainda menino, o início da tropicália, a poesia de Chico Buarque, o surgimento de Raul Seixas (que me impressionou de pronto) as pinturas de Portinari, Leonardo da Vinci (foi o meu herói de infância), vi surgir a “matéria plástica” mesmo assim continuei fabricando meus carrinhos de madeira e espadas e flechas de bambu; estudei em escola pública e particular (como bolsista) no tempo em que Educação não era um “negócio”. Li e aprendi sobre a história da Arte, história da Música, competições de atletismo (realizei alguns torneios de atletismo na infância); comecei a tocar batucando nas panelas, nas mesas de casa, influenciado pelo rádio e pela bela voz de minha mãe que cantava o dia inteiro. Sou autodidata por natureza, o que não sei eu invento, mas reconheço o valor de todas as pessoas com quem pude aprender, e são incontáveis... Toco alguns instrumentos e quero ainda tocar outros... Considero os instrumentos, como o nome diz instrumentos para captar e traduzir a música que já existe no universo...



Alexandre Lucas – Como a música surgiu na sua vida?



João Nicodemos - Minha mãe cantava o dia inteiro e foi locutora de rádio, meu pai foi seresteiro e tinha uma bela voz de tenor... Ouvi muito rádio, eu também vivia cantando... tudo que ouvia eu cantava... Imagine um menino cantando em cima de uma mangueira... Era assim... Depois comecei a trabalhar e comprei uma “Clarina” que era um instrumento de brinquedo com uma escala maior de dó. Então “tirava” de ouvido ou memória auditiva todas as melodias que conhecia (mas nem tudo é possível numa oitava da escala maior...). Assim, consegui um violão, depois um cavaquinho, e nunca mais parei... tantos outros instrumentos me chegaram às mãos e sempre aprendi me expressar com eles... Minha maior “surra” musical, levei de um “pé-de-bode” (oito baixos)... passei um tempão com ele no colo e não consegui entender o mecanismo... desiti por enquanto...(rs). Mas gosto muito de tocar chorinho no saxofone e no cavaquinho, modas antigas de viola (10 cordas) e me encanto com o timbre melancólico da rabeca (fiz uma recentemente). Creio que se o mundo se acabar, vai me pegar de surpresa tocando um instrumento, tranquilamente, sem nenhuma preocupação apocalíptica... (rs)





Alexandre Lucas - Como você vê a relação entre arte e política?



João Nicodemos - O que une estes dois universos é o ser humano que é quem os constrói. A Arte é uma ferramenta de desenvolvimento individual e coletivo que tirou o homem de dentro das cavernas... A política pode ser uma ferramenta de desenvolvimento coletivo. Creio que a Arte possa melhorar o ser humano com mais eficiência que a Política... As grandes revoluções da humanidade foram feitas pela Arte... Veja, por exemplo, o efeito que a Valsa teve sobre os costumes no século XIX, ou o Rock nos anos 50 do sec. XX. Foram mudanças que alteraram o destino da humanidade... Reconheço o valor dos ideais político-revolucionários e, se eu tivesse nascido dez anos antes, certamente teria pego em armas contra a ditadura. Mas acho que foi melhor assim... Hoje, creio que a grande revolução, é uma questão interior e mais metafísica que materialista... estou fazendo a minha revolução há longos anos... e quer saber? Eu venci o Capitalismo! Mas isso é tema pra um livro que pretendo escrever...



Alexandre Lucas - Você faz poesia visual?



João Nicodemos - Faço poemas que buscam à Poesia e me utilizo de todas as ferramentas de que disponho. O que hoje se denomina “poesia visual” é uma conquista dos concretistas, herdeiros de Maiakóvski. Utilizavam o espaço branco do papel e desenhavam as letras e as palavras, buscando transcender o limite da palavra escrita. Gosto disso e utilizo em meus poemas... mas também faço sonetos clássicos, sonetilhos, setilhas e cordel. Penso, com Drumonnd, que o verso livre não é mais fácil que as formas clássicas... pelo contrário; é mais difícil ser trapezista sem redes de proteção (me valho de Mário Quintana, para tanto).

Alexandre Lucas – Quando começou a fazer esse tipo de poesia?



João Nicodemos - Sempre gostei da concisão. Ocupar pouco espaço, fazer silêncio... Quem me autorizou a escrever pouco, expressando o máximo possível, foi o Mário Quintana, que conheci pessoalmente e me disse: “Bebemos na mesma fonte!” Quase caí da cadeira, mas entendi poeticamente. Tenho o Mário Quintana como um dos maiores poetas brasileiros... Hoje as pessoas têm muita pressa e em geral, não conseguem sustentar um raciocínio por mais de 30 segundos... É preciso ser rápido, pegar o leitor desprevenido... testar e instigar a inteligência. Gosto de trabalhar assim com a Poesia... (isso nem sempre me ajuda a fazer amigos, mas consigo identificar minha tribo).



Alexandre Lucas - No seu trabalho você costuma utilizar várias linguagens para intervir esteticamente e artisticamente?



João Nicodemos - Sim, uso todas as ferramentas de que disponho e consigo manejar...




Alexandre Lucas – Você é um artista ligado as inovações tecnológicas?



João Nicodemos - Levei muitos anos para aceitar o computador como instrumento de trabalho. Dizia que “é uma tecnologia muito atrasada e ainda precisa de dedos...”. Mas depois que comecei, me dediquei a aprender com grande afinco e hoje eu faço edição de imagens, de vídeos, de som, gravo, faço masterização, crio imagens e poemas... enfim, perdi totalmente o preconceito. Sei que muitas ferramentas que o homem fabrica podem ser bem usadas e com objetivos nobres... Então, procuro fazer minha parte de beija flor, neste grande incêndio da contemporaneidade. Desde a xilogravura chinesa, que possibilitou o tipo móvel de Gutenberg e a grande revolução dos livros na idade média, até o microchip e a tecnologia atual, o homem parece ser o mesmo... Pode ser que a tecnologia não melhore essencialmente o homem... Mas o sentimento poético, a Beleza e a Verdade não dependem da tecnologia.



Alexandre Lucas – você é uma artista blogueiro. Fale sobre isso.



João Nicodemos - Tenho um blog o www.poemasdonicodemos.blogspot.com e o http://artedenicodemos.blogspot.com/ onde faço postagens dos meus poemas, trabalhos em artes visuais e exposições virtuais; criei outro em homenagem ao José Normando, grande artista e meu irmão nas artes e nas idéias... (http://aartedejosenormando.blogspot.com/) além de contribuir em blogs de amigos. Acho muito interessante esta forma de comunicação e divulgação dos nossos trabalhos. No início tive um certo receio quanto a questão dos direitos autorais, mas isso passou.



Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?



João Nicodemos - Esta é uma boa pergunta que já me fiz algumas vezes... Na condição de filósofo amador, sou mais amigo das perguntas que das respostas. Então não cheguei a uma resposta definitiva. Gostaria que meu trabalho tivesse uma grande importância social e, na juventude, chegamos a sonhar que mudaríamos o mundo com nossos versos, mas o mundo continua aí mudando sozinho... Depende do que entendemos como “social”, se for a torcida do flamengo, meu trabalho não tem importância nenhuma, se for a grande parcela mundial de excluídos dos poderes do consumo, acho que também não tem importância nenhuma. Mas se dentre as pessoas que têm acesso ao meu trabalho (e nem são tantas assim) algumas se identificam, se emocionam, se reconhecem e sentem algum conforto, ou desenvolvem um bom pensamento, uma boa influência, então está justificado o trabalho e, por sequência, minha vida... Já escrevi alguns livros, tenho um filho e plantei uma boa quantidade de árvores. Isso, há um tempo, era suficiente para se justificar a vida de um homem. Hoje isso mudou muito! Parece que basta ter um grande poder de consumo!
Mesmo assim, espero que meu trabalho possa transformar alguém, além de mim...




Alexandre Lucas – Quais os seus próximos trabalhos?



João Nicodesmo - Não tenho planos específicos, apenas continuar trabalhando, aprendendo e ensinando o que puder, compartilhando alegria e conhecimento por meio da Arte que é minha ferramenta de transcendência. Quero produzir uns vídeos (estou gostando desta linguagem), publicar meus poemas. Temos o lançamento de dois livros nos próximos meses. (Coletivo de autores PROSA E VERSO, NO AZUL SONHADO; e SEGREDOS DA NATUREZA, com a grande cordelista Josenir Lacerda). Participei do CD com músicas infantis do livro que José Flávio, tenho uma exposição virtual de desenhos que está perto de 3 mil visitas; uns poemas expostos em São Paulo num evento do SESC; o lançamento de um texto para Rádio teatro “AMAR É DESARMAR” – disponível em www.teatromaracaju.blogspot.com/ , um e-book de poemas que será lançado pelo portal CRONOPIOS enfim não tenho feito planos, apenas vou fazendo o que posso.

Elegância - Por Roberto Jamacaru


A elegância pode ser vista como o objeto de desejo do ser humano que procura ter, na essência e não só na aparência, uma distinção elevada das suas atitudes.
E fica a pergunta: quem tem e quem não tem elegância?
Parece incrível, mas ainda existem pessoas que associam a elegância de alguém tão somente ao seu grau aprimorado e harmonioso aplicado nas suas maneiras de se vestir e andar. Embora esses apelos façam parte desse apuro, eles, sozinhos, nem de longe determinam a elegância ideal de um ser humano.
Aliás, você pode até não ter nenhum desses requisitos e ainda assim ser considerada uma pessoa extremamente elegante. E isto se denota, principalmente, nas adequações sutis de seus atos de delicadeza de expressão e de distinção de maneiras.
Como a elegância é algo que não se compra, mas se nasce com ela ou se adquire na formação do caráter, podemos dizer que somos elegantes quando conseguimos dispensar, sem afetações ou interesses outros, atos de cortesias, respeito e amabilidade para com as pessoas com as quais convivemos no nosso dia a dia.
Quando, no silêncio, conseguimos demonstrar as nossas mais sinceras emoções, isso significa elegância de sentimento. Saber dizer não ou sim nas ocasiões que se propiciem, esse detalhe, além de honesto e corajoso, configura-se também como uma postura elegante.
Ainda demonstramos nossa elegância quando praticamos, de forma espontânea, atos de civilidade, caridade e finura. A elegância pode ser encontrada, inclusive, na nossa honestidade, pontualidade, simplicidade e ética.
Olhar nos olhos de alguém e lhe dizer obrigado, por favor, com licença, bom dia, sinto muito; pedir desculpa, assim como procurar, falar, calar e ouvir na hora certa, principalmente diante das pessoas humildes, tudo isso denota refinos de elegância.
Saber portar-se com discrição nos momentos sociais de todas as naturezas, mesmos nas situações opostas de festas ou condolências, por exemplo, não tenhamos dúvida de que isso se configura ato de elegância em um de seus graus mais elevados, pois, segundo Paul Valéry, “A elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir!”.
A crítica construtiva, desinteressada e sem deboche, que não vise demonstrar a superioridade do crítico sobre o criticado, é uma elegância de conhecimento e participação.
Num cometimento de gafe, a pessoa elegante não se desespera um só segundo. Se for o caso, ela pede desculpas pela involuntariedade do acontecido e, numa volta por cima, retoma, com elevação, naturalidade e classe, seus procedimentos de antes.
Os vestuários (roupas, calçados, jóias e demais adereços) só passam a ser referências de elegância em alguém quando chegam a proporcionar a essa pessoa conforto, leveza, segurança, graciosidade, harmoniosidade e liberdade, pois não vem a ser o caro e o luxuoso que irão torná-la mais elegante e feliz. A propósito, já dizia Machado de Assis: “Há pessoas elegantes e pessoas enfeitadas!”.
Anote isto: na sua elegância, o destaque tem que ser você, pois o traje deve servir apenas como um detalhe alinhado e realçante no seu conjunto. Isto porque muitas vezes somos surpreendidos por pessoas que, não obstante suas elegâncias visuais, no porte e no trajar, ao se manifestarem fazem desmoronar, com suas inconveniências, todas suas estruturas aparentes de garbo, graça e respeito, denunciando, com isto, um desajuste nas suas elegâncias extrínseca e intrínseca.
Outras são deselegantes, para não dizer insuportáveis ao extremo, quando, em meio a uma conversação entre duas ou mais pessoas, só elas falam, só elas dizem entender do assunto e só elas determinam sobre o que vão falar deixando seus interlocutores sem chances mínimas de abrirem a boca, imagine emitirem suas opiniões.
Considerada também como elemento de sedução e referência, a elegância tem, como uns de seus maiores opositores, a grosseria, o pedantismo, a presunção, a falsidade, o mau caratismo, a arrogância, a ganância, o orgulho, a mentira, o esnobismo e os narizes empinados.
Ser elegante é viver em meio aos ditames dos modismos, das pressões sociais e das imposições culturais sem, no entanto, deixar-se ser levado por aquilo que não lhes diz respeito, que não lhes faz bem e que não lhes parece ser ético, pois, a elegância, tem muito a ver com personalidade, liberdade, respeito e amor-próprio.
O “elegante” pateta: é insuportável mantermos conversa com uma pessoa que, de forma desairosa, só sabe falar de o seu alto poder aquisitivo, dos seus inúmeros títulos de formação e pós-graduação, das suas incontáveis viagens feitas ao exterior, das suas intimidades fáceis com as pessoas ricas, importantes e célebres; de seus bens incalculáveis e das coisas que a gente sabe perfeitamente que ela não tem, não sabe, não fez e não é.
E volta a pergunta: diante de tantos conceitos, padrões e regras, como fazer com que se ache presente nos nossos atos e aparências essa distinção rica e nobre de comportamento chamada de elegância? Precisaríamos ter o muito de riqueza material? Haveria a necessidade imperiosa de sermos cultos? Teríamos que possuir elevado status social? A própria educação, nas suas versões doméstica e pública, ela seria pré-requisito indispensável? A etiqueta, seria a ferramenta de maior destaque?
Frustro vocês em não aprofundar-me mais no assunto pelo simples fato de não ter uma formação técnica, profissional e científica para tal, como também de ser, vez por outra, vítima, hipocritamente, da minha própria deselegância. Mas, como recado final, valo-me de uma definição simples que li em uma frase, de autoria desconhecida, na qual, para mim, o autor encerra todo o julgamento do que venha a ser elegância de uma pessoa na sua forma ideal.
Em síntese, ele diz:

“A maior elegância do ser humano é a sua própria simplicidade!”. 

*Texto extraído do livro "No Azul Sonhado"



por Lupeu Lacerda

um dia a tristeza chegou com suas malas e sua cara triste nas portas do borba gato. ninguém falou com ela. ela tampouco falou com ninguém. em seu ombro direito um urubu metafísico, no esquerdo, uma borboleta de chumbo. abriu uma pequena tenda do lado do jardim. o jardim secou imediatamente. olhou em direção ao vendedor de abanos. e ele começou a cantar uma ópera deprimente e sem fim. todos querem que ela vá embora. ela diz que não tem nada a dizer.


 por lupeu lacerda


Lobos? São muitos.

Mas tu podes ainda

A palavra na língua

Aquietá-los.

Mortos? O mundo.

Mas podes acordá-lo

Sortilégio de vida

Na palavra escrita.

Lúcidos? São poucos.

Mas se farão milhares

Se à lucidez dos poucos

Te juntares.

Raros? Teus preclaros amigos.

E tu mesmo, raro.

Se nas coisas que digo

Acreditares.



Hilda Hilst

Maria Alice !

John Coltrane




John William Coltrane (kōl'trān) - (Hamlet, Carolina do Norte, 23 de setembro de 1926 — Long Island, Nova Iorque, 17 de julho de 1967) foi um saxofonista e compositor de jazz norte-americano, habitualmente considerado pela crítica especializada como o maior sax tenor do jazz e um dos maiores jazzistas e compositores deste gênero de todos os tempos. Sua influência no mundo da música ultrapassa os limites do jazz, indo desde o rock até a música erudita.


No Caminho, com Maiakóvski Eduardo Alves da Costa



Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

Por Alice Ruiz

Se

se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra

eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto

ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio

daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse...

Por Artur Gomes

Flor do Pampa

essa flor aqui em minha boca
vermelha rosa que floriu nos pampas
traz a seiva de uma terra santa
que todo mês
fazendo sol ou chuva
floresce em vinho a uva
e tudo mais
que o amor fizer

esta rosa aqui agora
que espelha fina estampa
entre os meus dentes
pele e presente de uma musa
que traz nos belos seios
um poema em tua blusa
e na flor da pele
um nome de mulher