por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 17 de julho de 2011

Elegância - Por Roberto Jamacaru


A elegância pode ser vista como o objeto de desejo do ser humano que procura ter, na essência e não só na aparência, uma distinção elevada das suas atitudes.
E fica a pergunta: quem tem e quem não tem elegância?
Parece incrível, mas ainda existem pessoas que associam a elegância de alguém tão somente ao seu grau aprimorado e harmonioso aplicado nas suas maneiras de se vestir e andar. Embora esses apelos façam parte desse apuro, eles, sozinhos, nem de longe determinam a elegância ideal de um ser humano.
Aliás, você pode até não ter nenhum desses requisitos e ainda assim ser considerada uma pessoa extremamente elegante. E isto se denota, principalmente, nas adequações sutis de seus atos de delicadeza de expressão e de distinção de maneiras.
Como a elegância é algo que não se compra, mas se nasce com ela ou se adquire na formação do caráter, podemos dizer que somos elegantes quando conseguimos dispensar, sem afetações ou interesses outros, atos de cortesias, respeito e amabilidade para com as pessoas com as quais convivemos no nosso dia a dia.
Quando, no silêncio, conseguimos demonstrar as nossas mais sinceras emoções, isso significa elegância de sentimento. Saber dizer não ou sim nas ocasiões que se propiciem, esse detalhe, além de honesto e corajoso, configura-se também como uma postura elegante.
Ainda demonstramos nossa elegância quando praticamos, de forma espontânea, atos de civilidade, caridade e finura. A elegância pode ser encontrada, inclusive, na nossa honestidade, pontualidade, simplicidade e ética.
Olhar nos olhos de alguém e lhe dizer obrigado, por favor, com licença, bom dia, sinto muito; pedir desculpa, assim como procurar, falar, calar e ouvir na hora certa, principalmente diante das pessoas humildes, tudo isso denota refinos de elegância.
Saber portar-se com discrição nos momentos sociais de todas as naturezas, mesmos nas situações opostas de festas ou condolências, por exemplo, não tenhamos dúvida de que isso se configura ato de elegância em um de seus graus mais elevados, pois, segundo Paul Valéry, “A elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir!”.
A crítica construtiva, desinteressada e sem deboche, que não vise demonstrar a superioridade do crítico sobre o criticado, é uma elegância de conhecimento e participação.
Num cometimento de gafe, a pessoa elegante não se desespera um só segundo. Se for o caso, ela pede desculpas pela involuntariedade do acontecido e, numa volta por cima, retoma, com elevação, naturalidade e classe, seus procedimentos de antes.
Os vestuários (roupas, calçados, jóias e demais adereços) só passam a ser referências de elegância em alguém quando chegam a proporcionar a essa pessoa conforto, leveza, segurança, graciosidade, harmoniosidade e liberdade, pois não vem a ser o caro e o luxuoso que irão torná-la mais elegante e feliz. A propósito, já dizia Machado de Assis: “Há pessoas elegantes e pessoas enfeitadas!”.
Anote isto: na sua elegância, o destaque tem que ser você, pois o traje deve servir apenas como um detalhe alinhado e realçante no seu conjunto. Isto porque muitas vezes somos surpreendidos por pessoas que, não obstante suas elegâncias visuais, no porte e no trajar, ao se manifestarem fazem desmoronar, com suas inconveniências, todas suas estruturas aparentes de garbo, graça e respeito, denunciando, com isto, um desajuste nas suas elegâncias extrínseca e intrínseca.
Outras são deselegantes, para não dizer insuportáveis ao extremo, quando, em meio a uma conversação entre duas ou mais pessoas, só elas falam, só elas dizem entender do assunto e só elas determinam sobre o que vão falar deixando seus interlocutores sem chances mínimas de abrirem a boca, imagine emitirem suas opiniões.
Considerada também como elemento de sedução e referência, a elegância tem, como uns de seus maiores opositores, a grosseria, o pedantismo, a presunção, a falsidade, o mau caratismo, a arrogância, a ganância, o orgulho, a mentira, o esnobismo e os narizes empinados.
Ser elegante é viver em meio aos ditames dos modismos, das pressões sociais e das imposições culturais sem, no entanto, deixar-se ser levado por aquilo que não lhes diz respeito, que não lhes faz bem e que não lhes parece ser ético, pois, a elegância, tem muito a ver com personalidade, liberdade, respeito e amor-próprio.
O “elegante” pateta: é insuportável mantermos conversa com uma pessoa que, de forma desairosa, só sabe falar de o seu alto poder aquisitivo, dos seus inúmeros títulos de formação e pós-graduação, das suas incontáveis viagens feitas ao exterior, das suas intimidades fáceis com as pessoas ricas, importantes e célebres; de seus bens incalculáveis e das coisas que a gente sabe perfeitamente que ela não tem, não sabe, não fez e não é.
E volta a pergunta: diante de tantos conceitos, padrões e regras, como fazer com que se ache presente nos nossos atos e aparências essa distinção rica e nobre de comportamento chamada de elegância? Precisaríamos ter o muito de riqueza material? Haveria a necessidade imperiosa de sermos cultos? Teríamos que possuir elevado status social? A própria educação, nas suas versões doméstica e pública, ela seria pré-requisito indispensável? A etiqueta, seria a ferramenta de maior destaque?
Frustro vocês em não aprofundar-me mais no assunto pelo simples fato de não ter uma formação técnica, profissional e científica para tal, como também de ser, vez por outra, vítima, hipocritamente, da minha própria deselegância. Mas, como recado final, valo-me de uma definição simples que li em uma frase, de autoria desconhecida, na qual, para mim, o autor encerra todo o julgamento do que venha a ser elegância de uma pessoa na sua forma ideal.
Em síntese, ele diz:

“A maior elegância do ser humano é a sua própria simplicidade!”. 

*Texto extraído do livro "No Azul Sonhado"



Um comentário:

Anônimo disse...

Esse texto está excelente! Parabéns, Roberto!