por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 27 de setembro de 2011

A Psicopotalogia do Mercado - José do Vale Pinheiro Feitosa

No segundo semestre de 1972 um grupo de jovens ligados a um movimento esquerdista de classe média tentou roubar um banco em Ipanema no Rio de Janeiro e isso desencadeou a roda da insensatez. Um dos jovens foi baleado, uma companheira escapou junto com o ferido e uma vez tendo um namorado cuja mãe era médica e esposa de um político cassado, convenceu o namorado a levar o ferido até a mãe para retira-lhe a bala. Dito e feito, a mãe sentindo o “envolvimento” do filho (levar o ferido até ela), retirou e fez o curativo no rapaz em casa mesmo.

Algumas semanas mais tarde, na fuga, o jovem foi preso em Belo Horizonte e sob tortura abre tudo, inclusive o nome da médica que não sabia nada do movimento rebelde. O exército, à paisana, ligado ao DOI-CODI da Barão de Mesquita na Tijuca invade a casa do político e prende todo mundo, inclusive os jovens da vizinhança que costumavam freqüentar a casa. O político cassado é aprisionado, ameaçado para entregar o filho que nesta altura havia se refugiado em Saquarema praia onde rolava um fuminho, era disso que ele gostava, além do rock e do surf.

O pai é levado para a Barão de Mesquita, ameaçado sob pressão, posto na famosa geladeira e finalmente transportado para Saquarema para encontrar o filho que havia fugido dali. Depois é recolhido em casa e como o jornal do Brasil começasse a investigar a “ação” em plena zona sul, inclusive por denúncia de uma política que era amiga e vizinha do casal, o exército saiu de lá, mas levou a médica presa. A política era ligada ao Lacerda, amiga de generais e simpatizava com a direita brasileira e, assim mesmo denunciou a ação.

A médica desapareceu. Por trinta dias estava sumida. Mesmo o político cassado tendo grandes relações no Rio, não conseguiu apurar a situação da sua esposa. Finalmente receberam notícias que ela estava internada e que tinha sofrido uma cirurgia no Hospital do Exército. Orlando Geisel, Ministro do Exército de Médici, que já virara general de pijama no final do Governo Jango e por este foi promovido e tendo recebido a notícia a pedido de Jango pela voz do político cassado, mandou avisá-lo que ele iria visitar a esposa. Ele recebeu a autorização e foi na Barão de Mesquita para os trâmites finais.

Simultaneamente o General Fiuza, comandante do DOI-CODI telefonou para a política para se queixar por que o político cassado não o tinha procurado antes para saber notícia da esposa. A política lhe disse: ora General, ele não tinha que lhe procurar coisa alguma, você é que deveria ir procurá-lo. Então o político entrou na sala do General Fiuza que estava junto de outro oficial, o dispensou e veio até o político para tecer considerações que justificavam a tortura.

Coisas terríveis que tinha de praticar para receber informações sobre o inimigo. Ele até se lamentava por que já havia perdido alguns excelentes oficiais que se “viciavam” tanto nas sevícias e no sofrimento alheio que iam até o fim. E finalmente disse que a mulher tinha sido muito bem atendida no hospital do exército, que tinha sido atendida por um ótimo profissional. Um “ótimo profissional” que operava as pessoas sem nem ao menos consultar os familiares foi o que lhe respondeu o político cassado.

Aquilo era a senha final do enredo: o DOI-CODI já não sabia mais separar a boa fonte de informação daquela que não tinha informação alguma. Naquele caso, a médica só tinha duas informações: que havia retirado uma bala e esta fora de um jovem que ela nem sabia o nome. Eis o exemplo fatal da irracionalidade patológica sobre as instituições, de como psicopatas chegam a elas e como elas transformam pessoas normais em psicopatas irracionais.

Esta história se deu e aconteceu no clima dos anos setenta quando o Brasil se envolveu numa ditadura militar cujo eixo era a Guerra Fria. A luta para alguns entre os exploradores imperialistas e a libertação dos povos oprimidos. Ou para outros a luta entre o bem do capitalismo e o demônio do comunismo. Vieram os anos 90 e um dos pilares da guerra fria desmoronou e sobre os seus escombros os inimigos descobriram o horror da tortura e das prisões irracionais. Falo da ex-União Soviética. Claro que o inimigo do comunismo comemorava a própria vitória.

Terminamos os anos 90 com as bandeiras desfraldadas do neoliberalismo econômico, a globalização financeira a mostrar a nova realidade, o furor das privatizações e o muxoxo desdenhoso com os arcaicos da velha realidade. Foi aí que o primeiro mito caiu: o da infalibilidade física do imperial poder da globalização. As torres gêmeas de Nova York, precisamente por que era um prédio de abrigo dos especuladores de Wall Street, se desmorona com aeronaves civis do próprio império. O império era vulnerável: todo mundo assistiu pela rede mundial de televisões.

No final da primeira década dos anos dois mil, menos de vinte anos após o primeiro pilar da guerra fria vir abaixo, cai o segundo pilar. Hoje estamos num total desprovimento dos mitos destas duas forças do século XX. O século XXI finalmente começou como algo novo e diferenciado. Parece que as regras estão todas a mudarem. A racionalidade da marcha da expansão da Rússia e dos EUA foi historicamente superada.

Recente estudo no paraíso do liberalismo econômico, a Suíça, parece ter evidenciado o que sempre se soube desde o século XX: o equilíbrio ótimo, trazendo ganhos para todos que seria a racionalidade do Deus Mercado não existe. E não existe no real do mundo: nas pessoas que afinal demonstraram o mesmo vício dos torturadores do DOI-CODI da Barão de Mesquita.

O estudo comparou corretores da bolsa com um grupo controle de pessoas normais e com psicopatas internados em clínicas de segurança máxima da Alemanha. O que caracteriza os psicopatas? Comportamento egoísta e não-cooperativo, desprovidos de qualquer empatia e responsabilidade social. Pois bem os corretores se comportaram de modo menos cooperativo que os psicopatas. E tem coisa pior, que justifica a crise do mercado: os agentes financeiros tiveram resultados piores que os psicopatas em relação aos ganhos finais de suas decisões.

Acontece que os “psico-corretores” são apenas capazes de maximizar seus ganhos à custa dos oponentes. Tiveram desempenho péssimo no que se refere à performance geral, ou seja, nos tais ganhos absolutos que os clássicos da economia santificavam. Na verdade esta psicopatologia de mercado tem um comportamento altamente destrutivo do ambiente social e se expressa como diz o psiquiatra que realizou o estudo: “É como se você destruísse o automóvel do seu vizinho com um taco de beisebol, para que seu carro seja o mais bonito da rua”.

Enfim a dinâmica do outro pilar era a traição sistemática do companheirismo e da sociedade.

duas irmãs

Sim, há solidão alegre.

Aquela que nos estreita os laços
com nossos objetos de cada dia.

Que nos lança à plenitude
e coça nossos pés

e nos deixa livres
para nós mesmos.

Que bobagem ficar de mal da cafeteira
só por ela nos ter queimado o braço.

Que tolice insana ignorar um livro
apenas porque ele nos leva
a uma caverna escura
e fria.

Miséria é o homem que não beija
é a mulher que não beija

que se apartam da vida
sisudos, coléricos, fúteis

e acabam morrendo sufocados
por uma solidão, deus, tão triste.

Esta é uma solidão triste.

Meu Tio Aviador - por Joaquim Pinheiro













Meu pai tinha 18 irmãos, frutos dos três casamentos do meu avô. Conheci 16 deles quando ainda criança. Os outros dois conheci quando adulto. Um morava em Nova Friburgo – RJ e o outro em Campinas – SP. Na primeira viagem ao Rio de Janeiro, levado pelo primo Edson Pinheiro, fui a Nova Friburgo, visitar Tio Afonso. Morava num sítio distante 2 km da cidade, no meio da Serra do Mar, local belíssimo, jardim espetacular. As estradas que davam acesso à propriedade e as veredas internas eram margeadas com hortênsias de cores variadas. A visita foi tão agradável que aceitei de bom grado a insistência dele e o dia anteriormente planejado virou jornada de dois dias e duas noites. Guardei na memória histórias relatadas por ele.
Afonso Pinheiro Teles deixou o Crato muito jovem para ingressar no Exército Brasileiro, indo servir na arma da aviação, posteriormente transformada em Ministério da Aeronáutica. Era mecânico de bordo, função que o fazia voar com freqüência.
Durante a 2º guerra mundial passou mais de um ano voando diariamente entre o Rio de Janeiro e Natal em missões de patrulhamento da costa. Era um dia para ir e outro para voltar. A tripulação jamais avistou qualquer embarcação ou submarino inimigo. Depois de meses de buscas frustradas, um dos oficiais se queixou da monotonia do trabalho e reclamou de nunca ter acionado as armas que carregavam. Na conversa que se seguiu, resolveram soltar uma bomba para ver o efeito dela na água. Para justificar, colocaram no relatório indícios de submarinho estranho na área.

Na década de 40 foi com uma equipe buscar um avião nos Estados Unidos. Na volta fizeram escala em Miami e foram passear pela cidade. Na época ainda não era destino turístico dos brasileiros. Caminhando numa das calçadas ouviu gritos “Tenente Teles”, “Tenente Teles”... Ao procurar localizar de onde vinha o chamado, avistou um braço acenando de uma janela equivalente ao 3º andar de um prédio. Dirigiu-se à entrada e descobriu que era um presídio. Era uma pessoa de Missão Velha, que tinha viajado com ele para fazer o concurso de admissão ao Exército e moraram alguns dias na mesma pensão. O conterrâneo não foi aprovado e resolveu tentar a vida nos EUA. Foi preso e condenado por exploração de prostituição.
Em 1953, um exame de rotina detectou cardiopatia grave, foi classificado como incapaz para a vida militar e lhe deram 6 meses de vida. Foi promovido e reformado por invalidez. Passou seis meses ouvindo rádio e lendo jornais e revistas enquanto a morte chegava. Não saía de casa com medo de cair na rua. No 181º dia posterior ao atestado, considerou-se um “renascido”, comprou o sítio e passou a viver normalmente. A vida se estendeu por mais 31 anos.
Nas vésperas do movimento militar de 1964, foi convidado por colegas de farda para “ajudar” o movimento. Participou de reuniões e mais reuniões. Depois do golpe, foi designado para auxiliar uma Comissão Geral de Investigação com objetivo de levantar transações suspeitas do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Depois de semanas de buscas compareceu a uma reunião com participantes do mesmo trabalho de Minas e Goiás. Não encontraram nada fora normal. O chefe dos trabalhos, oficial graduado, ficou indignado e reclamou com muita irritação dizendo que tinham que achar algo, pois o homem tem que ser cassado e seria melhor com justificativa. Ao ouvir tal veredicto, foi embora e nunca mais apareceu para trabalhos voluntários.

Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo,
que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em taltal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,
juntos desde a roupa às raízes,
juntos de outono, de água, de quadris,
até ser só tu, só eu juntos.
Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,
a desembocadura da água de Boroa,
pensar que separados por trens e nações
tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos
com todos confundidos, com homens e mulheres,
com a terra que implanta e educa cravos.

Pablo Neruda



As coisas que existiam antes de tu morreres
e as coisas que surgiram depois:

Às primeiras pertencem, antes do mais,
as tuas roupas, as jóias e as fotografias
e o nome da mulher que te deu o nome
e também morreu jovem
Mas também um par de receitas, o arranjo
de um certo canto na sala,
uma camisa que me passaste a ferro
e que guardo cuidadosamente
debaixo da minha resma de camisas,
algumas peças de musica, e o cão
sarnento que por aí anda
com um sorriso estúpido, como se ainda aqui estivesses.

Às últimas pertencem a minha caneta,
um perfume conhecido
na pele de uma mulher que mal conheço
e as novas lâmpadas que pus no candeeiro do quarto
que iluminam o que leio acerca de ti
em todos os livros que leio.

As primeiras recordam-me que exististe,
as últimas que já não existes.

Que sejam quase indistinguíveis
é o mais difícil de suportar.



Henrik Nordbrandt (1945) Dinamarca
Tradução de Rui Guerra

Leila Diniz



Formou-se em magistério e foi ser professora do jardim de infância no subúrbio carioca. Aos dezessete anos, conheceu seu primeiro amor, o cineasta Domingos de Oliveira e casou-se com ele. O relacionamento durou apenas três anos. Foi nesse momento que surgiu a oportunidade de trabalhar como atriz. Primeiro estreou no teatro e logo depois passou a trabalhar na TV Globo, atuando em telenovelas. Mais tarde, casou-se com o cineasta moçambicano Ruy Guerra, com quem teve uma filha, Janaína. Participou, ao todo, de quatorze filmes, doze telenovelas e várias peças teatrais.

Leila Diniz quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquini na praia, e chocou o país inteiro ao proferir a frase: Transo de manhã, de tarde e de noite. Considerada uma mulher à frente de seu tempo, ousada e que detestava convenções.[1] Foi invejada e criticada pela sociedade machista das décadas de 1960 e 1970. Era malvista pela direita opressora, difamada pela esquerda ultra-radical e tida como vulgar pelas mulheres da época.

Leila falava de sua vida pessoal sem nenhum tipo de vergonha ou constrangimento. Concedeu diversas entrevistas marcantes à imprensa, mas a que causou um grande furor no país foi a entrevista que deu ao jornal O Pasquim em 1969. Nessa entrevista, ela, a cada trecho, falava palavrões que eram substituídos por asteriscos, e ainda disse: Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo.

O exemplar mais vendido do jornal foi justamente esse onde houve a publicação da entrevista da atriz fluminense. E foi também depois dessa publicação que foi instaurada a censura prévia à imprensa, mais conhecida como Decreto Leila Diniz. Perseguida pela polícia política, Leila se esconde no sítio do colega de trabalho Flávio Cavalcanti, tornando-se em seguida jurada do programa do apresentador, no momento em que é acusada de ter ajudado militantes de esquerda. Alegando razões morais, a TV Globo do Rio de Janeiro não renova o contrato de atriz. De acordo com Janete Clair, não haveria papel de prostituta nas próximas telenovelas da emissora.[1]

Meses depois, Leila reabilita o teatro de revista, e começa uma curta e bem sucedida carreira de vedete. Estrelando a peça tropicalista Tem banana na banda, improvisando a partir dos textos escritos por Millôr Fernandes, Luiz Carlos Maciel, José Wilker e Oduvaldo Viana Filho. Recebe de Virgínia Lane o título de Rainha das Vedetes. No carnaval de 1971, é eleita Rainha da Banda de Ipanema por Albino Pinheiro e seus companheiros.

Morreu num acidente aéreo, vôo JAL471, da Japan Airlines, no dia 14 de junho de 1972, aos 27 anos, no auge da fama, quando voltava de uma viagem a Austrália.

Seus amigos, a atriz Marieta Severo e o compositor e cantor Chico Buarque de Hollanda, cuidaram da filha de Leila Diniz e Ruy Guerra, durante muito tempo; até o pai da criança ter condições de assumir a filha, Janaína Diniz Guerra.

Um cunhado advogado se dirigiu a Nova Délhi, na Índia, local do desastre, para tratar dos restos mortais da atriz. Acabou encontrando um diário que continha diversas anotações e uma última frase, que provavelmente estava se referindo ao acidente: Está acontecendo alguma coisa muito es....

Leila Diniz, A Mulher de Ipanema, defensora do amor livre e do prazer sexual, é sempre lembrada como símbolo da revolução feminina, que rompeu conceitos e tabus por meio de suas idéias e atitudes.

 "Sem discurso nem requerimento, Leila Diniz soltou as mulheres de vinte anos presas ao tronco de uma especial escravidão."
wikipédia

27 DE SETEMBRO DE 1952- por Norma Hauer


Mais uma vez, lembrando Francisco Alves.
Falei sobre ele em 19 de agosto, data de seu nascimento, mas quero relembrar o dia 27 de setembro de 1952, quando ele faleceu, de desastre automobilístico, na Rodovia Dutra,vindo de São Paulo.

No domingo, dia 28, todas as emissoras de rádio só transmitiram músicas cantadas por ele. Aguardava-se a chegada do que restou de seu corpo, para o sepultamento no dia seguinte.

Manhã de 2ª feira, 29 de setembro de 1952...Um grande féretro ( o primeiro em que se usou um carro do Corpo de Bombeiros) atravessa as ruas do Rio de Janeiro, da Cinelândia (Câmara Municipal) onde o que restou de seu corpo foi velado (havia morrido queimado) até o Cemitério São João Batista acompanhado de uma multidão a pé cantando...

"Adeus, adeus, adeus...
Cinco letras que choram
Num prelúdio de dor.
Adeus, adeus, adeus,
É como o fim de uma estrada
Cortando a encruzilhada.
Ponto final de um romance de amor.

Quem parte, tem os olhos rasos dágua
Ao sentir a grande mágoa
Por se despedir de alguém.
Quem fica, também fica chorando
Com o coração penando
Querendo partir também”

Foi no enterro de Francisco Alves que, pela primeira vez, a Câmara Municipal abriu seu salão para o velório de um cantor e foi também, o primeiro féretro realizado em um carro do Corpo dos Bombeiros, seguido com o povo a pé, até o Cemitério de São João Batista.
Foi algo inesquecível !
A forma como Francisco Alves morreu foi um choque para seus admiradores, que eram milhares.
Aqueles três dias, o sábado, o domingo e a segunda- feira transformaram o Rio na cidade de Francisco Alves.

Quando se esperava aquele momento em que "ao soarem os carrilhões dando as 12 badaladas, ao se encontrarem os ponteiros na metade do dia, os ouvintes se encontram com Francisco Alves -o Rei da Voz" ( como a locutora Lúcia Helena abria seus programas todos os domingos)o que se ouviu foram apenas discos.

Naquele domingo, 28 de setembro de 1952 as badaladas foram outras: transformaram-se em um grande requien.

Norma

Os anos passam , os círculos se renovam , e agora estou vivendo mais no futuro do que no presente. Fechei algumas janelas do passado, mas ficaram brechas no coração, por onde espiono alguns amores e algumas lembranças.
Depois que passa um tempo , a gente percebe quem fez a diferença. Quem foi amor , quem foi amizade, e o sentimento de paixão que não vingou.
Chega um tempo em que o coração se escancara, mas já não faz escolhas. Fica no limbo sentimental , sem ousar viver um inferno amoroso descompensado. E o paraíso? Ele é um oásis , num deserto imaginário. Amor construção são pequenos abalos, alternados de orgasmos , que faz chorar, e sorrir. Que faz serenar e inquietar... Que faz pensar que é como se fosse o primeiro, e será para sempre o único.
Meu coração silencia pequenas impressões, que não calam, nem falam .
O que foi, o que é, você, na minha história?
Um carinho , um cravo-rosa, um som diferente , que acalenta um coração minado ?
Que bom, quando uma relação não é finita. Começa no anestésico, e continua, num prazer infindo !

Socorro Moreira


Mario Quintana

O despertador é um acidente de tráfego de sono.
O destino é apenas o acaso com mania de grandeza.
O grande consolo das velhas anedotas são os recém-nascidos.
O homem não morre quando deixa de viver, mas sim, quando deixa de amar
O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família.
O mais triste das dedicatórias são as datas.
O passado não reconhece seu lugar: está sempre presente.
O poeta canta a si mesmo porque de si mesmo é diverso.
O ruim dos filmes de Far West é que os tiroteios acordam a gente no melhor do sono.
O silêncio é um espião.
O tempo é um ponto de vista. Velho é quem é um dia mais velho que a gente...
O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...
O verdadeiro analfabeto é aquele que aprende a ler e não lê.
Os aviões abatidos. São cruzes caindo do céu.
Os que fazem amor à noite não estão apenas fazendo amor: estão dando corda no relógio do mundo.
Os rios são tristes porque não podem parar.
Para os peixinhos do aquário quem troca a água é Deus.
Pobre se engasga com cuspe.
Quem bebe por desgosto é tolo. Só se deve beber por gosto.
Quiseste expor teu coração a nu. / E assim, ouvi-lhe todo o amor alheio. / Ah, pobre amigo, nunca saibas tu / Como é ridículo o amor... alheio!
Reflexão de Lavoisier ao descobrir que lhe haviam roubado a carteira: nada se perde, tudo muda de dono.
Se alguém lhe perguntar o que quis dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo...
Se as coisas são inatingíveis ora, / Não é motivo para não querê-las / Que tristes os caminhos se não fora / A mágica presença das estrelas!
Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho.
Se um poeta consegue expressar a sua infelicidade com toda a felicidade, como é que poderá ser infeliz?
Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas...
Só se deve beber por gosto: beber por desgosto é uma cretinice.
Sonhar é acordar-se para dentro.
Sou o dono dos tesouros perdidos no fundo do mar. / Só o que está perdido é nosso para sempre. / Nós só amamos os amigos mortos / E só as amadas mortas amam eternamente...
Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...
Tão bom viver dia a dia... A vida, assim, jamais cansa.
Todos esses que aí estão atravancando meu caminho. Eles passarão... eu passarinho!
Três amores... Quem me deu / Tão estranha sorte assim? / Três amores, tenho-os eu / E nenhum me tem a mim!
Tudo o que acontece é natural inclusive o sobrenatural.
Um dia de chuva é bom para a gente comprar livro de poemas... Quem lhe perguntar por quê, de nada lhe adiantará comprar um livro de poemas.
Uma das mais deliciosas manifestações de amor é a falta de respeito.
Uma vida não basta ser vivida, precisa ser sonhada.
Vale a pena viver nem que seja para dizer que não vale a pena...