por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Sertão com nova cara. – Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Observando o gado pastando, o movimento suave da brisa balançando as árvores, o açude com sua água verde e tranqüila, acalmando-me do stress da cidade, eu chego à conclusão de que tudo continua igual no tocante a natureza, nesse sertão localizado no município de Bodocó - Pernambuco. Porém mudanças recentes aconteceram na vida das pessoas. Tudo é muito seco, melhorando a paisagem para o tom verde na época das chuvas.

Há quarenta anos, eu vinha algumas vezes passar fins de semana aqui com a família de Carlos juntamente com a minha, quando ainda éramos namorados. Sempre achei o lugar agradável e tranqüilo, embora não houvesse o menor conforto.

A casa de taipa, alpendrada, ainda é a mesma. Agora, olhando ao redor da fazenda, vejo o quanto melhorou a vida das pessoas que ali residem, após a instalação da energia elétrica, através do programa “Luz para Todos”, iniciado no governo Lula e continuado na gestão Dilma.

Antes da luz elétrica, os banhos eram de açudes, os banheiros no mato, a luz era de candeeiros e velas. As mulheres dos moradores pegavam água no açude, transportando-as em latas, nas cabeças. Lavavam louças nas bacias tirando a água do pote. Hoje existe água encanada em todas as casas, facilitando a vida de todos. Tudo antes era muito seco, mas agora com água canalizada, vemos alguns coqueiros e outras fruteiras surgindo.

Com a chegada da energia elétrica, cada casinha por mais pobre que seja, tem a sua antena parabólica sintonizando a televisão com imagem perfeita, o que contribuiu para informar, mudar a maneira de vestir e de falar das pessoas.

Em vez dos vestidinhos de chita, as mocinhas e mulheres do lugar se vestem com shorts, saias e calças jeans. A alimentação melhorou com o programa Bolsa Família. Além do que esse programa exige que os pais coloquem os filhos na escola. A prefeitura de Bodocó fornece transporte para os estudantes se dirigirem até àquela cidade para freqüentar as aulas. Antes, os filhos dos agricultores eram analfabetos. Atualmente todos têm oportunidade de terminar o ensino médio. Ou seguir mais adiante, conseguindo emprego melhor.

Assistindo à celebração da Palavra numa comunidade próxima, realizada pelos próprios moradores, admirei-me das leituras serem feitas por crianças, que lêem muito bem. Como o padre da cidade de Bodocó só pode celebrar a missa uma vez a cada dois meses, os próprios camponeses assumem a celebração.

Essas observações não têm nenhuma conotação política, não sou filiada a nenhum partido político, porém como cristã admiro os governantes que trabalham para melhorar a vida dos pobres.

Será utopia, um mundo onde todos tenham “voz e vez”? Quem não sonha com uma sociedade onde prevaleça a justiça e a paz para todos? Enquanto esse dia não chega, podemos torcer e rezar, para que os governantes façam a diferença ajudando a promover um Brasil onde exista mais justiça social. Afinal de contas, somos todos filhos de Deus e “o sol nasceu para todos.”

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Macário de Brito Monteiro: uma homenagem a um amigo que se foi – Por Pedro Esmeraldo

Quando iniciei o emprego no antigo DCT,(Correios) habituei-me a seguir a rota da outrora Rua do Fogo, hoje denominada de Rua Senador Pompeu. Admirava-me do encontro matinal de um grupo de cidadãos de bem que permanecia lá durante alguns minutos, antes dos seus horários de trabalho.

A princípio, atravessava aquela artéria urbana com acanhamento. Aos poucos, fui perdendo a inibição e aproximando-me daquelas pessoas, tentando enquadrar-me ao rol daquela turma. Enfrentei o grupo com confiança e serenidade; esforcei-me para encontrar lá um ambiente compreensível e agradável, proporcionando-me integrar com os novos amigos.

Era um grupo de pessoas brincalhonas, onde aconteciam brincadeiras sadias, inofensivas, deixando todo tempo para conversas amenas. Tudo que eu quero dizer é que havia coesão entre aqueles amigos. Não se via, nem havia malícia, mas gestos de pessoas corretas, praticantes do bom senso, estimuladoras da arte do racionalismo social.

Lembro-me que havia entre eles uma pessoa de grandeza espetacular, tanto pelo seu caráter, como pela maneira de agir. Por isso senti-me integrado ao grupo que permaneceu por lá há cerca de quarenta anos. O cidadão a que me refiro sempre agia com simplicidade e muita sinceridade. Não estimulava a discórdia entre aqueles amigos. Não zombava de ninguém. Era bondoso e prestativo. Tratava todos com atenção profunda e respeito. Era fiel e marchava no caminho firme. Tinha o costume de evitar a desatenção para com quem quer que fosse...

Agora quero ressaltar o grande comportamento dessa pessoa digna merecedora de aplausos, que só fazia o bem e estimulava – com os seus exemplos – todos a seguirem seu caminho.

Refiro-me a notável figura de grande valor moral, possuidor de espírito prestativo e solidário, econômico no uso das palavras, que foi Macário de Brito Monteiro. Era ele descendente de importantes clãs caririenses que deram homens da envergadura de José Pinheiro Bezerra de Meneses – conhecido como Capitão Zeco dos Currais, e de Macário Vieira de Brito, nascido na Ponta da Serra, neste município.

Não tenho dúvidas em afirmar que Macarinho (como sempre o tratávamos), foi com toda certeza um dos maiores líderes da sociedade cratense.

Nunca se viu Macarinho queixar-se ou falar mal dos amigos. Era comedido no agir. Não maltratava ninguém e nem discutia por qualquer brincadeira. Era um senhor observador; não respondia aos insultos; preferia dar uma tapa com mão de luva aos insultos dos intrigantes aos quais respondia com o silêncio.

Para mim, dificilmente há outra pessoa semelhante a Macário de Brito Monteiro. Se Deus permitir, creio que algum dia poderá aparecer outro – mas não igual a ele – imitando o seu gesto, pelo menos em parte, além de dotado de uma bondade natural.

Agora olho para o céu peço ao Bondoso Deus que afaste esses “ intrujões” que vez por outra aparecem naquele local e que não permaneçam mais cutucando os cidadãos com palavras ofensivas, abalando a moral de qualquer pessoa que por lá compareça.
Por fim, algum só tem a casca, e o miolo podre.

Por Pedro Esmeraldo
                         RODA DE HISTÓRIAS COM BISAFLOR



O VELHO QUE FAZIA AS ÁRVORES MORTAS FLORESCEREM
(Conto japonês)

Há muito tempo, um velho bondoso e sua esposa viviam sozinhos na companhia de um cachorrinho branco. Eles tinham tudo que precisavam, menos filhos, de forma que dedicavam sua afeição ao animalzinho.
Um dia, o cachorrinho não parava de latir no quintal e o velho foi ver do que se tratava. O cachorro corria insistentemente para um lugar situado bem debaixo de uma grande árvore e o velho compreendeu que seu animalzinho de estimação havia encontrado algo enterrado ali. Pegou pois a pá e cavou. Para sua surpresa, achou um esconderijo de moedas de ouro! Chamou a esposa e os dois abraçaram o cachorrinho branco.
Acontece que eles tinham um vizinho que era um homem mau e invejoso. Este vizinho, frequentemente, quando ninguém estava olhando, atirava pedras no cachorrinho ou lhe dava pontapés. O malvado vizinho ouvira o cão ladrar e ficara espiando o velho desenterrar o tesouro. Na manhã seguinte, perguntou ao velho bondoso se este podia lhe emprestar o cachorro durante todo o dia. O velho bondoso achou aquilo esquisito, pois seu vizinho jamais gostara de animais, mas era generoso demais para recusar um pedido.
O malvado levou então o cachorrinho branco para seu jardim. – Se você encontrou um tesouro para seu dono, pode encontrar um para mim também! – e o invejoso forçou o pobre animal a farejar o solo. O cão parou junto a uma grande árvore e o velho maldoso começou imediatamente a cavar. Trabalhou por várias horas e por fim descobriu um monte de lixo fedorento, o que lhe deixou todo sujo e, consequentemente enraivecido a ponto de bater no cãozinho com a pá, até matá-lo. Depois enterrou o animal no buraco.
Alguns dias mais tarde, o velho bondoso lhe fez uma visita e pediu seu cachorrinho de volta.
 - Tive que matar seu cão perverso em legítima defesa! – disse o malvado – e enterrei a desgraçada criatura sob a árvore.
O velho bondoso ficou consternado. Sabia que seu cão jamais atacaria alguém, mas não disse nada. Apenas pediu que o vizinho lhe desse a árvore sob a qual o cachorrinho estava enterrado.  – Vou fazer uma lembrança para ele. – O malvado vizinho não pode recusar e o velho levou a árvore para casa. Aí ele esculpiu um pilão e uma mão com aquela madeira.
- Dessa forma – explicou à esposa – podemos fazer bolos de arroz em memória do nosso cão. Ambos recordaram o quanto o animal apreciava aquela iguaria. Colocaram arroz no pilão para amassar com farinha adocicada. Mas antes que fizessem qualquer coisa, os bolos foram saindo prontinhos do pilão. – É o espírito do nosso querido cachorro! – exclamaram. E quando experimentaram os bolos de arroz, viram que era a coisa mais gostosa que já haviam provado.
A tudo o malvado vizinho presenciou e então veio pedir o pilão emprestado. O velho sentiu-se relutante em emprestá-lo, mas era bom demais para recusar.  Assim, o mau vizinho levou o pilão para casa. Quando porém tentou amassar o arroz, somente lixo malcheiroso saiu dele. Num acesso de raiva, queimou o pilão. Alguns dias depois o velho pediu o pilão de volta e o malvado lhe respondeu que o havia queimado. – Ah – lamentou o velho -, era uma lembrança do meu cachorrinho! Pensou um instante e então pediu as cinzas do pilão. – Elas também podem ser uma lembrança.  O vizinho não pode recusar e o velho voltou para casa, guardando as cinzas num cesto.
Um dia o vento soprou um pouco daquela cinza por sobre as cerejeiras do velho. Era inverno e as árvores estavam nuas. Porém, no momento em que as cinzas tocaram seus ramos, estes se abriram em flor, como se fosse a primavera. A notícia se espalhou e, em breve, chegava gente de todas as partes para admirar as cerejeiras. Um dia, um samurai veio visitá-lo e disse-lhe que o Soberano daquelas terras queria vê-lo. Explicou-lhe que a cerejeira favorita do Soberano havia murchado e morrido, e este gostaria de saber se o velho poderia fazê-la reflorir. O bondoso velho disse que iria tentar e pegou sua cinza mágica.
O samurai conduziu-o ao palácio e lá, perante todos os nobres e guerreiros, o velho subiu na árvore morta. Ergueu o cesto e despejou o pó por sobre seus galhos secos. A árvore imediatamente se cobriu de flores, inundando o palácio de cores alegres e doces perfumes. O soberano, profundamente grato, concedeu ao velho uma grande fortuna e o título de “Aquele que Faz Árvores Mortas Florescerem”.
De tudo isso o vizinho invejoso teve notícia. De forma que juntou as cinzas da sua lareira e, no dia seguinte, saiu andando pela aldeia, clamando: - Eu sou o homem que faz as árvores mortas florescerem.
 O Soberano o ouviu e o chamou. – Mas você não é o mesmo homem com quem falei ontem! – exclamou.
- Não – respondeu o invejoso -, sou o professor dele.
Então, o Soberano pediu-lhe que fizesse uma outra árvore morta florir. O ganancioso vizinho subiu ansiosamente na árvore e atirou cinza em seus ramos. Nada, porém, aconteceu. Atirou mais cinza, até que todas voaram para cima do Soberano e dos nobres presentes. E a árvore não floriu. Então o Soberano o condenou à prisão como impostor.
Quanto ao bondoso velho e sua esposa, viveram felizes e honrados até o fim de seus dias. E todos os dias, mesmo no rigor do inverno, sua casa estava cercada de flores perfumadas.
(História narrada no livro “...E foram felizes para sempre”, de Allan B. Chinen.)


RENOVANDO O CONVITE!

DOMINGO PRÓXIMO, DIA 15 DE JANEIRO, NO RESTAURANTE "QUATRO ESTAÇÕES, A PARTIR DAS 20 H.
ENCONTRO COM O ESCRITOR GERALDO ANANIAS.
NÃO PERCAM !

Inquietações ...- por Socorro Moreira




Inquietação monástica

Quando não as tenho,
invento-as!
Perdi a descompostura
que me fazia perdida
Perdi
faz poucos dias
O tempo é curto,
mas se arrasta
como os passos...
Inconfiantes!
O calor amoleceos ânimos
Sou ágil
quando busco nos monturos,
e em todos os buracos da terra,
uma fresta de luz!

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O mel da vida

Os dias correm desavisados
Nada acontece por acaso
Uma dor só fica aguda
depois de muito aviso
O espelho delata a resultante
das expressões concebidas
Uma foto do futuro
mostra os laços do passado
ou os excessos dos risos
Faltavam muitos
Agora faltam tantos...
Não dá pra contar o que se vive!
A emoção é camuflada na ação
A sobra da emoção,
mesmo em dose mínima
afeta até a alma...
Praça iluminada
Rostos envelhecidos
Guardam no olhar, o brilho!

Adormecida - por Socorro Moreira


Parei de transformar
Números em flores.
Números são adubos
Letras são flores.

Parei de te chamar
Reclamar, vigiar...

Parei de te esquecer.
Adormeci teu amor
No leito mais secreto
Faço silêncio
Deixo ele sonhar!


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Encontros desperdiçados
Cartas, promessas...
Recusas sem razão
Enfim, a compreensão!

Quando você desistiu,
Corri na frente
E lhe encontrei
Antes do destino

Surpresa, obstinação
Cortei caminhos, e o meu coração.

Pássaros em diversos ninhos
Salgueiro, Mangueira...
E na quarta-feira
Tudo ficou cinza.