por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

                         RODA DE HISTÓRIAS COM BISAFLOR



O VELHO QUE FAZIA AS ÁRVORES MORTAS FLORESCEREM
(Conto japonês)

Há muito tempo, um velho bondoso e sua esposa viviam sozinhos na companhia de um cachorrinho branco. Eles tinham tudo que precisavam, menos filhos, de forma que dedicavam sua afeição ao animalzinho.
Um dia, o cachorrinho não parava de latir no quintal e o velho foi ver do que se tratava. O cachorro corria insistentemente para um lugar situado bem debaixo de uma grande árvore e o velho compreendeu que seu animalzinho de estimação havia encontrado algo enterrado ali. Pegou pois a pá e cavou. Para sua surpresa, achou um esconderijo de moedas de ouro! Chamou a esposa e os dois abraçaram o cachorrinho branco.
Acontece que eles tinham um vizinho que era um homem mau e invejoso. Este vizinho, frequentemente, quando ninguém estava olhando, atirava pedras no cachorrinho ou lhe dava pontapés. O malvado vizinho ouvira o cão ladrar e ficara espiando o velho desenterrar o tesouro. Na manhã seguinte, perguntou ao velho bondoso se este podia lhe emprestar o cachorro durante todo o dia. O velho bondoso achou aquilo esquisito, pois seu vizinho jamais gostara de animais, mas era generoso demais para recusar um pedido.
O malvado levou então o cachorrinho branco para seu jardim. – Se você encontrou um tesouro para seu dono, pode encontrar um para mim também! – e o invejoso forçou o pobre animal a farejar o solo. O cão parou junto a uma grande árvore e o velho maldoso começou imediatamente a cavar. Trabalhou por várias horas e por fim descobriu um monte de lixo fedorento, o que lhe deixou todo sujo e, consequentemente enraivecido a ponto de bater no cãozinho com a pá, até matá-lo. Depois enterrou o animal no buraco.
Alguns dias mais tarde, o velho bondoso lhe fez uma visita e pediu seu cachorrinho de volta.
 - Tive que matar seu cão perverso em legítima defesa! – disse o malvado – e enterrei a desgraçada criatura sob a árvore.
O velho bondoso ficou consternado. Sabia que seu cão jamais atacaria alguém, mas não disse nada. Apenas pediu que o vizinho lhe desse a árvore sob a qual o cachorrinho estava enterrado.  – Vou fazer uma lembrança para ele. – O malvado vizinho não pode recusar e o velho levou a árvore para casa. Aí ele esculpiu um pilão e uma mão com aquela madeira.
- Dessa forma – explicou à esposa – podemos fazer bolos de arroz em memória do nosso cão. Ambos recordaram o quanto o animal apreciava aquela iguaria. Colocaram arroz no pilão para amassar com farinha adocicada. Mas antes que fizessem qualquer coisa, os bolos foram saindo prontinhos do pilão. – É o espírito do nosso querido cachorro! – exclamaram. E quando experimentaram os bolos de arroz, viram que era a coisa mais gostosa que já haviam provado.
A tudo o malvado vizinho presenciou e então veio pedir o pilão emprestado. O velho sentiu-se relutante em emprestá-lo, mas era bom demais para recusar.  Assim, o mau vizinho levou o pilão para casa. Quando porém tentou amassar o arroz, somente lixo malcheiroso saiu dele. Num acesso de raiva, queimou o pilão. Alguns dias depois o velho pediu o pilão de volta e o malvado lhe respondeu que o havia queimado. – Ah – lamentou o velho -, era uma lembrança do meu cachorrinho! Pensou um instante e então pediu as cinzas do pilão. – Elas também podem ser uma lembrança.  O vizinho não pode recusar e o velho voltou para casa, guardando as cinzas num cesto.
Um dia o vento soprou um pouco daquela cinza por sobre as cerejeiras do velho. Era inverno e as árvores estavam nuas. Porém, no momento em que as cinzas tocaram seus ramos, estes se abriram em flor, como se fosse a primavera. A notícia se espalhou e, em breve, chegava gente de todas as partes para admirar as cerejeiras. Um dia, um samurai veio visitá-lo e disse-lhe que o Soberano daquelas terras queria vê-lo. Explicou-lhe que a cerejeira favorita do Soberano havia murchado e morrido, e este gostaria de saber se o velho poderia fazê-la reflorir. O bondoso velho disse que iria tentar e pegou sua cinza mágica.
O samurai conduziu-o ao palácio e lá, perante todos os nobres e guerreiros, o velho subiu na árvore morta. Ergueu o cesto e despejou o pó por sobre seus galhos secos. A árvore imediatamente se cobriu de flores, inundando o palácio de cores alegres e doces perfumes. O soberano, profundamente grato, concedeu ao velho uma grande fortuna e o título de “Aquele que Faz Árvores Mortas Florescerem”.
De tudo isso o vizinho invejoso teve notícia. De forma que juntou as cinzas da sua lareira e, no dia seguinte, saiu andando pela aldeia, clamando: - Eu sou o homem que faz as árvores mortas florescerem.
 O Soberano o ouviu e o chamou. – Mas você não é o mesmo homem com quem falei ontem! – exclamou.
- Não – respondeu o invejoso -, sou o professor dele.
Então, o Soberano pediu-lhe que fizesse uma outra árvore morta florir. O ganancioso vizinho subiu ansiosamente na árvore e atirou cinza em seus ramos. Nada, porém, aconteceu. Atirou mais cinza, até que todas voaram para cima do Soberano e dos nobres presentes. E a árvore não floriu. Então o Soberano o condenou à prisão como impostor.
Quanto ao bondoso velho e sua esposa, viveram felizes e honrados até o fim de seus dias. E todos os dias, mesmo no rigor do inverno, sua casa estava cercada de flores perfumadas.
(História narrada no livro “...E foram felizes para sempre”, de Allan B. Chinen.)


2 comentários:

socorro moreira disse...

O melhor das histórias é:
"... e fôram felizes para sempre!"

Adorei, Stelita!

Abraços

Anônimo disse...

Adorei Stela! Conta mais!

abraços