por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 29 de junho de 2015

A PEDRA A SOLIDIFICAR-SE COMO CROSTA DA REALIDADE FLUIDA - José do Vale Pinheiro Feitosa




Fogos alargando a noção de distância ressoam desde a praia. É o dia de São Pedro, uma procissão católica em face do pescador. Frágeis seres da terra a balançar nas ondas afogáveis onde as jangadas furam o espaço como uma flecha indígena.  

São Pedro o pescador. Tão simples na escala hierarquizada das tribos de Israel. Ali a tecer as malhas da rede de pesca. Na margem onde termina o sólido e começa o líquido.

Alguém como nós. Lutando pela vida. Trabalhando e criando margem onde os mercadores engordam. Engordam em moedas. Dinheiro que representa o poder de quem o detém sobre o trabalho de Pedro o Pescador.

Sobre José o carpinteiro. Sobre Madalena e seu corpo de hematomas a pedradas. E Pedro é isso. Um ser como os simples da terra. Temeroso da fúria armada dos que transformam trabalho em dinheiro e com esta unção de poder afoga a fé de Pedro.

E por três vezes negou o que vinha apostolando apenas por terror à espada. E mais uma vez demonstrou o quanto preservou sua integridade física abdicando da palavra. Das ideias. Da divulgação pelas terras dos senhores do sínodo hebreu e das hostes romanas.

E, no entanto, foi este desvio dos enormes obstáculos. Aquele que temeu. Que se acovardou afrontando-se com a ferida do ferro frio. Foi ele, que ao centro do Império migrou e, no coração dele, foi pedra para se erguer a vontade de muitos.

Todos frágeis como ele. Como nós diante destas instituições pervertidas, poderosas, insanas que carreiam ilusões e fazem da terra e sua natureza essencial objeto das pedradas a Madalena. Somos Pedro.

É só esperar. Somos alicerce a substituir a ruína imoral do capitalismo. A embriaguez desta segurança baseada em moedas. Moedas.

Todas elas enfileiradas numa corrente de faz de conta. Com elos se rompendo por todos os lugares e momentos. As podres moedas que não passam de uma falsidade ideológica sobre os resultados do trabalho de todos.


Pedro o Pescador. A pedra que se solidificou como crosta da terra.