por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Um texto de Rejane Gonçalves- Grande escritora!

 

 

O jogo
Procura-nos a Morte quando já somos tão pouco.
Quando o que nos dá a condição, senão a possibilidade de seguir ao lado dessa gente, é apenas um corpo semelhante aos que do nosso lado passeiam. Todavia mover os pés nesse ritmo próprio do caminhar, trotar com essas criaturas de uma calçada à outra, não nos confere a imponência de um puro sangue, nem tampouco oferece à Morte a garantia de que apertará nos braços um indivíduo, ainda, senhor absoluto dos seus restos de sonh...os, ânsias e quereres.
A Vida matreira e ladina com suas mortes cotidianas, sutis, mas atrozes, a nos infligir, dificilmente entrega um corpo cujo espírito ainda esteja envolto na integridade de suas emoções. Ela - que dispõe e impõe - olha da janela envidraçada a ridícula figura da Morte que ao se abaixar para pegar o fardo o faz sempre com a convicção de que o peso a ser suportado vai ser imenso, e ao levantar-se com um urro, como que para se ajudar, acaba desequilibrando-se devido à leveza da carga. Nesse momento, Vida e Morte, igual duas velhas comadres que estivessem em abstinência da companhia mútua, cruzam os olhares ávidos de uma para a outra calçada; e gesticulam e gritam e gemem e movem-se como se existisse uma fluidez ao abraço ou à trincheira. As duas comadres enfrentam-se.
E nós somos um leve embrulho arremessado no ar num jogo frenético, destituído do calor das torcidas e da sonoridade das multidões. Bola disforme jogada cada vez com menos precisão de Uma para a Outra, até que a Morte, a mais sensata dentre elas, lembre-se de sua tarefa milenar, bote-nos debaixo do braço e saia praguejando.

(rejane gonçalves) - abril 1988
- texto publicado no "ZUMBIDO" (saudoso Zumbido), jornal dos funcionários da Agência Dantas Barreto/Santo Antônio

 (Banco do Brasil) -


Trabalhei com Rejane G Santos, na Ag. Dantas Barreto, em meados da década de 70.Amiga querida , em todos os tempos. Figura que nos norteava nas leituras, músicas, filmes, e em tudo que expressava arte  e visão sistêmica do mundo. A palavra de Rejane  é sempre  uma verdade cristalina para mim, até  quando ela faz ficção.

Tudo que você escreve, Rejane, é do nosso agrado!


 

C ompartilhando...


Ficava me achando meio fora de moda pelo fato de ser seduzido pela leitura de Vargas Llosa enquanto deixo pelo meio muitos de nossos romancistas ‘pós-modernos’. O posicionamento de um jovem e brilhante músico francês, Jérôme Ducros - cuja aula no Collège de France causou polêmica – me ajudou a respirar aliviado e sem remorso para deixar dormir na estante os ‘moderninhos'. Leiam um trecho :
« (…) Os intitulados contemporâneos são, no final das contas, retrógados. A epopéia da... arte, se nos atermos à visão darwiniana que lhe serve de história oficial, está encerrada. Os Modernos emblemáticos deram um fim a essa grande aventura que alçou o homem além de sua condição primária, que transfigurou o artesão modesto que duvidava de suas próprias mãos em artista genial e não tem dúvidas sobre o seu talento, ofereceu a nossos sentidos todos os graus possíveis da contemplação, de Lascaux à tela em branco, do cantochão ao silêncio de Cage, da escultura antiga ao mictório. Numa palavra : da obra sem assinatura à assinatura sem obra. O cimo do moderno tendo sido alcançado, escrever depois, seja o que for, é « voltar atrás». Como, pois, se espantar quando alguém coloca em causa radicalmente os dogmas do século XX em vez da perpetuar esses dogmas sob uma forma edulcorada ? "
 

A JORNADA DE FHC - José do Vale Pinheiro Feitosa

Vamos à metáfora. Temos uma longa jornada. Passaremos no interior de florestas úmidas, infestadas de insetos, animais peçonhentos, predadores humanos, matagais intransponíveis (ou quase para possamos continuar). Em seguida virão desertos sedentos, abrasadores, de cansativo areal e dunas altas a ultrapassar. Andaremos sobre a neve. Beberemos em grandes lagos. Sorveremos a lama quase ressequida de poças infectas. Uma longa jornada.

Mas resistiremos. Chegaremos ao destino. Mesmo que seja apenas para o descanso eterno como gostam aqueles que apaziguam seus corações temerosos. E chegaremos ao destino porque aprendemos a viver nos vários ambientes. Teremos conhecimento para formular normas, regras, éticas, solidariedade entre todos. Assim nós atravessaremos e quem sabe até nos fixaremos em alguns destes ambientes. Afinal tudo parece uma passagem.

Mas nada é de passagem. Tudo carrega uma sensação de plenitude que uma vez exposta ao avançar cronológico, se traduz como eternidade. Mesmo quando distante destes ambientes habitados, nascidos, gerados, eles, pelas partículas da anti-cronometria, se alojam na memória como uma loja viva do continuo.

Por isso sempre temos duas mãos a ponderar o conjunto da jornada. Numa a coerência com a realidade e o outro ser humano e noutra a revisão do conhecimento porque a realidade se transforma. Portanto, sendo coerência e revisão ao mesmo tempo, avança sobre a mudança preservando o corpo que se move nesta jornada. Isso é válido desde a metodologia do conhecimento como passo inicial até o passo mais geral que é a política.

Não se pode ter a pessoa como exclusivo alvo crítico de grandes deformações. Isso é perder substância crítica. As grandes questões são coletivas, são ideias, são comportamentos, preconceitos, manipulações, artimanhas, enganações e outras tantas de igual sentido. Por mais que admire alguém num intervalo, se ele se apega a tais práticas merece a reparação crítica por representar a soberba de querer da jornada apenas a melhor parte.

Igual a Fernando Henrique Cardoso que, Presidente da República, chamou os pobres aposentados da Previdência Social de vagabundos. E hoje, numa insanidade argumentativa foi capaz de responder ao seu avantajado salário de aposentado com a seguinte argumentação:

Todo mundo reclama de salário, que é baixo. Acho o meu razoável. Comparado com o que se ganha no setor privado, aí significa muito, porque a aposentadoria do INSS é muito baixa. Não é a USP que é alta, o outro que é baixo”.  


FHC tem a aposentadoria de R$ 22.151,00.