por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 24 de julho de 2011

Por Geraldo Urano





OS BEATLES NO EXU

num trio elétrico
na luz da tarde
de lábios molhados
na água fresca de abacaxi
castanha e caju
a solidariedade existe
no Brasil
castanha e caju
e a praça já é um verso
musicada pelo som
dos automóveis na piçarra 


UM POEMA- Francisco das Chagas



uma vez escrito mais um poema,
e nele você chorar, não o seu choro,
mas o choro dos meus olhos culpados
da aridez na paisagem assediada
de desejos, uma valise de êxtases
que se esfumam à luz, à fúria do éolo
que resvala na epiderme dos prédios
sem vida, cruéis ao meu sonho cinza

para você mordiscar a nervura
desse silêncio que recobre tudo
o que fere e não é poesia,
não cabe nas colunas do poema

o certo era não ter coração
não ter olhos e não tomar parte
no pão que o dia reparte entre
os que de rosto branco se procuram
se irmanam, grogues no parque central,
quando cruzam a avenida, um táxi,
um ônibus, o susto sob a espuma
da cerveja, fulgor da tarde em fuga
do calor, sempre com o rosto branco

o certo era ter uma palavra
laminada, lisa, pura, tão pura,
livre do peso das contradições,
as únicas flores que há na calçada,
as palavras a mil metros das cores
nas roupas, palavras roucas, os carros
no caos de buzinas, contra o amor
a falsidade das fachadas nuas
a melhor poesia, a mais refinada
capaz de comprimir o real no ângulo
de um alfinete, depois a explosão
a mil anos da indignação

amanhã devo pegar uma faca
tão fina de se confundir com o ar,
abrirei o peito aos primeiros passos
da aurora, o coração será limpo
com água perrier, e se nada der
errado, colarei vinte etiquetas,
vinte etiquetas vindas duma loja
da oscar freire, num frasco de cristal.

um poema para você chorar
de mãos dadas com cada mãe em silêncio,
os pés nas águas do dia-oceano
o terrível da palavra terrível.
o dia sem poesia, mestre do ódio
a todas as partes da construção
ilustrada pelos rostos de figuras
perturbadas com a atracação às ruas
de quilhas atraídas pela luz

quem sabe esse poema de extrair
dos seus olhos parte de um desespero
enclausurado na noite, a mais
perfeita herança dessas cercanias
onde dormitam todos os desertos
pedras em chamas, terra calcinada
esse poema de dores e espanto
expulse você do sono. acorde!
seu coração nunca mais será o mesmo

nunca mais, nunca mais, nunca mais, nunca 

Do livro "No Azul Sonhado"



O RIO DA MINHA CIDADE- Por Wilton Dedê



Foi há muito tempo. Quando as águas desciam da serra respirando vida. Caminhavam mansas e calmas. Vinham da casa da Mãe D’água, no sopé da Chapada do Araripe. Num rasgo da serra, onde guerreiros Cariris fincaram a Pedra da Batateira. Amalgamada naturalmente às arvores e arbustos. Eram límpidas, frias, transparentes, e mansamente buscavam a aldeia Cariri, desenhando caminhos entre as veredas, fazendo riscos cavados no chão, varando o vale e, aos poucos, engolindo outros “caminhos d’água”, formando assim os riachos e afunilando todos eles num destino único para todas as águas.
Em terras mais baixas, quando todos os fios d’água se encontravam e caminhavam juntos, ali nascia o Rio. Mais lá embaixo, pouco mais de uma légua, no grande vale verde, a aldeia esperava as águas chegarem.
A partir daí, suas águas pairavam belas, frias, serenas. Corriam calmas, como se quisessem cumprimentar as árvores à sua margem. Como se quisessem ouvir os pássaros, beijar as borboletas que nelas se miravam. Como quem quisesse lambuzar-se nas barreiras lamacentas que o molduravam. Espelhavam tudo que havia em suas margens. Era um Rio lindo. Do tamanho dos nossos sonhos.
A música das suas águas batendo nas pedras era como uma cantiga de ninar. Hipnotizava como o velho chchchchiado da chchchchuuuuva chchchoveeeendo de noite, como pingos batendo nas telhas. Misturava-se aos silvos das cigarras, quando a tarde vinha. Nessa hora, suas águas ficavam com um tom vermelho amarelado. Imitava o céu, onde o Sol se punha. O contraste com o verde que o rodeava desenhava uma autêntica aquarela.
Quantos Sabiás, Canários da Terra, Galos de Campina, Sanhaços... quantos Gatos Maracajás, Cotias, Raposas, quantos Veados, quantos Saguis. Todos o reverenciavam pela sua grandeza e abundância. Todos o respeitavam. A cada curva, uma nova paisagem.
Amanhecia, e lá estava Ele. Sereno, maneiro, calmo, dia e noite a deslizar sobre as pedras aquela limpinha e fria água, trazendo o cheiro das ribeiras da serra. Cheiro de mato e barro. Tinha a música dos pássaros e o som do vento. Tinha a cor e a luz do Sol.
Era o meu Rio. O Rio da minha cidade.
Com o tempo, batizamos os vários lugares onde a água, diminuindo o seu ritmo, formava poças, em que, aos montes, tomávamos banho. Arriscávamos tudo para estar lá. Armados do mais puro amor, encarnávamos o D´zunhurae, o Poditã e... simplesmente íamos ao Rio. Também pudera. Queríamos mesmo era mergulhar naquelas águas: Banho da Mata do Seu Lino, Banho da Pedra do Quebra Cu, Banho da Ponte das Piabas, Poço da Barreira... Eram tantos, que nem lembro. Sei bem do paraíso que era para todos nós.
Um tambor amedrontou a mata
Quando o dia clareou
Na clareira respondeu a flauta
Um aviso de terror
Um cacique descobriu pegadas
De um estranho caçador
Uma tribo foi exterminada
Onde o rio avermelhou
Foi assim: um dia, quando nuvens escuras fecharam o céu, Warakidzã acordou e veio trazendo uma tribo estranha formada por homens brancos. Eles vieram trazendo a urbanidade e o progresso. Disseram que seria bom. Mas eles não sabiam que o Rio tinha vida. Não pensaram em nós, que alimentávamos sonhos. Que amávamos o Rio.
O Rio deixou de ser importante. Deixou de ser sonho. Poditã ficou muito magoado, e foi embora. Revoltados com tudo aquilo, D`zunhurae se encantou, e a Mãe D’água, Protetora Mãe, se embrenhou serra adentro, e o Rio, sem os seus protetores, foi atacado pelos guerreiros do mal.

Antes das chuvas
Quando um trovão tombou das estrelas
E a selva escura
Viu brilhar nas mãos de um deus
Armas de estrondo e luz
(Como avisou a lenda)
Armas de estrondo e luz
Desde lá, nosso Rio nunca mais teve paz. Nunca mais foi o mesmo Rio. Nunca mais, nossa aquarela. Nunca mais, nossos sonhos. Aos poucos, a sua cor foi mudando. Hoje Ele tem a cor escura da morte. A sua beleza foi desaparecendo. As suas margens foram sumindo.
Nunca mais brincadeiras. Nunca mais banhos. Nunca mais os pássaros o procuraram. Nunca mais as cigarras. Nunca mais as borboletas. Nunca mais nossos sonhos e nossa aquarela. Paredes de cimento e pedra guardam um resto de vida, e a sujeira dos homens brancos suga a última gota d’água e o último suspiro. Eles roubaram os nossos sonhos.
Onça negra caminhou nas cinzas
Da fogueira que passou
Gavião voando contra a brisa
Viu a mancha do trator
Sobre o chão onde os pajés dançavam
Uma vila se formou
Todo dia longe ressoava
O machado do lenhador
Barraram o Rio na “Nascente da Pedra da Batateira”. Riscaram o chão por onde Ele tinha que passar. Mas os “caminhos d’água” dos homens não são os mesmos escolhidos pelo Rio. A Mãe D’água tangida para o centro da Serra do Araripe não pode mais lançar sobre Ele a sua mão protetora.
Os guerreiros do mal enfileiraram malocas, derrubaram árvores, espantaram os pássaros, encurtaram as suas margens e aprisionaram o seu caminho. Nosso Rio ficou sem amparo, sem a proteção maior da Grande Mãe.
Aos poucos, as suas margens foram sendo molduradas por ruas, calçadas, estradas de negro asfalto. Manchas deixadas pelo trator. A “Onça Negra” do progresso se instalou, como previa a lenda. A modernidade havia chegado, deixando no ar uma sentença de morte.
O Rio viu passivo o mundo morrendo à sua volta. Ainda hoje, “(...) quando a Lua está cheia (força feminina da fertilidade), ouvem-se as flautas e os zabumbas dos ‘caboclinhos’ tocando dentro da floresta do Araripe. Esses ‘caboclinhos’ são os curumins desencantados, festejando o regresso ao Paraíso Cariri.” (Caryry, 2008).
Restou-nos uma vida de silêncio e de lembranças. Hoje nosso Rio está quase morto. Ainda ensaia alguns suspiros de vida. Quando as águas grandes, mandadas por Badzé, molham a serra, alguns fios e caminhos d’água ganham vida, trazem água da Chapada do Araripe e conseguem lavar um pouco o seu leito. Depois, com a ida das águas, Ele agoniza de novo. Junto com Ele, agonizam as nossas lembranças, os nossos sonhos.
Dentro da selva
Ouçam os corações dos guerreiros
Esperando a noite
Em que os astros vão trazer
A volta dos trovões
(Como promete a lenda)
A volta dos trovões*

Há de vir o dia em que acenderemos a grande fogueira. O fogo da guerra tomará nossos corpos, dançaremos o Toré, e em volta da grande fogueira invocaremos o espírito protetor do nosso Pai Grande Badzé. Dançaremos e cantaremos até que Ele mande vir de Órion o nosso protetor; o seu filho maior Poditã, com seus guerreiros do bem.
Ave Badzé... Ave Badzé... Ave Badzé.
Os curumins estão a postos, com suas flautas e seus zabumbas à espera do seu grito. Nossos guerreiros se enfeitaram de espadas, seus capacetes têm espelhos e suas vestes de fitas coloridas indicam que estão prontos para cair no campo de batalha. Cantaremos hinos de louvor ao Rio. Seremos bons guerreiros.
Juntos derrotaremos a Onça Negra do progresso, que roubou a vida e o espírito maior dos nossos sonhos. Poditã trará vida nova para o nosso Rio, para os pássaros, para as árvores e para o nosso povo. Teremos a proteção da Mãe D’água, a Deusa-Mãe, fazendo com que o nosso Rio viva em paz. Brincaremos de novo. Sonharemos em paz.

* Poesia incidental Volta dos Trovões, de Bráulio Tavares e Fuba.
Glossário

Caminhos d’água – Pequenos caminhos (riachos) por onde escorrem as águas das chuvas ou das fontes, quando se movimentam para terras mais baixas.

Chapada do Araripe – Localizada no extremo sul do Estado do Ceará. Região habitada pelos índios Cariris.

Mãe D’água – Personagem sagrada para os índios Cariris. Representa a Grande Rainha protetora das águas.

Badzé – Deus maior para os índios Cariris.

Poditã – Filho bom de Badzé. Representa o amor e o bem.

Warakidzã – Filho mau de Badzé. Representa a inveja e o mal.

D’zunhurae – Príncipe protetor das águas

Nascente da Pedra da Batateira – Maior nascente que se conhece na Chapada do Araripe. Faz parte do lendário indígena da região.

Maloca – Habitação indígena de palha.

Toré – Dança indígena de preparação para a guerra.

Curumins – Crianças indígenas.

VIAGEM


Me agrada observar os pássaros
Como voam, como vivem, como cantam
Como assumem o mundo como sua sala
Libertos procuram o vento por companhia
Sim, me agrada observá-los libertos
Ah! Quisera ter asas, quisera poder voar
Quisera poder caminhar, caminhar
Nunca olhar para trás, e nunca parar
Ser como um rio, ser grande como o mar

Me agrada saber da liberdade
E que é fácil chegar até ela
Me agrada saber que é dada a qualquer um
Basta saber dela, buscá-la, ela está bem ali
Me agrada observar o Rio no seu caminho
Não lhe importando nada e nem ninguém
Apenas vai, apenas segue maaaanssssssooo
E desenha o seu caminho dia a dia caaaaalmoo
Hora a hoooooora, minuto a minuuuuuuto

Quisera ter a liberdade dos pássaros
Quisera poder voar, quisera cantar
Ir quando quiser, onde quiser, planar
E poder voltar sem sentir saudades
Quisera poder olhar pela janela
E lá longe enxergar sem remorso
A parede inversa da minha casa,
Da minha sala e do meu jardim
Ver o meu telhado a céu aberto

Quisera sempre sonhar
O sonho sem tamanho
O sonho dos homens
Como um anjo sem asas
Como um pássaro no céu
Como um rio em águas
Como um monte de sonhos
Ter a certeza de que a cada segundo
Começa a história de uma nova hora


Los pensamientos buenos o malos
se convierten en una realidad concreta.

(Emile Coué)

Do livro "No Azul Sonhado"

VOZES DO ALÉM? - Carlos Esmeraldo



A professora Alcina acordara de um sonho muito estranho, verificando se o quarto onde dormia estava com o estrago que vira naquele misto de realidade e fantasia. Não sabia se estava dormindo ou em vigília. Como que de repente, um clarão forte iluminara o quarto, e o chão rebentava como se do interior da terra fosse surgir uma árvore. De lá brotava uma criança de aproximadamente cinco anos. Uma linda menina magrinha, cabecinha raspada, e olhinhos castanhos muito vivos, surgira das entranhas da terra. Quase num sussurro, lhe fazia um pedido: “Socorra minha mãe. Ela mora na Rua Leandro Bezerra, N° 403.” Demorou a reconciliar o sono, e no dia seguinte a imagem vista em sonho não lhe saía da cabeça.
Recém-chegada a Juazeiro, a professora Alcina vivia naquele longínquo ano de 1966 um verdadeiro conto de fadas. Casara-se com Wálder, técnico em manutenção de equipamentos elétricos e eletrônicos, que trabalhava numa empresa estatal, em Juazeiro. Conforme todos afirmavam, ele era um excelente partido. Bom amigo, bom filho, tinha tudo para ser um bom marido, como de fato o foi. Para ela, a felicidade, que tanto sonhara, começava a ser delineada naquele ano. E se completara com a sua transferência como professora da rede pública estadual, da sua pequenina cidade, para Juazeiro.
Naquele dia do sonho, Alcina não se conteve, e contou-o a uma colega do colégio onde lecionava. Nem sabia sequer se existia em Juazeiro uma rua com o nome de Leandro Bezerra, para ela, apenas um irmão do prefeito. Ouviu da colega a sugestão de irem ao local, tão logo terminasse o expediente daquela manhã. Alcina era uma moça muito querida na sua terra, pois se dedicava ao auxílio dos mais carentes. Encontrou naquele convite uma oportunidade de servir, além de verificar se o que tivera era sonho ou uma visão do além.
Ao final do expediente, mais ou menos às onze horas da manhã, as duas mestras seguiram em direção ao Salgadinho, procurando número por número o endereço que a garota do sonho havia fornecido. Até que, após algumas tentativas, encontraram o número procurado. A casa estava com portas e janelas fechadas. Ao baterem à porta, esta facilmente se abriu, como se estivesse sem trancas. Palmas e gritos não obtiveram respostas. Resolveram corajosamente entrar naquela casa. Após a sala de visita, havia um pequeno corredor e dois quartos. No primeiro, encontraram uma velhinha deitada, semi-inconsciente. Conseguiram uma ambulância no Pronto Socorro e a conduziram para o hospital, onde ela ficou internada, sob cuidados médicos.
No dia seguinte, fizeram-lhe uma visita, e a encontraram bem melhor. Contaram como haviam conseguido localizá-la. Ela disse estar preocupada com o filho paralítico, que vivia num quarto vizinho ao seu, e estava há muitos dias sem ter quem cuidasse dele. Então retornaram à casa da velhinha para acudir ao filho. Levaram-no para o hospital, e os médicos constataram que a paralisia que acometia aquele pobre rapaz poderia ser curada com uma simples intervenção cirúrgica, pela equipe de ortopedia. Os esforços de Alcina impressionaram os médicos, que resolveram realizar a cirurgia por puro dever da profissão. Passados alguns dias, mãe e filho restabelecidos, Alcina e a colega foram visitá-los, já em casa. Conversaram bastante, pois já se consideravam velhas amigas. A mulher, viúva há alguns anos, mostrou às duas benfeitoras o álbum de fotografia da família. Na primeira página estava a fotografia da menina do sonho, linda, como Alcina a vira naquela noite em seu quarto. E perguntou à mulher: “Quem é essa garota?” “Era minha filha, faleceu quando tinha cinco anos.” “Pois foi essa a menina que me apareceu em sonho! Só que os cabelos dela estavam raspados.” Completou Alcina. “É que ela faleceu de câncer. Na noite em que me sentia mal, lembrei-me que, se ela estivesse viva, estaria me ajudando.” Disse a pobre mãe.
Vozes do além? Não. Com certeza, aquela mãe enferma e Alcina eram dotadas de poderes sensitivos extraordinários, que a parapsicologia explica como sendo a telepatia, um fenômeno de comunicação inconsciente entre duas mentes, mesmo sem nenhum conhecimento prévio entre elas. Enquanto pensava na filhinha morta a lhe ajudar, se viva estivesse, a mensagem foi transmitida a alguém que tirasse da situação em que se encontravam ela e o filho. Por sorte, o seu pensamento telepático foi captado pela professora Alcina, dotada de elevado espírito de solidariedade e preocupação com o bem-estar das pessoas que sofrem. Assim como o “coração tem razões que a própria razão desconhece”, a nossa mente tem poderes que desconhecemos. E dela nós não sabemos usar nem dez por cento da sua capacidade plena.


Do livro "No Azul Sonhado"

Camaradas ocupam Aracati no Festival Nacional de Teatro de Rua

Apresentação de Willyan Teles


Performance "A Encaixotada" com Janaina Felix



Interação com o público a partir do cartaz "Vende-se"


Performance "A encaixotada" realizada por Janaina Felix

Performance "A louca" realizada por Noberlia Duarte Siebra


Oficina/Performance "A Obra" realizada por Alexandre Lucas


oficina/performace " A Obra" realizada por Alexandre Lucas


Lambe-lambe "Vende-se"




Lambe-lambe "Taba Boca"



Lambe-lambe "Pelo direito de Brincar"


Norbelia Duarte Recita "A Rosa"





Lambe-Lambe "Maria da Luta" produzido a partir de fotografia

Montagem dos Lambe-lambe na Calçada da Igreja Matriz de Aracati


Marlon Torres recitando



Durante o período de 20 a 23 de julho, a cidade de Aracati foi tomada pelos artistas dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro por ocasião do VII Festival Nacional de Teatro de Rua do Movimento de Agitação e Resistência da Cultura Popular – FESTMAR realizado pelo Ponto de Cultura Instituto Aracupira Teatro e Cidadania/Frente Jovem. O Festival foi constituído por apresentações, oficinas, performances e intervenções urbanas.

De acordo com Teobaldo Silva o evento só foi possível por ter sido selecionado no Prêmio Funarte Arte Cênica na Rua 2010 e pelo aporte financeiro do Governo do Estado do Ceará e do Banco do Nordeste. Ele destaca que nesta sétima edição houve uma participação mais ampla dos artistas brasileiros e uma possibilidade de intercâmbios entre os grupos para realização de trabalhos em outras cidades.


O Coletivo Camaradas foi um dos grupo que participou do evento levando muita irreverência e engajamento político nos seus trabalhos. Os Camaradas realizaram uma oficina, cinco intervenções urbanas, duas performances e três apresentações. De acordo, Alexandre Lucas, essa foi uma das maiores produções realizadas pelo grupo. O Coletivo já realizou trabalhos em diversas cidades do Ceará, além dos estados do Rio de Janeiro, Salvador e do Distrito Federal.

Norbélia Duarte Siebra, estudante curso de Teatro da URCA, enfatiza que participou dos trabalhos e pode perceber a importância da arte como instrumento de consciência política.

Para Willyan Teles da Companhia Arriégua , a participação do Coletivo no evento deu para abranger assuntos diversificados e frisa que pra ele foi uma experiência nova na arte realizada na rua.

Janaina Felix, que realizou a performance “a encaixotada” na qual uma mulher é presa dentro de um caixote e auto se liberta diz que foi um trabalho que pode inovador a sua experiência estética e artística dentro do Coletivo.


Doze integrantes do Coletivo participaram do FESTMAR a partir do apoio da Secretaria de Cultura, Esporte e Juventude do Crato que garantiu o transporte para os Camaradas.


Camaradas presentes no FESTMAR:


Diego Tavares da Silva
Marlon Torres de Souza
Antonio Hamilton de Souza Holanda Junior
Cícera da Penha Mendes Ribeiro
Elizângela Brito de Sousa
Janaina Felix Julio
Alexandre Lucas Silva
Cícera de Araujo santos de Almeida
José Ailton Oliveira de Almeida
Saymon Vinicius Sales Luna
Willyan Teles Rodrigues
Norbelia Duarte Siebra

Números do Festmar:

21 Grupos
03 oficinas
40 espetáculos
02 Performances
05 intervenções urbanas
240 artistas
07 estados brasileiros

Coordenação do evento

Teobaldo Silva
Tinoco Luna
José Marcelo D2
Marcos Lima
Glenda Rayane
Chico Isidório
Plínio Teixeira

Por quem os sinos dobram-POR LUPEU LACERDA



Fico pensando nos meus mortos enquanto cazuza verbaliza meus sentimentos: “meus heróis morreram de overdose...” engraçado pensar no finito. No que se acaba. Na árvore que tomba sob o seu próprio peso incomensurável. Penso nos vivos que quero mortos. E nos meus mortos – tão vivos – debatendo comigo nos corredores mal iluminados do borba gato. Sebastiana me empresta comprimidos para dor de cabeça, me convida para acender velas, incensos, escutar músicas de maysa. Silencio. Gal costa “esqueçam os mortos, que eles não levantam mais”. Ela e bob dylan e caetano estão errados. Os mortos estão de pé. Cantando. Recitando poemas de amor e vida. Quero não pensar, mas não consigo. Minha vó está ali, sentada em sua cadeira de balanço, fazendo um crochê interminável. É real? É um filme de bunuel? Meu pai vem entrando agora, com uma pasta preta em cada mão. – pixote! Tudo bom? Eu? Tava no maranhão. – minha tia acabou de colocar seus óculos escuros, contar uma piada e perguntar: - será que ainda tem alguma cerveja na geladeira? Normando para o carro em frente ao bar de silvany, calças jeans surradísimas, um chapéu preto. Seu sax repousa no banco traseiro do carro. “esqueçam os mortos...” mortos não são feitos para se esquecer. São feitos para se lembrar. São para pontear nossa história. Ou pelo menos, a minha história. Meu mortos. Meu baú de brinquedos anti-matéria. Todos eles moradores do meu edifício, editando, contando e recriando a história da carochinha onde não existe final.
 por lupeu lacerda

Zezé Gonzaga



Zezé Gonzaga, nome artístico de Maria José Gonzaga (Manhuaçu, 3 de setembro de 1926 — Rio de Janeiro, 24 de julho de 2008) foi uma cantora brasileira.


Inscreve o nome de Bárbara Pereira de Alencar no Livro dos Heróis da Pátria. Autora: Deputada ANA ARRAES Relator: Deputado DR. UBIALI


I - RELATÓRIO

O projeto de lei em análise, de autoria da Deputada Ana Arraes (PSB-PE), objetiva inscrever no Livro dos Heróis da Pátria, situado nas dependências do Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília-DF, o nome de Bárbara Pereira de Alencar.

Segundo a autora da proposição, “Bárbara Pereira de Alencar foi uma das primeiras heroínas brasileiras. Rompendo com os tabus machistas da época, ingressa na política com a finalidade de
participar dos movimentos de independência do Brasil onde destacou-se como revolucionária. A fantástica odisséia de Bárbara de Alencar, a primeira presa política do país, marcada pelo exemplo de patriotismo e valentia que anteciparam a independência do Brasil, a eleva ao mais alto panteão da glória nacional”.

A tramitação dá-se conforme o art. 24, inciso II do Regimento Interno desta Casa, sendo conclusiva a apreciação por parte da Comissão de Educação e Cultura (CEC). Cumpridos os procedimentos e esgotados os prazos regimentais, não foram recebidas emendas ao Projeto.
Cabe-nos, agora, por designação da Presidência da CEC, a elaboração do
parecer, onde nos manifestaremos acerca do mérito cívico-cultural.


II - VOTO DO RELATOR

No ano passado, a Câmara dos Deputados, em comemoração à Semana da Pátria, organizou uma bela exposição sobre um dos conjuntos arquitetônicos projetados pela genialidade do arquiteto Oscar Niemeyer- o Panteão da Pátria, localizado na Praça dos Três Poderes. em Brasília. A exposição denominava-se “A Construção da Memória Nacional: os heróis no Panteão da Pátria” e tinha como objetivo mostrar o papel do Poder Legislativo no processo de escolha dos heróis da nacionalidade, uma vez que a inscrição de um determinado nome no chamado Livro dos Heróis da Pátria é feita através da apresentação de um projeto de lei.

Entre outros aspectos abordados na referida exposição, o curador da mostra fazia a seguinte ponderação: “Uma outra crítica que se pode fazer ao Livro dos Heróis da Pátria é a quase total ausência de representantes do sexo feminino. Apenas uma mulher- Anna Nery – figura no Panteão da Liberdade e da Democracia. Pergunta-se: Onde estão as mulheres, que nos diferentes espaços da sociedade, participaram do processo histórico nacional?” (ORIÁ, Ricardo. A Construção da Memória
Nacional: os Heróis no Panteão da Pátria. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2010, p. 28).

O projeto de lei em questão vem corrigir esta distorção ao propor a inscrição do nome de Bárbara Pereira de Alencar (1767-1837) no Livro dos Heróis da Pátria. Numa História do Brasil, de viés oficial, ainda profundamente marcada pela figura masculina, talvez muitos brasileiros desconheçam quem foi Bárbara de Alencar- a revolucionária republicana. Vale a pena transcrever um trecho de sua biografia, presente no Dicionário Mulheres do Brasil- de 1500 até a atualidade (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000, p. 96): “Nasceu em Pernambuco e viveu na cidade do Crato (CE). Casada com o fazendeiro José Gonçalves dosSantos, teve três filhos: Tristão Pereira Gonçalves de Alencar e os padres José Carlos dos Santos e José Martiniano de Alencar (pai do escritor José de Alencar).

Envolveu-se, com dois de seus filhos e um irmão, na conspiração republicana deflagrada no Nordeste em março de 1817. Foram traídos pelo capitão-mor Filgueiras, compadre de Bárbara, que a fez prender na cadeia da vila de Fortaleza, em um cubículo minúsculo, onde não podia sequer levantar-se. Contase que gritava desesperada, dias e dias a fio, sendo ouvida na cidade. Até hoje, na Fortaleza Assunção, o poço onde ficou presa é visitado pela população, que
relembra seu sofrimento ao ler a inscrição: “Aqui gemeu Bárbara Pereira de Alencar sob a tirania
do Governador Sampaio”. Diz a lenda que, de madrugada, ainda se ouvem suas lamentações. Bárbara e seus filhos foram transferidos para a prisão de Pernambuco e depois para a de Salvador, na Bahia.

No episódio de transferência de Bárbara para os cárceres de Recife e Salvador ela foi mais um vez humilhada. Por decisão das autoridades, Bárbara foi vestida com um camisolão, traje igual ao da escrava que a acompanhava. Mas no momento em que subiu ao navio, uma negra na multidão, que olhava o embarque dos prisioneiros, jogou um xale para que se cobrisse, diminuindo seu constrangimento.

Em 1820, veio de Portugal a sentença que os libertou, concedendo anistia geral a todos os implicados na revolta”. Por seu ato de bravura, resistência e liderança na condução de um movimento de caráter republicano que, a exemplo da Inconfidência Mineira, pretendia libertar o Brasil do jugo colonial português, o nome de Bárbara de Alencar deve também figurar no Livro dos Heróis da Pátria, ao lado de outros próceres que lutaram, em diferentes momentos históricos, pela emancipação política do Brasil: Tiradentes, D. Pedro I, José Bonifácio, Gonçalves Lêdo, Januário Barbosa, Frei Caneca e tantos outros.

Assim, será mais uma mulher a ter o reconhecimento como heroína da Pátria Brasileira. Vale ressaltar, também, que a proposição em pauta está de acordo com a Lei nº 11.597, de 2007, que Dispõe sobre a inscrição de nomes no Livro dos Heróis da Pátria. Face ao exposto, manifestamo-nos pela aprovação do PL nº 522, de 2011.

Sala da Comissão, em de junho de 2011.

Deputado DR. UBIALI
Relator

Fonte: Site da Câmara dos Deputados - Brasília
Colaboração de  George Macário

Para entender a estratégia Lula-Dilma

Apesar de surpreender a gregos e troianos, a estratégia política de Lula-Dilma Rousseff é relativamente fácil de desvendar. A primeira peça do jogo é não imaginar Dilma dissociada de Lula. Não existe hipótese para ciumeiras, rompimentos. A diferença de estilo entre ambos não é semente para futuras disputas, mas peça essencial na sua estratégia. Primeiro, vamos às afinidades políticas e à continuidade de ambos os governos: 1) AMBOS SÃO SOCIAIS-DEMOCRATAS. Não se exija perfil revolucionário, nem mesmo estatizante, embora estejam longe de se constituir em neoliberais; 2) SÃO POLÍTICOS FOCADOS EM RESULTADOS SOCIAIS, COMO PEÇA CENTRAL DE LEGITIMAÇÃO POLÍTICA, Dilma dando mais atenção à gestão, Lula à política (mesmo porque tinha Dilma para cuidar da gerência); 3) na política econômica, a prioridade absoluta é o controle da inflação. Câmbio, desindustrialização, juros, é resto. E o resto é resto. Embora Dilma tenha formação desenvolvimentista, a realpolitik se sobrepôs às demais prioridades. Se a crise internacional piorar, pode criar vulnerabilidades nessa parte da estratégia. 4) no plano político, a lógica não é do confronto, mas da soma. Dilma aprendeu com Lula a dividir os contrários em dois grupos: os adversários e os inimigos. O primeiro grupo é para ser cativado ou cooptado.
Diferenças periféricas: as diferenças de estilo entre Lula e o Dilma são periféricas, embora importantes na montagem da estratégia política. NO PLANO ECONÔMICO E IDEOLÓGICO, SÃO GOVERNOS DE CONTINUIDADE. Muitos analistas – à direita e à esquerda – tomam a nuvem por Juno, as diferenças periféricas pelas essenciais. E acabam se confundindo na análise do governo Dilma e de sua estratégia política. Os fatores utilizados pela velha mídia para desgastar Lula (fazendo muito barulho, embora influenciando apenas 5% do eleitorado) são desimportantes e nada tem a ver com as peças centrais de sua política.
No plano político, nos últimos anos desenterrou fantasmas da guerra fria que se supunham extintos desde os anos 60. Na diplomacia, a questão iraniana. Na política interna, o pesado véu de preconceito contra Lula e o enfrentamento nos últimos anos. AS CRÍTICAS CONTRA AS POLÍTICAS SOCIAIS FORAM DEVIDAMENTE ENTERRADAS PELOS FATOS. Ao assumir, sem comprometer os pontos centrais de sua política, Dilma definiu um estilo diferente de Lula na forma, embora muito similar no conteúdo – inclusive surpreendendo os que supunham que partiria para um confronto direto com adversários. Colocou a questão dos direitos humanos como foco da diplomacia, deu atenção a FHC, compareceu ao aniversário da Folha, nos últimos dias convidou jornalistas brasilienses para conversas no Palácio, respondeu rapidamente às denúncias consistentes. Completa-se assim a estratégia: Dilma se incumbe do establishment, que rejeita Lula. No plano midiático, blogosfera para ela é como a Telebrás – serve apenas para ajudar a regular a mídia. O mesmo ocorre com movimentos sociais e sindicatos. Já Lula garante os movimentos populares, o sindicalismo, a blogosfera e a ala esquerda. E estende sua sombra sobre os adversários. Se endurecerem muito com Dilma, entra na briga. Se Dilma não se sair bem no governo, ele volta. Perto dessa estratégia, a oposição só tem perna de pau: um guru que ensarilhou as armas – FHC -, um político esperto, mas sem idéias – Aécio Neves – e um desatinado – José Serra. Cumprir-se-á o vaticínio do sábio José Sarney, de que a nova oposição sairá das entranhas do governo.
Linhas programáticas: Em relação à continuidade, é importante não confundir algumas linhas de ação que permanecem as mesmas desde o governo Lula – mas que têm dado margem a confusões. A primeira, o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Criou-se a idéia de que, com Lula, a Telebrás assumiria todo o trabalho de levar a banda larga até a última milha (a casa do cidadão). Nunca foi essa a idéia. A Telebrás foi ressuscitada com o objetivo de levar linhas de transmissão ligando cidades, atendendo provedores independentes, fortalecendo as linhas de transmissão, mas sem a pretensão de atuar no varejo. A possibilidade de atuar no varejo foi acenada apenas para demover as resistências das operadoras em aderir ao plano. Não significa que seja um bom plano. 300 mb de tráfego por mês a 35 reais é brincadeira. Tem que se aprimorar a negociação. Mas a estratégia de amarrar as teles a compromissos de universalização é correta. O segundo ponto é a chamada "lei dos meios". Criou-se a idéia de que o projeto de Franklin Martins imporia limites aos abusos da mídia. A radicalização de Franklin foi muito mais no discurso do que propriamente nas propostas. A não ser a questão limitada da propriedade cruzada, o projeto era muito mais uma defesa dos grupos nacionais contra as grandes corporações internacionais e as teles. A CEGUEIRA DA VELHA MÍDIA A IMPEDIU DE ENTENDER A LÓGICA DO PLANO. Autor: Luis Nassif

Nota de Falecimento

Comunicamos o falecimento do médico cratense José Ricardo de Figueiredo ocorrido em Fortaleza, onde ele residia, na noite da última sexta-feira, dia 22 de julho de 2011. José Ricardo era o primeiro dos oito filhos do casal Aníbal Viana de Figueiredo e Maria Eneida de Figueiredo.