por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 1 de setembro de 2012

Imagem e Imaginação




Quando o Brasil se prepara para sediar a Copa do Mundo em  2016, bate-nos aquela memória nostálgica dos anos dourados do futebol cratense. Terá sido, com certeza, o histórico vitorioso da nossa Seleção nas Copas  das décadas 50 e 60 que estimulou  a juventude da época a se ligar mais umbilicalmente à bola, aqui na cidade de Frei Carlos. O advento deste esporte tão querido dos brasileiros, por aqui, no entanto, remonta quase  aos primeiros vagidos desta modalidade esportiva em  Pindorama.
                                   Reza a tradição que o futebol  chegou ao Brasil pelos pés de Charles Miller, um brasileiro que indo estudar em Londres, aí por volta de  1894, trouxe ao Brasil duas bolas na bagagem e aqui fundou o primeiro Clube : O São Paulo Athletic Club.  No ano subseqüente, realizou-se o primeiro jogo oficial em São Paulo . Na primeira década do Século XX, o esporte se disseminou  em muitos estados da federação : Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Minas, Rio Grande do Sul, Paraná.
                                   O Crato, uma pulsante vila no Cariri cearense, demonstrou, mais uma vez seu pioneirismo, quando,  em  1919, foi fundada a nossa primeira  agremiação esportiva—Crato Football Club-- com seu jogo inaugural acontecido na Praça da Sé,  em 19 de Junho daquele ano. O primeiro presidente do Clube , Jorge Dmitri Dummar ,  dirigia as “Casas Pernambucanas” na cidade e seu irmão , José Dummar, foi o árbitro da peleja. Há uma foto histórica do time, guardada pelo nosso Florisval Matos, com a escalação histórica, naqueles idos de 1919: José   Carvalho,Gerson Zabulon,Zezé Esmeraldo ( Pai de Dr Egberto Esmeraldo e avô da nossa atual Secretária De Cultura),Duclerc Colares, Heli Norões, João Dummar, Waldemar Garcia ( O Maior Nome Do Teatro Cearense No Século XX ), Mario  Melo ( Instrutor Do Tiro De Guerra 118), Francisco Teixeira (Pirrinto), Antonio Lima, Joaquim Alves De Matos .
                                   Passaram-se os anos, a voracidade do tempo triturou a memória de um período com poucos registros imagéticos,  mas permanece bem presente ,em muitas gerações , o apogeu do futebol aqui em Crato. O Esporte, o Satélite, o  Votoran, a Volkswagen, o Rebelde, a AABB...Craques inesquecíveis como Gledson, Reginaldo, Enoque, Santana, Netinho, Luciano, Freyre, Paulo Cézar, Chico Curto, Dote,   Gilton preenchem as mais doces memórias de um tempo em que o futebol ia pouco a pouco se firmando como nosso mais querido  e reverenciado esporte .
                                   Hoje, com a disseminação absurda dos meios de comunicação, deixamos um pouco de olhar para nosso umbigo. Voltamo-nos para a Aldeia Global. Interessa-nos, muito mais , os conflitos externos que as nossas pobres e comezinhas atribulações. Há uma câmara em cada canto, um olho mágico em cada parede, uma filmadora em cada esquina. Há um arquivo infinito de imagens à disposição na Internet, tão extenso quanto difícil de ser acessado e filtrado.
                                   Perdemos o glamour das jogadas sensacionais que ficaram gravadas apenas na memória e nos corações de cada um de nós. Uma defesa sensacional de Gilton, num chute de esquerda do Luciano; a placidez de gelo do Netinho, defendendo a bola na pequena área, frente a sanha feroz do centroavante; a elegância real de Anduiá, nosso Backenbauer, em pleno meio de campo, dominando a bola de cabeça erguida, preparando o lançamento cirúrgico e certeiro para um Chico Curto que, como um bólido ,picava louco para a área.  Sem TV, sem fotos, estas jogadas mágicas , como um vídeotape, saltam da minha cabeça como se agora mesmo estivessem acontecendo no Campo do Esporte ou na Quadra Bicentenário. 

J. Flávio Vieira

Quando setembro vier... E setembro chegou! - por socorro moreira


Vento parado e calor. Fumaças nas estradas denunciam queimadas. Eu escuto rezas em muitos lares.
Tia Auri, nos seus 93 anos, ainda declara que o seu coração transborda alegria, quando nos encontra em Mauriti. Lá a política está efervescente. Bandeiras vermelhas, verde-amarela... E eu não acho a paixão, nem tão pouco a esperança. Sinto saudade de um tempo passado.
Deus do céu, como é difícil entender o presente e ficar dentro dele, confortavelmente. Mas, a correnteza me obriga a encarar um futuro, na lua negra ou azu, ou apenas naquela prateada, que insiste em banhar os meus cabelos de mulher, que assume o feminino de todas as incertezas e mistérios. Quero como os mais velhos achar minha mãe, meu pai... Voltar pra casa, atravessar o portal da ressurreição.
Ontem foi uma noite de achar agulha em palheiro como diria Cristina Barreto. Ouvimos  violões, e o canto do grupo. Tudo afinado com as nossas águas nostálgicas, felizes, querendo a poesia aflorada, sem as atrofias da alma.
Estamos no primeiro dia de setembro. Os sinos hoje trabalharam o dia inteiro. È festa da Penha, e o cheiro do pano novo impregnado na memória, me faz lembrar tantos rostos...Eles ficaram num painel, acima do céu, como uma imensa flâmula a balançar  encantos. Éramos tantos... Agora apenas nos despedimos uns dos outros, a cada dia, vivendo com infinitude a brisa dos carrosséis de antigamente.